Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 80
Uma Festa Poderosa - parte 6


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo.



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– E mesmo assim... Sabendo que passamos o dia todo fazendo isso... O senhor não quer que façamos a festa aqui?

– Eu não gostaria...

– Mas...

– Espere, ainda não acabei! – César respirou fundo. – Eu não gostaria... Mas, por acaso, posso impedi-los?

Niko não soube o que responder.

– Responda, rapaz! Eu poderia impedi-los?

Niko pensou um pouco e respondeu: - Sim... Poderia!

César virou para o outro lado fazendo um barulho que soou como um suspiro irônico e ficou um tanto nervoso.

– Eu poderia?! Assim... Sendo um inválido?! Poderia?! Vocês fazem o que querem, já disse, você manda nesta casa até mais que o Félix! Como eu poderia impedir vocês de fazerem alguma coisa?! Eu não passo de um velho inútil ocupando espaço...

– Não fale assim do senhor mesmo! E quanto a nos impedir de fazer alguma coisa nesta casa... Poderia sim, senhor César! Bastava uma palavra sua! Por que... Apesar de o senhor achar que não, nós o respeitamos muito... Sabemos que essa casa é sua e...

– Você mesmo disse que essa casa não é minha...

– De fato... O Félix tem moralmente mais direitos sobre esta casa, pois é ele quem cuida dela, foi ele quem quis vir morar aqui, foi ele quem tratou de reformá-la para dar o melhor a nossa família! Mas, sabemos que essa casa é sua, e embora o senhor não aceite o fato de eu morar aqui com meus filhos, nós o respeitamos muito... Eu o respeito por ser o pai do... Do meu companheiro!

César permaneceu sério e calado por uns segundos, mas comentou:

– Ainda é muito estranho para mim... Ouvir isso!

– Ouvir que seu filho tem um companheiro? Que ele é casado comigo? Que também é pai dos meus filhos?

– Como pode?!

– O amor pode tudo, senhor César! Somos mais que dois homens, somos duas pessoas que se amam de verdade! E... Mesmo que o senhor não aceite nunca... Eu amo o seu filho com toda minha alma!

César não disse uma só palavra em resposta. Parecia pensativo. Niko suspirou profundamente e continuou:

– Basta uma palavra, senhor César! Uma palavra... E nós fazemos o que o senhor quiser! Se não quer mesmo que façamos a festa aqui, nós... Nós cancelamos tudo e... E levamos todos a outro lugar, ao restaurante talvez, não sei...

– Qual seria a palavra, rapaz? – Indagou César interrompendo-o. – Qual seria essa palavra que faria que eu tivesse poder de novo sobre esta casa? Se eu dissesse um simples não já bastaria?

– Um simples não?! – Niko ficou um pouco nervoso. – Desde quando apenas um não basta, senhor César?! O senhor passou a vida inteira dizendo não para o Félix... Não, não e não! Ser negativo foi tudo que ele aprendeu! – Niko ficou com os olhos marejados. – Sei que muito do que o Félix fez no passado não tem razão nem justificativa, mas, se perguntassem por que... Por que ele fez as coisas que já fez... Teria apenas uma resposta... Falta de amor! O Félix achava que não merecia ser amado, por que nem o próprio pai o amava!

– Está... Dizendo que a culpa pelo Félix ser quem é, é minha?

– Não... Não por ele ser quem é... Mas por ele ter sido quem foi!

– Quem você pensa que é para falar comigo assim?

– Eu... Eu sou o companheiro do seu filho e o melhor amigo dele... Sou apenas alguém que estendeu a mão para ele e lhe entregou a vida! E alguém que tudo que deseja é ver o Félix feliz! Mas... Senhor César... Ele viverá sempre aflito enquanto o senhor...

César o interrompeu. – Enquanto eu viver nesta casa? É isso?

– Não, senhor César! Se assim fosse, o Félix não o teria trazido para cá!

– O Félix quis vir para cá por sua causa e desses garotos, não por mim!

– Aí que o senhor se engana! O Félix nunca quis lhe dizer, mas... Ele chegou a quase desistir de mim por que queria cuidar do senhor!

César o olhou pela primeira vez desde que iniciaram aquela conversa. Sua expressão era de questionamento.

– Sim, senhor César! É verdade! O Félix, várias vezes, ficou com medo de que seus planos não dessem certo! Seus planos de morarmos juntos, de abrirmos um restaurante na praia, de ele entrar para minha família... Um dia ele me disse que tinha muita coisa na cabeça, e ele ficou quase um ano pensando em como fazer tudo isso se concretizar! Por que, a prioridade na lista de planos do Félix era que o senhor ficasse bem!

– Isso... É verdade?

– Eu não mentiria para o senhor!

César desviou o olhar parecendo pensativo de novo, até que comentou:

– Eu fico ouvindo vocês e... O Félix realmente te ama!

Niko se surpreendeu com aquelas palavras. E se emocionou.

– E-eu... Eu também amo muito o seu filho!

– Percebe-se! – Suspirou. – O que você ia me dizendo antes? Que o Félix sempre viverá aflito enquanto eu... O quê?

– Enquanto o senhor continuar negando ser o pai que ele merece!

César respirou fundo como se criasse forças para falar o que queria. E, de repente, falou: - Você tem razão, rapaz!

– T-tenho?!

– Tem razão... Está certo... – César parecia emocionado. – Eu lembro que... Sempre dizia não para tudo que o Félix queria! Aí a mãe ia e fazia todos os gostos dele! Isso o deixou mimado... E o fez ter ódio de mim...

– O Félix nunca o odiou! Ele só precisava ser amado...

– Deixe-me terminar... – Respirou profundamente de novo. – O Félix se confundiu, nós dois nos confundimos quanto aos sentimentos! Eu achava que dizer não para suas bobagens iria transformá-lo num homem, mas estava errado... Errei o tempo todo... E... Eu só quero saber, rapaz, onde eu errei? Afinal, qual é essa palavra que falta para mim? Que me faltou durante toda a vida? Que faltou entre mim e o Félix?

– Essa palavra, senhor César... Que faltou entre o senhor e o seu filho, e ainda falta entre nós, é... Dignidade! – César voltou a olhar para ele. – Se houvesse o verdadeiro respeito entre nós... Entre todos que vivem nesta casa, senhor César, nós faríamos tudo que o senhor quisesse, e mais... Nem o Félix nem eu iríamos temer uma reação contrária do senhor, por que, mesmo que o senhor não concordasse com algo que a gente quisesse, nós veríamos o seu lado e respeitaríamos sua opinião! Nós teríamos algo muito importante em toda família: o diálogo! Mas, sabe qual o problema, senhor César? É que todos aqui respeitam o senhor, mas o senhor não quer nos respeitar... E quem acaba não se sentindo digno de estar aqui, é o senhor mesmo! Por que o seu filho e eu temos uma família linda que adoraríamos que o senhor fizesse parte! Mas, quem insiste em permanecer excluído de tudo é o senhor! Nós temos muito orgulho do que somos e como somos... Nós respeitamos a todos, nós temos dignidade! O senhor me disse nesse instante para não chamá-lo de seu César por que parecia com a empregada falando... Mas aquela moça não é uma simples empregada, e mesmo que fosse a trataríamos igual! Ela é a babá dos nossos filhos e é como se fosse parte da família! Nós pagamos seu salário, mas a tratamos com dignidade! Dignidade, senhor César, não é conquistada com um quadro de família perfeito perante a sociedade, mas com o respeito que se dá a cada pessoa que faz parte dessa família!

César estava com os olhos marejados, mas não deixou as lágrimas caírem.

– Eu... Fico aqui me perguntando de que adiantou tudo que fiz para o Félix ser quem eu queria que ele fosse... Se só agora... Ele é quem ele sempre deveria ter sido!

Niko se surpreendeu novamente e sorriu.

– Nisso nós concordamos, senhor César!

– Não é só nisso que concordamos...

Niko se surpreendeu mais.

– N-não?

– Não... – César suspirou. – Nós dois queremos ver o Félix feliz!

Niko sorriu emocionado.

– O senhor não sabe como faria bem ao seu filho ouvir uma coisa dessas!

– Eu sei... – Virou para ele. – Vá! Façam essa festa! Já prepararam tudo mesmo... Só não me incomodem, e se forem colocar música, que não seja muito alta, estou mesmo com dor de cabeça!

– Sim, senhor! E... Obrigado por aceitar...

– Apenas... Respeito as decisões de vocês!

Niko levantou-se. Mas, antes que saísse, César falou:

– Continue sendo como é com o Félix!

Niko virou surpreso.

– Como eu sou com o Félix?

– Continue sendo enérgico com ele! Não sei o que você faz para ele te obedecer, e nem me interessa, mas eu sei que você tem poder sobre ele! Continue mandando nele, colocando-o na linha, ele precisa! Passou a vida toda andando errado... Continue levando-o pelo caminho certo! Sei que... Só você é capaz disso!

Niko sorriu ainda mais emocionado. – Muito obrigado, senhor César! Obrigado pela confiança! Eu não me esqueci da promessa que lhe fiz antes de me casar com o Félix... Eu sempre vou fazer o seu filho feliz! Sempre vou levá-lo pelo melhor caminho, e não só levá-lo, andarei lado a lado com ele!

– Sei disso! Só não dê ordens demais a ele! Continua sendo meu filho e não me agrada nada ele estar sendo tão obediente a você!

Niko deu uma risada.

– Do que está rindo, rapaz?

– Ah senhor César... Agora entendi... Entendo o motivo dessa conversa! O senhor ficou incomodado por eu estar mandando no Félix! Como todo pai se sentiria vendo alguém dar ordens a seu filho!

– Eu só... Acho estranho ver o Félix assim... Acatando ordens... Fazendo tudo que você quer! Claro que me preocupo! Não me agrada em nada! O Félix não pode fazer tudo que você quer...

Niko notou que ele estava falando isso sério demais.

– Com o que se preocupa realmente, senhor César?

– O Félix está enfeitiçado por você, rapaz, faz tudo que você manda... Eu o ouvi mandando nele o dia todo, não negue! Félix, faça isso, Félix, faça aquilo... Ficaram assim a tarde toda, desde que cheguei da fisioterapia e imagino que a manhã também enquanto eu não estava aqui...

– Isso o incomoda tanto assim?

– Sim! Que pai não se incomodaria?! Ainda mais sabendo como o filho já foi... E tudo que ele tem... O Félix pode se considerar mais dono dessa casa que eu e... Não gosto como ele se comporta com você, como um molequinho obediente...

Niko começou a entender suas palavras e ficou nervoso. – Espera... Senhor César... Não me diga que o que lhe preocupa de verdade é que eu esteja me aproveitando do Félix?! Que eu esteja com ele só pela posição social dos Khoury?! Não me diga que o que o preocupa é que ele faça tudo que eu quero e se prejudique?! Não me diga que é isso, por que tudo que posso lhe responder senhor César, é que o senhor está redondamente enganado! O Félix poderia ser quem fosse, eu o amaria igual! Eu me apaixonei por ele justo quando ele ainda não tinha mais nada! Eu o quis desde quando ele vivia com a Márcia vendendo hot-dog para sobreviver! Ele estava na ruína e eu que tinha família, emprego e dinheiro, mas nada disso importava por que eu o amei e o amo, sejam quais forem as condições! Então não insinue que eu me aproveito dele, senhor César, por que não é verdade...

– Não, não... Não é isso! Eu... Eu acredito em você quando diz que realmente ama o Félix! Mas... – César se agitou. – Não, me agrada! Não me agrada vê-lo receber ordens suas! Vocês não são casados, ora?! Não vivem dizendo que são iguais?! Então?! Não quero ver meu filho submisso a você! Não quero! É isso! – Ele respirou fundo. – Eu... Eu também... Amo meu filho! Aceito o relacionamento de vocês, os respeito se é o que querem, mas não quero mais ouvi-lo mandando nele como se fosse seu empregado!

Niko, então, se surpreendeu ao compreender a verdadeira preocupação de César.

– Senhor César... Então é isso?! – O loiro sorriu e se emocionou. – Agora sei que temos algo em comum...

César se acalmou e perguntou: - O quê?

– Nós dois amamos o Félix... E queremos o seu bem!

César nada respondeu, mas seu silêncio foi de consentimento. Niko lhe explicou:

– O Félix... Ele não é submisso a mim, nem faz tudo que eu quero! Pelo contrário... Às vezes, tenho que falar sério com ele para fazer com que ele me ajude em algumas tarefas da casa... O que ele não gosta de fazer! – Riu. – Hoje eu não queria que ele não passasse o dia na frente do computador, e fiz com que ele me ajudasse na cozinha e nos preparativos da festa!

Bem mais calmo, César comentou: - Hum, Félix na cozinha... Eis uma coisa que eu gostaria de ver para crer...

– Pode crer... Ele até já está aprendendo a preparar algumas coisas! Ainda é bem cabeça dura... Mas, tem a quem puxar né?!

César ficou sério e Niko se deu conta do que disse.

– Ops... É... Desculpa, senhor César, e-eu...

– Rapaz, me diga uma coisa... Por que me chama de senhor e a Pilar você chama só pelo nome?

– Por que... Por que a própria Pilar me disse que preferia assim, afinal é a mãe do Félix e minha sogra...

– E eu sou o pai do Félix!

Niko entendeu e se surpreendeu e ficou até um tanto sem jeito.

– Oh... É verdade... O senhor é meu sogro... E... O senhor também quer que o chame só pelo nome?

César suspirou. – Não... Melhor não...

– Está bem...

Nesse momento, ambos ouviram o barulho de carros estacionando lá fora e Niko os viu pela janela e comentou: - Eles chegaram...

César então disse: - Vá, rapaz! Podem fazer essa festa para a Pilar, ela merece!

– Sim... – Niko virou para sair, mas antes disse: - Tem razão, senhor César! Melhor não chamá-lo só pelo nome... Afinal, eu sou marido do seu filho e o senhor nunca me chama pelo meu nome! Nem sequer o pronunciou uma só vez durante essa conversa! Mas, de qualquer maneira, já estou satisfeito por termos conversado francamente! Significa muito para mim!

César engoliu seco. Assim que Niko pegou na maçaneta para abrir a porta, ele chamou:

– Niko... Não é? De Nicolas?

O loiro virou para o sogro, muito surpreso.

– É-é...

– Nicolas... De quê mesmo?

– C-Corona!

– Nicolas Corona, é mesmo... Diga-me... Vocês também adotam o sobrenome um do outro nesse... Nesse casamento aí de vocês?

– B-bem... Sim... Nós adotamos por opção como qualquer casal hoje em dia...

– Quer dizer que meu filho agora é... Félix Khoury de Corona?

Niko abriu um largo sorriso, pois aquelas palavras lhe pareciam nada mais nada menos que a aceitação por parte de César. Aceitação que aparecia aos poucos, de forma bem lenta, mas que ele podia perceber. Emocionado, respondeu:

– Não, senhor... É Félix Corona-Khoury! E o meu sobrenome é o mesmo!

– Ah bom... Soa melhor! – Pausou e então, comentou bem pensativo: - E então... Agora, Félix é um Corona...

– É! É sim!

Niko ficara extremamente emocionado e muito feliz. Não que César tenha sido um modelo de simpatia com ele, mas, só por ter falado tanto, já era uma agradabilíssima surpresa.

O loiro girou a maçaneta para sair, dizendo:

– Descanse, seu César! – O chamou assim de propósito, com o intuito de quebrar a formalidade. – Garanto que não faremos muito barulho com a festa e ninguém vai incomodá-lo!

Mas, César parecia não ouvi-lo. Ainda pensativo, concluiu seu comentário antes de Niko sair.

– E agora... Você é também um Khoury!

Niko congelou na porta por uns segundos. A emoção falou mais alto e as lágrimas escorreram por seu rosto. Só que ao invés de chorar, ele sorria. Logo ele enxugou as lágrimas, dizendo: - Obrigado, seu César! – E abriu a porta, falando:

– Era tudo que eu queria ouvir do senhor!

...

...

Depois de dançar com a sobrinha, Félix entrou na casa e se dirigiu ao quarto do pai.

– Papi...

– Entre, Félix!

– É... Desculpa, eu sei que você disse ao Niko que não queria ser incomodado, mas...

– Ele, por acaso, falou tudo que conversamos?

– Não... Por isso eu vim!

– Está curioso?

– Estou... Mas, não é só isso... Papi, eu trouxe uma visita para você... – Félix entrou com o pequeno César Júnior.

– Olha quem veio te ver, papi soberano!

César olhou para os dois. – Júnior! – Com um leve sorriso, recebeu o filho menor nos braços do mais velho.

Fazendo um carinho no filho já na cama ao seu lado, César comentou:

– Que pena que eu não posso vê-lo direito! Como cresceu... Gostaria de ver bem seu rostinho...

Félix o observava. – Você o ama muito não é, pai? O Júnior é seu queridinho...

– Não vou negar que ele é meu favorito! – Félix desviou o olhar e César continuou: - Mas, amo todos!

Félix ficou com os olhos marejados e sorriu em silêncio.

Após alguns minutos curtindo a presença do filho menor, César perguntou ao mais velho:

– Félix... Você não veio ao meu quarto só para trazer o Júnior não é?! Você quer me falar algo?

– É... Bem... Ah papi, sabe como sou curioso! Me conta o que você e o Niko conversaram!

– Para quê?

– Para... Ah sei lá, papi, só por curiosidade mesmo!

– Não!

– Ai papi! Como o senhor é rápido para dizer não para mim!

César lembrou o que Niko lhe disse e comentou:

– Eu sempre fui assim, não é?! Nunca vou mudar! Mas, você... Você mudou... Mudou em muitas coisas, grandes coisas... Por que não muda também nas pequenas coisas?

– Como assim, papi?

– Deixe essa sua curiosidade de lado e contente-se em saber que eu apenas tive uma conversa sadia com seu companheiro! Queria apenas esclarecer umas coisas, só isso!

Félix ficou pálido. Sentiu-se arrepiar e ficou olhando para o pai como se visse uma criatura de outro mundo, um desconhecido. Perdeu a fala e só conseguiu pronunciar algo de novo quando Júnior quebrou o silêncio com seus barulhinhos de bebê.

– P-p-papi...

César olhou para ele e, apesar da vista embaçada, notou que ele estava desconcertado.

– Félix... O que você tem?

– V-você... Você falou... Falou... – As lágrimas encheram seus olhos e escorreram por sua face. – V-você falou... C-companheiro?! M-meu companheiro?!

– Por acaso, não é assim que vocês falam?! Que se chamam?!

– É-é... – Félix enxugou as lágrimas. Sua emoção era tanta quanto no dia em que seu pai disse que o amava pela primeira vez, mas desta vez ele segurou mais o choro de felicidade e ficou só no sorriso.

– É... Papi, você... É verdade que você pediu para o Niko cuidar de mim?

César respirou fundo. – Félix, se eu te pedisse para cuidar do Júnior, você cuidaria?

– Claro, papi!

– Por que você cuidaria dele?

– Pelas contas do rosário, papi, cuidaria por que ele é meu irmão, e é tão pequeno e indefeso! Agora eu sei como é por que tenho meu filho, o Fabrício, que tem a mesma da idade dele, e... E por que amo meu irmãozinho, papi!

– Então, não preciso contar sobre minha conversa com aquele rapaz, não acha?!

Félix ficou ligeiramente confuso, mas logo refletiu e compreendeu. Sorrindo, respondeu: - Não, papi... Não precisa! Deixa minha curiosidade pra lá!

...

Horas depois, todos cantavam parabéns para Pilar e cortavam o bolo. Quando todos já estavam com seus pedaços, Félix fez questão de gritar para todos ouvirem:

– Quero saber o que vão achar do bolo que eu fiz!

Todos olharam surpresos para ele.

– Ai, gente... – Ajeitou a sobrancelha com o dedinho. – Também não é para ficarem boquiabertos... Eu não fiz sozinho, ok! Eu ajudei o Niko! Aliás, ajudei só na cobertura, quem fez o bolo foi ele!

Maciel que estava mais perto brincou:

– Ah bom... Assim todo mundo pode comer!

Todos riram. Félix reclamou:

– Ah ah ah... Muito engraçado, Maciel! Super! Você é um piadista! Ah, mas nem pensem que se livraram, por que eu que fiz os docinhos da festa!

Niko concordou: - Isso é verdade, gente! O Félix fez isso sozinho! – Félix deu um sorriso orgulhoso, mas logo Niko completou: - Foi fácil... Eu dei as instruções e ele mesmo abriu a latinha de brigadeiro e fez!

Todos riram e Félix o repreendeu:

– Ai carneirinho, às vezes você fala mais do que deve, sabia?! O que... Vai concordar com as piadinhas do Maciel agora?! Só porque você acha ele todo... O que mesmo? – Félix saiu de perto com um sorriso irônico deixando Niko com as bochechas coradas.

– H-hein?! É... – Niko olhou envergonhado para Maciel. – E-eu não disse nada, viu Maciel?! O Félix fala demais... Demais! Félix! – O loiro foi atrás do marido.

...

Mais tarde, Paloma e a família foram para casa. Pilar e os outros continuaram até o fim da festa.

Bernarda descansava em um dos quartos de hóspedes e Jonathan ajudava Niko e Adriana a arrumar tudo, quando Pilar se deu conta de que Félix já havia entrado.

– Niko, querido, cadê o Félix?

– Ele foi ninar o Fabrício, Pilar!

– Ninar... O Fabrício? – Pilar achou fofo e estranho para Félix. Mas, Niko percebeu e deu um sorriso.

– Não quer ir lá em cima ver, Pilar? Você tinha que ver como o Félix faz o Fabrício dormir, tão bonitinho! Nosso bebê se diverte mais com ele que comigo!

– É sério, Niko?! Nossa... Essa eu tenho que ver...

Pilar entrou. Antes de subir aos quartos de cima, foi até o quarto do ex-marido. Bateu.

– Pode entrar!

– César...

– Pilar?!

Ela entrou, ficando perto da porta. – Como você está?

– Estou indo... Continuo vivo... Infelizmente!

– Não fala assim, César... O Félix gosta mesmo de cuidar de você...

César a interrompeu. – E você, Pilar, como está?

– É... Bem, obrigada!

– Parabéns pelo seu aniversário!

– Obrigada! Bom, eu vou agora! Tenha uma boa noite, César!

– Boa noite!

Pilar saiu de seu quarto com a suspeita de que a reação de César ao mudar de assunto quando ela falou de Félix fosse por que ele ainda não aceitava o filho como ele era. Ela suspirou profundamente, resignada, aceitando que o ex-marido jamais mudaria para com o filho que agora o ajudava tanto e, por fim, subiu as escadas.

A porta do quartinho de Fabrício estava quase fechada, mas pelo cantinho aberto dava para ver o berço. Ao chegar perto, Pilar já pôde ouvir a voz do filho que falava com os dois bebês que estavam lá.

– Dorme, Fabrício... Olha, seu tio Júnior já está dormindo, se você não dormir vai acordá-lo! Olha aí, não falei?!

Fabrício ainda estava agitado e Júnior acabou acordando também.

– Vem, deixa eu deixar os dois sentadinhos! Pronto!

Félix os deixou sentados no berço. Pilar os olhava do canto da porta. Sem perceber nada, Félix começou a conversar carinhosamente com os dois bebês. Em nada parecia com o Félix que ela estava acostumada a ouvir. A voz debochada, o jeito altivo, o orgulho, tudo parecia tê-lo deixado naquele momento de ternura.

– Vocês dois tem que dormir, meninos, já está tarde! Que foi? Ainda estão agitadinhos por causa da festa de mami? – Riu. – Estão doidinhos pra voltar pra dançar mais né?! Não, não, não... Já é hora de dois pequenininhos assim estarem na cama, no terceiro sono! – Fabrício estendeu os bracinhos para ele. – Que é, meu filho? Quer que papai dance com você é? Eu sei que você gosta, vem... – Ele pegou o pequeno nos braços e começou a balançá-lo como se dançasse com ele. – Pronto, tá gostando, meu mini-carneirinho? Hein?! – Lhe deu um beijinho. – Papi adora dançar com você... É sim... – Olhou para o irmão. – Tá vendo, filho, seu tio Júnior tá olhando pra gente... Ele também quer dançar comigo... Não fica com ciúme tá?! Ele é meu maninho e seu tio! – Devolveu Fabrício ao berço e pegou Júnior. – Vem, maninho... Assim... Vamos ver se vocês dois dormem... Ou eu deixo os dois conversando aqui, batendo um papo em língua de bebê, que tal?! – Riu e devolveu Júnior ao berço.

Pilar observava tudo encantada. Todo aquele Félix como ela conhecia tão bem parecia não mais existir não somente naquele momento, mas não existir mais definitivamente.

Félix puxou a poltrona e ficou sentado do lado do berço, de frente para os pequenos. Baixou um pouco a grade do berço, pois os bebês estavam seguros com ele ali.

– Ei, vocês ainda não estão com sono? Pelas barbas do profeta, meninos, eu estou super cansado! Mas, também... Fiquei o dia inteiro pra lá e pra cá fazendo tudo que o carneirinho queria... – Sorriu e pegou na mãozinha de Fabrício. – É, ele mesmo, seu papi carneirinho que adora me mandar fazer as coisas... Ah, mas... Eu adoro ajudá-lo também! – Sorria enquanto fazia carinho no pequeno que lhe correspondeu com um sorrisinho. – Ah, meu filho, você tem o sorriso do seu pai... Que lindo! – Olhou para o irmão e pegou na mãozinha dele. – E você que ainda não sorriu pra mim, hein?! César Júnior... – Sorriu. – Só podia ter esse nome mesmo pra ficar tão sério comigo! – Chegou mais perto dos dois. – Mas sabe, maninho... Hoje o papi, o nosso papi, fez uma coisa que me deixou tão feliz... Ele conversou com o Niko! É, com o carneirinho, papi do seu amiguinho loirinho aqui... E ele o chamou de meu companheiro... – Suspirou profundamente. – Será que ele nos aceitou, maninho?! Será?! – Olhou para os bebês que olhavam atentamente para ele e riu. – Olha só, eu devo ter derramado leite nas tábuas sagradas pra estar conversando com vocês dois como se me entendessem! Mas, não importa que não me entendam... Nem eu mesmo me entendia antes, sabem?! E mesmo que não me entendam... – Sorriu. – Eu gosto muito de conversar com vocês!

Pilar estava emocionada e cada vez mais convencida da mudança radical que o filho havia sofrido. E tudo isso por amor.

Félix levantou e deu um beijinho na cabeça de cada um dos bebês. Voltou a sentar, pegando nas mãozinhas dos dois. Fabrício, que já falava algumas palavrinhas, começou a balbuciar algo:

– Pa... Papa...

Félix ficou olhando para ele, sorrindo. Virou então para o irmão.

– Tá vendo, Júnior?! O Fabrício já me chama de papai! E você, hein?! Você é o tio dele, não vai ficar pra trás né?! – Riu. – Vai, maninho, fala meu nome... Me chama... Félix! Vai... Félix... Félix...

Repetia, mas parecia que o pequeno não queria cooperar.

– Pelo visto você não vai falar meu nome né, Júnior?! Tá bom, tudo bem, não vou te pressionar... Vai que você puxou o gênio do papi!

Os dois continuavam sentadinhos no berço, mas Félix notou que eles finalmente estavam ficando sonolentos. Levantou e pegou os dois ao mesmo tempo.

– Nossa, como estão pesados! Daqui a pouco terei que fazer musculação para levantar só você, Fabrício... Mas, se bem que não seria má ideia, acho que o carneirinho iria gostar! – Riu.

Félix deitou a cabecinha do irmão no ombro e Fabrício que já estava mais acostumado com os cuidados do pai deitou por si mesmo a cabecinha no ombro dele. Félix começou a andar com os dois pelo quarto, mas logo se cansou sentando-se na cadeira de balanço.

Balançando-se com os dois pequenos nos braços, começou a cantarolar, mas reclamou consigo:

– Ainda não consegui aprender nenhuma dessa musiquinhas de ninar que o carneirinho canta pra você, Fabrício! Se vocês dois só vão dormir com música, eu vou ter que cantar alguma outra que eu lembrar...

Nesse momento, Pilar, extremamente emocionada, virou de repente quando sentiu uma mão em seu ombro. Era Niko. O loiro lhe perguntou baixinho:

– Ele está botando os meninos para dormir?

– Está... – Respondeu bem baixinho também.

– E como está?

– Lindo, Niko... Maravilhoso! – Ela tinha os olhos marejados.

– Eu também acho lindo sempre que vejo o carinho com que ele nina o nosso filho! Me sinto tão orgulhoso do Félix, Pilar!

– E eu, meu filho?! Você não faz ideia de como estou me sentindo nesse momento... – Os dois se puseram a observar Félix com os bebês lá dentro.

Niko suspirou: - Olha que lindo! Ele fez tudo direitinho hoje...

– Ele te ajudou muito?

– Me ajudou em tudo, Pilar! Hoje e sempre! – Niko sorriu, olhando para o marido lá dentro, pensando em uma coisa: - Mas, por hoje... Vou recompensá-lo por tudo que fez! Ah meu amor... Se soubesse que eu jamais seria capaz de fazer uma greve de você... Mas, acho que você sabe né?! Na verdade, você me ajudou por que quis, não por que eu mandei, mas por que é bom... Por que me ama tanto quanto eu te amo!

Pilar interrompeu seus pensamentos, falando: - Niko, obrigada por esse dia! Lembre-me de depois dizer ao Félix que essa cena que estou vendo agora é o maior presente de aniversário que eu poderia ganhar na vida!

Lá dentro, na cadeira que Félix balançava levemente com os meninos que já começavam a dormir em seus braços, ele, também com os olhos fechados e a voz leve de quem estava com quase tanto sono quanto os pequenos, cantarolava para os pequenos, não uma música de ninar, mas outra que ele havia lembrado de repente e que por acaso combinava muito bem com sua vida.

– Vida, vida, vida,

Que seja do jeito que for

Mar, amar, amor,

Se a dor quer o mar dessa dor...

Quero o meu peito repleto

De tudo que eu possa abraçar

Quero a sede e a fome eternas

De amar, e amar e amar...

.

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Notas finais do capítulo

FIM.
Muitíssimo obrigada a todos que acompanharam até este 80º capítulo! Tem mais pela frente!



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