Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 24
Águas de Março - Carta de Amor -- parte 3


Notas iniciais do capítulo

última parte.



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Era cedo e todos tomavam o café da manhã na mesa quando Félix desceu sozinho.

– Ué, meu filho, cadê o Niko? – Perguntou Pilar.

Félix chegou bem perto da mãe e perguntou baixinho:

– Mami... Sabe as roupas que estávamos ontem... Que estavam molhadas... O Niko e eu esquecemos na cozinha e... Não tem roupa minha que caiba no carneirinho para ele poder descer...

Pilar olhou para ele com a cara de que já sabia. – Aham... A nossa cozinheira chegou hoje de manhã na cozinha e encontrou roupas jogadas pelo chão... Vocês podiam ter recolhido tudo não é Félix?!

– Ai mami, nós esquecemos... Sabe como é...

– Sei como é Félix, mas vocês deixaram até as cuecas largadas no chão!

Félix deu um sorrisinho envergonhado. Pilar deu a ideia:

– O Niko é fortinho, talvez alguma roupa do Maciel sirva nele, pelo menos, para ele descer para tomar café conosco, as roupas de vocês já estão na lavanderia!

– É mesmo mami... Eu vou ver isso e depois vou ver se o papi já acordou...

Félix subiu novamente. Pegou umas roupas de Maciel e levou para Niko que estava coberto apenas pelo lençol da cama de Félix.

– E aí Félix? E minha roupa?

– Carneirinho, a cozinheira encontrou e mami mandou para a lavanderia... Mas, calma, olha eu peguei essas roupas do Maciel, pode ser que caiba pra você, apesar do corpo de vocês dois ser bem diferente...

– Ai Félix...

– Calma carneirinho, não estou querendo dizer que você está levemente acima do peso... Apenas, que o Maciel é musculoso e...

– Não, Félix... Imagina se você quisesse dizer... – Respondeu irônicamente.

Niko vestiu uma camisa, vestiu outra, mas desistiu.

– Ai Félix... Definitivamente, o Maciel e eu vestimos números diferentes!

– É... Nota-se! Então, você vai ter que esperar sua roupa voltar carneirinho!

– Mas, será que vai demorar muito Félix? Não posso ficar assim, eu tô pelado aqui! Além de que tenho que passar em casa entes de ir para o restaurante...

Félix engatinhou na cama se aproximando dele com um sorriso cínico.

– Eu sei... Mas, por mim carneirinho, você ficaria o dia todo assim... – Deslizou a mão pelo corpo dele. – Pensar que entre minha mão e sua pele só tem esse cobertor...

Félix continuou com as carícias, deslizando as mãos e beijando-o. Logo sua roupa foi ao chão e ele sussurrou: - E pensar que entre nós só há esse lençol, mas eu posso sentir seu corpo inteiro carneirinho...

Alguns minutos depois, Félix vestia a roupa de novo, rapidamente:

– Esqueci que ainda tinha que levar o café do papi, carneirinho... Vou lá e aproveito para ver se sua roupa já está pronta! Se não estiver, eu trago o café na cama pra você! E, quer saber, veste o roupão, porque se você ficar assim na minha cama eu não resisto de novo!

Félix desceu apressado, ainda meio desarrumado e ofegante. Entrou na cozinha correndo e perguntando para a cozinheira:

– Criatura, alguém já levou o café da manhã do papi soberano?

– Ainda não, seu Félix!

– Então, corre criatura, se vira nos trinta pra arrumar alguma coisa para eu levar... Vem, me dá, coisas simples, torrada, pão, café ou chá, não sei o que ele vai querer...

Eles arrumaram algumas coisas numa bandeja o mais rápido que puderam e Félix levou. Entrou de repente no quarto do pai e César estava acordado, ainda deitado, vendo TV.

– Oi, papi... Bom dia! Trouxe seu café! Quem ligou a TV?!

– Eu! Para isso existe o controle remoto, não é?! Estava aqui na cômoda, eu peguei e liguei! Por que demorou tanto?!

– É... É... É que... Ah, não demorei tanto assim papi, só perdi a hora!

– Aham... Por acaso, seu namoradinho dormiu aí?!

Félix se surpreendeu com a pergunta e não sabia se respondia sim ou não. Mas, seu jeito o denunciou.

– Não precisa responder... Já sei por que perdeu a hora! Tomara que, pelo menos, não perca o senso do ridículo!

– Por que, papi?!

– Por que, Félix, todos os apaixonados são ridículos!

Outra vez Félix ficava surpreso com as palavras do pai. Mas, aquelas palavras, por alguma razão, Félix fez questão de decorar. Talvez estivesse tão apaixonado a ponto de ser ridículo, ou, agindo tão ridiculamente por estar completamente apaixonado.

–--

Enquanto isso, no quarto de Félix, Niko o esperava quando o celular de Félix tocou. Niko viu que era mensagem e suspeitou que fosse novamente do Anjinho. Ele ainda pôs o celular de volta no lugar, para não dar uma de ciumento bisbilhoteiro, mas a curiosidade falou mais alto. Para sua desventura, era mesmo uma mensagem do Anjinho.

“Félix, tô esperando resposta do q mandei ontem. Me liga. Obg. Do seu _Anjinho.”

Niko jogou o celular na cama com raiva.

– Seu... Seu Anjinho... Ai que raiva! Mas, espera aí, o quê que ele mandou ontem?!

Niko lembrou que à noite chegou alguma mensagem no celular que Félix não quis mostrar e quando ele tentou ver descobriu aquela carta que Félix tentava escrever, e acabou esquecendo o celular. Então, pegou novamente o celular na cama e foi ver as mensagens anteriores. Ele não chegou a ler o conteúdo, mas viu que havia várias, tanto recebidas quanto enviadas, para o mesmo nome da agenda: o Anjinho.

Aquilo fez seu sangue ferver. Ele não aguentava saber que Félix ainda se comunicava, ainda se importava, com aquele cara. O que piorava a situação era que ele nem sequer podia ir embora naquele momento. Resolveu, então, esperar calmamente até Félix voltar para pedir satisfações.

Félix voltou logo, trazendo as roupas de Niko.

– Pronto, carneirinho, aqui... Pode se vestir... Mas, se quiser pode ficar assim, eu não ligo! – Ele riu no final da frase, mas Niko permaneceu sério.

Pegou as roupas e começou a vestir sem dizer uma só palavra.

– O que você tem hein, carneirinho?!

– Nada, Félix, não tenho nada... Quem tem é você!

– Eu?! O quê que eu tenho, criatura?

– Gula! Luxúria!

Félix ficou sem entender nada.

– Eu, por que carneirinho? Quer me explicar...

Quando Niko ia abrir a boca, o celular tocou. Félix pegou e viu quem era, desligando.

– Por que não atendeu Félix?

– Por que... Não era importante...

– Deve ser muito importante! É melhor atender da próxima vez!

– Oh Carneirinho, não estou entendendo esse tom de voz... O que eu fiz?

Félix pegou o celular e desconfiou que Niko tivesse visto as mensagens.

– Carneirinho, por acaso, você mexeu no meu celular?!

– Sim! Mexi sim, Félix, e eu vi as várias mensagens que você ainda troca que esse “seu Anjinho”! – Fez sinal de aspas com os dedos, demonstrando seu ciúme.

– Carneirinho, por favor, deixa eu te explicar... – O celular tocou de novo. – Pronto, espera aí, que eu vou esclarecer isso agora mesmo!

Félix saiu para o corredor para atender o celular.

– Alô, Anjinho!

Niko foi até a porta do quarto ouvir a conversa. Félix estava no fim do corredor.

Do outro lado da linha, Anjinho respondia.

– Alô, Félix, desculpa te incomodar, mas você não me deu resposta, e eu preciso saber disso para hoje! Você é o único que eu confio para isso!

– Eu sei Anjinho, eu sei! – Respondia Félix sem notar que Niko ouvia suas respostas.

– Ah, Félix, sabe o que eu sinto falando com você? Eu mandei na mensagem...

– Eu sei Anjinho... Saudade...

Ao ouvir isso, Niko não aguentou o ciúme. Saiu de lá imediatamente, desceu as escadas e foi embora da casa de Pilar. Como não estava com seu carro, foi a pé mesmo, na chuva.

Enquanto isso, Félix continuou sua conversa ao telefone sem se dar conta que seu amado carneirinho estava indo embora.

– É Félix... Que saudade! Mas, eu sei, você já disse para não falar mais assim, desculpa!

– É, Anjinho! Olha, vamos direto ao assunto pelo qual você entrou em contato comigo! Eu dei uma olhada naqueles contratos que você me enviou por e-mail e vou te enviar de volta o que acho mais conveniente para você assinar! E, quanto às fotos, ficaram ótimas, parabéns!

– Obrigado, Félix! Como é o primeiro trabalho que eu arrumo como modelo aqui em Barcelona, e você me ajudou a vir para cá, eu precisava da sua opinião... Você é tão inteligente...

– Sou sim, Anjinho! Mas, agora que já fiz isso para você, quero te pedir que faça uma coisa por mim... Por favor, Anjinho, não me liga mais! Não me manda mais mensagens, fotos, e-mails, nada, por favor! Lembra que quando te dei a passagem falei que tinha alguém na minha vida?! Esse alguém é importante demais para mim e não quero perdê-lo por ciúmes sem sentido!

– Tá Félix... Eu entendo! Desculpa se te causei algum transtorno...

– Que nada, Anjinho! Te desejo muito boa sorte, viu!

– Pra você também Félix! Boa sorte! E, adeus!

– Adeus, Anjinho! Adeus!

Félix desligou o celular aliviado por ter dito adeus de uma vez por todas para aquela figura do seu passado. Agora, ele tinha um encontro com seu mais maravilhoso presente, porém, ao voltar para o quarto, notou que seu presente havia ido embora.

Ele desceu e o procurou pela casa. Não estava em lugar nenhum. Então, ficou se perguntando o que ele teria ouvido. Sem perder tempo, pegou o carro e foi atrás dele.

–--

Niko andava pela rua, chorando. Suas lágrimas se misturavam as gotas de chuva que escorriam pela sua face. Como podia Félix ser tão ambíguo? Custava-lhe entender porque aquele homem ora lhe amava, ora parecia não ter sentimentos. Porque depois de uma noite tão inesquecível, cheia de carinho, amor, paixão, ele ainda falava que sentia saudade de outro? As questões rodavam em sua cabeça.

Um carro passou perto dele e ainda jogou mais água para piorar a situação. O carro parou mais a frente e alguém abriu a porta.

– Niko! Desculpa Niko! O que tá fazendo andando sozinho assim, nessa chuva?!

– É... Eron... P-pode me dar uma carona?

Niko chegou em casa encharcado. A cabeça doendo, os olhos vermelhos. Eron entrou com ele. Jayminho estava na escola, Adriana cuidava de Fabrício na sala.

– Seu Niko! O que aconteceu?! Não tava na casa do seu Félix?!

– S-sim, estava... Eu vou trocar essa roupa que já levou dois banhos de chuva... E... Vou ligar para o Edgar, dizer que não vou ao restaurante hoje...

Eron perguntou: - Você estava na casa do Félix?! Essa hora?! E o que fazia lá e porque vinha andando sozinho na chuva?!

– São muitas perguntas Eron... – Niko suspirou. Um suspiro triste, engasgado. Eron nunca o tinha visto assim.

– Niko, o Félix está te fazendo sofrer? Por que se estiver...

– Não! – Niko o interrompeu. – Eu... Amo o Félix! É só que... Às vezes... Algumas coisas não tem explicação...

– Do que está falando Niko?!

– Nada Eron... É algo que só o Félix pode me explicar... É... Obrigado pela carona!

– Niko, sabe que pode contar comigo! Você já deve estar sabendo que eu estou saindo com um médico lá do San Magno, mas, é só um amigo... Eu ainda gosto de você!

Niko pegou em sua mão e afirmou: - E eu, Eron, amo o Félix! Não sei bem ainda o que ele sente por mim, mas eu, o amo!

Eron entendeu. – Tá... Eu já vou... Fica bem!

Niko deu um meio sorriso para ele. Quando Eron saiu deu de cara com Félix que já estava lá e ouviu tudo. Félix fez um sinal para ele ficar em silêncio. Eron, simplesmente, o encarou e foi embora.

Félix esperou um pouco, pensou, mas não entrou. Ele precisava demonstrar para Niko o que sentia por ele. Precisava demonstrar que o amava.

–--

À tarde, Félix estava no quarto com o pai após ajudá-lo a tomar banho.

– Você ficou muito calado hoje Félix! Aconteceu alguma coisa?

– Não, papi...

– Brigou com seu namoradinho?!

Félix ficou calado por um instante. César retrucou:

– Quem cala, consente! Viu?! Viu como os apaixonados ficam ridículos?! Você está aí todo amuado porque brigou com esse rapaz e, no entanto, hoje de manhã estava todo alegrinho!

Félix pensou bem naquilo. O pai tinha toda razão. Mesmo daquele jeito ríspido e sem querer, ele havia dito o que Félix precisava ouvir.

–--

À noite, Niko ninava Fabrício, ainda triste pelo que tinha acontecido e por Félix não ter sequer o procurado o dia todo.

Ele cantava para o filho antes de colocá-lo no berço.

– ... Nessa rua, nessa rua tem um bosque... Que se chama, que se chama solidão... Dentro dele, dentro dele mora um anjo... Que roubou, que roubou meu coração...

Niko ainda chorava e engasgava em algumas palavras.

Fabrício dormiu. Ele o colocou no berço e saiu. Foi até o quarto de Jayminho, deu um beijinho no filho que já dormia e foi para seu quarto.

De repente, ouviu o barulho de umas pedrinhas sendo jogadas na janela. Olhou. Era Félix. A chuva havia parado naquele instante. Ao vê-lo espiando pela janela, Félix fez sinal, chamando-o, mas Niko não ligou. Félix começou a gritar, chamando-o. A chuva estava recomeçando. Mas, Niko não sabia o que fazer.

– Não, não vou... Ou será que devo... Não! – Continuava indeciso. De lá de dentro ele não podia ouvi-lo bem, mas, podia ler seus lábios... E seus olhos... Pedindo, implorando quase, para deixá-lo entrar.

Mas, Félix voltou para dentro do carro. Talvez por causa da chuva... Talvez por ter desistido... Mas, por alguma razão, não foi embora. Ficou ali, dez, quinze, vinte minutos. O tempo passava e Félix não ia embora dali, só permanecia trancado naquele carro, enquanto a chuva caía do lado de fora.

Niko ficou preocupado. Deixou a chuva enfraquecer e pôs um capuz. Correu até o carro estacionado de frente a sua casa. Bateu no vidro. Félix estava cochilando no banco de trás e levantou com o susto. Imediatamente, abriu a porta.

– Niko!

Niko entrou. A chuva estava ficando mais forte de novo.

– Félix, o que deu em você?! Por que ficou aqui parado trancado nesse carro?! Com os vidros fechados... Quer morrer sufocado?!

– Eu acho que morreria se você não viesse carneirinho!

– Você está sendo ridículo!

– Todos os apaixonados são ridículos, Niko!

Niko o olhou surpreso com aquelas palavras. Contudo, ainda queria manter-se forte para não se jogar nos braços de Félix.

– Se... Se você morresse, podia chamar um anjo para te salvar!

– Niko, você foi embora quando eu ia te explicar... O Anjinho me pediu para ver o primeiro contrato que ele ia assinar na Europa, para eu ver se era um bom negócio... Eu só o assessorei, e sugeri que ele conseguisse um empresário por lá... Aí, depois ele exagerou, mandou as fotos, as mensagens... Mas, eu pedi para ele não entrar mais em contato comigo!

– Por quê?! Você não tem saudade dele?!

– Como eu vou ter saudade dele se eu tenho você, carneirinho?! Além do mais, eu também não gostei nada de ver a lacraia aqui hoje!

– Você veio aqui?

– Claro, você achou que eu não viria atrás de você, Niko?! Nem que fosse o apocalipse, eu viria de qualquer jeito! Mas, foi bom porque, ouvi você passar na cara daquela lacraia que você me ama!

– Só disse a verdade! Ah, eu fiquei com muito ciúme Félix!

– Eu sei... Mas, confio em você! Será que dá pra confiar em mim?

– Eu sempre confiei em você!

Eles se beijaram e Félix pediu: - Fica comigo aqui mesmo carneirinho? A chuva está mais forte, não dá pra sair do carro agora!

– Aqui...

– É... Só puxa antes aquele botão ali que liga os faróis do carro!

– Por quê? A frente do carro está virada lá para casa, vai iluminar a frente da casa Félix?

– É esse o objetivo!

Niko ligou, quando os faróis acenderam ele teve uma surpresa que lhe encheu os olhos de lágrimas. A luz refletia na parede as palavras: Eu Te Amo.

Félix falou: - O que eu não sei dizer com palavras, eu demonstro, não é carneirinho?!

Niko chorou de felicidade, abraçado a Félix. Depois, começaram a trocar beijos e carícias incontroláveis.

–--

A chuva escorria pelo vidro embaçado. Uma mão também escorria do lado de dentro até outra mão segurá-la e entrelaçar seus dedos, puxando-a para baixo, para mais perto.

Nada se podia ver dentro daquele carro, mas do lado de fora, na parede da casa, ainda era refletido aquele sentimento inexplicável, mas, visível para todos: o amor dos dois.


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Notas finais do capítulo

FIM... de um início de outono inesquecível!



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