Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas
Notas iniciais do capítulo
Continuação do capítulo anterior...
A primeira vez de Niko e Félix em Angra dos Reis continua!
Niko havia ficado muito emocionado com o presente que Félix havia acabado de lhe dar: o local para o novo restaurante. Era bem mais do que ele havia sonhado. Na beira da praia, e ainda mais sabendo que Félix seria seu sócio, nos negócios, na vida, era realmente a realização do seu maior sonho.
Após o loiro ficar admirando mais um pouco o local do seu futuro restaurante, ele e Félix voltaram para o carro.
– Agora, carneirinho, prepare-se!
– Preparar pra quê?! Ai, Félix, depois dessa surpresa maravilhosa ainda tem mais?!
– Claro carneirinho! O restaurante será nossa fonte de renda, mas falta você conhecer onde vamos morar...
Niko o abraçou antes que ele começasse a dirigir.
– Ah Félix... Nem sei dizer o quanto estou feliz...
Félix pegou em seu queixo e lhe deu um beijinho.
– Depois você me mostra o quanto está feliz, carneirinho! – Falou com um sorrisinho malicioso que Niko entendeu muito bem.
Não demorou cinco minutos para chegarem a um local onde havia várias casas enormes também bem próximas a praia.
Félix estacionou e desceu. Niko desceu logo em seguida.
– Vem cá, Niko... – Félix vendou seus olhos com um lenço e pegou em sua mão. – Me segue!
Foi levando-o e Niko o ouviu abrindo um portão.
– Nossa! Félix, por que a gente tá andando tanto, hein?
Félix riu. – É que o jardim é enorme, carneirinho... Você está reclamando por que está fora de forma, sinceramente...
– Ai, Félix! Não tô não...
– Pronto, pronto! Pode parar! Agora... Carneirinho... O que você acha? – Perguntou Félix tirando a venda de seus olhos.
Pela primeira vez Niko estava em frente à casa na qual poderia viver com seu grande amor e seus filhos pelo resto da vida.
– Carneirinho... E aí? Não vai falar nada? – Perguntou Félix quando notou que Niko estava outra vez com a mesma cara que fez quando viu o restaurante pela primeira vez. Boquiaberto e sem conseguir pronunciar nada digno da emoção que estava sentindo.
Félix ficou de frente para ele e sorriu com a carinha de bobo do seu carneirinho.
– É... É... É muito linda, Félix! Nunca imaginei... Nunca imaginei uma casa assim...
– E você ainda não viu por dentro! Mas... – Enrolou os dedos em seus cachos loiros e riu. - Será que eu fiz cachinhos assim nos cabelos de Sansão para você ficar tão impressionado, carneirinho?! Essa nem é uma das maiores casas daqui... Tem tantas tão mais luxuosas...
– Félix, meu amor, ela é linda, é maravilhosa, é perfeita! – Niko tinha os olhos marejados. – Quando se viveu uma infância humilde, Félix, uma casa assim é um verdadeiro castelo...
Félix sorriu. - Já que você disse que essa casa é um castelo pra você... Vem... – Félix se curvou e estendeu a mão para ele. – Seu príncipe te levará para dentro!
Niko mordeu os lábios, sorrindo, e segurou em sua mão. Suspirou por estar vivendo aquele verdadeiro conto de fadas. Félix era mesmo seu príncipe encantado.
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A cada cômodo da casa que Félix lhe apresentava, Niko sentia uma euforia incalculável.
– Você está muito excitadinho, carneirinho... E olha que ainda falta conhecer lá em cima...
– Ah, Félix... É que é como se eu pudesse sentir uma energia aqui, uma energia como se fossemos passar nossos melhores dias aqui, em cada canto dessa casa! Eu, você, nossos filhos...
– Nossos? – Félix ficou sério e Niko virou para ele.
– Quê?
– Você disse... Nossos! Nossos filhos?!
Niko nem havia percebido, mas, quando percebeu, sorriu para ele.
– É, meu amor... Se vamos viver juntos, se você vai fazer parte da minha família, nada mais justo que meus filhos te vejam como um pai também...
Félix ficou com o olhar distante enquanto Niko falava acariciando seu rosto.
– Félix...
– Hã?
– Eu estou aqui dando voltas e voltas... – Niko riu. – Mas, posso te fazer uma pergunta?
Félix riu quando notou que ele estava repetindo as palavras que ele próprio já disse um dia.
– Claro, carneirinho... Todas que você quiser!
– Você... Você quer ser pai dos meus filhos?
Aquela pergunta mexeu com Félix. Ele quem pretendia proporcionar um dia de surpresas para seu carneirinho e, no entanto, Niko o surpreendeu, com mais que uma pergunta, mas uma proposta para mudar de vez sua vida.
Agora, quem estava sem palavras era Félix. Ele ficou com os olhos marejados, abriu a boca, sorriu, nenhuma palavra saiu. Niko compreendeu que talvez tivesse sido precipitado e, acalmou Félix com um beijo delicado.
– Meu amor, não precisa responder agora... Eu só quero que você saiba que eu te amo muito e confio plenamente em você... Confio em você para ser o segundo pai dos meus filhos, e meu companheiro para a vida toda!
– A... A vida toda, carneirinho?! É tempo demais...
– Quero todo o tempo do mundo ao seu lado!
Aquela declaração fez Félix sorrir e reagir. Enlaçou Niko pela cintura e o cobriu de beijos até que o puxou pela mão até a escada.
– Vem, carneirinho, que falta o melhor cantinho desta casa!
– Hum... Que cantinho?
Subiram e Félix abriu a porta de um quarto enorme e belo, com uma janela com vista para o mar e uma cama de casal toda arrumada.
– Que coisa linda esse quarto, Félix!
– É... Pode chamar do que quiser... Quarto... Suíte... Nosso ninho de amor...
– Quê?! E-esse v-vai ser o nosso quarto?! Félix! Acho que é maior que minha sala...
– É maior que sua ex-sala, né?! Porque quando nos mudarmos, essa será sua casa, melhor, minha casa é sua casa...
– Adoro te ouvir dizer isso... – Niko suspirava e sorria olhando para todos os cantos e nem percebeu que Félix já estava deitado na cama, olhando para ele.
– O que você já tá fazendo aí?
– Agora nada, carneirinho... Mas, se você vier pra cá, pode ter certeza que alguma coisa eu faço... – Félix piscou para ele com um sorriso malicioso nos lábios.
Niko foi e sentou na cama.
– Ah... Que macia... Ai, que maravilha... Que colchão ótimo...
– Tem que ser de qualidade pra aguentar né?!
– Félix... Isso não é mais uma indireta com meu peso é?!
– Ai, claro que não, Niko! Você pensa cada bobagem! Não era só do peso que eu estava falando... Tem muito mais que esse colchão e essa cama tem que aguentar, não acha?! – Félix foi se aproximando enquanto falava, abrindo os botões da camisa.
– É... Tem razão... – Niko se ajeitou na cama e puxou-o pela camisa já aberta. – Não acha que é a hora de fazer o test-drive?!
– Só se for agora...
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No fim do dia, estavam os dois deitados na espreguiçadeira que havia na varanda, observando o entardecer.
– Eh... Essa espreguiçadeira também é bem resistente! – Falou Félix com um sorriso.
Niko riu. - É! Assim como a cama, a banheira, aquela poltrona... Ah! E o balcão da cozinha é ótimo...
Os dois riam lembrando tudo que haviam aprontado durante o dia conhecendo a casa.
– Ah carneirinho, mas essa casa ainda tem muita coisa para ser testada... Por exemplo, a profundidade da piscina, o divã lá do escritório...
– Hum... Podíamos ver se a grama do jardim está macia...
– Hum... Carneirinho selvagem...
Os dois riam e trocavam carícias, levantaram-se da espreguiçadeira e sentaram num canto no jardim, em frente à piscina.
– Esse dia está sendo mágico!
Félix sorriu e lhe beijou o rosto.
– Está sim... É tão bom estar aqui com você... Nessa tranquilidade...
Trocavam beijos já quase deitados na grama quando um carro cheio de gente e com música muito alta passou por lá por perto.
– Mas o que foi isso?! Acabou a tranquilidade?! – Exclamou Félix.
– Olha ali, Félix, lá na praia... Acho que estão dando uma festa!
– Era só o que faltava! Só para acabar com o silêncio...
– Ah, Félix, não começa a reclamar, vai... A gente podia ir dar uma olhada!
– Pra quê, carneirinho? Vamos ficar aqui... Você não disse que queria checar a grama?!
– Disse... Mas, tem outras maneiras de se divertir, né, Félix?! – Ele o encarou com aquele olhar que Félix não resistia.
– Ai, tá bom! Não resisto mais a essa carinha de carneirinho pidão! Mas, se a festa for particular e nós formos expulsos por sua causa, nem pense que vou te levar depois pra conhecer o divã lá do escritório, viu!
– Sei...
Niko apenas riu e balançou a cabeça. Sabia que Félix não falava sério.
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Caminharam na praia até chegarem perto de onde estava ocorrendo a festa.
– Deve ser coisa de adolescente, Niko, vamos voltar...
– Que adolescente, Félix?! Bom, tem uns garotões bem jovens, mas algumas pessoas parecem ser da nossa faixa etária!
– Ai ai... Eu devo ter surfado no rio Nilo para você ter esse poder de convencimento em cima de mim!
– Seu bobo, eu te convenço de qualquer maneira... – Niko riu. - Vem, vamos nos misturar! Quem sabe essas pessoas não são nossos futuros vizinhos?!
– Ah, espero que não...
Continuaram andando em meio às pessoas e não demorou muito para serem notados.
– Olha... Que gatos!
– Você conhece?
– Não, nunca vi!
– Hum... Então, quem convidou?
– Sei lá! Mas, gostei...
Félix, sempre mais observador, notou alguns olhares e burburinhos.
– Eh... Carneirinho... – Sussurrou. – Acho que estamos chamando atenção!
– Chamando atenção? Por quê?
– Ora, porque seria? Por que somos lindos...
Niko riu. – Fala sério, Félix!
– É sério! Não olha agora, mas acho que estamos sendo paquerados...
Niko olhou discretamente para os lados e viu umas garotas que olhavam insistentemente para eles.
– Ai, coitadas... Se soubessem...
Os dois riram.
– Estou começando a achar que foi uma boa ideia vir, carneirinho! Vamos nos divertir um pouquinho... – Falou com um sorriso cínico.
– O que você está tramando, Félix?
– Você não me contou uma vez que já se fingiu de hetero por aquela sua amiguinha secretária do San Magno?!
– Ah, sim... A Pati... Mas não acabou muito bem...
– Tá! Mas, dessa vez vai ser divertido! Eu sei como fazer porque afinal me fingi de hetero a vida inteira né?! Mas, me acompanha... Quando elas estiverem criando expectativas, a gente corta as ilusões, que tal?!
– Félix... Que maldade!
– Maldade nada! Eu melhorei em muitos aspectos, não quer dizer que virei santo...
Ambos andaram mais um pouco como quem não quer nada e sentaram na areia à beira mar. As moças se aproximaram.
– Oi... Desculpa, mas, vocês são daqui de Angra?
Félix piscou discretamente para Niko e respondeu à moça com um tom de voz mais másculo.
– Não, não, somos de São Paulo!
Niko se segurou para não rir. A outra também falou:
– Ah! Então por isso que nunca os tinha visto por aqui... – Ela tocou no ombro de Niko. – Você também é de São Paulo?
– É... Sim, sou!
– E estão de férias em Angra?
– Não, estamos só de passagem! – Respondeu Niko.
– Essa festa é particular, por acaso? – Perguntou Félix.
A que estava ao lado dele respondeu. – Não, imagina... É um luau organizado pelos surfistas que estão de passagem por aqui, eles vêm de várias partes do mundo, e estão só de passagem por Angra também!
– Ah... Surfistas... Entendi!
– Pois é... Querem beber alguma coisa?
– Pode ser...
As duas foram buscar as bebidas e os dois ficaram segurando o riso.
– Viu isso, carneirinho?! São duas periguetes que querem agarrar os surfistas que estão por aí... Acredite, eu conheço uma periguete quando vejo uma! Os tempos de convivência com a Márcia e aquela filha pirada dela me ensinaram a identificar esse tipinho de longe...
As duas voltaram com dois drinks para eles. A que estava ao lado de Niko perguntou:
– Vocês não são surfistas né?! Não tem tipo...
Niko olhou para ela. – Está querendo dizer que eu não tenho corpo para ser surfista, é isso?!
Félix se continha cada vez mais para não cair na risada.
– Ah não, não... V-você é lindo... Tem um corpo lindo... Quer dizer... Assim, não parece ser surfista, só isso...
– Ah! Menos mal... Por que eu não sou mesmo! Sou chef!
– Chef? Ai que tudo... Adoro homem que sabe cozinhar...
A amiga dela perguntou para Félix.
– E você também é chef?
– Eu? Não... Sou o gerente do restaurante dele!
– Ah... Quer dizer que vocês são sócios?
– Pode se dizer que sim...
– Mas, são mais que colegas de trabalho né?! Tipo... São amigos?
Os dois se olharam. – É... Mais que amigos...
– São parentes? Já sei primos!
– Não...
– Irmãos? Não parecem...
– Não mesmo...
– Então?
Os dois se olharam e responderam ao mesmo tempo:
– Namorados!
As duas se olharam boquiabertas e com cara de decepção.
– S-sério?!
– Claro... Seriíssimo! – Respondeu Félix passando o braço em volta do pescoço de Niko, enquanto este acomodava a cabeça em seu ombro.
– Ah... Tá... Eh... Tchau!
Elas saíram sussurrando:
– Não acredito! Com a falta de homem que está...
– Nem me fale... Por que sempre os mais lindos?!
Eles ficaram rindo e brindaram com os drinks que elas haviam levado.
– Eu disse que seria divertido, carneirinho!
– Só você mesmo... Mas, pior que foi...
Os dois riam e se divertiam e permaneceram ali por uns minutos até que anoiteceu. Levantaram de mãos dadas e voltaram para casa. Quando estavam chegando Niko percebeu que estava sem uma de suas pulseiras preferidas.
– Ah não, Félix... Eu não posso ter perdido essa pulseira! E agora?
– Também né, Niko?! Só você pra vir para a praia cheio de acessórios...
– Ah Félix, eu gosto de usar... E essa pulseira é especial pra mim, me traz recordações...
Félix cruzou os braços. – Ah é? De quê? Por acaso foi um presentinho daquela lacraia?!
– Claro que não, Félix! Acontece que eu estava usando essa pulseira junto com o relógio no dia em que você me pediu em namoro! Essa pulseira me dá sorte!
– Ah... Tá bom, carneirinho... Vamos procurar essa pulseira! Mas, sorte vai ser se nós a acharmos, pois caso você tenha perdido lá na praia pode ir se despedindo dela... Se o mar não levou, alguém leva!
Niko ficou preocupado, mas os dois voltaram para a praia. Seria quase impossível encontrar uma pulseira perdida na praia, mas Niko não desistia tão fácil.
– Quer saber, carneirinho, faz o seguinte, esquece essa pulseira, depois eu te dou outra...
– Não, Félix... Eu não gosto de perder essas coisas que me trazem boas lembranças...
– Então tem que ser menos distraído né, Niko?! Você estava usando essa pulseira o dia todo?
– Estava! Eu lembro que só tirei quando a gente foi para a banheira, depois eu coloquei de novo...
– Ah, então deve ter perdido lá em casa mesmo, em qualquer lugar...
– Sim, mas eu lembro que eu estava com ela quando estávamos lá na varanda, na espreguiçadeira...
Félix girou com os olhos, já estava perdendo a paciência.
– Ai, quer saber, Niko, continua procurando por aqui mais um pouco, que eu duvido muito que você ache... E eu vou dar uma olhada lá em casa; se não achar em vinte minutos você volta que eu vou ficar te esperando lá mesmo! Estou cansado, dirigi a noite inteira, não dormi, você sabe muito bem...
– Você vai me deixar aqui sozinho? Tá bom, mas... E se você achar?
– Dãã... Aí eu venho te buscar né?! Lindinho... Tô indo!
Félix foi em direção a casa e Niko ficou andando perto do mar na esperança de encontrar sua pulseira. Ao longe, avistou um objeto brilhando na areia e correu para ver se era sua pulseira. Quando pegou viu que não. Era uma corrente de prata que mais alguém havia perdido.
Ele olhou decepcionado para o mar e pensou:
– Já deve ter levado minha pulseira embora, como quase ia levando essa correntinha...
Ele enrolou a corrente que havia acabado de encontrar no pulso e continuou procurando sua pulseira quando a avistou no braço de alguém. Era um surfista que estava saindo do mar, a pele molhada e bronzeada, os cabelos loiros, um calção apertado e sem camisa, só a pulseira no braço cheio de tatuagens.
– Nossa... De onde ele saiu?! – Pensou Niko por um instante antes de bater na própria cabeça como se quisesse afastar aqueles pensamentos.
O surfista passou por ele e o olhou, e Niko também o olhou. Naquela rápida troca de olhares, o surfista parou e pôs sua prancha na areia e sentou ali perto de onde ele estava.
Niko se recobrou daquele flerte momentâneo e foi até ele. Com seu jeitinho tímido, começou a falar.
– Eh... Desculpa, mas, é que eu estou procurando uma pulseira que eu perdi, é igual a essa sua... Você não teria visto por aí?
O surfista o olhou como se não tivesse entendido. Niko lembrou que as moças haviam falado que os surfistas eram estrangeiros.
– Ah... Você não deve estar me entendendo, né?! – Pensou: - E agora, só sei falar I Love You em inglês e olhe lá...
O surfista interrompeu seus pensamentos, levantando-se e pegando no seu braço. Com o sotaque um pouco enrolado, mas falando em claro português, ele disse:
– Eu estou entendendo você... Mas, onde você encontrou esse colar?
– Ah... Esse, esse colar? – Pensou: - Que bom que ele fala português! – Continuou: - Esse colar eu achei jogado na areia aqui perto do mar...
O surfista, sem soltar seu braço, deu um sorriso e perguntou:
– Viu o pingente que está nele?
– O pingente? – Niko reparou bem no pingente no colar. Era um coração partido ao meio com uma prancha de surf desenhada em relevo. – Que bonito...
– É mais que bonito! – Respondeu o surfista olhando nos olhos dele.
Niko o olhou por um instante e pensou: - Será que ele disse isso com o pingente ou comigo? – Mas, novamente voltou a si e perguntou: - É... É seu esse colar?
O surfista sorriu e enfim soltou seu braço.
– Sim! Pensei que havia perdido ou que tivessem roubado... Ainda bem que você encontrou meu colar... Olhe... – Ele pegou a outra metade do pingente no bolso e juntou com o pingente ainda pendurado no pulso de Niko.
Niko ficou olhando para o pingente, mas logo notou que o surfista olhava para ele e desviou o olhar de novo.
– Bom... Já que é seu... – Niko desenrolou a corrente do pulso e o entregou. – Tome...
O surfista pegou sua corrente e olhou de novo para Niko, sorrindo: - Lá no meu país um oráculo disse que eu teria sorte no Brasil! Acredito que é verdade!
Niko pigarreou e se sentiu corado.
– Q-que bom que você está tendo sorte né?! Tchau... – Quando ele ia saindo, o surfista pegou novamente em seu braço.
– Espere... Estava a falar de uma pulseira, não?
– Ah, sim, minha pulseira... – Pensou: - Já tinha até esquecido... – Continuou se sentindo mais corado ainda: - É que eu perdi minha pulseira também e achei que poderia ser esta em seu braço, porque é igual...
– Igual? Temos os mesmos gostos então?!
– O-os mesmos gostos?
– Sim! Você encontrou meu colar e gostou dele, eu gostei dessa pulseira e você tem igual...
– Tenho... Espera, quer dizer que você não encontrou essa pulseira por aí?
– Não! Ela é minha!
– Ah, que pena... Quer dizer, que bom pra você, mas que pena que não é a minha, é muito importante pra mim...
O surfista tirou sua pulseira e pegou no braço de Niko outra vez e pôs a pulseira nele.
– Você me devolveu meu colar da sorte, eu te dou minha pulseira da sorte!
Niko ficou perplexo com aquele gesto. Pensou: - Que lindo... – Mas, balançou a cabeça e falou: - N-não, não posso aceitar... É sua!
– Deixe estar... Tenho outras dessas! Mas, esse colar que você me devolveu não tem preço!
Niko sorriu: - Bom... Obrigado, então!
Niko desviou o olhar dele mais uma vez e pensou: - Ai, será que já se passaram os vinte minutos que o Félix disse?! Eu posso voltar e falar pra ele que encontrei minha pulseira...
Seus pensamentos foram mais uma vez interrompidos pelo surfista que lhe perguntou:
– Sabe surfar?
– Oi?
– Perguntei se sabe surfar?
– Ah não... – Niko sorriu. – Nem tenho... Corpo de surfista, né?! – Disse olhando o corpo do surfista.
– Existe corpo de surfista?
Niko não soube responder, mas sorriu, pensando: - A julgar pelo seu corpo, existe... E é bem definido!
O surfista riu ao notar o olhar de Niko.
– Ah! Ainda não me apresentei... Meu nome é Erick!
– Erick? Que nome bonito! – Pensou: - Nome de príncipe! – Continuou: Eh... O meu é Nicolas!
– Prazer, Nicolas!
– E você é de onde?
– Austrália!
– Nossa... Longe né?! Mas, eu já li em algum lugar que lá é muito bom para os surfistas... O que você está fazendo aqui no Brasil?
– Sim, lá há altas ondas... Mas, as melhores estão no Havaí! Eu e um grupo estamos indo para lá, mas antes resolvemos passar pela América do Sul!
– Ah... Que coisa... Bom, aproveitem sua estadia... – Niko virou de novo para ir embora, mas o surfista pegou em seu braço mais uma vez.
– Nicolas, você ainda não disse se surfa!
– Eu? Eu já disse que nem corpo, porte de surfista eu tenho... Não conseguiria nem ficar em pé em cima de uma prancha...
– Você nunca vai saber se não tentar!
Niko deu um sorriso tímido. - É, isso é verdade! M-mas, eu sou pesadinho pra isso...
– Que nada! Seu corpo está ótimo! Você está muito bem... É bonito e tende a melhorar...
Niko sorriu e pensou: - Como queria que o Félix dissesse essas coisas... – Mas, falou: - Jura?!
O surfista sorriu: - Claro! Muitos começam a surfar quando estão acima do peso e depois ganham massa muscular e perdem gordura... Acredite! Eu não era assim!
Niko o olhou novamente de cima a baixo: - S-sério?! Você era mesmo mais cheinho?!
– Cheinho? Ah, sim... Gosto do jeito que vocês brasileiros falam algumas coisas... Sim, eu era um pouco gordo...
– Olha... Deve ter demorado a ficar assim não é?!
– Nem tanto... Mas, o primeiro passo é começar... Quer tentar?
– E-eu? Tentar? Tentar o quê?
– Surfar! Vamos, não me diga que tem medo da água?
– Não... Não é isso...
– Então? Vem comigo? – Ele curvou-se e estendeu a mão para Niko.
Nesse mesmo momento Niko lembrou que mais cedo Félix havia feito esse mesmo gesto para ele quando ia levá-lo para conhecer a futura casa deles.
Niko suspirou e pediu:
– Desculpa, mas... Eu tenho mesmo que ir, agora! Tem alguém me esperando... Já está ficando tarde...
– Que pena! Mas, meu grupo irá embora amanhã... O verei de novo?
Niko apertou os lábios e balançou a cabeça. – Não... Creio que não...
O surfista deu um sorriso de lado um tanto decepcionado.
– Tudo bem! Quem sabe da próxima vez que eu vier ao Brasil...
– É... – Niko pensou: - Acho que não... – Continuou: - Bom, obrigado pela pulseira! Tchau... Erick, né?!
– Sim... Tchau, Nicolas!
Niko se afastou andando a passos largos. Quando chegou perto da casa olhou para trás, não dava mais para ver o surfista. Respirou profundamente e entrou.
Andou pelo jardim até ver Félix descendo as escadas e indo em direção a ele com uma cara de poucos amigos.
Niko pensou: - Se o Félix estivesse lá na praia eu entenderia essa cara de ciúme, mas agora não tô entendendo!
– Demorou... – Olhou no relógio. – Vinte e sete minutos... Achou a pulseira, Niko?
– Eh... A pulseira? A-achei! Olha! – Estendeu o braço mostrando a pulseira que o surfista o havia dado.
Félix estava com os braços para trás e batendo o pé no chão.
– Que coincidência... Era para um de nós acharmos uma pulseira, não era?
– Era...
– Então, Niko... Me diz como foi que você achou uma e eu achei a mesma pulseira, hein?! – Félix estendeu o braço e ele estava usando a pulseira que Niko realmente havia perdido.
Niko se denunciou: - Você achou minha pulseira? – Ele estendeu a mão para pegar, mas Félix cruzou os braços.
– Achei... Achei assim que cheguei! Estava na grama! Mas, isso não vem ao caso... A questão é: posso saber onde o senhor arrumou uma pulseira igual?
– Eu... Eu... – Pensou: - E agora, como eu explico? – Continuou: - Acontece que eu encontrei uma corrente jogada na praia, aí... Ai, Félix, é uma longa história... Em resumo, eu devolvi a corrente para o dono e ele me deu a pulseira em troca... Pronto!
Félix descruzou os braços e puxou Niko pela mão.
– Vem cá, carneirinho, eu quero te mostrar uma coisinha... – Félix continuava sério, Niko não estava gostando nada disso.
Félix o levou para o quarto e abriu toda a janela. De lá dava para ver bem a praia e o local onde estava ocorrendo o luau. Niko percorreu a paisagem com os olhos e acabou avistando ao longe o surfista com o qual havia conversado. Então, chegou a uma conclusão: - Ai... O Félix viu tudo...
Virou para Félix e não precisou lhe perguntar nada, sua cara, os braços cruzados e o pé batendo no chão responderam tudo.
– Me diz uma coisa, Niko... Você tem, por acaso, alguma queda por surfistas tatuados?
– Eu?! Imagina, Félix... – Niko corou.
– Imagina, Imagina... Não foi imaginação o que eu vi!
– M-meu amor... O que você viu daqui, hein?!
– O que eu vi? Vi um carneirinho travesso louco para subir na prancha de um surfistinha americano...
– É australiano...
Félix se irritou mais. - Ah... Eu devo ter jogado os peixes multiplicados de volta ao mar para você ter flertado com um surfista enquanto eu estava aqui te esperando!
– Calma, Félix! Não fica com ciúme, eu não flertei... – Niko pensou bem e avaliou sua consciência. – Tá, tá, eu flertei, só um pouquinho, mas...
– Mas o quê?! Hein?! Vai me dizer que por um momento você se imaginou a Barbie encontrando o Ken surfista?!
– Ai Félix, não seja irônico...
Félix apenas continuou com os braços cruzados e batendo o pé no chão.
– O-olha, Félix... Isso foi até bom ter acontecido...
– Ah, claro, muito bom pra você, né?!
– Não... Bom pra você! Pra nós dois!
– Ah Ah... Bom pra mim?! E diz que eu que sou irônico! Posso saber como?
– Enquanto eu vinha voltando pra cá, eu vinha pensando... O Félix hoje fez tudo para eu me sentir num verdadeiro conto de fadas, no qual ele é meu príncipe encantado... E eu acabei encontrando sem querer um cara que tem nome de príncipe, parece um príncipe, mas, não é o meu príncipe... Meu príncipe é você, Félix! Só você foi capaz de conquistar todo o reino do meu coração!
Félix parou de bater o pé no chão e se acalmou.
– Hum... Pensa que vai me comprar assim, Niko?! Com palavras bonitas e essa cara de carneirinho sem dono?!
– Félix... Não fica bravo comigo vai... Eu te amo!
Félix suspirou. - Lindas palavras, carneirinho... Mas, não pense que vou te levar para conhecer o divã do escritório depois disso...
– Ah Félix...
– E nem adianta fazer essa cara de carneirinho pidão, tá! Já disse! Bom... Tem só duas coisas que eu quero saber!
– O quê?
– Primeiro: você vai ficar com as duas pulseiras?
– Ah... Não sei! Se você não quiser eu não fico com a que o Erick me deu...
– Ai... O Erick... Nossa! Que íntimo!
– Para Félix! Não fica com ciúme, já disse que...
– Tá, pode parar! Quer saber, vamos trocar! Fica com a sua e a desse cara deixa que eu guardo! Vai que um dia desses nós nos encontramos na praia e ele me dá alguma outra coisa em troca da pulseira dele de volta?!
– Nem pense... – Niko cruzou os braços. – E o que você iria querer em troca em senhor Félix?
– Quem sabe... – Respondeu com um meio sorriso cínico.
Niko tirou a pulseira e lhe entregou. - Vai fala... Qual era a outra coisa que você queria saber?
– Aprendeu algo sobre surf, carneirinho?
– Se eu aprendi algo sobre surf? Como assim?
Félix o puxou pela mão. Levou-o até o jardim sem dizer uma só palavra.
– Quero fazer um teste!
– Que teste, Félix?
– Nós já testamos alguns lugares dessa casa hoje... Mas... Eu disse que faltavam alguns, não disse?!
Niko notou que seu tom de voz havia mudado. Félix estava com segundas intenções.
– O q-quê que falta? – Perguntou, sorrindo meio tímido e meio confuso, mas se deu conta de que estava próximo à piscina.
Félix se aproximou com um sorrisinho maldoso.
– Carneirinho, carneirão... Você ficou de papinho com um surfista e não aprendeu nada sobre surf?
– N-não...
– Hum... Deveria ter aprendido...
– D-deveria?
– Deveria...
– Por quê?! Vai me levar para o mar agora?
– Não... Mas... – Félix o empurrou fazendo-o cair na piscina. - Digamos que vão rolar altas ondas nessa piscina...
...
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CONTINUA