O garoto espiava a loirinha dentre os arbustos. Lá estava ela. Ajoelhada na grama verde do jardim de sua falecida avó. Cuidando de suas plantas...

Okumura imaginara que estaria muito concentrada. Pois não o viu abrindo aquele enorme portão enferrujado. (Que por sinal, rangia muito quando movido.)

A situação já estava boba. Okumura se sentia um completo idiota, por estar escondido, observando a pequena por MEIA HORA.

Sentou-se de costas para o arbusto. Coçou a cabeça.

– O que tem de errado? Não consigo nem ao menos chegar perto...

O Okumura tentava criar coragem. Mas só de olhar para a menina, perdia totalmente o jeito.

Era como se Shiemi fosse o vento... E sua coragem uma pequena vela. Quando vai olhar... a vela está apagada.

Rin se virou. A olhou por cima do arbusto.

O Okumura balançou a cabeça; Se levantou determinado. Até por que iria apenas entregar um pequeno pacote que Yukio a enviou.

Yukio iria pessoalmente trazer para a 'Senhorita Shiemi."

E deixar aquele quatro olhos chegar perto da loirinha? HÁ. de jeito algum.

– HEEY! SHIEMI! - Gritava Rin, caminhando devagar.

A menina esboçou um sorriso involuntário ao ver o Okumura.

– RIN!! - Balançava os braços ao alto.

O Okumura apoiou-se na grama e sentou ao lado da menina.

– Ainda com essa história de jardim?

– Rin! - Protestou Shiemi brava. - Você sabe que sempre irei cuidar daqui... É a única lembrança que tenho da minha avó... - Rebaixou o olhar.

– Então trate bem dessa lembrança. - Sorriu o menino, corado. - Até porque.... é uma lembrança feliz, não acha?

–Hai! - Respondeu sorridente.

– Então... o que faz aí? - Se inclinou um pouco para frente, observando o pequeno buraco que a menina fazia.

– Vou plantar uma árvore. - Respondeu a menina, remexendo na terra. - Ela vai crescer e dar frutos.

– Vou te ajudar. Posso? - Disse o Okumura arregaçando as mangas da camisa.

– Hai! - Shiemi o entregou uma pequena ferramenta.

os dois começaram a aprofundar o buraco.

–Shiemi? - Chamou Rin, sem tirar os olhos do buraco.

– Sim?

– Você não sente calor? quer dizer, dentro desse Kimono, debaixo desse sol. Já estou suando aqui. - Botou a língua pra fora.

Shiemi deu uma risadinha discreta.

– Já me acostumei... Sempre fiquei no sol, sempre gostei de me sujar de terra... é uma coisa que não dá pra explicar. Eu amo cuidar desse jardim.

Ambos deram um sorriso.

Por alguns segundos, olharam-se nos olhos. Okumura havia se perdido nos olhos verdes daquela loirinha... O azul dos seus olhos estava mais vivo... seus olhos brilhavam.

Dizem que os olhos são reflexos da alma... Era engraçado (ou talvez até estranho) o Okumura pensar em coisas assim.
''Um tanto quanto poético."
Okumura riu de seu próprio pensamento, chamando a atenção da loirinha.
– Rin? - Perguntou Shiemi com sua voz doce e delicada.
– Hai?
– Me alcança...? - Apontara para uma pequena muda verdinha.
Rin se esticou para alcançar a muda repousada na grama.
– Aqui. - Esboçou um sorriso.
A menina abriu a embalagem que protegia a raiz da muda, e a colocou devagar no pequeno buraco que fez.
O garoto observara atento a pequena remexendo na terra.

A ajudara a cobrir com terra preta em volta da pequena planta.

–Agora é só colocar um pouco de água... - A loirinha se esticara desajeitosamente para alcançar o regador ao lado de Rin, mas acidentalmente caiu no Okumura.

Os rostos de ambos coraram.

Novamente de olhavam nos olhos. Estavam tão perto...

– NII-SAN!! - Gritara Yukio do portão.

–Yukio!? - Expressara Shiemi com muita vergonha, "Jogando" seu corpo para trás, se afastando do Okumura.

– Tsc... - Bufou Rin.

O que aquele quatro-olhos queria?