Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 73
Learning How To Love -- IX


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo.



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Depois da briga no shopping...

Niko tinha ido embora e Félix, desnorteado, estava sentado na calçada, pensando como havia acabado de machucar a única pessoa que nunca quis fazer mal na vida... Justo o seu carneirinho que o estava ensinando a amar.

Algumas pessoas que viram a briga já haviam se dispersado. Edith voltara para dentro do shopping e Alonso permanecia olhando para Félix.

Félix tirou as mãos do rosto e seus olhos pareciam olhar para nada. Alonso chegou perto dele e o chamou.

– Félix...

– Hum?

– É... Desculpa se te causei problemas... Mas... A culpa é sua!

– Hum?! – Félix virou para ele com uma expressão de não entender nada. Alonso deu um sorriso levemente cínico.

– Caramba! Que eu me lembre, nunca tinha te visto com uma cara tão confusa quanto agora...

– Não é só a cara...

– Percebi! Por que você não me disse que tinha sim alguém na sua vida?

– E-eu... Eu nem sei... – Félix suspirou profundamente. – Eu acho que... Por um minuto, pensei em como você foi embora com raiva de mim e como tudo deu errado pra você... E pra mim, mesmo depois de eu ter feito tanta... Tanta coisa de que me arrependo... Acabou dando tudo certo... Melhor do que eu esperava...

– Quem disse que deu tudo errado pra mim?

– Não?!

– Não... Apesar de toda a raiva que senti naquela época, sair de São Paulo foi a melhor coisa que me aconteceu! Eu fui morar sozinho em BH e lá eu fui feliz! Eu trabalhei primeiro como garoto de recados numa empresa, e consegui voltar a estudar! Depois fui evoluindo no trabalho por causa dos meus estudos, passei por mais duas empresas até que alcancei o cargo de gerente financeiro, poucos anos depois que me formei na pós graduação e hoje, eu tenho doutorado em economia! Além do mais, lá eu pude assumir minha sexualidade já que não tinha ninguém me vigiando o tempo todo! Conheci um homem maravilhoso, pelo qual me apaixonei e nós moramos juntos durante cinco anos... Acabamos nos separando amigavelmente, e... Desde então, estou solteiro e minha vida tem sido ótima!

– Eu... Não imaginava que havia dado tudo tão certo pra você! Pensei que...

– Pensou o quê? Que eu ficaria depressivo depois de perder você e o curso de administração? Félix, por favor... Eu sei que antes você era egocêntrico, achava que o mundo girava ao seu redor, mas a vida não é assim... O tempo passa, tudo passa... As coisas mudam, as pessoas também! Eu mudei! Eu fiquei mais corajoso! Troquei administração por economia e me dei bem! Troquei o meu armário trancado por uma janela aberta para as oportunidades e me dei muito bem! E você? Quando vai trocar esse medo, essas dúvidas, esse sei lá o quê que você tem, por uma vida em que você viva de verdade?

Félix não aguentou o peso dessa pergunta e deixou uma lágrima rolar. Com a voz embargada, começou a perguntar, como se falasse consigo mesmo:

– Quando? Quando eu vou viver de verdade? Quando? – Então virou para Alonso. – Você tinha razão...

– Em que?

– Quando me dizia, dezoito anos atrás, que eu era um covarde... Eu sou! O Niko também tinha razão... Eu o neguei... O machuquei... E sabe quem sempre sai mais machucado? Eu!

Alonso pôs a mão em seu ombro.

– Me diz uma coisa, Félix... Desde quando você está com esse rapaz? Quando se divorciou da Edith?

– Faz poucos meses... Mas... Eu já não consigo ficar sem ele...

– Quer dizer que você passou todos esses anos fingindo ser o que não era?

– Foi pior, Alonso! Eu não só fingi... Eu enganei... Menti... Manipulei... Todo mundo... Até eu mesmo! Tudo pra fazer com que todo mundo gostasse de mim, e... Acabou que... Todo mundo ficou contra mim! No final das contas, eu saí perdendo! Perdi tudo aquilo que desejava! Lembra? Eu queria a presidência do San Magno... E quando eu consegui, eu fui burro! Perdi mais que isso, perdi a credibilidade no hospital, perdi o emprego, perdi tudo! Lembra? Eu queria ser melhor que meu pai e agora... Agora tanto o papi quanto eu somos mais nada!

– O que houve com seu pai?

– Hoje ele não é mais o presidente do San Magno, a Paloma que é! Doutor César agora vive numa cadeira de rodas, com um lado do corpo paralisado por causa de um AVC, e quase cego... Por outros motivos...

– Nossa! Deve ter mudado muito...

– Sim... E não! Comigo continua o mesmo!

– Você disse que ele agora está quase cego?

– Está! Enxerga, mas muito mal...

– Desculpa pelo que vou dizer, Félix... Mas, cego seu pai sempre foi! – Félix olhou para ele e ele completou. – Ele nunca foi capaz de te enxergar... Ele nunca viu o filho que tem!

– Obrigad...

– Mesmo você sendo um idiota!

– Quê?!

– Não queria falar assim, Félix, mas... É a verdade! A culpa é toda sua!

– Culpa de quê?

– Como de quê?! Culpa de não ter me dito desde o início que estava namorando, que tinha alguém importante na sua vida... – Sorriu cínico. – E que alguém hein?! Aquele loirinho é lindo! Que coisa! Onde você achou?!

Félix conseguiu sorrir nessa hora pelo comentário do amigo.

– É, ele é muito lindo! Um fofo! É o dono do restaurante japonês aqui do shopping!

– Nossa! Que partidão, hein?! Qual o nome dele?

– É Niko... Nicolas!

– Nicolas... Até o nome é bonito! Não devia ter ficado aqui parado feito um idiota, devia ter ido atrás dele, esclarecido tudo... Devia ter sido sincero! Você... Você fez com esse rapaz o mesmo que fez comigo há dezoito anos! Só que... Eu não fiquei desse jeito que ele ficou, nem de longe... Dá pra ver que ele gosta muito de você, Félix! E você também, não é?!

– É! Eu... Na verdade... Gosto demais dele... Demais! Nunca gostei tanto assim de ninguém! Quando estou com ele, sinto que minha vida tem sentido!

– Como vocês ficaram juntos?

– Eu o conheci numa fase não tão boa, de uma maneira nada agradável, mas... Enfim, depois, devido às circunstâncias nos tornamos amigos! Eu o ajudei com... Com umas pragas que infestavam a vida dele! Mas, foi ele quem mais me ajudou! Ele me tirou do fundo do poço... Ele me devolveu à vida... E hoje, Alonso... Eu sinto como se ele fosse a minha vida!

– E o que está fazendo aí parado ainda?! Vai atrás da sua vida! Ou vai desistir dele e viver morto?

Félix se surpreendeu e se alegrou com o que Alonso disse. Levantou e os dois deram as mãos.

– Obrigado, Alonso! Obrigado mesmo!

– Imagina Félix... Obrigado você... Pelos bons momentos da nossa juventude... E pelas oportunidades que mesmo sem saber você, e seu pai também de qualquer maneira, me proporcionaram ao me fazerem sair dessa cidade! Eu estou muito feliz vivendo minha vida, Félix... Vai procurar a sua!

– Vou mesmo! Eu não salguei a santa ceia pra ficar sem o meu carneirinho agora! Tchau!

Quando Félix estava prestes a ir, Edith o chamou:

– Félix!

Ele parou e ela foi até ele. Estava com umas sacolas na mão e o entregou.

– As sacolas que o seu namoradinho chef deixou jogadas lá dentro! Toma!

–Ah... Obrigado, Edith! Mas... O Niko não é meu namoradinho chef, tá bom?! É muito mais que isso... – Ficou com o olhar distante por um segundo. – Muito, muito mais!

– Já sei, Félix... Vai logo senão ele foge, vai!

Félix sorriu. – Não criatura! Ele não vai fugir de mim! Por que aonde ele for... Eu vou!

Deu um beijo no rosto de Edith e um abraço em Alonso e correu para o carro para ir a casa do seu carneirinho.

No caminho, pensava: - Ah carneirinho, me perdoa, por favor... Eu não sei mais viver sem você! – Parou num sinal e continuou: - Preciso ir atrás dele! Embora, eu conheça aquela criatura geniosa o suficiente pra imaginar que ele deve estar agora lá no quartinho do Fabrício, cantando pra ele ou brincando pra disfarçar... Ah não ser que ele já foi pra o quarto dele... Se foi, deve estar chorando... E por minha culpa! Não posso deixar! Eu preciso... – Ouviu a buzina de um carro atrás, pois o sinal já havia aberto e ele nem percebeu. Saiu e continuou pensando enquanto dirigia até a casa de Niko. – Mesmo que você não queira me ver agora... Eu vou fazer tudo pra você me perdoar! Por que... Por que, a verdade é que eu te amo, carneirinho! É impossível negar isso... Eu te amo!

Félix chegou e estacionou o carro.

Lá dentro, Niko havia acabado de entrar em seu quarto, logo após deixar Fabrício no berço e pegar a carta que Adriana lhe entregou.

Félix esperou um pouco no carro, tentando encontrar as palavras para lhe explicar, mas tudo que conseguia pensar era em pegar Niko em seus braços e não soltar nunca mais. Fosse como fosse ele precisava do seu perdão, e mais que tudo, do seu amor para continuar vivendo.

Então, desceu do carro e tocou a campainha. Adriana abriu a porta.

– Boa tarde, seu Félix! Ué, pensei que o senhor e o seu Niko estivessem juntos! Por que ele veio antes?

– É... Estávamos juntos, Adriana, é que... Ai, cadê o carneirinho, hein?!

– Foi pro quarto, disse que queria descansar... Seu Félix, eu achei o seu Niko tão tristinho...

– É por minha culpa, e eu preciso falar com ele...

– Tá bom... Entra, eu vou dizer que o senhor tá aqui!

No quarto, Niko ia começar a ler a carta quando Adriana bateu.

– Seu Niko! O seu Félix tá aqui e quer falar com o senhor!

– Adriana, eu não quero ver ninguém! – Foi a resposta que Félix ouviu e percebeu que não seria tão fácil. Niko estava muito triste com ele.

– Mas... Seu Niko... É o seu Félix, entendeu?!

– Entendi sim, Adriana! Mas, diga que não quero falar com ele!

– Tudo bem, Adriana... Eu volto depois... – Respondeu Félix com a certeza de que voltaria quantas vezes fosse preciso para conseguir o perdão do seu amado carneirinho.

Depois de entregar a Jayminho o jogo que o pai havia comprado para ele e ter um momento em que deixou a emoção falar mais alto em seu peito, Félix foi embora. Ao sair e entrar no carro teve a impressão de ver de relance Niko espiando-o pela janela.

Antes de dar a partida, prometeu para si mesmo:

– Eu vou voltar! E não vou descansar até não conseguir seu perdão, carneirinho! Por que hoje descobri que sem você eu não vivo... Sou como um sentimento sem explicação... Só existo! E eu já passei toda minha vida só existindo, Niko! Agora, eu quero viver de verdade! Viver ao seu lado! Meu amado carneirinho... Meu... Amor... Eu vou voltar!

Horas depois, Félix voltou com flores. Bateu na porta, Adriana atendeu, mas outra vez Niko disse que não queria vê-lo. Saiu deixando as flores no batente da porta com um bilhete no qual havia tentado escrever uma mensagem bonita, romântica, mas tudo que conseguiu foi escrever “Me desculpe”. Foi embora, sem se dar por vencido. Ele ainda voltaria quantas vezes fosse preciso. À noite, trocava de roupa para voltar lá quando achou a cópia da chave da casa de Niko que o seu carneirinho mesmo havia lhe dado outro dia. Foi então que teve a ideia:

– É isso! Mais tarde... De madrugada... Eu vou entrar na casa do carneirinho sem ele perceber! Senão ele não vai querer falar comigo nem tão cedo... E eu já estou morrendo de saudade dele! Não quis me receber, não atende o celular... Ah não Niko! Eu vou aí! Mesmo que você me expulse, eu vou entrar na sua casa de madrugada... E vou te pedir perdão, meu amado carneirinho!

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Madrugada...

Félix chegou e estacionou do outro lado da rua da casa de Niko. Olhou para lá e respirou fundo. Tirou a cópia da chave do bolso e saiu do carro. Ao chegar ao batente da porta olhou para baixo e se sentiu aliviado por não ver mais seu buquê de flores que havia deixado mais cedo lá.

– Ah o carneirinho pegou as flores... É um bom sinal!

Abriu a porta devagar, fazendo o máximo de silêncio possível para não acordar ninguém.

Entrou e trancou novamente. Guardou as chaves e pensou:

– É melhor eu tirar os sapatos, não quero fazer barulho nenhum! Os meninos não podem acordar!

Ao pensar nisso, pensou na possibilidade de Niko estar ninando Fabrício no quarto, já que os bebês às vezes acordam e demoram a dormir. Foi indo devagar até o quartinho dele, torcendo para que o pai do pequeno não estivesse lá. Viu que não ao ver Fabrício dormindo quietinho. Porém, não conseguiu apenas olhá-lo e sair de fininho. Ele já achava aquele bebê fofo demais e alimentava por aqueles meninos, filhos do seu carneirinho, um sentimento maior que sua própria compreensão. Aproximou-se do berço e com o máximo de silêncio, beijou a ponta dos dedos e depositou o beijo na cabecinha do pequeno. Ficou abobalhado observando aquela gracinha até que lembrou o que fora mesmo fazer e saiu do quarto.

Foi então até o quarto de Jayminho e ao ver que o garoto também estava profundamente mergulhado no mundo dos sonhos, Félix, mais tranquilo, voltou a ir em direção ao quarto de Niko.

Enquanto ia, lembrando como Niko brigou com ele, como foi embora do shopping e como não quis falar com ele o resto do dia, Félix reclamava-se por dentro, e nunca pensou que reclamaria com um sorriso na face, repetindo para si mesmo coisas como: - Que carneirinho genioso que eu fui arrumar... Olha o que você me faz fazer, Niko! Eu aqui de madrugada, bancando a babá, vendo se as crianças estão dormindo... Entrando escondido na sua casa... Só para ver se você me perdoa! Embora eu não tenha feito nada de errado... E mesmo que fosse, claro que você também não vai admitir que errou também! Ai, meu loirinho... Tão lindo... Criatura geniosa!

Chegou à porta e ela já estava aberta como o loiro geralmente deixava para ouvir caso seu bebê chorasse. Entrou e o viu adormecido, tão lindo, sem camisa, com o cobertor até a cintura, com aquele rostinho angelical e os cachos caindo sobre a testa.

Félix sorria feito um bobo. Custava-lhe acreditar como a vida havia lhe dado o amor de uma criatura tão divina. E como tal criatura havia se tornado sua razão de viver.

Uma lembrança lhe veio à cabeça: o dia do casamento de sua prima Linda. Na ocasião, Niko também estava chateado com ele e ele lhe disse: - Você que acha que príncipe encantado existe!

Com essa lembrança, Félix sussurrou quase sem voz: - Se príncipes encantados existirem, carneirinho... Deixa eu tentar ser o seu?!

Ajoelhou-se perto da cama, tocou sua mão estendida na cama, e lá depositou um beijo. Fechou a mão do loiro como se quisesse que ele guardasse o beijo caso não o perdoasse e não quisesse vê-lo nunca mais. Mas, depois daquele beijo, ele não conseguiria mais parar. Foi beijando-o mais e mais até o loiro acordar e se surpreender.

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Notas finais do capítulo

Continua...



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