As Cores do Inferno escrita por Ruby


Capítulo 4
Capítulo 4 – Dourado


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!

Como prometido, eis mais um capítulo de ACDI para entretê-los nesse carnaval, rs. Espero que vocês gostem dele. É um dos meus capítulos favoritos xD



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/476347/chapter/4

Do outro lado do pátio, em um prédio mal-iluminado, ficavam as celas. Não eram nada confortáveis, eu tinha certeza, apesar de nunca ter entrado no prédio. Foi para lá que eu segui correndo, tentando não fazer barulho e segurando uma garrafa d'água nos braços. Apesar de todo cuidado, o cascalho que rangia sob meus pés e a chave que tilintava no bolso de minha calça pareciam altos o suficiente para acordar todos os soldados.

Olhei de relance para cima enquanto corria. O céu sem nuvens estava pontilhado de estrelas douradas que enchiam a imensidão azul de cor. Eram como pequenos pontos de esperança surgindo no fim de um túnel escuro.

Inacreditavelmente, não havia guardas no prédio. O único encontrava-se a 100 metros de distância, desmaiado em uma cadeira e roncando em alto e bom som. Sorte dele não ter me visto ali.

Alcancei os portões, abrindo-os – escutando um rangido que congelou o sangue em minhas veias – e entrando no prédio, procurando a única porta fechada no corredor mal iluminado. Era uma porta de ferro grossa, com uma pequena janela na altura dos ombros, por onde eu conseguia espiar o interior da cela. Ao lado de um lampião elétrico fraco, deitada no chão duro de concreto e com os olhos fechados, estava Isabella. Respirando fundo e tentando conter a ansiedade, peguei a chave em meu bolso, abri a porta e entrei na cela.

Isabella levantou a cabeça assustada e se encolheu rapidamente contra a parede dos fundos ao ouvir o barulho, mas, ao ver quem era, seu rosto tentou se fechar em uma carranca.

– Não vou lhe machucar – disse rapidamente, jogando a garrafa que havia trazido em sua direção e erguendo as mãos em sinal de rendição.

Suas mãos voaram para a garrafa ao mesmo tempo em que seus olhos se arregalavam. Em poucos segundos, a garrafa estava pela metade. Enquanto ela bebia, eu admirava seu rosto: ele agora era um misto de medo, surpresa e alívio. Ela ergueu os olhos, me observando, enquanto tampava a garrafa e a jogava novamente no chão, sem ter muita consciência do que fazia. Seus olhos não estavam encarando os meus, e sim um ponto logo abaixo do meu queixo. De repente, como se tivesse percebido o que estava fazendo, ela baixou a cabeça e corou. Não precisei pensar muito para descobrir o que era: eu estava com apenas uma regata branca colada ao corpo – por causa do suor da corrida – e uma calça de moletom. Corei junto com ela.

– O que quer? – ela disse, ainda sem me olhar e encostada à parede.

– Quero falar com você.

– Já está falando.

– Por favor, não seja irônica, Isabella. – pedi, sentando-me no chão e encostando na parede junto à porta, que permanecia semiaberta.

Seus olhos agora encaravam os meus através da sala fracamente iluminada. Engoli em seco, tentando desviar o olhar e me lembrar de como se respirava, mas não consegui.

– Engraçado... – ela disse baixinho, sorrindo disfarçadamente – Você acertou meu nome.

– Tem razão – eu ri também, passando a mão pelos cabelos, tentando encontrar o que falar – Acho que finalmente consegui decorá-lo.

Ela sorriu novamente, porém não conseguimos quebrar a tensão presente ali.

– Então... Veio apenas conversar? – ela perguntou hesitante, franzindo as sobrancelhas – Não sabia que esse era um procedimento usado no Exército, visitar uma prisioneira para bater papo no meio da madrugada.

– Eu não vou te molestar, se é o que está pensando.

– Bom, não seria o primeiro soldado a tentar. – ela murmurou mais para si mesma do que para mim, mas não consegui ignorar aquilo. Senti os músculos do meu pescoço e dos meus braços enrijecerem na hora.

– O que foi que disse?

– Um de seus soldados. Ele tentou... tentou me agarrar à força. Só não conseguiu porque um tal de Hale chegou na hora.

Ela tentou parecer firme ao falar, mas sua voz vacilou no final da frase.

– Como ele era? – meus punhos se fecharam automaticamente.

– Alto, forte, pele morena. Mais novo que eu.

– Sabe o nome?

– Não tenho certeza... Black, talvez.

Fechei os olhos com força e respirei fundo, tentando me controlar. Eu tinha certeza que mataria esse desgraçado no momento em que o visse, seja lá quem fosse.

– Por favor, vamos mudar de assunto... – ela pediu, visivelmente desconfortável.

– Claro, me desculpe. – respondi, encarando-a novamente. Respirei fundo para me acalmar e, sem disfarçar, encurtei o espaço entre nós. – Então quer dizer que você é formada pela Força Aérea.

– Sim. – Ela também se aproximou, fazendo com que ficássemos a apenas alguns palmos de distância, sentados um em frente ao outro, meus olhos mal conseguindo se afastar dos seus.

– Qual avião pilotava?

– Um F-15 Eagle.

Eu engasguei.

– Você foi designada para um caça?

– Está falando com uma profissional, Major. – ela riu – Mas sempre quis pilotar um F-22 Raptor.

– Você é realmente corajosa.

Ela continuava sorrindo. E eu não me cansava de admirá-la. Se não fosse pela constante preocupação em ser pego fora da cama, pela cela de concreto e pelo fato de que ela era uma prisioneira, eu nem notaria que estávamos no meio de uma guerra.

– Isabella, sobre hoje de manhã, eu... – respirei fundo, procurando coragem pra continuar – Eu gostaria de lhe pedir desculpas.

Ela me olhou, confusa.

– Por ter sido tão rude – expliquei – Acredite, não gosto de agir desse modo.

– Tudo bem, eu entendo. É seu trabalho, afinal – ela respondeu, dando de ombros e esboçando um sorriso. – E, pelo jeito, eu facilitei as coisas para você, não é?

Na verdade, você complicou as coisas, pensei, fazendo um esforço tremendo para manter minha boca fechada e não demonstrar o quanto estava desesperado com aquela situação.

– Sobre isso... – continuei, sem saber muito bem como falar – Sabe, há um jeito... Eu não contei aos outros o que você me disse. Você ainda pode ocultar a história, não é preciso repetir...

– Não posso mentir.

– Então peça desculpas! Diga que se arrepende, que estava desesperada, eles vão entender! As famílias deles também passam sede, cometem erros...

– Não.

– Por favor, Isabella! – eu estava verdadeiramente desesperado. Num ato impensado, agarrei suas mãos, implorando – Por favor, não desista agora. Não agora.

– Eu preciso pagar, Major. Traidores pagam pelos seus erros. Fomos treinados assim.

Engoli em seco tentando me livrar do nó que tinha se formado em minha garganta.

– Edward – eu disse sorrindo, desistindo momentaneamente de tentar convencê-la – Me chame de Edward.

Longos segundos se passaram antes que eu percebesse que suas mãos continuavam nas minhas. Ela não tinha feito nenhum esforço para afastá-las de mim.

– Então é isso? – perguntei, minha voz quase um sussurro agora – Vai desistir da sua vida tão facilmente, depois de tudo que fez para tentar se salvar?

– Não é desistir, Edward – eu tremi ao ouvir meu nome naquela voz de sinos. – É ser justa.

– Pode pelo menos pensar na minha proposta?

– E qual é a sua proposta?

– Fugir.

Eu finalmente percebera que Edward havia tomado todo controle agora. Não havia mais Major Masen – ele nunca sugeriria a uma prisioneira que fugisse.

Ela riu audivelmente, me deixando constrangido.

– E como vou fugir daqui? Estou trancafiada dentro de um acampamento militar.

– Então minta. Sou o único que conhece sua história.

– Você e o gradalhão.

– Emmett é confiável, acredite em mim. Por favor, Isabella.

O silêncio que se seguiu serviu apenas para aumentar ainda mais o aperto em meu peito. Eu sentia o peso esmagador do desespero sobre meus ombros enquanto agarrava suas mãos como a um salva-vidas. Em contrapartida, ela continuava me encarando calmamente, seus olhos observando atentamente os meus e sua boca descrevendo um leve sorriso no rosto de porcelana. E então, com um pequeno suspiro, ela disse o que eu mais desejava ouvir.

– Tudo bem, Edward. Pensarei na sua proposta.

Um sorriso verdadeiro surgiu involuntariamente nos meus lábios.

– Obrigado. Você fez um homem muito feliz essa noite.

Levantei-me devagar, indo em direção à porta. Antes que pudesse alcançá-la, porém, a voz de sinos me chamou novamente.

– Ed!

Sorrindo por causa da súbita intimidade, me virei até ficar de frente pra ela. Ela estava em pé agora e se aproximava rapidamente de mim.

– Sim, Bella?

– Quero lhe dar uma coisa – ela disse, sorrindo mais abertamente. Suas mãos foram para o seu pescoço e tiraram uma corrente de ouro. Logo depois ela se aproximou, ficando na ponta dos pés para colocá-la em mim.

Nossos narizes estavam a centímetros de distância.

Não pude evitar fechar os olhos enquanto seus dedos suaves percorriam toda a extensão do meu pescoço, tocando cada parte possível. Não soube dizer se a demora foi proposital ou se o tempo havia parado naquele momento.

– Pronto. Espero que goste – ela disse, mas não se afastou. Abri os olhos e encarei o mar de chocolate à minha frente. – Ele me protegeu durante muito tempo, acho que está na hora de passá-lo adiante.

Eu analisei o pingente: era uma imagem muito pequena esculpida em ouro. Mal dava para vê-lo direito por causa da luz fraca.

– É um anjo? – perguntei.

– Na verdade, um arcanjo. – ela respondeu. Suas mãos desceram para o meu peito e seus olhos desviaram-se para a minha boca. Estava a ponto de perguntar qual era a diferença entre eles quando ela se adiantou.

Não houve tempo para pensar em mais nada.

Ela se aproximou ainda mais. Suas mãos agarraram fortemente a frente da minha camiseta e seus lábios voaram para os meus. Fiquei atordoado enquanto sentia a maciez da sua boca. Todo ar havia fugido de meus pulmões e meu coração estava acelerado. Quando minhas mãos seguiram para sua cintura e meus lábios tentaram se abrir, ela se afastou.

Seus olhos estavam brilhantes e ela sorria – maliciosa e deliciosamente. Percebi que meus lábios imitavam os dela, o mesmo sorriso crescendo em mim, por dentro e por fora.

– Acredita em anjos, Ed? – ela perguntou, como se nunca tivéssemos interrompido a conversa.

Analisei novamente o pequeno pingente que dançava em minha camiseta, pensando na sua pergunta.

– Agora eu acredito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Por favor, comentem o que acharam, ok? Adoro ler os comentários de vocês! *-*

O próximo capítulo será postado na quarta-feira! Vejo vocês por aqui!

Até o próximo capítulo! o/

Ruby.