Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 84
Natal... De novo não! -- parte 1


Notas iniciais do capítulo

Inspirada no livro Esquecer o Natal de John Grisham, adaptada para o contexto Feliko, com um final mais Feliko ainda... Essa fic se passa 16 anos no futuro.



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– Ah, o natal... Já está chegando... Outra vez... O ano se passou voando!... De novo... – Falava Félix em tom de reclamação olhando um dos livros do escritório. O livro era o famoso Um Conto de Natal de Charles Dickens.

– Ai, Félix, ultimamente você está muito ranzinza! Se continuar assim quando ficar mais velho vai ficar igualzinho ao Ebenezer!

– A quem?

– Ao Ebenezer Scrooge! O personagem principal desse livro, o velho ranzinza e avarento que odeia o natal!

Félix levou as mãos à cintura. – Será que eu roubei a palha da manjedoura pra você me chamar de velho ranzinza e avarento? Olha aqui, senhor Nicolas, não é por que eu passei dos cinquenta e poucos, e o senhor ainda está na casa dos quarenta, que você vai me chamar de velho não! Além do mais, não sou ranzinza, tampouco avarento. Não é por que sou o economista dessa casa que sou avarento! E quem disse que não gosto do natal?!

– Ué! Você ficou reclamando desde que eu te chamei para arrumarmos a casa para a festa de natal desse ano...

– Eu só não estou com vontade de fazer uma festa como todos os anos, Niko! É sempre a mesma coisa...

– Ai Félix, que mentira! Nunca é sempre a mesma coisa, nós sempre inventamos algo diferente...

– Você, né?! Você inventa algum prato diferente todo ano pra no mês de janeiro ficar reclamando que engordou três quilos de uma vez só!

– Ai Félix... Você às vezes é chato... Olha... Insuportável! Acho que isso se chama crise da meia idade...

– Oh! Era só o que me faltava! Eu devo ter não só roubado a manjedoura inteira, como ter participado de um assalto à mão armada aos Reis Magos pra você me chamar de velho duas vezes seguidas!

– Eu não te chamei de velho, ora! Você nem parece ter mais de cinquenta...

– Claro que não! Com minha pele de pêssego, sem uma ruga visível... Só uns fiozinhos brancos que apareceram, mas... Até me deixam mais charmoso...

– Te deixam lindo! Já te disse que você deveria deixar ficar grisalho!

– Quando eu tiver passado dos sessenta eu penso no seu caso!

– Vem cá... Quer me dizer por que você está reclamando tanto desde que eu te pedi para pensarmos em como será a festa desse ano?

– Pode! Quer saber por quê? Por que eu... Eu não queria uma festa de natal esse ano! Pronto, falei!

Niko o olhou confuso. – Como assim não queria? E o que você queria fazer afinal?

– O que eu queria, não! O que eu quero!...

– O que você quer?

Félix se aproximou dele, pegando em sua mão, levando-o a sentar-se com ele na poltrona do escritório. O loiro no seu colo.

– Vem cá, meu carneirinho... Eu estava pensando em fazer uma coisa nova esse ano! Você sabe... Todo ano a gente faz uma festa, uma ceia farta, convida um monte de gente... Alguns anos você até inventou de fazer a brincadeirinha do amigo secreto e você viu, eu só ganhei presentes o ó!

– Você que é reclamão e não gosta das coisas...

– Não é assim, você sabe! Você sabe que eu gosto de tudo que você faz... – Niko sorriu. Félix continuou: - Só não gosto muito do que os outros me dão! Eu não tenho sorte para ganhar presentes! Você viu quando a Paloma me tirou de amigo secreto? Ela me deu uma camisa horrível, carneirinho. Eu nunca usei. Minha irmãzinha nunca teve bom gosto para roupas! E quando foi o nosso filho que me tirou! Lembra que o Fabrício comprou uma gravata para eu usar com aquele terno que você me deu, que não tinha nada a ver?! – Os dois riram.

– Lembro... Eu dei o dinheiro e o Jayme foi com ele.

– Eu sei... Ah carneirinho, eu não quero ter que fingir de novo que gostei de um presente sem ter gostado.

– Não precisa, Félix... Se não quiser eu não faço amigo oculto esse ano...

– Não é só isso, meu amor! – Félix falava carinhoso tentando convencê-lo da sua ideia que ele ainda nem tinha falado. – É tudo! Também tem os gastos... É tanta coisa... E eu também gosto de fazer as coisas do meu jeito!... A gente tem um trabalhão enfeitando a casa toda, e essa casa é enorme... E depois vem todo mundo e bagunça tudo! Sempre vem um que come demais, outro que fica com desculpa que tá fazendo dieta. É sempre a mesma história!... E desde que os meninos são adolescentes, pior ainda, sempre tem um que some no meio da festa, a gente fica procurando feito louco e quando vai ver ele está com a namorada na praia!

– Sei! Lembro muito bem quando a gente flagrou o Jayme...

– Pois é! E não vai demorar muito para flagrarmos o Fabrício também andando com alguma namoradinha pela praia!

– Nem me fale! Ai Félix, eles crescem tão rápido! Parece que era ontem que nós trocávamos as fraldas dele, e agora ele tá aí, quase do meu tamanho...

– E recebendo cartãozinhos de natal de admiradoras nos últimos dois anos! É... Quem manda nosso filho ter a beleza do papi carneirinho?! – Riu.

Niko também riu. – E aprender a usar todo seu charme como o papi Félix?!

Os dois riram e se beijaram.

– Sei que meu charme é irresistível! Bom, carneirinho, eu estava pensando em fazer diferente esse ano. Mas não uma festa diferente, nem em outro lugar... Nem comemoração, nem nada! Diferente mesmo!

– Como seria esse “diferente mesmo”?

– Então... Já estamos fazendo assim, essas festas, desde que nos casamos...

– É sim... – Niko ficou com um sorriso saudoso. – Lembra nosso primeiro natal depois de casados? Eu tinha comprado nossa primeira árvore de natal da família, só que a Pilar nos convidou para ir para São Paulo...

– Aff, nem me lembre desse natal! Foi quando eu tive aquela crise de apendicite horrorosa!

– É, mas tudo acabou bem. Em poucos dias você se recuperou e nosso final do ano foi aqui, na nossa casa... E foi inesquecível!

Eles se olharam sorrindo. Félix, com um sorriso mais malicioso.

– Foi... Eu me lembro de ter visto fogos de artifício no nosso quarto...

– Você quer dizer do nosso quarto não?! Da janela...

– Não... No nosso quarto mesmo... Com nós dois lá trancados...

Eles riram e se beijaram de novo. Então Félix, ainda na tentativa de convencê-lo sobre sua ideia, continuou argumentando.

– Eu estava pensando em esse ano fazermos tudo completamente diferente!... Outra coisa sabe?!

– O que seria essa outra coisa?

– Hum... Uma... Coisa, assim, tipo... – Pigarreou e falou rápido: - Uma viagem...

– Você disse uma viagem?

– Eu?... Disse! Por que não, hein?! Não seria fabuloso?!

– Bom... Seria, mas... Não entendi. Você está pensando em viajarmos e chamarmos nossas famílias para comemorar em outro lugar, é isso? Não seria tão diferente como você quer, já fizemos isso...

– Não, Niko! Você ainda não entendeu? Nada de comemorar o natal em família, como todos os anos, nem nada disso... Vamos fazer diferente dessa vez! Qual a parte de “diferente” que você não entendeu? É o natal de dois mil e trinta, meu querido, nós estamos juntos há dezesseis anos, nossos filhos estão crescidos, o Jayme já é adulto, tá fazendo faculdade, já é quase um médico, o Fabrício daqui a pouco é maior de idade...

– Falta dois anos pra isso ainda...

– Eu sei! Mas passa rápido!... E... Eu estive planejando algo para o nosso natal! Ou seja, uma ideia sobre o que nós dois podemos fazer enquanto todos comemoram o natal como sempre!

– Que ideia?

– É uma ideia muito simples e maravilhosa! Tenho certeza que você vai adorar! – Sorriu encarando-o. – Envolve nós dois... Noites muito quentes embaixo dos lençóis...

– Não vejo muita diferença... – Os dois deram uma gargalhada.

– É, não... Eu sei! Mas... Podíamos viver noites assim... Sem ser aqui né?! É só você aceitar minha ideia...

– Qual é a ideia afinal, Félix?

– Simples! Não fazemos o natal!

– Como?!

– É, carneirinho! Nós podemos simplesmente pular o natal! Imagina só... Economizamos o dinheiro da festa, dos presentes, da comida... Gastamos tudo conosco, para variar... E com esse dinheiro viajamos para um lugar paradisíaco! Seria como se tivéssemos mais um momento revival da nossa lua de mel, que tal?!

– Mais um?...

– Sei que já fizemos vários, mas, nunca é demais né, carneirinho?! Ou talvez uma viagem recomemorando nossos quinze anos de casados... O que você acha?

– Espera, Félix... Ainda não estou entendendo o que você pretende...

– Niko, está claro!... Não vamos gastar nem um centavo com comida que não comemos... Ou melhor, você come, eu não porque prefiro manter a forma... – Niko lhe deu um tapinha de leve e ele riu.

– Mentiroso! Como se não se jogasse nos pratos que eu faço!

– Me jogo mesmo por que é você que faz... E também por que eu posso comer o quanto for que não engordo, você sabe!

– Metido!

– Continuando... Também não gastamos com roupas que usamos só uma vez por ano, ou com presentes que ninguém precisa!... Nem um centavo!

– Por quê?! Nós temos condições de fazer isso!

– Mas não é por que temos dinheiro que temos que gastar à toa, não é, carneirinho?!

– Mas não é à toa, Félix! Gastamos mais no fim de ano justamente pelas festas, comemorações, presentes...

– Mas é justamente disso que eu estou falando, meu amor! – Pegou em seu rosto. – Pelas contas do rosário, vê se me entende! Eu pensei em fazermos o seguinte... No lugar de comemorarmos o natal como sempre, nós simplesmente não comemoramos! Pulamos a data! Podemos até fingir que nem estamos em dezembro! Pronto, simples assim! Aí, em vez de ficarmos aqui nos preocupando com festa, convidados, presentes, comida... Nós vamos relaxar num cruzeiro! Que tal?! O que acha das Ilhas Gregas?

Niko o olhava boquiaberto. – Você disse... Um cruzeiro?...

– Pelas Ilhas Gregas! E aí?! Ou pra qualquer outro lugar que você queira!

Niko levantou do seu colo.

– Félix... Você quer simplesmente deixar de comemorar o natal com a nossa família para nós dois irmos para um cruzeiro pelas Ilhas Gregas?! É isso?!

– Foi isso que eu disse!

–... Não!

– Não?

– Não!

– Por que não?! Tá bom, não quer ir a Grécia? Vamos ao... Caribe então! Hein?!

– Não!

– Não?! O que você quer, então? França, Portugal, Espanha... Já sei, Nova York! Ou, sei lá... Você quer um desse lugares pra onde a gente já foi, ou quer um que a gente nunca tenha ido?

–... N-não!... Não sei!... Ai Félix, você me pegou de surpresa... Eu nunca pensaria em deixar pra lá uma data tão importante como o natal, só para termos uma viagem como essa... Mesmo que seja um lugar pra onde a gente nunca tenha ido... Ou um desses lugares lindos que a gente já foi...

– Carneirinho, eu te conheço... Você também quer ir... Confessa que gostou da minha ideia...

–... Não! Não gostei! – Pôs as mãos na cintura. – Há quanto tempo o senhor está planejando isso, hein?!

– Não faz muito tempo... – Pigarreou e falou rápido. – Um mês!

– Um mês?! Faz um mês que você está planejando uma viagem para nós em plena semana do natal?! E quando você pretendia me contar, na véspera?

Félix foi até ele, passando os braços em volta de sua cintura, agarrando-o com um sorriso faceiro e dengoso.

– Não, meu carneirinho lindo... Eu pretendia te contar hoje mesmo como eu fiz!... Eu até tenho mais umas coisinhas pra te convencer... Mas deixa pra depois...

– Que coisinhas, Félix? Do que mais o senhor ainda quer tentar me convencer? O que é, hein?! Pretende que eu abandone a Páscoa também para viajarmos para sei lá onde?

– Não, carneirinho, não seja bobo! Depois conversarmos sobre o que mais eu preciso te convencer... Agora... Eu vou te dar a prova para que você se convença de como será inesquecível a nossa viagem...

Félix começou a distribuir-lhe beijos pelo pescoço. Niko, mesmo parado se fazendo de difícil, já estava cedendo aos seus carinhos. Félix, notando que sua investida estava dando certo, foi levando seu marido até encostá-lo contra a mesa. Continuou beijando seu pescoço, passando para a orelha. Foi quando ouviram o barulho da porta se abrindo. Pararam e viram um par de olhos verdes que olhou pela fresta da porta e logo a fechou com um:

– Ops!

Se olharam logo reconhecendo quem era. – Ei, mocinho, volta aqui! – Niko chamou.

Fabrício abriu a porta e deu um sorrisinho de menino travesso.

– Oi papis! Eu só estava passando...

– Só passando? Sei... Queria alguma coisa?

– Não, pai! Posso trocar uma ideia com o papi Félix? Rapidinho!

– Espera um pouco, carneirinho, vou falar com ele! – Félix foi até ele. Os dois ficaram na porta quase cochichando. – Que é?

– Papi, já falou com ele sobre aquilo?

– Não... Ainda não... Eu estava quase o convencendo a uma coisa que ia te ajudar! Quem mandou você entrar sem bater!

– Foi mal, papi! – Deu um sorrisinho e arqueou uma sobrancelha. – Que maneira de convencer hein?!

– Garoto!

– Desculpa... Mas e aí? Quando você vai falar com ele sobre a viagem?

– Eu ia falar depois! Não nos interrompa mais!

– Tá bom, papi! Mas é que eu quero saber...

Niko ia a passos leves para ouvir o que eles falavam.

– Viagem? Que viagem? Meu filho, não me diga que você já estava sabendo desse planinho do seu pai de viajarmos no natal? – Perguntou Niko e os dois pararam de cochichar.

– Hein?! Que planinho? – Perguntou Fabrício que olhou para Félix. – Papi, vocês também vão viajar no natal?

Félix fez sinal de silêncio para ele, mas era tarde, Niko viu.

– Como assim “também”, Fabrício? Que história é essa? - Virou para Félix. – Félix, quer me explicar isso?!

Félix olhou para os dois loiros encarando-o e exclamou: - Ah assim não dá! Os dois carneirinhos da minha vida me pressionando... É demais pra mim, gente! – Fez seu pequeno drama, mas parou quando viu que Niko estava com os braços cruzados, sério e batendo o pé no chão, esperando sua explicação. – Ai, tá bem... Vou explicar... É o seguinte, Niko... O Fabrício veio me procurar a alguns dias para me pedir para fazer uma viagem no natal com os amigos do colégio. Como ele já está no último ano, a turma decidiu fazer um passeio entre eles. Porém, preferiram viajar justo na semana do natal. Eu disse que daria permissão, mas que tínhamos que convencer você. Então, eu fiquei... Encarregado de te convencer...

– Era o que você estava tentando fazer agora, não era?

– Era!

– Mas você não me falou dessa viagem do nosso filho, você falou de uma viagem para nós dois!

Fabrício interrompeu: - Ei! Dessa eu não sabia, papi!

Félix respondeu: - Não, eu pensei nisso depois! Eu pensei... Se o Fabrício, que é nosso caçula, viajar no natal... Por que nós não?! O Jayme pode passar o natal com a família da namorada quase noiva... E o resto da família tem suas próprias famílias né?!... Qual o problema?

Niko, ainda de olho no marido, exclamou: – Félix! – E virou para o filho. – Fabrício! – Voltou para o marido. – Por que vocês não falaram comigo antes hein?! Estão de segredinhos pra mim agora?!

Fabrício, tendo aprendido muito com o papi Félix também já sabia muito bem o que fazer para convencer o pai carneirinho. Chegou perto dele, fazendo biquinho, e o abraçou.

– Papai, desculpa não ter falado antes... É que eu queria que o papi falasse com você primeiro...

– E por que você não falou primeiro comigo, Fabrício?

– É que... Eu pensei que você não fosse deixar de jeito nenhum... – Deu um sorrisinho e olhou com aquele olhar que havia herdado do próprio. – E aí eu pensei... Acho que se o papi conversar com ele, ele vai aceitar! Por que eles se amam tanto, se entendem, e eu tenho um pai loiro e lindo e tão compreensivo, o mais compreensivo de todos...

Niko arqueou uma sobrancelha e balançou a cabeça.

– Você acha que vai me ganhar com essa carinha, Fabrício? Tsc tsc... Eu que ensinei isso a você!

– Que bonito, Niko! Admitindo que ensinou o menino a fazer sua carinha de carneirinho pidão!

– Admito mesmo! Essa técnica é minha! Com direito autoral e tudo! – Olhou para o filho. – Fabrício, eu serei bem sincero... Eu não gostaria que você fosse nessa viagem!

– Mas pai!... Por quê?

– Por que acho perigoso! Ir um monte de adolescentes pra sei lá onde, assim na época de festas... Não, tudo pode acontecer!

– Como assim tudo pode acontecer, carneirinho? – Perguntou Félix.

– Como?... Tudo! Tudo pode acontecer! Félix, o Fabrício já tem dezesseis anos, não é mais criança, mas ainda não é adulto... E eu não gosto nada do bando de admiradoras que mandam cartõezinhos para ele no natal! Você mesmo se lembrou disse há um instante! Cartõezinhos que, aliás, já começaram a chegar, e ainda falta uma semana para o natal!

Félix completou: - É... Admiradoras... E admiradores!

– Também?! – Perguntou Niko surpreso.

– Também! Nosso filho é muito cobiçado... Também foi eleito o gato do colégio esse ano né?!

Fabrício comentou com um sorriso cínico ajeitando a sobrancelha com o dedinho: - Ah papis... Que posso fazer se todos me querem?!

Os dois olharam sérios para ele.

– Eh eh... Bom... Eu vou deixar vocês a sós... Pra acabarem... A conversa! Com licencinha...

– Com licencinha coisa nenhuma! – Falou Niko. – Fabrício, depois nós vamos ter uma longa conversa sobre essa tal viagem com os amigos, ouviu?!

– Tá bom, pai. – Ia saindo, mas quando Niko virou de costas, ele olhou para Félix e sussurrou: - Depois me fala se conseguiu convencer ele...

Niko virou para ele de novo e ele, com um sorrisinho, saiu dando tchauzinho. Niko então, virou para Félix.

– Viu?! Viu só?! E você ainda acha que ele é igualzinho a mim! Ele é igualzinho a você, isso sim!

– A mim? O garoto é sua cara, praticamente seu clone! Além de fazer muito bem a carinha de carneirinho pidão que você ensinou a ele...

– Não falo de aparência física, Félix! Você entendeu muito bem! Tem horas que ele age igualzinho a você! Até me assusta!

Félix ajeitou a sobrancelha com o dedinho e com o sorriso cínico foi logo falando:

– Fazer o quê?!... Também ensinei meus truques a ele!

– Olha... O Fabrício é a cópia da sua personalidade, isso sim! Ainda bem que em algumas coisas se parece comigo!

– É, tem razão... Ele também é meio genioso às vezes...

Niko o encarava sério batendo o pé no chão.

– Carneirinho... Para vai! Não faz essa cara! Vamos fazer o seguinte... Eu vou trancar a porta e nós vamos conversar a sós, tá?! Vamos pensar bem sobre essas viagens e como serão boas pra todo mundo! Você vai ver... – Antes de Félix trancar a porta ele a abriu, e Fabrício quase caía, pois estava encostado nela.

– Eh eh... Oi de novo, papis!... – Os dois cruzaram os braços, encarando-o. Fabrício então foi saindo brincando. – Nossa! Que caras hein?! Eu devo ter deletado o pacote de línguas da Torre de Babel pra vocês ficarem me encarando desse jeito!... Eu vou pra o meu quarto!... Esperar vocês resolverem as coisas!... Mas não dou tchauzinho dessa vez!

Ele saiu. Félix trancou a porta e virou para Niko.

– Boa essa frase nova dele... Vou usar...

– Félix! - Reclamou.

– Ai! Que é?

– Vamos falar sério agora! Não venha todo fogoso pra o meu lado, nem pense em tentar me agarrar! Não vai haver nada entre nós até que você me conte direitinho todos esses planos que vocês inventaram aí!

.

.

.

Minutos depois de uma longa conversa...

– Parece horrível, Félix! Você quer praticamente esquecer que o natal existe!

– Também não seja tão radical, carneirinho! Não é assim... Será só esse ano! Ano que vem voltamos as festinhas normais como você gosta e pronto! O que acha?

– Ainda não acho nada bom...

– Não! É maravilhoso! E é só por esse ano! Vamos aproveitar! Jayme não está aqui, Fabrício também não estará! Então o quê nos impede?! Olha, no próximo ano podemos voltar ao caos de preparar tudo para o natal, se é isso o que você quer! Fazemos faxina na casa toda, compramos um shopping de enfeites novos... Mas, dessa vez vamos, Niko, por favor! Vamos pular o Natal, guardar o dinheiro e iremos mergulhar nas águas do mar... De algum lugar... Por dez dias... Uma semana... Só isso!

– Só isso?! Dez dias?! Você quer passar o natal e o réveillon em outro lugar e você acha pouco?!

– E você acha muito? Já fizemos viagens mais longas, meu carneirinho! Até nossa lua de mel foi de um mês inteiro, e o Fabrício ainda era um bebê! E agora? Niko, meu bem, você quer o quê? Esperar que nossos filhos se casem, saiam de casa e nos deixem sozinhos para podermos viajar sossegados? Daqui pra lá eu não vou ter mais tanto... Tanto pique quanto tenho agora, meu amor!

– Como você exagera! Tenho certeza que você vai estar com oitenta anos e com esse mesmo pique!

– Uh! Tomara! Mas, só para garantir... Por que não vamos agora? – Niko ainda relutava, mas Félix sabia muito bem como usar a psicologia contra um carneirinho genioso. – Tudo bem... Eu vou te deixar em paz com essa história, por enquanto... Se você não quer mesmo ir... Tá tudo bem! – Ficou com a voz um tanto decepcionada. – Claro que eu vou desfazer tudo que já tinha planejado pra nós!... - Suspirou. - Ah, eu havia sonhado tanto com todos os lugares turísticos que poderíamos visitar!... Nossas noites na Grécia... Eu já nos imaginava realizando uma fantasia...

– Uma... Fantasia? Que tipo de fantasia?

– Fantasia sexual...

– É? E... Qual fantasia?... Só pra saber...

– Imaginei nós dois vestidos como deuses gregos... Você seria, sei lá... Dionísio, deus dos delírios... Por que você me faz delirar, carneirinho...

– Faço é?

– Faz... Você sabe que faz! - Lambeu os lábios para Niko ter certeza do que ele falava. - Sabia que Dionísio é representado só com uma túnica branca, bebendo vinho, comendo uvas, deitado, sendo massageado...

– É?... E você? Seria qual?

– Não sei... Você que escolheria! Eu seria o que você quisesse! Hum... Eu poderia ser o Eros, que tal? O Cupido! Você sabe que o Cupido é representado quase sem roupa né?! Só carregando seu arco e flecha para disparar nos corações apaixonados...

– Sei!...

– Ou... Eu poderia ser seu Hércules! Já pensou? – Seu sorriso era de total luxúria. – Eu faria todos os doze trabalhos pra você... Do jeito que você desejasse...

– S-sério?

– Aham... Mas... – Suspirou de novo e levantou. – Já que você não quer mesmo ir... Deixa pra outra vez! Quem sabe, daqui uns anos... Sei lá... É... Não são todas as fantasias que são realizadas né?! E também... Se você prefere a rotina de sempre desse mês... Que posso fazer?! Eu sempre faço tudo que você quer, meu amor!...

Félix foi saindo devagar. Contou até cinco, até que ouviu a voz do loiro lhe chamar.

– Félix, espera!

Ele disfarçou o riso, pois sabia que a vitória era dele.

– Sim, carneirinho?

Niko suspirou. – Ai, tá bem... Se você já tinha feito planos e... Quer tanto ir... Tá bom, nós iremos!

Então ele abriu um sorriso largo. – Sério, carneirinho?

– É, sério... Nós vamos, tá bom? Você venceu! Mas antes de tomar uma decisão definitiva, me deixa falar com o Fabrício?! Quero saber direitinho como será essa tal viagem com a turma!

Félix o abraçou forte. – Você não vai se arrepender... - Pegou em seu queixo. - Meu amado carneirinho! – E o beijou intensamente.

Após o beijo se soltaram sorrindo e saíram do escritório.

– Espero que não... E espero que você também não se arrependa de pular o natal, viu Félix?!

– Imagina...

...


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Notas finais do capítulo

Continua...