Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 23
Águas de Março - Carta de Amor -- parte 2


Notas iniciais do capítulo

continuação...



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– Não acredito! – Exclamou Félix, vendo as fotos que vinham após a mensagem. Era um ensaio sensual de Anjinho em Barcelona. No final, outra mensagem de Anjinho pedindo a avaliação de Félix.

– Droga! Ele tinha que me mandar isso justo agora! – Exclamou, jogando o celular no banco de passageiro que ainda tinha o calor de Niko.

Niko entrou em casa chateado. Encostou-se à porta, mas sentiu as batidas do lado de fora.

Adriana veio do quarto dos meninos. – Boa noite, seu Niko! Ué, quem tá batendo na porta?!

Lá de fora, Félix chamava: - Carneirinho... Abre essa porta!

– Seu Niko... Mas, é o seu Félix!

– Eu sei Adriana!

– Carneirinho, abre, está chovendo! – Félix pedia.

– Ai... Adriana vai ficar com os meninos que eu resolvo aqui com o Félix!

Niko entreabriu a porta e se surpreendeu ao ver Félix com um pequeno e lindo buquê de flores nas mãos.

– Carneirinho, vai ficar só olhando ou eu posso entrar? Vou ficar todo molhado aqui!

Niko puxou rapidamente Félix para dentro. Félix entrou e virou para ele estendendo a mão com o buquê.

– Pra você, carneirinho!

Niko pegou o buquê e quase se derreteu, mas lembrou que ainda estava com ciúme.

– É lindo Félix... Mas, ainda não gostei nada de ter visto aquela mensagenzinha daquele Anjinho!

Félix foi se aproximando. – Carneirinho, aquela mensagem boba... Eu nem sei por que ele mandou aquilo...

– Hum... E por que você me comprou esse buquê lindo para me pedir desculpas hein?! Por acaso, ele já não tinha enviado outras fotos desse tipo antes?!

Félix se aproximou mais pegando em seus ombros e olhando em seus olhos.

– Carneirinho, eu não comprei isso para te pedir desculpas... Comprei por que te adoro!

Niko não podia mais resistir àqueles olhos castanhos fitando sua face, passeando entre seus olhos e sua boca. Os olhos de Niko faziam o mesmo. Eles se beijaram. Félix estava perdoado.

Eles jantaram juntos, com a companhia de Jayminho e Adriana. Depois de Niko dar a mamadeira para Fabrício e colocá-lo para dormir, era a vez de levar Félix para o quarto.

–--

Pela madrugada, abraçados na cama, os dois conversavam.

– Carneirinho, hoje eu contei para o papi sobre nós!

– E como foi?!

– Ah, carneirinho, já deve imaginar que ele não gostou nem um pouco, óbvio... Mas, pelo menos a reação não foi tão ruim quanto pensei que seria... Ele só quase jogou chá quente em mim, fora isso... – Félix tentou falar em tom de brincadeira.

– Nossa! Félix! Ele não está com os movimentos limitados?!

– O lado direito não mexe, mas a mão esquerda está livre para me estrangular... – Félix falava no tom de piada de sempre, sorrindo, mas por trás daquele sorriso, Niko sabia que tinha que dar todo apoio e carinho para que seu amado superasse todo e qualquer obstáculo.

O loiro o beijou e sussurrou em seu ouvido: - Se ele tentar te estrangular, eu te salvo!

Félix riu enquanto Niko beijava-lhe o pescoço.

– Carneirinho... Bem que um dia desses, você podia dormir comigo lá na casa de mami, aí se o papi tentar me matar você me salva!

Niko sorriu. – Por acaso, quer me apresentar ao doutor César?!

– Carneirinho, acho que a última coisa que o papi tem vontade na vida é de conhecer meu namorado!

Niko fitou-o com olhar apaixonado.

– Que foi carneirinho?

– Adoro quando você diz que sou seu namorado!

Félix puxou-o de modo a Niko ficar em cima dele.

– Não é verdade?!

A madrugada se estendeu.

Durante aquela noite de amor, entre as carícias, Niko pôde ouvir Félix dizendo que o amava, porém, entre gemidos e sussurros confusos quase incompreensíveis. No final, ele não tinha certeza se tinha ouvido mesmo tais palavras da boca do amado, mas tinha certeza do que havia no interior de seus corações.

–--

De manhã cedo, Félix voltava para casa, novamente, sorridente e feliz.

– Bom dia, Félix! – Perguntou Bernarda que estava na sala.

– Muito bom dia, vovó! – Félix foi todo animado abraçar sua avó.

– Nem preciso perguntar o motivo de tanta felicidade não é?!

– Claro que não, a senhora sabe... Bom, agora meu nível de felicidade vai baixar um pouquinho, vou ver se o papi já acordou!

Félix entrou no quarto, falando baixo.

– Papi, está acordado?

César ainda estava deitado e coberto, mas respondeu:

– Sim! Não dormi direito...

– Está sentindo alguma coisa?!

– A cabeça dói um pouco, mas é por causa da cirurgia...

– Tem certeza? Não quer que eu chame o Lutero...

– Não Félix! Eu sou médico, sei muito bem que uma cirurgia como essas causa dores por um tempo prolongado! E você, está chegando agora é?

– S-sim! Acabei de chegar! – Félix se aproximou.

César o olhou. – Parece que ainda está com a mesma roupa de ontem... Claro! Pelo menos tomou um banho antes de vir?!

– T-tomei, pai... Porque quer saber?!

– Por que não quero que fique aqui cheirando a macho...

Félix suspirou. – Não se preocupe papi, eu já tomei banho na casa do carneirinho e vou trocar de roupa para trazer seu café!

– Carneirinho?!

Félix nem se deu conta que falou “carneirinho” na frente do pai e quase bateu na própria boca.

– É... C-carneirinho é o apelido carinhoso que eu dei pra o Niko!

César fez novamente aquela expressão incompreensível e retrucou:

– Se tratam até por apelidinhos... Que coisa ridícula!

Félix suspirou e deu com os ombros dizendo: - Você acha pai? Não estou nem aí... Eu estou apaixonado... Ultimamente, tenho sido muito ridículo...

Ele saiu do quarto.

Depois de trocar de roupa, voltou já com o café da manhã de César. O pai estava pensativo, calado. Félix estranhou.

– Papi, no que está pensando?

– Estava relembrando umas coisas da minha juventude...

Ah, sério?! O que, por exemplo? – Perguntou ajeitando o pai para tomar o café.

– O que você disse... Lembrou-me um poema que copiei para a Pilar quando começamos a namorar!

Félix se interessou, tanto por curiosidade, quanto pela possibilidade de ter finalmente uma conversa sadia com o pai. Terminou de ajeitar tudo e sentou ao seu lado.

– Que poema é esse papi?!

– Um que comumente chamam de Cartas de Amor de Álvaro de Campos, um dos heterônimos do grande Fernando Pessoa! Ele começa dizendo: “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas”!

– Cartas de amor? É... Acho que faz sentido dizer que são ridículas... – Félix falou em tom de brincadeira.

– Não é a carta em si Félix, é o sentimento! – Respondeu alterado. – Logo se vê que você não entende nada de sentimento! Enfim, nem sei por que me lembrei disso... Como o próprio poeta diz: “A verdade é que hoje, as minhas memórias, dessas cartas de amor, é que são ridículas”!

Félix sentiu aquelas palavras no mais profundo de sua alma. Ele sabia que o pai estava certo em dizer que ele não entendia nada de sentimentos. Sua relação com Niko era muito além do sexo e ele nem conseguia explicar os sentimentos verdadeiros que entrelaçavam essa relação. Ele também não queria fazer de suas memórias com Niko, memórias ridículas. No fim, ele chegara à conclusão de que tentar demais explicar o inexplicável é que realmente era ridículo.

–--

À tardinha, Félix foi ao restaurante. Niko o recebeu com um abraço carinhoso.

– Oi, carneirinho! Já está ficando nublado de novo e eu pensei em vir te buscar!

– Ah que lindo Félix! Hoje não tem muito movimento, se você quiser, eu posso sair agora mesmo!

– Ainda pergunta se eu quero carneirinho?! Devo ter roubado os peixes multiplicados para fazer sushi para você vir com uma pergunta tão óbvia! – Ambos riram.

– Tá, deixa só eu dar umas instruções pro Edgar, e nós vamos!

– Ah, carneirinho... Hoje eu queria fazer uma coisa diferente... Quer jantar na casa de mami hoje?!

– Ah, claro Félix, por que não?! Só passamos em casa antes para avisar a Adriana e ver os meninos, tá!

Assim fizeram.

–--

Félix chegou com Niko na casa de Pilar na hora do jantar.

– Mami, família, olha quem veio jantar conosco!

Pilar exclamou: - Niko! Querido, venha! Félix devia ter avisado para mandar colocar mais um lugar a mesa!

– Ah, mami, eu decidi de última hora e fui buscar o Niko! – Virou para Niko. - Vai indo para a mesa carneirinho, eu vou ver o papi!

Niko foi cumprimentar a todos enquanto Félix foi para o quarto de César.

– Papi, tudo bem com o senhor?!

– Sim, estava ouvindo o rádio... Pensei que hoje você também não fosse voltar!

– É... Não papi, hoje eu vim jantar em casa e... Quer que eu traga seu jantar agora? Todo mundo já está jantando...

– Pode ir jantar com os outros, depois você traz alguma coisa para mim!

– Tá, papi... – Félix preferiu não falar-lhe sobre seu convidado especial.

–--

Durante o jantar, risos e conversas. Félix achava incrível não só o fato de gostar tanto de Niko, mas de toda a família Khoury gostar muito dele também.

Após o jantar todos foram para a sala. Félix levou o jantar de César e lhe ajudou a comer.

– Eu ouvi muita conversa lá fora... Há convidados para o jantar, Félix?!

Félix titubeou, mas, se não falasse logo, não falaria mais. César precisava se acostumar com a realidade.

– Há! É... É só a mami, o Maciel, a vovó, o Lutero, o Jonathan... E o Niko!

– Então, quando você não sai você traz seu namorado para jantar aqui?!

Félix conhecia muito bem aquele tom de voz do pai. Ele tinha que ser forte para não desmoronar.

– Algumas vezes o Niko vai vir jantar aqui sim papi! A casa é de mami e ela não vê problema algum nisso, muito pelo contrário, o Niko é a simpatia em pessoa, todos que o conhecem gostam dele! Aliás, o senhor devia conhecê-lo um dia, porque iria balancear com essa sua antipatia diária!

Félix deu um suspiro de alívio ao tomar coragem para falar de tal modo com César. O silêncio de César, porém, era agoniante.

– Ah, papi, desculpa, mas, o senhor às vezes me tira do sério!

– Você diz a verdade... – César respondeu, surpreendendo Félix. – Ouvi quando vocês chegaram, ouvi quando a Pilar os chamou... Você podia ter ficado, mas veio primeiro aqui... Porque acha que te mandei ir jantar logo com eles, depois vir?! Porque não quero atrapalhar a vida de ninguém, Félix... Nem a sua! Então... Vai, vai cuidar da sua vida, me deixa aqui, me deixa em paz, se é que eu posso ter paz ainda!

– Eu... Eu vou pai... Se precisar de alguma coisa toca o alarme aí de lado na cômoda que quem estiver na cozinha ouve e vem te ajudar com qualquer coisa...

– Sei muito bem como se faz Félix... É esse aparelho que tem me ajudado quando você dá suas saidinhas...

– Não, papi... O aparelho aí é só o modo... Quem tem te ajudado são as pessoas que vivem nessa casa! – Falou em tom desafiador.

César, porém, respondeu em tom sério e calmo. – Eu sei... Sobretudo, você!

Félix se surpreendeu com aquela palavra final do pai. Era como se ele estivesse reconhecendo pela primeira os esforços e a ajuda de Félix para com ele. No fim, ele tinha um meio sorriso ao sair daquele quarto, e, certamente, a alma mais leve.

–--

De volta à sala, depois de muita conversa, os demais começaram a se retirar. Félix levou Niko para o jardim. Chovia e eles ficaram na varanda admirando a paisagem e namorando.

– Daqui a pouco, eu te levo para conhecer meu quarto, carneirinho!

O celular de Félix tocou em seu bolso. Ele olhou rapidamente e desligou a ligação.

– Quem era, Félix?

– Ninguém... Não é importante!

– Ah, não acredito... Deixa eu ver aqui esse celular... – Niko enfiou a mão no bolso de Félix para pegar o celular, mas pegou outra coisa.

– Espera, carneirinho...

– O que é esse papel Félix?!

– É... Eu... É uma coisa boba que eu estava fazendo, carneirinho... É melhor não ler não, joga fora...

– Não, eu quero ver! – Niko se afastou lendo o que tinha escrito no papel.

Eram palavras desconexas, muitas rabiscadas, mas todas como se fossem começar uma declaração de amor. Ele olhou para Félix e perguntou:

– O que é isso?

– Eu... Eu estava tentando escrever uma carta... Para você! Pronto, falei, pode rir de mim!

Mas, Niko não riu. Ele se emocionou.

– Félix, por que você resolveu escrever uma carta?

– Por que... Sou um bobo, carneirinho... Não sei como dizer o que sinto...

– Félix... Não precisa dizer ou escrever... Eu sei o que você sente, você demonstra e isso basta!

Félix sorriu. – É... Mas, acredite ou não, depois de uma conversinha com o papi soberano eu andei lendo uns... Poemas...

Niko ficou boquiaberto. – Você, Félix?! Lendo... Poema?!

– É... Foram só alguns... E nem pense que gostei, ainda acho uma chatice... Mas... Eu aprendi que, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor, é que são ridículas!

Depois daquelas palavras parafraseadas, Niko não pode conter o desejo de beijá-lo incessantemente.

Os dois não resistiram ao desejo de estarem juntos, sentindo a pele um do outro. Correram pelo jardim, mesmo embaixo da chuva, se beijando, se acariciando, e se amaram ali mesmo, num local mais discreto, escondido, daquele imenso jardim da mansão Khoury. Tendo como chão a grama verde e macia e por testemunha as águas da chuva de março que banhava seus corpos àquela noite.

–--

Já era tarde da noite, quando Maciel e Pilar desceram até a cozinha. Ao acender a luz tiveram uma surpresa.

– Félix! Niko! O que estão fazendo aqui?! – Perguntou Maciel.

Os dois, que estavam agarrados, de pé, soltaram-se ligeiramente. Niko ficou logo todo rosado e Félix retrucou:

– P-podemos perguntar o mesmo... Mami poderosa, Maciel, posso saber o que vieram buscar na cozinha a uma hora dessas?!

– Não mude de assunto, Félix! - Pilar completou. – E olha como estão molhados, pingando pelo chão inteiro!

Envergonhado Niko pediu: - Ai desculpa Pilar, a gente nem percebeu...

– A questão não é o chão Niko, mas... Vocês estavam lá fora na chuva?!

Eles se olharam meio constrangidos.

– Ah... S-sim, mami... Eu nunca tomei banho de chuva quando criança, então, estava descobrindo agora os prazeres de um banho de chuva...

Niko não falou nada, mas Félix olhava de lado para ele enquanto falava e isso lhe deixava mais corado.

Pilar e Maciel entenderam a situação. – Ai ai, vocês dois vão ficar resfriados com essa roupa molhada... Maciel, por favor, pega o roupão do Félix lá no quarto dele e um para o Niko e traz que eles vestem aqui mesmo na cozinha e depois sobem para o quarto! Não vão subir assim senão vão molhar a casa toda!

Maciel foi e Pilar ficou pegando um copo de leite na cozinha que era o que tinha ido fazer. Os dois ficaram calados, contendo o riso, para disfarçar, mas Pilar apenas os olhou balançando a cabeça e sorrindo.

– Ah vocês dois...

Maciel voltou trazendo os roupões.

– Vai ficar olhando Maciel?! Adoraria, mas você já é de mami! – Falou com ar cínico.

Maciel respondeu: - Engraçado como sempre, Félix... – Virando para Pilar. – Vamos voltar para o quarto, meu amor?!

– Vamos Maciel... – Pilar virou para os dois. – Olhem meninos, tirem essas roupas, mas, vistam-se com os roupões, tá! Depois, vão para o quarto, quietinhos! Cuidado para não acordarem toda a casa, viu! Boa noite, meu filho! Boa noite, Niko!

Niko deu um: - Boa noite! – Envergonhado. Pilar tinha enfatizado o “vistam-se” e o “quietinhos”.

Maciel ainda completou a fala de Pilar: - Ah, e aproveitem a noite de chuva... É bom para dormir abraçadinho! – Disse abraçando Pilar.

Félix jogou o roupão em direção a ele, rindo. – Ah ah ah... E ainda diz que eu que sou engraçadinho!

Eles foram. Niko estava completamente vermelho.

– Ai Félix, que vergonha...

– Vergonha de quê, carneirinho?! – Félix estava com um sorriso malicioso. – Qualquer um que nos visse ia deduzir o que estávamos fazendo lá fora! – Félix tirava as roupas molhadas enquanto falava.

Ele tirou tudo na cozinha com a luz apagada e vestiu o roupão.

– Agora, é sua vez carneirinho... Tira tudo e veste isso pra a gente subir! – Terminou a frase piscando para Niko e deixando o roupão se abrir de propósito.

Aquele charme todo era irresistível e Niko logo se despiu rapidamente, colocando o roupão. Antes que ele pudesse fechar a peça, Félix puxou-o, beijando-o com paixão. Os roupões abertos e a pele em contato fazia o calor dos próprios corpos secar a pele molhada.

Subiram para o quarto de Félix deixando as roupas molhadas pelo chão.

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Notas finais do capítulo

continua...



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