Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 70
Learning How To Love -- VI


Notas iniciais do capítulo

Continuação...
Depois de fazerem as pazes, Félix queria contar uma antiga história para Niko...



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– P-posso te contar qualquer coisa, carneirinho?

– Pode! – Niko segurou em suas mãos e falou com toda calma do mundo: - Félix... Antes de ontem mesmo você me disse que nunca contou a verdade a ninguém sobre sua sexualidade, que ninguém sabia... Por que esse homem sabia?

– Por... Por que ele também... Bom, vivia no armário, sabe...

– E? Quem foi esse homem na sua vida?

Félix, embora nervoso, sentiu confiança no olhar de Niko e na sua voz mansa e começou a contar.

– Carneirinho... Eu e o Alonso já... Ficamos...

– Ficaram?

– É... Nós... Tivemos u-um rolo, um caso... Antes de eu me casar com a Edith...

Ao contrário do que Félix esperava, Niko não se surpreendeu tanto, até parecia que já esperava.

– Eu... Imaginei que tivesse acontecido algo entre vocês! Vocês dois... Namoraram?

– Namorar?! Como namorar, carneirinho?! O papi nunca aceitaria que eu namorasse outro homem! Se hoje, ele não consegue aceitar você... Como ele aceitaria alguém na minha época de faculdade?!

– Então... O que houve entre vocês?

– O que houve, assim... De primeira... Foi que... Sei lá, a gente começou a sair junto... Só como colegas, e... Tudo quanto era atividade da faculdade ele me escolhia pra fazer dupla com ele, e eu comecei a me sentir atraído... Eu já sabia muito bem que eu gostava de rapazes, e sabia também que o papi jamais aceitaria isso, então, eu escondia... Escondia de todos, até um dia em que fui convidado por uns colegas para uma festinha na universidade! Eu bebi um pouco além da conta... Um pouco não, muito além da conta! E no outro dia... Acordei num motel...

– Num motel?!

– Pois é... Era um lugarzinho barato... Eu pensei que estivesse sozinho, mas alguém tinha que ter me levado pra lá né?! Minha roupa cheirava a bebida, mas eu, pelo menos, estava vestido! Levantei e comecei a andar pelo quarto, confuso! Quando eu ia sair, ouvi uma voz me chamar vindo do banheiro... Era o Alonso!

Niko não gostou muito dessa parte e perguntou com certo ciúme: - O que ele fez com você?! Ele se aproveitou de você enquanto você estava bêbado?!

– Não, Niko! Se ele tivesse feito algo comigo eu saberia quando acordei, não acha?! Além do mais eu estava vestido, se ele tivesse se aproveitado de mim não teria tido o cuidado de vestir minha roupa de novo né?!

– É, isso é... Então?

– Ele me contou que me levou pra lá pra me ajudar...

– Ah! Te ajudar num motel?!

– Sei que parece estranho... E é... Mas, ele me contou tudo que houve e eu não tinha por que duvidar dele naquela época, afinal, era um dos poucos amigos que eu tinha...

.

.

.

Dezoito anos atrás...

– O que eu estou fazendo aqui, Alonso?

– Fica calmo, Félix! Eu vou te explicar...

Félix voltou a dar voltas pelo quarto.

– P-pelas contas do rosário, p-porque você me trouxe pra aqui?

– Senta que eu te falo, ora! Pra começar, você lembra alguma coisa de ontem?

... ...

– A verdade, carneirinho, é que eu não me lembrava de praticamente nada da noite anterior! E o que o Alonso me contou me fez pensar que eu devia ter não só salgado, mas queimado a santa ceia...

... ...

– É... Lembro, claro...

– Lembra mesmo?

– L-lembro... Não! Não, não lembro tá bom?! Pronto, falei! – Félix se aproximou do amigo e sentou na cama, preocupado. – O que houve ontem, hein?!

Alonso sentou ao seu lado.

– Félix, ontem você bebeu demais... Todos nós bebemos, mas alguns exageraram... E você foi um deles! Você também fumou uns dois cigarros...

– Exagerei tanto assim?!

– Oh! Nem te conto...

– Não, conta, eu quero saber!

– Bom... Os caras lá queriam sair e ir pra outro lugar, mas eu achei melhor não! Eles queriam entrar de penetra na festa da outra universidade, e eu achei isso perigoso! Só que você se animou e queria ir com eles...

– E-eu?!

– É, você...

– Deve ser por que nunca sou convidado para essas festas...

– É, pode ser... – Alonso riu. – Você devia ter se visto, cara! Foi muito engraçado ontem à noite...

– F-foi?! Que foi que eu fiz?

Riu mais um pouco e contou: - Estava até tranquilo até você e mais três subirem na mesa ao som daquele grupo daquelas garotas... Como é mesmo o nome... Ah! Spice Girls!

– A-ah... Pelas pulseiras de Cleópatra, não me fala que a gente dançou em cima da mesa?!

– Foi... E você tem molejo viu?! – Alonso riu de novo. – Não acredito que você não lembra, Félix! Vocês começaram a cantar “Yo I'll tell you what I want, what I really really want…”

– Para! Para que eu tô com dor de cabeça! Fala sério...

– É sério! Vocês estavam muito bêbados... Se eu tivesse um gravador e uma fita cassete, cara, eu teria gravado tudo pra você ouvir agora! Vocês cantavam cada um como se fosse uma delas, você fazia a voz daquela magrinha do cabelo liso...

– Não acredito, Alonso... Que vergonha!

... ...

Enquanto Félix contava, até essa parte Niko se divertia.

– Não ri carneirinho, não ri que é sério!

– Félix... – O loiro gargalhava. – Imaginei você dublando as Spice Girls! Deve ter sido muito engraçado...

– Pela coroa da rainha de Sabá, Niko, não ri de mim! Eu tinha bebido demais! Aliás, não sei nem o que eu bebi de tão forte aquela noite pra ficar tão louco! – Ele ajeitou a sobrancelha com o dedinho e exclamou: - Pelo menos, pra você ver como eu sempre fui chique, de todas as Spice Girls eu fazia justo a voz da Vitória Beckham!

Niko não parava de rir. – Ai Félix... Você bem queria ser ela se soubesse que no futuro ela ia ter um David Beckham né?!

Félix o encarou, boquiaberto. – Mas, olha só... Quem quiser que te compre né carneirinho?!

– Desculpa, mas é verdade...

– Vamos deixar de gracinhas?! Pode ser?! Se você não parar de rir eu não conto mais nada!

– Não, não... Tudo bem! – Niko respirou fundo. – Pronto, parei! Continua!

... ...

– Não pensa mais nisso, Félix! Fica com vergonha não... Ninguém viu... Bom, só todo mundo que estava na festa...

– Ah ah, que legal! Ninguém viu né?! Não... Só toda nossa turma de administração!

– Fica frio, Félix! Esteja certo que uma dúzia daquela rapaziada nem lembra o que aconteceu ontem à noite... Igual a você!

– Assim espero... Bom, e depois?

– Então, quando eles inventaram de ir para essa outra festa, eu achei melhor não, e te chamei para ir embora! Só que você já estava tão louco que não quis me escutar!

– E aí?

– E aí eu insisti até te tirar de lá! Eu te levei pra o carro, e como sei que aquele carro que você estava é do seu pai... Eu achei que você ia ter sérios problemas se chegasse em casa nesse estado...

– É... O papi ia brigar comigo por beber e sair com o carro dele...

– Não, Félix, você não ia nem conseguir sair com o carro de lá! Se eu tivesse deixado a essa hora estaria no seu velório, com certeza!

– Tá... Obrigado, então... Mas, e aí? Tinha que me trazer justo pra cá?!

– É que eu não tinha grana pra outro lugar... E você sabe que eu moro com minha avó, se eu chegasse lá em casa bêbado e com você pior ainda, a coitada ia tomar um susto e depois me dar uma surra!

Félix riu: - Não acha que já está grandinho demais pra levar uma surra não?!

– Pra ela... Não! Mas, já tenho idade suficiente pra alugar um quarto de motel como este...

Félix pigarreou e perguntou: - E... Por que me trazer justo pra cá, Alonso?

– Eu também não ia pra muito longe, Félix, ainda mais por que eu também havia bebido e eu vim dirigindo o carro do seu pai...

– Ah... O carro do papi está lá embaixo?

– Está! E está na rua! Foi mal, mas eu não tive grana pra o estacionamento, gastei tudo no quarto!

... ...

– O Alonso não é de família rica como eu, carneirinho! Eram de classe média! Os pais viviam fora pelo trabalho e ele morava com uma avó! Ele estudava na mesma faculdade que eu por que tinha conseguido uma bolsa parcial, ou seja, pagava só metade das mensalidades!

– E como conseguiu?

– Ele dava aulas de matemática para criancinhas carentes numa comunidade e a universidade levou isso em conta, ele era muito bom com números!

– Melhor que você?

– Imagina Niko, melhor que eu, só eu! Mas... O Alonso tinha uma coisa que me atraía...

– O quê?

– Ele era tão cínico às vezes...

Niko deu um sorriso malicioso. – Gosta de caras cínicos, Félix?

Félix riu. – Não carneirinho... Me atraem e só... Mas, gostar, gostar mesmo, eu só gosto de um carneirinho lindo, maravilhoso e gostoso que está na minha frente!

Niko ruborizou e deu um sorriso tímido. – Adoro quando você diz essas coisas...

– Eu sei...

Niko o beijou e pediu: - Continua contando, vai! Pelo jeito, esse tal de Alonso é um bom homem...

– Ele era muito bom mesmo...

Dessa vez Niko não gostou muito do tom da voz de Félix. – Félix, amor... Por que tenho a impressão de que você não está falando o quão ele era bom em caráter exatamente?

Félix tentou disfarçar, mas como estava sendo sincero, continuou. – Não exatamente... Deu pra notar é?

Niko confirmou com a cabeça e disse mais: - Deu, deu sim! Deu pra notar também que você teve bem mais que uma aventura com ele...

– Não, isso foi... Foi uma aventura sim... Assim... Não foi só uma vez, confesso, mas foi nada mais que uma aventura... – Suspirou. – Aventura que acabou muito mal!

... ...

– Ok, Alonso! Mas... Você ainda não me respondeu por que me trouxe logo pra cá? Tinha mesmo que ser um motelzinho como esse? Acho que se eu tivesse dormido dentro do carro seria melhor...

– Ah, eu não sabia que você queria ficar dentro do carro, senhor Khoury... – Foi claramente cínico.

– Eu não estou falando sério né, Alonso?! Dãã...

– Então, o que você queria?

Félix agitou as mãos, mas não soube bem o que dizer.

– S-sei lá... Ah não sei... Mas, tinha que ser um... Motel?

– O que tem? Foi o lugar mais barato que achei por perto! Além do mais... Qual o problema, hã?! – Se aproximou mais com um sorriso cínico. – Ficou preocupado quando acordou aqui... Comigo?

– E-eu?! N-não!

– Achou que tivesse rolado algo, não foi?! Confessa...

– Claro que não!

– Félix, Félix... Pensei que você soubesse mentir melhor...

– Eu sei, tá?! Sei mentir muito bem, quando eu quero!

– Por quê?! Quem que gostaria de viver mentindo?! – O encarou. – Ainda mais... Mentindo pra si mesmo?!

– C-como assim?

– Félix... – Alonso não parava de encará-lo. – Sejamos sinceros! Você não gosta de mulher!

Félix se surpreendeu. – A... Alonso, por favor... Eu fiquei com uma mulher, você lembra?! Eu te contei sobre a Edith e...

– E daí?! Isso não quer dizer nada! Por acaso você nunca ficou com um homem?!

Félix tentou desconversar. – Olha, rolou entre mim e a Edith e nós continuamos nos vendo...

– Sim... Por que você quer mostrar pra seu papai que pode gostar de mulher, mas você não gosta! Eu sei que não!

– Como você pode saber?

– Félix, Félix... Quando as pessoas bebem demais acabam falando muitas coisas que não diriam se estivessem sóbrias...

Félix se assustou. – Eu te falei alguma coisa ontem? O que eu disse?

Alonso levantou da cama e andou pelo quarto, falando como se contasse nos dedos cada coisa que Félix contou. - Você disse que aquela tal de Edith estava te perseguindo... Que você não gostava dela... Que vocês só haviam dormido juntos porque você havia bebido demais... Que você a continuava vendo só porque seu pai queria te ver com uma mulher... E disse que se fosse por você, você mandaria tudo para o inferno e ficaria com alguém que te interessasse de verdade e esse alguém não seria mulher nenhuma...

Félix engoliu seco. – E-eu... Disse tudo isso?

– Disse! Mas, o mais interessante é que, não sei por que... Eu já sabia!

– V-você sabia? Como assim já sabia?

Alonso voltou a sentar ao seu lado, agora mais perto. – Félix, vamos falar sem rodeios... – Respirou fundo. – Eu sei que se você ficar com essa garota você não vai ser feliz! Por que você não precisa de uma mulher... – Passou a mão na perna de Félix. – Você precisa de alguém que realmente te desperte interesse! E você só vai se sentir interessado... Por um homem...

Félix segurou a mão dele para que parasse e, nervoso, indagou: - Como você sabe disso?

Alonso o olhou nos olhos e respondeu: - Por que eu também me sinto assim, Félix! E sei que você se esconde assim como eu!

Félix, num impulso, apertou sua mão, mas logo a soltou e se afastou, sem levantar da cama.

– V-você... Você também...

– Sim, Félix, eu também! Há tempos eu venho percebendo que você e eu somos muito parecidos e, por isso, eu aproveitei essa oportunidade pra te trazer pra cá, ficarmos a sós num lugar onde ninguém que conhecemos poderia nos ver ou ouvir, para te falar tudo isso!

– Espera... Espera... Por que tá falando tudo isso pra mim? Justo pra mim?

– Por que... Deu pra perceber que você morre de medo que seu pai descubra, e minha família também não pode saber, eles nunca me aceitariam... Portanto, somos iguais! E também, Félix... Por que... Eu... Estou interessado, nesse momento, num homem... E já não aguentava mais esconder, eu tinha que contar pra alguém...

– V-você está interessado... Em quem?

... ...

– Então foi aí que ele falou que estava interessado em você, Félix?

– Ele não foi tão direto, mas claro que eu desconfiei na hora que ele falava de mim... Mas, ele confessou depois...

... ...

– Eu, Félix... Estou interessado... Numa pessoa que, sinceramente, acho difícil me corresponder...

– Por quê?

– Por que é um cara meio difícil... Ele não se decidiu muito bem e duvido que o faça já que tem medo do que os outros vão dizer e... Digamos que ele finge muito bem...

Félix falou um tanto nervoso, pausadamente. - N-não... Deve... Fingir tão bem assim... Já que... Você percebeu...

Então, Alonso o encarou chegando mais perto dele. – É que eu percebo rápido as coisas! Você também, né?!

Meio que se afastando dele, Félix respondeu: - Também! Por quê?

– Por que você já percebeu que eu falava de você!

Félix, apesar de desconfiar que a resposta seria essa, ficou tão surpreso que só conseguiu exclamar: - M-mas direto que isso... Impossível... Alonso!

– Félix!

– Quê?

– Félix...

– O quê?!

... ...

– Ele foi chegando cada vez mais perto e se eu me afastasse mais eu cairia da cama, Niko!

– O que ele fez?

– Quando eu vi, ele... Estava... Me beijando...

– Te... Beijando?!

– É! Ele me beijou tão... De repente... Que eu fiquei sem reação!

– É difícil te imaginar sem reação, Félix! Quando nos beijamos pela primeira vez... Lembra? Depois daquele jantar que você disse o que sentia por mim... Sua reação depois do beijo foi bem...

– Eu sei, eu sei... Mas, com você é outra coisa, né Niko?! Naquela época eu não tinha assim tanta experiência e... Pra falar a verdade eu não fiquei sem reação durante muito tempo!

... ...

Alonso o beijou e Félix não reagiu primeiramente, empurrando-o em seguida.

– Que é isso, Alonso?! Endoidou?!

– Félix! Eu... – Alonso levantou um tanto desconcertado e pediu: - Desculpa, eu não... Eu não queria... Eu queria, mas não assim... Eu pensei que...

Félix levantou. – Pensou que eu fosse corresponder?

Alonso olhou para ele. – Na verdade... Pensei...

– Quer... A verdade? – Chegou bem perto e... – Você estava certo! – O beijou.

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Notas finais do capítulo

Continua...



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