Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 12
O Futuro - parte 5


Notas iniciais do capítulo

"Deixe suas esperanças, e não seus ferimentos, moldarem seu futuro." - Robert Schuller.



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– Finalmente se lembrou de mim, Nicolas!

– Ah... Sim, claro... Como esquecer né?! – Niko deu um sorrisinho envergonhado.

– É... Nós éramos jovens...

– Pois é... – Niko continuava envergonhado e olhava constantemente para a porta para ver se Félix não chegava.

– Então você se tornou mesmo chef, Nicolas... Que bom que você realizou seu sonho...

– Pois é... Não é a única coisa que eu realizei... Eu formei uma família também!

– Sério?! E...

– E... O quê? Ah, já sei o que quer saber... Sim, eu estou casado com um homem! Eu adotei um menino e tive outro filho por inseminação, barriga solidária... Enfim, sabe como é... Meus filhos já estão grandinhos, um vai fazer dez anos e o outro já é um rapaz de dezoito!

– Puxa, Nicolas! Fico feliz por você! Conseguiu mesmo o que sempre quis... Lembra quando a gente ficou falando dos nossos sonhos?!... Tínhamos acabado de fazer...

Niko pigarreou. Eduardo sorriu.

– Eu ia dizer que tínhamos acabado de fazer dezoito anos, Nicolas...

– Ah é... É, eu sei... – Niko deu mais uma risadinha envergonhada.

– Nicolas, você está esperando alguém? Não para de olhar para a porta... Olha, se estiver atrapalhando seu trabalho, pode voltar, sem problema...

– Não, não, imagina Eduardo... Já passou da hora do almoço, as pessoas vão saindo... É que eu estou mesmo esperando alguém...

– Ah... Seu companheiro?!

– É! – O sorriso envergonhado de Niko se transformou num sorriso apaixonado ao se lembrar de Félix.

– Dá para perceber que você gosta muito dele!

– Gosto... Gosto muito! Eu o amo!

– Que lindo... Você encontrou o amor!

– Encontrei... Você não?

– Bom... Digamos que... – Eduardo recolocou os óculos escuros. - Depois de você Nicolas, eu me tornei um solteirão! Eu aproveitei a vida... Namorei muito, mas nunca me apeguei a ninguém de verdade... Eu até tentei encontrar a pessoa certa, mas, como não achei, me diverti com as erradas mesmo! Inclusive, estou namorando alguém agora!

– E esse alguém é...

– É um homem! Eu o conheci na última viagem pela Europa! Sabe, Nicolas... Depois do que tivemos, eu não tive mais dúvidas quanto ao que eu era...

Niko sorriu. – Nem eu... E, espero que esse homem seja a pessoa certa pra você dessa vez...

Eles conversavam quando Félix entrou no restaurante. Niko já havia se distraído e não o viu chegando. Félix chegou com uns óculos escuros que havia acabado de comprar. Rapidamente Félix viu seu carneirinho conversando com outro, e achou estranho aquele homem. De longe, lembrava o próprio Félix. Eles até estavam com óculos iguais.

– Niko, será que eu demorei demais para você arrumar um sósia meu para me substituir?!

Niko levantou quando ouviu Félix falar atrás dele.

– Félix... Amor, até que enfim... Senta aqui... – Niko puxou a cadeira ao lado para ele. – Félix, eu quero te apresentar o Eduardo! Nós... Estudamos juntos nos últimos anos da escola!

– Oi! - Félix falou frio, mas eles se cumprimentaram.

– Então, você é o companheiro do Nicolas?! Que sorte...

– Sorte? Por quê?!

– Por que é muita sorte encontrar alguém como ele!

– Você acha?!

Pelo tom com que Félix falava Niko já havia percebido que ele estava se mordendo de ciúmes.

Félix continuou com algumas perguntas. Eduardo respondia, enquanto Niko preferiu permanecer calado.

– E, desde quando se conhecem?

– Desde o colégio... Temos a mesma idade, estudávamos juntos desde os dezesseis anos, mas só depois dos dezoito... Nos tornamos mais íntimos!

– Mais... Íntimos?! – Félix lançou um olhar para Niko. – Como assim mais íntimos?!

– Ah... Mais amigos... Saíamos juntos... Íamos para todos os lugares... Trocamos confidências... Enfim... Já fomos melhores amigos!

– Ah tá... E era uma amizade assim bem forte?! Amizade colorida?!

– Félix... – Dessa vez, o jeito de Niko chamar sua atenção foi mais envergonhado do que de costume. Geralmente, quando Niko o repreendia por algo que ele tinha falado, ele o encarava, mas, dessa vez, Niko olhou para o outro lado, ruborizado. Félix entendeu que a pergunta que ele tinha feito não estava tão longe da realidade.

Eduardo também ficou sem saber o que responder. Olhou para Niko e perguntou:

– Bem... Será que seu companheiro é ciumento, Nicolas?!

Niko olhou para Félix que o encarava.

– N-Não... O Félix é só um pouquinho ciumento às vezes, não é Félix?!

– Às vezes não, carneirinho... Só quando vejo necessidade!

Eduardo riu e tirou os óculos escuros. – Carneirinho?! Antes você nem gostava de apelidos...

– Ah quer dizer que você também deu um apelidinho carinhoso para o carneirinho e ele não gostou?! Me diz, qual?! E, afinal, o que houve entre vocês?!

– É... Bem... Acontece que... – O celular de Eduardo tocou o toque de mensagem. – Nossa! Salvo pelo gongo! Deem-me licença... Meu namorado acabou de chegar... Vou trazê-lo!

Eduardo saiu. Félix olhou para Niko e perguntou:

– Namorado?! Carneirinho, me diz... Primeiro: quem é esse? Segundo: o que ele foi na sua vida? Terceiro: qual a sina que você tem com olhos coloridos, hein?!

– Félix... Para! Antes de você fazer mais perguntas eu vou responder, mas vê se não tem um ataque de ciúmes, por favor!

– Ahá... E por acaso eu tenho motivos para ter um ataque, Nicolas?! – Félix falou seu nome em tom sarcástico.

– Tá vendo como você é... Me escuta... Meu amor... O Eduardo foi meu grande amigo e nós passamos por algumas coisas juntos... E... Nós, praticamente nos descobrimos juntos, e...

– Se descobriram?! Será que eu salguei a santa ceia pra te ouvir dizer isso?!

– Ai Félix... Depois eu te conto, ele já tá voltando!

Eduardo voltou acompanhado. Foi até a mesa e apresentou seu companheiro.

– Nicolas, Félix, quero que conheçam o...

Félix levantou a cabeça para olhá-lo e exclamou:

– Anjinho?!

–--

Na rua, na saída da escola, Lucas corria fugindo de Gustavo que o surpreendeu depois que Jayme foi embora. Ele se escondeu em um beco, mas Gustavo sabia muito bem andar por aqueles lugares, Lucas é que era novo por ali.

– O que você quer comigo?! Porque não me deixa em paz?!

– Porque eu não quero! – Respondeu Gustavo.

Gustavo foi se aproximando enquanto Lucas andava para trás, até deixá-lo contra a parede, sem saída.

– Por que esse medo todo Lucas?! Não vou te fazer nada... Nada que você não deva gostar...

Gustavo puxou Lucas pela cintura, prendendo suas mãos para trás. Lucas era muito magro, era fácil de ser dominado por Gustavo que era mais alto e mais forte.

– Sabe o que eu pensei quando te vi Lucas? Eu pensei: gostei do novato, ele é bem bonitinho...

– G-gostou?!

– É... E você gosta disso? – Gustavo levou a mão de Lucas para debaixo de sua camisa. – Gosta desse abdômen sarado Lucas?

Lucas não conseguiu esconder que, por um instante, gostou daquilo. Mas, rapidamente tirou a mão e pediu:

– M-me deixa ir...

– Não! Eu vi que você gostou... E quer saber de uma coisa... Também gosto... Mas, não conta pra ninguém...

Gustavo o beijou sem dar-lhe tempo para reagir. Aquilo pegou Lucas de surpresa, ele nem tentou se virar, se defender, sair dali, nada. Apenas levou a mão que já estava solta ao peito de Gustavo e tentou lhe empurrar. Viu que era em vão, então, aceitou o beijo. Quando sentiu que Gustavo lhe soltou a outra mão, voltou a reagir, empurrando-o com toda força e correndo dali o mais rápido que pôde.

Ele ainda criou coragem para olhar para trás e viu que Gustavo não o perseguia. Ele continuava no mesmo lugar, encostado à parede, imóvel. Lucas continuou seu caminho.

–--

No restaurante, Niko levantou revoltado.

– Espera aí, Eduardo, seu namorado é o Anjinho?

– Vocês já se conhecem?

– Eu não, mas o Félix o conhece muito bem, não é Félix?! - Cruzou os braços.

– Eu... Eu conheço mesmo! O quê? Eu também conheci o Anjinho anos antes de te conhecer Niko, do mesmo modo como você conhece o Eduardo há muitos anos, não é?!

Eduardo interrompeu perguntando para Félix:

– Espera Félix, então você e o Anjinho também tiveram um caso?!

– Também... Como assim também?! Então, minhas suspeitas estavam certas, você e o Niko...

Niko interviu.

– Ai ai... É melhor irmos lá pra fora, os clientes já estão olhando!

Foram.

– Muito bem senhor Nicolas Corona-Khoury, já estamos do lado de fora, agora quer me explicar quem foi este ser na sua vida?! – Félix parou um segundo e riu. – Espera... Ah não... Não me diga que você botava chifre na lacraia com esse aí?! Por que se era isso, parabéns, mas nem pense que o senhor vai relembrar o passado...

– Não fala tanta besteira, Félix... E não fale assim comigo, se quer saber, eu nunca traí! O Eduardo foi... Foi o meu primeiro namorado... Pronto, falei, tá satisfeito?!

Félix arregalou os olhos para ele, mas antes que pudesse falar alguma coisa, Eduardo falou do outro lado.

– E você Anjinho, qual foi sua relação com o Félix?! - Perguntou Eduardo com os braços cruzados.

– É, é... Eu e o Félix... Nós só...

Félix respondeu: - Eu e o Anjinho só tivemos um... Um caso! O Anjinho foi especial para mim em uma época obscura da minha vida que não vale a pena lembrar, mas parece que nem de perto se compara ao que você foi para o Niko não é?!

Niko interviu: - Ah Félix, mas nem de perto o que eu vivi com o Eduardo se compara ao que você viveu com esse Anjinho!

Félix o olhou indignado.

– Ah é?! Então, posso saber o que você viveu de tão especial com esse tal de Eduardo?!

Eduardo respondeu com calma: - É... Estamos todos exaltados... Vamos conversar direito, por favor! Ninguém aqui tem motivos para sentir ciúmes... Afinal, tudo faz parte do passado né?! Félix, o Nicolas foi especial na minha vida por que... Ele foi minha primeira paixão! E... Eu fiz de tudo para que ele me correspondesse... Só que... Eu ainda tinha dúvidas se era isso mesmo o que eu queria, entende?! Quando a gente é adolescente, às vezes, as coisas se tornam confusas... Eu namorava... Uma menina... E eu... Traí essa menina... Com o Nicolas!

Félix olhou para Niko com uma expressão decepcionada e confusa.

– E você fez isso carneirinho?! Logo você que é tão certinho...

– Eu fiz, Félix! Fiz porque eu também gostava do Eduardo!

– Ah, muito bem, então eu chego para almoçar com você e você simplesmente está relembrando o passado com seu primeiro amor... Que coisa romântica carneirinho... Você adora relembrar o passado não é?! Daqui a pouco você reencontra a lacraia também e pronto, vamos fazer uma lista de todos os seus ex...

Niko suspirou. – Félix... Lembra que há quase dez anos eu mal falava com você porque eu estava morrendo de ciúme de você com esse Anjinho?! E só voltei a falar, te convidei para jantar, porque sua mãe me disse que você mesmo tinha dado para ele uma passagem só de ida para Barcelona?! Então... Desde que ficamos juntos eu confiei em você com toda minha alma que você tinha tirado definitivamente esse cara da sua mente... E... Que eu tinha entrado no seu coração!

Félix abaixou a cabeça e o baixou tom de voz. – E foi isso que aconteceu, Niko! Você foi o único que entrou no meu coração!

Niko suspirou de novo e sorriu aliviado.

– Que bom... Eu sempre soube... Porque eu confio cegamente em você Félix, e eu te amo! Então, confia em mim quando eu te digo que o Eduardo e o Eron fizeram parte da minha vida e de uma parte importante da minha vida, mas, do meu passado! Assim como eu sei que o Anjinho aí faz parte do seu passado! Eu sei o quanto ele deve ter sido importante para você, eu sei o que você sofreu, amor... Mas, nada justifica esse seu ciúme... É até engraçado, com o tempo você foi ficando mais ciumento que eu...

Félix falou com a voz embargada, como se engolindo o choro.

– Só não diga que meus ataques não tem justificativa, carneirinho... Por que têm sim! Não é só ciúme... Será que a cor do seu cabelo não te deixa entender, que eu te amo demais?! É que eu sofro só de te imaginar nos braços de outro que não seja eu!

Niko se surpreendeu e não pode conter um sorriso e uma lágrima que ele logo enxugou. Antes que pudesse controlar a emoção e falar qualquer coisa, Félix olhou para Eduardo e Anjinho e pediu:

– Err... Desculpa! Eu dei um show por nada... Mas... – Sorriu. – Eu sou assim... Eu vou indo para casa porque eu andei muito, estou cansado... Mas, você disse que eu tenho sorte por ter o Niko... Você foi sortudo antes de mim né?! E... Eu desejo sorte para você, e pra você também Anjinho! Se você está com esse cara que conseguiu ser o primeiro a conquistar o coração do carneirinho, então... Você deve estar se dando muito bem... Fico feliz por você... Tchau Niko, a gente se vê em casa!

Félix foi para o carro e Niko ficou parado sem entender a reação dele. Aquelas palavras, realmente, não eram de alguém que estava com ciúme, mas, de alguém que estava sofrendo. Félix estava claramente segurando as lágrimas. Niko podia perceber, mas não entender muito bem, mas Félix era assim, um eterno mistério que ele desvendava a cada dia.

Ele ficou observando Félix ir embora. Confuso. Mergulhado em seus pensamentos.

Eduardo então falou: - Nicolas... Nós já vamos! Foi bom voltar a te ver, mas, desculpa se te causei problemas...

– Não, não Eduardo... Problema algum... O Félix é assim mesmo...

Anjinho comentou: - Pelo que eu me lembro do Félix... Nunca o vi assim... Falando assim de alguém como falou de você... Quando ele disse que te ama, foi tão sincero! Parabéns por tê-lo feito mudar tanto... De verdade!

Niko sorriu: - Obrigado... Anjinho! Eu e o Félix já tínhamos que ter aprendido que passado é passado... Temos o presente em nossas mãos... E o futuro inteiro...

Eles se despediram e foram embora e Niko entrou apressado no restaurante, pedindo para seu assistente ficar o resto da tarde em seu lugar. Entrou em seu carro com um só pensamento: - Eu preciso ir atrás do Félix!

–--

Félix chegou em casa e quando entrou, um rapaz estava sentado no sofá.

– Ei, garoto, quem é você?

– Oi, o senhor é o pai do Jayme não é?! Eu me lembro do senhor...

– Você estuda com o Jayme?!

– Sim...

– E cadê o Jayme?

– A babá disse que o Jayme ainda não chegou... Eu fiquei esperando porque preciso falar com ele!

– O que é de tão urgente que você precisa falar com o Jayme, menino?

Ele o olhou com os olhos assustados e disse: - É algo pessoal, senhor!

– Tá... Eu já te vi em algum lugar... Bom, claro, você estuda com o Jayme deve ter sido na escola, mas... Qual é mesmo seu nome?

– Lucas! Acho que o senhor se lembra de mim, mas, não pela escola, porque eu só voltei a estudar com o Jayme há pouco tempo... Mas, acho que o senhor não deve ter esquecido aquela confusão com meu pai na festa de dez anos do Jayme né?!

Félix lembrou na hora.

– Ah claro... Então, você é o filho daquele... Enfim... Daquele seu pai!

– Sim senhor...

– Félix, meu nome é Félix... O outro pai do Jayme é o Niko...

– Ah sim, senhor Félix... O meu pai já morreu... Mas, aquela festa foi mesmo inesquecível...

– Nem me fale... – Félix sentou ao lado do garoto. – Sabe garoto, eu fiquei muito preocupado com você depois daquilo!

– Por quê?!

– Por que... Eu sei o que pode acontecer quando se é desprezado pelo próprio pai...

– O senhor também tinha um pai assim?

– Eu tinha! Meu pai era homofóbico! Não me aceitava... Nunca havia demonstrado que gostava de mim... Nós até chegamos a fazer coisas horríveis um para o outro... – Félix suspirou: - Ah garoto... É horrível você sentir a vida inteira que seu pai não te ama não é?!

– É...

– Eu... Eu nem sabia o que era amar e ser amado... Minha mami sempre me amou, mas... Eu sentia falta de algo mais... Até minha babá, que é como uma segunda mãe pra mim me amou, me deu carinho, me ensinou tanta coisa... Mas, só quando o Niko chegou à minha vida foi que eu me senti plenamente amado... Tanto que nem precisava mais tanto do amor do meu pai... Afinal, eu já tinha me conformado em não tê-lo mesmo... Mas, deixa pra lá, eu estou falando demais...

– Não... Continua senhor Félix...

– Bom, garoto, só o que eu posso te dizer é que, justo quando eu não tinha praticamente mais nenhuma esperança de ter o amor e o respeito do meu pai, ele, finalmente, admitiu que me amava! Quando ele mais precisou, fui eu quem cuidei dele... Eu... E o Niko me ajudou! Nossa convivência começou bem difícil, mas quando meu pai finalmente demonstrou que me amava... Foi incrível! Ele conseguiu amar minha família!

Lucas começou a chorar.

– Meu pai morreu sem dizer se me amava! Eu não sei se um dia ele gostou de mim!

Félix sentiu compaixão dele e o abraçou.

– Olha garoto... Infelizmente tem muitos pais como os nossos por aí... Mas... Eu posso quase garantir que ele te amava sim... Sabe por quê? Porque por pior que um pai pareça... Um pai sempre ama um filho! O meu mesmo quase não tinha chances para admitir... Ele sofreu um infarto primeiro, quase treze anos depois teve um AVC, ele ficou com o lado direito do corpo praticamente sem movimento algum... Mas, eu o trouxe para esta casa, cuidei dele... E foi justamente quando eu havia me tornado o que ele mais odiava que ele admitiu que me amava!

– Como assim o que mais odiava? O que o senhor se tornou?

– Me tornei... Eu mesmo! Pude ser quem realmente sou... Entende?!

– Entendo! Acho que... Que fui o culpado pela morte do meu pai!

– Por que, criatura?!

– Por que... Porque ele disse que morreria se eu me tornasse o que ele mais odiava!

Félix entendeu o que Lucas quis dizer. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Jayme chegou.

– Lucas, tá fazendo o que aqui?!

– Oi, Jayme... Eu estava te esperando... E estava aqui conversando com seu pai...

– Eh eh... Meu pai Félix, conversando?! Que milagre é esse pai?!

– Ah ah ah... Engraçadinho, eu sei conversar civilizadamente, tá! Fique aí com seu colega que eu vou subir para o quarto que é o melhor que eu faço!

Félix subiu. Mas, curioso, continuou espreitando a conversa dos dois.

– E sobre o que você e meu pai conversavam? Ele não é muito de conversar... Assim, ele fala muito, mas, conversar, conversar...

– Na verdade, Jayme, seu pai conversou muito bem comigo! Ele me contou sobre o pai dele, quando lembrou quem eu era e quem era meu pai... Sobre aquela confusão na sua festa...

– Sei, sei... Ele já me contou algumas coisas que sofreu quando era mais jovem por causa do vô César, mas ele não gosto muito de falar disso! Meu pai Niko já me disse algumas coisas sobre como era a convivência dos dois! Eu lembro que, antes do vô César morrer, nós ficamos amigos e ele me contava sobre a vida de médico e me ensinou a jogar xadrez... Eu ainda tenho vontade prestar vestibular para medicina, sabia?!

– Jayme... Ele me falou algumas coisas e eu me identifiquei muito com ele... Seu pai disse que ele se tornou o que o pai dele mais odiava... Jayme, eu... Eu também sou o que meu pai mais odiava, o que ele sentia repugnância...

– Como assim, Lucas?!

– Jayme... É... Quando você me defendeu hoje de manhã... Eu senti uma coisa muito estranha dentro de mim... Mas, muito boa ao mesmo tempo... Eu fiquei te vendo ir embora... E... Eu gosto de me sentir protegido...

– O que você tá querendo dizer?

Lucas respirou profundamente e contou:

– Jayme... Depois que você foi embora... O Gustavo...

– O que ele fez com você?!

– Ele... Ele foi atrás de mim de novo... Ele... E-e-ele me beijou!

Jayme arregalou os olhos. – Ele fez o quê?!

– Ele me encurralou contra um muro e me beijou! Eu não consegui me livrar dele, ele é muito mais forte que eu... Eu tive que beijá-lo também!

– Você o quê?! Espera, calma aí... E depois?!

– Depois... Eu senti que ele não ia parar de me beijar... Quando ele soltou minha mão eu o empurrei... E fugi!

Jayme ouvia a tudo boquiaberto. Félix, escondido, também continuava ouvindo.

– Mas... E aí?! Você fugiu... E... O que você sentiu?!

Lucas titubeou um pouco, mas respondeu: - Jayme eu... Eu tenho que te confessar... Eu gostei!

– Quê?!

– Jayme... É por isso que eu vim... Eu sei que posso confiar em você e quero te contar... Quando o Gustavo me beijou, eu gostei, mesmo tendo sido quase a força... Eu gostei, porque... Por que não é a primeira vez que eu beijo outro rapaz! Também é por isso que me identifiquei tanto com a história do seu pai Félix... Ele teve um pai carrasco como o meu, ele sofreu como eu, ele é gay... Como eu!

Jayme ficou muito surpreso com a revelação do amigo. Félix nem tanto por que já havia desconfiado quando conversou com Lucas. Mas, não era só Jayme e Félix que ouviam essa conversa.

– Lucas... Eu nem sei o que dizer... Mas, me diz uma coisa... Porque você resolveu me dizer tudo isso?!

– P-por que eu achei que você me entenderia... Não, Jayme, eu sei que você não é gay... Inclusive, eu te vi com a Angélica no corredor e todo mundo notou o jeito como você olhou para ela quando ela chegou! Só que, Jayme, você tem uma família maravilhosa... Você já teve que passar por cima de muito preconceito, muita discriminação... E você superou... Eu queria ser forte como você, Jayme! Forte por dentro!

Jayme pensou um pouco e, surpreendendo, levantou e pediu:

– Lucas, fica de pé!

Lucas levantou. Jayme o abraçou. Lucas não entendeu, mas Jayme começou a falar:

– Lucas... Muito obrigado por confiar em mim e por me achar um forte... Eu tive que ser realmente forte algumas vezes... Mas, como você disse, eu superei... E, eu quero que você supere tudo também... Você é meu amigo Lucas, o resto não importa!

Eles deram um aperto de mão e mais um abraço selando aquela amizade. Félix observava orgulhoso o filho. Ele entrou no quarto vendo que tudo estava bem.

Jayme e Lucas saíram. Quando a sala estava vazia, mais alguém que ouvia toda a conversa saiu de detrás da porta da cozinha. Era Niko, que estava emocionado com tudo que ouviu. Não só pelo orgulho de ver que seu filho Jayme havia se tornado um verdadeiro homem, por suas atitudes e inteligência, mas também pelo seu marido. Niko havia chegado logo depois de Félix e entrou pela porta dos fundos, ficou escondido na cozinha quando viu que Félix conversava com Lucas, e ouviu tudo.

Agora, mais que nunca, Niko tinha certeza que tinha que subir para o quarto e esclarecer tudo com Félix. Eles precisavam fazer as pazes o quanto antes.

–--

No quarto, Félix mexia no tablet vendo seus e-mails, quando viu um que continha sua conta do cartão de crédito.

– Mas, o quê que é isso?! Pelas contas do rosário, quando foi que eu paguei o aluguel de um parque aquático aqui em Angra?! Estão me roubando, só pode...

Ele largou o tablet quando Niko entrou no quarto.

– Félix, precisamos conversar!

...


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Notas finais do capítulo

Continua na penúltima parte, parte 6! Comentem...



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