Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 100
Apostas de Verão - parte 7 - Akai Ito


Notas iniciais do capítulo

E chegamos, finalmente, ao capítulo 100 de Dias Inesquecíveis.
Nada mais a dizer senão OBRIGADA.



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—... Papi? Não sabia que também queria aprender a surfar. – Fabrício falou ao sair do mar e ver Félix com o professor de surf, tentando se equilibrar na prancha.

— E não quero aprender coisíssima nenhuma, Fabrício. Foi o seu professorzinho aqui que apostou que eu não tinha coragem para tentar, por isso aceitei. Mas, já vi que estou bancando o ridículo.

— Que nada, papi, é legal. Mas, seria engraçado se o papai te visse assim...

— Por quê?

— Você não acha que ele ficaria com ciúme não? Eu acho que ele daria um chilique.

Félix resolveu descer ao ouvir isso.

— O que foi? Desistiu? – Perguntou o surfista.

— Desisti. Já deu. Perdeu a graça.

— Mas já? Não vai nem entrar na água? Sentir as ondas, o fluxo do oceano...

— De jeito nenhum! Nem que eu tivesse jogado os peixes multiplicados de volta o mar. Já disse, o único fluxo com o qual estou acostumado é o do trânsito, e em alguns casos já equivale a um tsunami. Portanto não me venha com essa de sentir as ondas, que eu não estou a fim de sentir nada.

— Está bem... – O surfista se aproximou de Fabrício sem entender nada. – É impressão minha ou o seu pai ficou chateado de repente?

— Sei lá, eu também não entendi a reação dele.

— Será que foi alguma coisa que eu disse?

— Não, acho que não foi nada, não se preocupa...

O outro garoto chamou o professor e enquanto isso Fabrício foi conversar com Félix que resolveu sentar-se ali perto e ficar observando o mar.

— Papi... O que deu em você? – Indagou sentando perto dele. – Parecia que você estava se dando bem com o professor, mas quando eu cheguei você ficou esquisito de repente, como se tivesse ficado com raiva...

— Não fiquei com raiva, Fabrício. Fiquei só... Aborrecido.

— Por quê?

— Porque eu... – Félix suspirou. – Eu estava... Gostando...

— Gostando de quê?

— Ai, garoto... Pelas contas do rosário, não sei por que comecei a te falar isso...

— Agora que começou termina, ué!

— Acontece que... Eu estava gostando, tá bom? Eu estava gostando do modo como seu professor estava me dando aulas... Entende?...

Fabrício pensou rapidamente. – Papi! Você estava flertando com ele?...

— Não exatamente... Mas... Eu não posso negar que estava bom.

— Não me diga que você ficou chateado porque eu atrapalhei?

— Não! Não, meu filho, muito pelo contrário!... Eu fiquei chateado porque quando te vi... Foi como se eu visse o carneirinho na minha frente.

— Ah... Entendi. A consciência pesou?

— Foi... Mas, só um pouquinho. Afinal, eu não estava fazendo nada demais. Além do mais, sabe o que o seu papi carneirinho fez?

— Não. O quê?

— Ele me confessou que se sentiu atraído pelo guia turístico que conheceu. Pode isso?

— Espera aí... Ele te confessou isso? Jura?

— Não, Fabrício, estou inventando... Claro que é verdade, menino! Ele disse que achou o guia muito bonito e blá, blá, blá...

— Quando ele te disse isso?

— Foi depois que a gente... – Parou de falar. – Ah, você sabe...

— Ah... O que foi? Vocês brigaram e depois fizeram as pazes como sempre?

— Não, foi o inverso. Nós fizemos as pazes primeiro e depois brigamos por causa disso.

Fabrício riu. – Entendi.

— O pior é que ele me disse que ficou com a consciência pesada e que se eu quisesse, ele não iria para esses passeios que ele tanto gosta só pra ficar comigo. Mas, eu disse que estava tudo bem, que ele podia ir. Só que não estava tudo bem.

— Sei... Você ainda ficou sentindo ciúme por causa disso né? E agora estava meio que... Tentando dar o troco.

— Era...

— Só que você não conseguiu porque não para de pensar no papai Niko um só instante, não é?

— É.

— E você está aborrecido porque está inseguro, se perguntando se o papai também estará pensando em você nesse momento.

— É. ... Vem cá, criatura. Quem é você e o que fez com o Fabrício?

Fabrício riu e passou o dedinho na sobrancelha. – Ai, papi, assim me ofende. Por acaso não sabe que eu sou esperto, observador e super inteligente?

— Esqueceu super modesto.

— Pois é. Papi, não precisa ficar inseguro, eu tenho certeza que o papai te ama e deve estar pensando em você agora mesmo.

— Você acha?

— Não acho. Eu sei que está. Eu sei o motivo de ele querer tanto fazer esses passeios pelas ilhas, e o motivo é você.

— Eu? Que coisa mais sem sentido, Fabrício!

— Não, papi, faz todo o sentido. É que eu não posso te contar ainda os verdadeiros motivos do papai, mas ele tem um bom motivo para sair por aí.

— Ah, tem... Um guia que parece galã de novela mexicana, só isso.

— Ah, papi, essa história do guia de repente foi só um acidente de percurso. Mas, há um motivo maior, é isso que importa.

— Sei... E posso saber que motivo é esse?

— Não.

— Como não?

— É segredo.

— Quê? Como assim segredo, Fabrício?

Fabrício fez sinal de zíper na boca imitando o gesto de Félix, levantou e saiu.

— Fabrício! Volta aqui, me conta que segredo é esse! Fabrício!...

Mas, Fabrício nem ligou para seus chamados. Félix, emburrado, cruzou os braços e continuou olhando o mar. – É o apocalipse! Os dois carneirinhos agora estão de segredinhos. De conluio contra mim, só pode!

Apesar da pose de mal humorado, não conseguia deixar de pensar:

— Será que o carneirinho está pensando em mim? Será mesmo que ele está pensando em mim agora?

...

...

Um pouco distante dali...

Niko seguia a trilha que o guia indicava para se encontrarem com o resto do grupo.

— Estamos perto agora. – Disse o guia ao ver Niko distraído tirando fotos. – Você gosta mesmo de fotos, não é?

— Ah, gosto. E também estou achando tão lindo esse lugar que fica difícil decidir onde vou fazer a surpresa para o meu Félix.

— Surpresa? Está planejando algo para seu companheiro?

— Estou. É que estamos perto do nosso aniversário de dezessete anos juntos e ele me propôs renovar os votos do casamento. Só que como fizemos essa viagem acabamos adiando, mas eu quero continuar essa ideia e fazer uma surpresa pra ele. Pensei num casamento simbólico, com a natureza à nossa volta...

— Será inesquecível, com certeza. Me faz lembrar o meu...

— O seu?

— É, o meu casamento. Eu também casei com meu companheiro aqui em meio à natureza.

Niko ficou surpreso com a revelação.

— Sério?

— Sim. Eu acho que comentei que tenho uma filha de vinte e um anos que eu conheci quando tinha seis.

— Sim, sim, você comentou...

— Então, ela é filha biológica do meu esposo. Ele era muito jovem quando ela nasceu e a mãe da menina foi embora. Seis anos depois eu o conheci quando encontrei a menina que havia se perdido. Na época eu estava fazendo trilhas por aqui e era estudante de turismo. Depois ele me ajudou a conseguir o emprego de guia, começamos a namorar e desde então estamos juntos. Foi amor à primeira vista.

Niko estava contente, tanto pela bela história de amor quanto por ter certeza absoluta de que o guia definitivamente não tinha segundas intenções para com ele.

— Puxa! Que história!...

— E você? Como conheceu seu esposo?

— A minha história já é um pouco mais longa. – Niko respondeu. – Mas, para resumir, eu vivia uma ilusão em outro relacionamento e ele vivia um verdadeiro inferno. Nós salvamos um ao outro. E desde então descobrimos o que é esse sentimento inexplicável e infinito chamado amor.

— Dá pra ver que você o ama muito.

— Demais. – Niko deu uma risadinha de repente.

— O que foi?

—... Eu fico sem jeito de dizer. É que... Não, esquece, não é nada.

— É... Bom, mas eu tenho que te dizer uma coisa...

Niko viu que ele também parecia sem jeito. – O quê? Pode dizer.

— Ontem... Bem... Antes de qualquer coisa eu preciso dizer que amo muito meu esposo e tenho toda certeza do meu amor por ele, ok? Só que... Eu acabei contando pra ele que ontem eu encontrei um cara muito bonito, charmoso, perdido por aqui e eu o guiei e eu acabei... É... Me sentindo levemente atraído por ele.

Niko começou a compreender. – Está falando de mim?

— E-Estou. Sinto muito, mas, eu te achei muito bonito, muito bacana, muito simpático, Niko, e... Eu acabei ficando meio que com um peso na consciência por causa disso. Eu garanto que isso nunca havia acontecido, mas alguma coisa em você me chamou a atenção. Acho que foram seus olhos verdes, são da cor dos do meu Apolo. Por favor, não se sinta ofendido. Essa sensação já passou e estou sendo extremamente profissional...

Niko se encostou a uma árvore, rindo incrédulo.

— Não é possível!...

O guia ficou sem entender sua reação.

— Você não vai acreditar... – Niko disse.

— Em quê?

— É que... Aconteceu a mesma coisa comigo.

O guia ficou boquiaberto. Niko explicou.

— Foi mesmo. Eu não sei o que aconteceu comigo quando te vi, mas... Foi o mesmo que você me contou, a mesma coisa. Eu não sei, mas eu te achei tão... Tão simpático comigo e com a Mel, é difícil as pessoas serem tão prestativas hoje em dia, e... Você é bonito também e, bem... Quando eu voltei ao hotel, eu também contei ao Félix o que havia acontecido porque eu estava com a consciência parecendo um tijolo.

— Não acredito! – Ambos riram. – Eu estou totalmente sem jeito agora, desculpa...

— Imagina, não tem que se desculpar. Eu também estou sem graça.

— Deixe-me adivinhar... O seu esposo ficou com ciúmes e prometeu dar o troco?

—... Não, ele só ficou com ciúme mesmo, mas... Por que ele daria o troco?

— Não sei o seu, mas o meu me prometeu que hoje ia flertar com alguém na praia só para me fazer pagar na mesma moeda. Ele é assim, meio vingativo.

— Ah, ah! O Félix já foi assim, mas hoje em dia... Acho que não, ele não se vingaria de mim. Talvez ele até tente, mas conhecendo-o como conheço, ele não vai conseguir.

— Eu acho que o Apolo também não vai fazer nada. Sempre que ele fica com ciúmes de mim ele fala um monte de besteiras, mas é tudo da boca pra fora. Ele faz pose de bravo, mas na verdade é um doce.

— Quer saber? Acabei de perceber que nós temos uma coisa em comum. Os homens da nossa vida são iguaizinhos.

Ambos riram e Niko teve uma ideia.

— Olha... Você não se importa se nós voltarmos? Eu vou desistir de ver esse vulcão por hoje. Tudo que eu quero é voltar e saber o que o meu amor está fazendo.

— Claro que não me importo, eu também quero muito voltar. Vamos, vamos ver se os nossos vulcões não entraram em erupção por nossa causa.

— Gostei da comparação.

Ambos se puseram a fazer o caminho de volta.

...

...

Já na praia...

— Vocês estão indo bem, meninos. Eu vou mais uma vez ao mar, as ondas estão boas hoje. Eu vou tentar fazer mais uma manobra se tiver altura suficiente, ok? Portanto, prestem atenção.

— Sim, professor.

Os rapazes ficaram olhando o professor voltar ao mar enquanto conversavam. Nem perceberam que Félix estava perto.

— Fabrício, só para confirmar... Você vai mesmo ao luau essa noite, não vai?

— Claro que vou, não perderia por nada.

— Que horas você vai?

— Às nove.

— E se seus pais não deixarem?

— Eu saio escondido, vou de qualquer jeito. Por quê?

— Só queria ter certeza. Vem cá, e aquela história do lenço vermelho ainda tá de pé né?

— Está, não já te disse? Vai ser a mesma coisa que a gente já tinha combinado.

Ao ouvir esse diálogo Félix saiu de perto para eles não notarem que ele estava ouvindo e ficou se perguntando quais seriam os planos de Fabrício. Pelo que estavam falando, deu a entender a Félix que a história do tal lenço vermelho era entre Fabrício e o amigo dele, não com outro alguém. Félix tinha que descobrir o que estava acontecendo e para isso não se importaria em vigiar o filho quando ele saísse para esse luau.

...

...

...

Enquanto isso, na cidade...

— Onde essa menina se meteu? – Jayme se perguntava preocupado com o sumiço de Mel. Ele perguntava às pessoas que passavam se a haviam visto, mostrando uma foto dela, quando uma mulher vestida de havaiana passou.

— Com licença, você viu essa menininha? Ela tem seis anos e...

— Oh! Yes! She is with us. *Oh! Sim! Ela está conosco.*

— What?

— Are you the uncle Jayme? *Você é o tio Jayme?*

—Hã... Yes, I am... *Sim, sou eu...*

— Come on! Follow me. *Vem! Siga-me.*

Ela o levou até atrás de um palco montado numa parte da praia. Lá dançarinas ensaiavam uma coreografia. Ela apontou então para uma pequena dançarina se destacando em meio as outras.

Jayme cruzou os braços vendo a sobrinha vestida como elas, se divertindo imitando os passos da dança. Ao terminarem, Jayme começou a bater palmas e a pequena olhou.

— Tio!

— Muito bem, Mel. Eu fico feito um louco te procurando e você está aqui aprendendo a ser uma havaiana.

Ela deu um sorrisinho sapeca. – Eu vi elas passando e segui. Olha, tio, que roupa bonita que elas me deram.

— Tá linda, mas agora vamos que eu tenho que pensar num castigo pra você. A senhorita não pode sair assim seguindo estranhos, entendeu?

— Desculpa, tio Jayme. – Deu outro sorrisinho com um dedinho na boca.

— Olha, parece até o pai Félix quando faz coisa errada. Nem pense que pode me ganhar assim, mocinha. – Virou para as moças. – É... Thank you for...

Uma delas o interrompeu. – Pode falar em português, depois eu traduzo para elas.

— Ah! Você é de onde? Portugal?

— Sou.

— Legal. É... Obrigado por terem cuidado dela. Essa sapeca sumiu da minha vista em dois segundos, eu já estava me desesperando.

— Não tem problema. Ela é uma garota divertidíssima, uma gracinha, e muito inteligente. Adoramos tê-la aqui. Mas... Ela não disse que o tio Jayme era tão bonito.

— Err... – Jayme ruborizou. – Obrigado...

— É sério! Ninguém nunca te disse que você é um gato?

— É... Provavelmente já, mas... Bem, eu vou levá-la agora. Com licença.

— Não quer ficar mais um pouco?

— M-Mais um pouco?

— Sim. Até depois do ensaio, talvez.

— Hã... Não. Obrigado. Eu tenho que ir... Minha mulher e meu filho estão esperando.

— Oh, você é casado?

— Sou.

— Que pena!... Mesmo assim, poderia aparecer por aqui depois da nossa apresentação no luau de hoje à noite.

Jayme olhou ao redor e a maioria delas olhava para ele, claramente cobiçando-o. – Então... Eu acho que não vou poder. Mas, boa sorte pra vocês. E mais uma vez, obrigada por tomarem conta da Mel. Bye, bye!

Jayme saiu de lá com a menina o mais rápido possível. Estava constrangido pelo modo como elas haviam dado em cima dele descaradamente. Tratou de voltar ligeiro ao hotel e fingir que nada havia acontecido. Porém, Mel não sabia que era para ser segredo...

Depois...

Jayme havia acabado de tomar um banho no quarto do hotel. Estava se enrolando com a toalha quando sua noiva entrou no banheiro.

— Que susto, Angélica! Por que entrou assim de repente?

— Você... Desistiu de sair para ficar sozinho e relaxar?

— É... Pois é. Eu percebi que me sinto bem melhor quando estou com vocês, com minha família.

Ela sorriu e o abraçou forte.

— Você é o melhor noivo do mundo, sabia?

Jayme ficou sem entender. – O que foi que eu fiz?

Ela o olhou nos olhos. – A Mel me contou tudo. Me contou que ela seguiu uma dançarinas e se perdeu de você, que você foi procurá-la e até sua conversa com uma das dançarinas ela contou.

— E-Ela te contou? O que ela disse?

— Que a dançarina falava português, disse que você era bonito, te chamou de gato e perguntou se você era casado.

— E?...

— E você disse que era. Meu amor, a gente ainda nem se casou e você...

— Mas, Angélica, eu já me sinto casado com você. Porque, apesar das nossas últimas briguinhas, é isso o que eu mais quero.

Ela se emocionou. – Também é o que mais quero. Quero me casar com você e... Aumentar nossa família.

Ele sorriu. – Já quer ter outro filho é?

— Bom... Você acha que ainda é muito cedo?

— Ah... Não sei dizer...

— Eu diria que já é tarde.

— Como assim?

— Eu estou grávida. - Revelou.

Jayme ficou pálido, segurou na parede e sentou em cima da tampa do sanitário para não cair.

— Q-Quê?...

— Eu estou grávida, meu amor. Vamos ter outro filho. Eu estava aguardando o melhor momento, mas depois de ficar ontem o dia todo longe de você, eu cheguei à conclusão que o melhor momento é quando estou com você não importa onde for ou como for. Por isso eu estava tão estranha, tão chata. Meus hormônios estavam malucos, mas agora meu médico me receitou umas coisas que vão me devolver o equilíbrio. Eu só queria te pedir desculpas por ter sido tão irritante esses últimos dias e não ter te dito antes. Eu fiquei muito surpresa, muito nervosa... Não esperava outro filho tão cedo e de repente... Tem outro bebezinho crescendo aqui dentro de mim. Outro fruto do nosso amor.

Jayme continuava pasmo, sem dizer uma só palavra.

— Jayme... Fala alguma coisa. Meu amor, não me deixa assim sem saber o que você tá pensando!... Fala alguma coisa, qualquer coisa... Você quer que eu brigue com você de novo? Eu brigo, hein? E levanta daí que tá esquisito!

— Vem você aqui.

— Hein?

— Vem aqui...

— Não, vem você.

— Vem aqui, por favor.

Ela se aproximou já falando. – Jayme, eu disse que seria mais paciente de agora em diante, mas os meus hormônios ainda não estão bons e você está me tirando do sério ficando aí sem reação depois de... – Ela se calou quando sentiu as mãos dele em sua barriga.

— Quanto tempo já tem?... – Ele perguntou baixinho.

—... Um mês e alguns dias. – Ela respondeu calma.

Jayme fez menção de que ia chorar, mas abriu um sorriso e começou a falar ainda pegando na barriga dela.

— Você ainda é muito pequenininho... Ainda não me ouve... Mas, eu já te amo.

Ela não segurou a emoção por vê-lo falar assim e começou a chorar. Ele continuou:

— Você tem um irmãozinho... E como vocês não terão nem dois anos de diferença, vão brincar muito juntos. ... Você também tem tios, priminhos... Inclusive um deles deve estar nascendo agora, também vai brincar muito com você. Você também tem dois avôs corujas que vão te ensinar muito e vão babar por você...

Sua noiva confessou. – O seu pai Félix já sabia. Eu contei pra ele assim que descobri a gravidez e pedi pra ele guardar segredo enquanto eu pensava na melhor maneira de te contar.

— Agora entendi porque ele falou que seu mau humor podia ser coisa dos hormônios. Ah, pai... – Jayme riu e continuou falando tocando a barriga dela. – Viu, meu filho? Você vai crescer em meio a muito amor. Com uma família linda. Uma mãe linda... – Olhou para ela. – E um pai que... – Deixou as lágrimas rolarem. – Que tem muito orgulho de você, desde antes de saber que você existe.

— Oh, Jayme!... – Ela também desabou em lágrimas, abraçada a ele enquanto ele beijava sua barriga demonstrando todos os sentimentos envoltos naquela grande novidade.

...

...

...

Chegando à praia...

—... É por aqui que ele fica dando aulas de surf. – O guia falava com Niko.

— Interessante... Meu filho caçula veio justamente para ter aulas de surf aqui.

— Ele deve ser aluno do meu esposo então. Ele deve estar no mar essa hora.

— Se o Fabrício for aluno do seu marido, então talvez o Félix esteja por aqui por perto também. Eu vou procurá-lo.

— Tudo bem. E eu vou ver se o Apolo está surfando.

Cada um foi andando para um lado sem se afastarem muito, quando o guia avistou o seu companheiro e não gostou nada do que viu. Voltou até Niko.

— Acabei de achá-lo. Eu sabia que ele não ia deixar barato.

— Que foi? Não me diga que o viu com outra pessoa!...

— Pior que vi. Vem ver, ele está passando bronzeador em outro qualquer...

O guia apontou para onde o companheiro estava e quando o loiro viu.

— Ei! Outro qualquer não, é o Félix!

Pouco antes...

— Querem tentar de novo, meninos? – Perguntou o surfista ao sair da água.

Fabrício e Pablo pegaram as pranchas e correram para o mar após verem o professor fazer algumas manobras. Estavam ansiosos para tentar também.

— Você os deixou entusiasmados, hein? – Comentou Félix.

— É difícil não ficar nessa idade. – O surfista olhou para Félix e percebeu uma coisa. – Posso perguntar uma coisa?

—... Pergunte.

— Você passou protetor solar antes de vir pra cá?

Félix levou uma mão à cabeça lembrando que estava tão chateado com Niko que se arrumou todo, mas acabou se esquecendo de passar o protetor.

— Não... Eu não lembrei. Por quê? Dá pra perceber é? Não me diga que estou com a pele queimada. Seria o apocalipse minha pele bem cuidada começar a descascar!

— Olha, não está queimada ainda, mas está bastante vermelho aí perto do pescoço... E está com umas manchinhas...

— Manchinhas? – Félix começou a puxar a pele tentando ver. – Ah, não! Eu devo ter surfado no mar da Galileia para começar a ficar com manchas na pele agora. Eu sou muito novo para isso. Com esse cabelo grisalho e a pele manchada vou ficar parecendo um velhinho gagá.

O surfista começou a rir.

— Do que está rindo? – Félix perguntou contrariado.

— Velhinho gagá? Que exagero! Você é jovem e bonito demais para parecer um velho.

Félix gostou de ouvir aquilo. – Obrigado.

— Quer emprestado o protetor solar?

— É... Não. Eu só uso um específico para minha pele.

— O meu tem fator de proteção alto. Além do mais, você tem a pele muito clara, é até um pecado deixar ficar manchada. Você passou algum outro produto antes de vir pra cá?

— Não, eu... – Lembrou. – Ah, já sei... Eu estava tão distraído que passei perfume no lugar de passar protetor solar.

— Ah, isso explica essas manchinhas. Não se preocupe, elas saem. Mas, você precisa do protetor o quanto antes e depois do sol, um bom hidratante. – O surfista pegou o protetor solar. – Então? Quer o meu emprestado ou prefere continuar se queimando?

Félix pensou: - Já que o carneirinho está aproveitando seus passeios por aí, por que eu não posso me aproveitar um pouquinho? – E decidiu: -... Ok, eu aceito. Mas, não sei do que vai adiantar agora, eu não posso passar nas minhas costas mesmo.

O surfista sorriu como se fosse exatamente isso que quisesse ouvir. – Deixa que eu passe. Pode ser?

— Pode.

Félix tirou a camisa e o surfista sentou atrás dele. Félix pegou primeiro o protetor e despejou uma pequena quantidade para passar nos braços, logo devolveu ao surfista que despejou bastante na mão e começou a passar nas costas dele, numa massagem que Félix não queria admitir, mas estava adorando... Pelo menos, até tomar um susto quando...

— Félix!

— Carneirinho?

— Apolo!

— Gui?

Os dois levantaram rapidamente enquanto os outros dois de pé os encaravam.

O guia foi logo reclamando: - Você estava falando sério quando disse que ia paquerar alguém hoje só pra se vingar de mim?

— Bom... Não era bem isso que eu estava fazendo, mas não deixava de ser também... – Respondeu o surfista.

— Félix, o que tá acontecendo aqui? – Niko indagou.

— Eu... Eu que pergunto, Niko, o que está acontecendo aqui? Alguém pode explicar?...

Após uma conversa cheia de explicações tudo foi esclarecido e os quatro acabaram rindo das coincidências. Niko fez questão de terminar de passar o protetor solar em Félix. E ainda faltava apenas uma coincidência para esclarecer.

Uma moça de biquíni parou há alguns metros dali na beira do mar e ficou observando os rapazes que surfavam. Fabrício ia saindo da água quando a viu e correu ao seu encontro. Obviamente os quatro adultos viram e imediatamente foram até lá.

— Fabrício! – Niko chamou.

— Ah, não, de novo não...

— Kalena! – O surfista chamou.

— P-Papai!

Fabrício exclamou. – Ai, caramba, é mesmo!... Esqueci que o professor é seu pai.

— Kalena, filha, você está de novo saindo com um dos meus alunos?

— Como assim de novo? – Fabrício indagou.

Ela ficou sem jeito e o pai dela mesmo respondeu.

— Já é a terceira vez que ela faz isso, escolhe um dos meus alunos e marca um encontro com ele.

— A terceira?! – Fabrício exclamou decepcionado.

Ela ergueu os ombros. – Você achou que fosse o único?

— Você não tem jeito, hein? – O pai dela a puxou pelo braço. – Vem, você vai pra casa agora. Tá de castigo.

— Papai, eu já tenho vinte e um, estou muito velha pra você me colocar de castigo.

— Enquanto morar na minha casa vai fazer o que eu mando. E esse biquíni, hein? Eu não te disse pra devolver?

— Disse, mas ele é tão lindo...

— É, lindo e quase tamanho infantil. Vai pra casa e veste uma roupa, vai.

O guia a acompanhou. – Deixa que eu a levo, amor. Eu vou conversar de novo com ela.

Foram embora.

O surfista falou: - E quanto a vocês, não se preocupem. Ela não vai mais atrás do Fabrício. Essa menina realmente precisa fazer alguma coisa da vida pra não ficar pensando tanto nos rapazes. – E virou para Fabrício. – Bom, a aula por hoje acabou. Amanhã estarei nesse mesmo local se quiser continuar.

—... Tá, eu... Eu vou continuar sim.

— Ótimo. Até amanhã então.

— Até. – Fabrício e Niko se despediram.

Niko pôs um braço nos ombros de Fabrício e chamou Félix para irem embora.

— Filho, eu sei que você deve estar decepcionado, mas você vai ver como isso vai passar rápido. Estamos aqui para nos divertir e é isso que eu quero que você faça. Divirta-se, seja feliz, mas seja responsável.

— Tá tudo bem, papai. Eu não estou tão decepcionado quanto devo parecer. Eu bem que percebi que ela parecia... Experiente demais pra o meu gosto.

Félix, que andava ao lado deles, perguntou:

— Mesmo depois disso, Fabrício, você tem planos para essa noite?

— É... Bom, eu tenho sim, eu... Eu gostaria de ir ao luau que vai haver na outra praia aqui perto.

— Você não iria se encontrar com ela nesse luau?

—... Pra falar a verdade, iria. Mas, tudo bem, eu posso me divertir mesmo assim né? De repente, conhecer outras pessoas...

— Hum... Você tem vontade de conhecer outras pessoas?

— Tenho. Por que essas perguntas, papi? Não tô entendendo...

— Não, por nada. Só curiosidade...

Niko se pronunciou. – Pode ir, filho. Mas, como sempre, cuidado, tá bom?

— Eu sei me cuidar, papai. Obrigado. – Disse sorrindo.

Félix estava cada vez mais desconfiado do motivo pelo qual ele não havia ficado tão chateado por não poder mais ver aquela garota.

...

...

À noite...

— Já vou, papis. – Fabrício anunciou mostrando como estava arrumado.

— Está lindo, filho. E esse lenço vermelho?

— É que... Eu achei que ficou bem com a roupa.

— Tá bom... – Niko estranhou, porém não desconfiava de nada. Já Félix pensava:

— Eu sabia que ele tinha outros planos. Ele vai mesmo se encontrar com o amiguinho dele. Eu preciso descobrir até que ponto chega esse encontro.

Félix, por um lado, não deixava de estar certo, pois Fabrício realmente tinha um plano...

Minutos antes...

No quarto, Fabrício falava com Kalena ao telefone.

— Então, faz assim... Eu vou agora e devo chegar lá em dez minutos. Se você conseguir escapar, vai lá rapidinho para nos vermos pela última vez.

— Eu vou tentar, mas não garanto nada. De qualquer maneira, vai com o lenço vermelho para eu te reconhecer mais rápido caso eu consiga ir.

— Eu irei. Até mais então. E se não der... Foi bom ter ficado com você.

— Foi bom pra mim também, Fabrício. Eu nunca vou te esquecer.

Desligou.

— Nunca vai me esquecer, tá bom... Me engana que eu gosto. Mas, fazer o quê? Ela beija bem.

Saiu...

Depois...

Niko e Félix se despediam do filho.

— Já são nove horas, eu já vou agora.

— Tome cuidado, é sério. E não volte muito tarde.

— O que seria muito tarde para você, papai?

— Meia-noite.

— Ah! Daqui a pouco vão me chamar de Cinderela!

— Engraçadinho... É bom voltar antes da meia-noite se não quiser virar abóbora. – Ordenou sorrindo.

— Tá bom, rei Nicolas. – Fez reverência rindo. – Tchau, rei Félix!

— Tchau, Fabrício!

— Vocês vão para algum lugar também?

Niko respondeu. – Não, hoje vamos ficar aqui. Eu quero passar um tempinho a sós com seu papi.

— Vão aproveitar que o Jayme ficou cuidando da Mel, né?

Niko riu. – Vamos, sim. Eu vi o Jayme meio estranho, mas ele disse que não havia brigado com a Angélica de novo, então estou tranquilo. Agora vai, vai logo antes que eu me arrependa.

— Fui.

Fabrício saiu e Niko fechou a porta do quarto, olhando todo dengoso para Félix.

— Félix...

— Sim, carneirinho?

— Você não percebeu nada?

— Perceber o quê?

Niko o abraçou por trás. – Perceber que estamos enfim sós.

— Ah, isso? Percebi.

— Félix! Que foi? Por que está tão frio comigo?

— Não estou frio, carneirinho, eu só estou pensando numa coisa...

— Em quê?

— Eu preciso sair. – Levantou e foi em direção à porta.

— Ei! Oi? Sair pra onde?

— Depois eu te explico, se eu estiver certo. Mas, me deixa ir.

Niko cruzou os braços. – O que é isso, Félix? Já sei. Tá me dando o troco né? Por eu ter saído hoje de manhã quando você queria ficar aqui no quarto comigo.

— Não, carneirinho, não é isso... Pelas contas do rosário, nós não já esclarecemos tudo?

— Já.

— Então? Está querendo me chamar de rancoroso ou vingativo, por acaso?

— Não... Mas, logo agora que eu quero que a gente fique aqui, só nós dois... Você quer sair! Eu não te entendo.

— Vai entender quando eu voltar. É rápido, Niko. Eu juro. Quer saber, faz como eu fiz. Enquanto me espera, pega aquele nosso cartãozinho de memória e... Mata a saudade de mim.

— Foi isso que você ficou fazendo quando eu saí?

— Foi, ué! Você me mandou tomar um banho frio, como se adiantasse de alguma coisa... Eu peguei aquelas nossas fotos especiais e... Fiquei pensando em você, digamos assim.

Niko, que antes estava prestes a perder a paciência, suspirou e sorriu. – Ai, Félix... Você não tem jeito, viu...

— E você adora meu jeito, que eu sei.

— Adoro mesmo. Mas, não vou fazer isso não, tá? Não tô desesperado.

— Ah, deixa de bancar o inocente, carneirinho, que de inocente você não tem nada... – Félix começou a procurar o cartão de memória e estranhou. – Que estranho...

— O quê?

— Eu havia deixado aqui na cômoda. Não está mais.

Niko se assustou. – Será que alguém pegou? Se essas fotos forem parar em mãos erradas, Félix, eu não sei o que vou fazer. E se vazarem na internet?

— Niko, time out! – Fez sinal de tempo com as mãos. – Não surta! Se acalma, relaxa, respira... Vamos achar esse cartãozinho. Tenho certeza que... Sei lá, eu devo ter guardado na mala e esqueci. Quer saber? Fica procurando enquanto eu dou uma saidinha. Eu não demoro.

— Tá bem, tá bem, vai logo. Mas, volta logo também.

— Eu vou e volto num pulo, você vai ver. – Saiu rapidamente deixando o loiro procurando, preocupado, o cartão de memória.

...

Fabrício já chegava ao luau que estava começando, mas a areia já estava tomada de gente. Sem saber se reencontraria a garota que conheceu, ele foi até o bar montado na praia e pediu um drink sem álcool, esperando que se ela não aparecesse que pelo menos ele conhecesse mais alguém.

Lá estava sentado de costas para o mar quando sentiu alguém se aproximar. A pessoa jogou um lenço vermelho por cima da cabeça dele e lhe cobriu os olhos.

— Kalena? – Ele virou sem ver nada.

A pessoa tocou em seus lábios e lhe deu um selinho. Ele estranhou.

— Ei! Espera... Não é a Kalena. Quem é?

A pessoa tirou o lenço dos olhos dele, reclamando.

— Poxa! Os beijos dessa tal de Kalena devem ter sido muito marcantes mesmo para você...

Fabrício levantou surpreso ao ver quem era. – Pablo! V-Você...

— Sim, Fabrício, sou eu. – Sentou-se na cadeira ao lado, aborrecido. – Desculpa se te decepcionei, mas eu precisava fazer isso. Eu não aguento mais esconder o que sinto. Eu gosto de você, Fabrício, gosto muito. E sim, todos estão certos quando fazem piadinhas dizendo que eu sinto ciúmes de você, porque é verdade, eu sinto!

— É... Pablo... Por que não me disse antes? Você sabe que eu não me importo...

Ele começou a falar muito rápido. – Não, não se importa, isso é verdade, não se importa com o que eu me esforcei pra demonstrar cada dia, cada minuto que fico perto de você. Mas, não, você prefere bancar o gostosão, o bonitão, o que você é, diga-se de passagem, mas não quer dizer que você tenha que ficar arrasando corações por onde passa enquanto destrói o meu.

Fabrício não aguentou e começou a gargalhar. O outro ficou mais zangado.

— Tá rindo de quê?

— Nunca pensei que você fosse tão drama queen! – Disse rindo.

— Tão o quê?! Você acha que é drama? Acha que é piada também, por acaso? Não é piada não, Fabrício. Eu gosto de você de verdade, tá? E se não acredita... E-Eu posso provar.

Fabrício parou de rir e o encarou. – Ah é? Posso saber como?

O outro respirou fundo e apenas disse: - Assim. – E o beijou meio desajeitado.

Fabrício primeiro pareceu aceitar o beijo, mas logo o empurrou.

— E-Eu... Eu sabia que você ia me rejeitar. Não vai mais querer falar comigo, não é?

— Deixa de ser chorão! – Fabrício disse sorrindo. – Eu só parei porque você estava beijando muito mal.

— Nossa!... Obrigado por falar isso na minha cara...

— Ei! Fica de pé.

— Pra quê?

— Fica de pé, já disse.

Ambos levantaram. – Quer que eu vá embora, é isso? – O outro indagou.

E Fabrício surpreendeu. – Não! Quero te ensinar como se beija de verdade.

Fabrício não lhe deu tempo para reação e o beijou intensamente.

Após aquele beijo, o Pablo estava quase sem fôlego.

— V-Você... Você... F-Ficaria comigo?

— Pablo, somos amigos há muito tempo, eu não sei desde quando você gosta de mim, mas se gostasse mesmo deveria me conhecer suficientemente bem para saber que eu não te rejeitaria. Eu te conto meus segredos, qual é? Deveria saber que eu sou... Como se diz... Eclético. – Riu. – E sempre aberto a novas experiências.

O outro estava boquiaberto, mas com um sorriso no rosto. Fabrício, mais alto que ele, segurava em seus ombros, percebendo que ele estava pasmo e que se o soltasse ele cairia já que estava com as pernas bambas.

— Não vai falar nada? Ok. Já que eu sou tão bom que te encantei dessa maneira, vou te desencantar.

Fabrício o beijou de novo, dessa vez mais demoradamente. Depois desse beijo, o amigo, eufórico, comentou:

— Eu não acredito no que tá acontecendo!...

— Nem eu!

Os dois viraram num susto.

— Papi!

...

Minutos depois...

—... E foi isso que eu vi, carneirinho. – Félix havia levado os dois garotos de volta ao hotel e acabado de contar tudo que havia visto para Niko.

— Então era isso essa história desses lenços vermelhos, me deem isso aqui. – Niko pegou os lenços e mandou: - Pablo, vai pra o seu quarto enquanto conversamos com o Fabrício.

— S-Sim, seu Niko. Licença. – Saiu.

— Agora, você, Fabrício, me fala... O que tá acontecendo? Ontem eu te peguei com aquela garota, hoje o Félix te flagra com teu amigo... O que é isso?

Félix respondeu; - Simples, carneirinho. Se chama gula.

— Ai, papi!... Também não é assim...

— Então o que é?

— Eu não sei! Eu só... Gosto de ficar com as pessoas, gosto de namorar, beijar na boca...

— Você nunca teve namorada, nem namorado, pelo menos que a gente saiba. – Niko falou. – Fabrício, o que já aconteceu com você que você não nos disse.

Fabrício olhou nos olhos do pai e respondeu. – Não aconteceu nada, pai. Nada. E não sabe como é difícil hoje em dia admitir isso.

— Como assim?

Fabrício desabafou. – Olha, no tempo de vocês até que era normal alguém da minha idade ainda ser... Virgem. Mas, hoje, parece que tá tudo de cabeça pra baixo! Todos os meus amigos já tiveram alguma coisa com alguém, e eu nunca passei dos beijos. Antes de virmos pra cá, eles me fizeram uma aposta... Apostaram que eu... Que eu não perderia a virgindade agora e... Eu apostei que sim e que ainda ia levar as provas pra eles.

— Provas?

— É. Eu ia levar fotos minhas com a Kalena e dizer que tinha ficado com ela. Eu contei pra eles que eu a havia conhecido na internet e que sairia com ela. Só que eu não ia ficar de verdade com ela.

Niko e Félix se olharam estranhando. – Não?

— Não. E como ela mora aqui eles não iriam perguntar a ela pessoalmente se havia rolado algo entre nós.

Niko sentou ao seu lado. – Filho, por que você ia mentir? Você prefere ficar com garotos, é isso?

— Não. Eu não tenho preferência. Eu gostei de passar o dia com ela ontem, assim como estava gostando de beijar o Pablo... Eu só não ia mais longe porque eu não sou assim, pai. O papi não vive dizendo que eu puxei a você? Eu devo ter puxado mesmo. Eu sou um cara romântico, pode não parecer, mas eu sou. E eu acho que devo ter minha primeira vez com a pessoa certa. Seja mulher ou homem, não importa, o importante é que seja a pessoa com quem eu sinta que deve ser.

Os pais se olharam de novo e sorriram orgulhosos. O loiro pôs um braço em volta dos ombros do filho.

— Estou orgulhoso que pense assim. Não precisa fazer nada só porque seus amigos fazem, você tem que ser você, isso basta.

— Eu sei, papai. Se eu não pensasse assim eu já teria perdido a virgindade há muito tempo, porque, sabe né? Eu sou muito cobiçado...

— Tá, isso eu não preciso saber.

Os três riram e então Fabrício perguntou:

— Eu posso voltar para o luau com o Pablo?

Antes que Niko desse consentimento, Félix respondeu: - Não.

— Por que não?

— Vem cá... – Chamou-o para conversar na varanda dizendo para Niko não ir ouvir. Após Félix contar-lhe algo, Fabrício voltou dizendo:

— Ok, hoje vou dar uma mãozinha. Amanhã tem festa de novo mesmo.

— O quê que vocês combinaram, hein?

— Você vai saber, carneirinho. Vem. – Pegou em suas mãos. – O Fabrício vai ficar aqui para cuidar das crianças. O Jayme e a Angélica combinaram de sair para comemorar essa noite e nós dois também vamos sair.

— Vamos? Para onde vamos?

— É uma surpresa.

— Tá... Você consegue cuidar sozinho da Mel e do Ângelo, filho?

— Claro que consigo, papai. Vou chamar o Pablo pra me ajudar.

Félix voltou no mesmo instante. – Ei, não foi isso que você me disse.

— Papi! Não vamos estar sozinhos, eu vou estar muito ocupado cuidando dos meus sobrinhos. Confia em mim.

— É, Félix, confia nele. Que coisa! Eu confio plenamente no nosso filho.

— Está bem, eu também confio. Não plenamente, mas confio.

Fabrício riu. – Se confiasse demais não seria você, papi.

Algum tempo depois, Fabrício havia ido para seu quarto descansar e Niko e Félix se preparavam para sair.

— Carneirinho, me diz uma coisa... Você ficou vendo aquelas nossas fotos enquanto eu saí atrás do Fabrício?

— Não, Félix. E foi bom você ter lembrado, eu nem achei o cartão. Será que você o perdeu, hein?

— Impossível. Sabe que eu não perco essas coisas.

— Então foi pior. Alguém deve ter pegado.

— Mas, quem?

...

No caminho até lá, Fabrício viu o amigo parado no corredor, com a expressão de que tinha feito algo errado.

— E aí, Pablo? Estou pronto para ser babá. Quer me ajudar?

— Err... Quero, quero muito, mas...

— Que é? Eu sei que dá medo ficar a noite inteira cuidando de um bebê de um ano e de uma menininha de seis que não para quieta, mas vamos conseguir. Somos mais fortes que eles. – Deu uma risada. – O que você tem, hein?

— Eu... Estou... É... Tenho uma coisa pra te confessar.

— Vai dizer o quê? Que está apaixonado por mim? Eu acho que já tinha percebido...

— Não, não é isso! – Respirou fundo. – Eu tenho que devolver uma coisa a seus pais.

— O quê?

— Lembra aquele cartão de memória que você me emprestou para ver as fotos que o seu Niko tirou? Então... Não eram exatamente... Fotos da natureza, por assim dizer... Se bem que a natureza foi muito boa nesse caso... – Disfarçou o riso.

— Do que você tá falando?

— É melhor dar um jeito de devolver pra eles sem que saibam. Eles não vão gostar de saber que eu vi essas fotos.

— Mas, que fotos são essas, afinal? Me dá seu celular.

— Não, é melhor não...

— Me dá esse celular! – Fabrício conseguiu pegar o celular e...

...

Niko abriu a porta. – Filho, que bom que chegou! Seu irmão já deixou as crianças aqui, estávamos só esperando você...

— O que significa isso? – Mostrou uma foto no celular do amigo onde Niko aparecia nu, de frente, apenas com um chapéu de capitão cobrindo-o.

Niko ficou boquiaberto e todo vermelho e arrancou o celular da mão dele.

— Q-Que? Como?... Félix!

— Que foi? Está acontecendo o apocalipse pra você gritar desse jeito?

— É! É o apocalipse! – Mostrou a foto na tela.

...

Depois de uma longa explicação...

— Desculpem... Eu queria ter devolvido assim que vi, mas... Eu... Eu não resisti... – O amigo de Fabrício dizia envergonhado.

Félix se pronunciou: - Olha aqui, garoto, não somos responsáveis por você, mas somos pelo Fabrício, então, por causa disso, você não vai ficar aqui com ele hoje.

 -M-Mas...

— Sem mas. Vá para o seu quarto, para a praia, o luau, onde queira. Mas, hoje não fica aqui coisíssima nenhuma.

Fabrício reclamou: - Papi! Ele que faz besteira e eu que levo o castigo? Quem vai me ajudar com as crianças?

— Você não disse para confiarmos em você? Pois então? Eu confio que você consegue sozinho. – Virou para o outro. – E quanto a você...

— Sim, senhor Félix, eu vou para o meu quarto e não vou sair de lá, não se preocupem.

— É melhor mesmo. Pense no que fez... Ou melhor, não pense não. Não pense mais nisso. Tira o que viu da sua cabeça.

— Vai ser meio difícil...

— Garoto, sai daqui!

O outro foi embora. Niko ainda estava morrendo de vergonha, mas Félix disse que ele ia se acalmar quando saíssem. Fabrício teve que se conformar em ficar quietinho aquela noite e ser responsável cuidando dos sobrinhos. Estava tranquilo, afinal, ainda tinha uma semana inteira para curtir.

...

...

...

...

Mais tarde...

Niko e Félix estavam deitados numa toalha estendida na areia à beira-mar numa ilhota deserta para a qual Félix havia alugado um barco para irem até lá e passarem toda a noite.

— Olha que lindo é o céu daqui, Félix. Quase não se pode mais ver isso em nenhum lugar.

— Eu me contento em ver seus olhos, carneirinho.

— Oh, Félix... – Niko o beijou apaixonadamente.

— Hum... Eu disse que ia te fazer relaxar, não disse?

O loiro riu. – Só você sabe como. – Suspirou. – Dá pra acreditar em tudo que estamos vivendo? Como o tempo passa... Nossos filhos já são homens... E estamos aqui, juntos, há dezessete anos.

— E que venham mais dezessete. Por que você sabe, né? Eu posso até virar um velhinho gagá, mais eu nunca vou deixar de te fazer feliz.

— Félix... Você vai me fazer chorar.

— Oh, não... Não chora, meu pote de geleia. Vem. – Abraçou-o. – Se você vai ficar assim com coisinhas bobas que eu digo, imagina se eu te contasse que vamos ser vovôs de novo.

Niko olhou para ele com os olhos arregalados. – Oi?

Félix sorriu e lhe revelou. – Não desconfiou por que a noiva do Jayme estava tão nervosinha nos últimos dias? Eu sei por quê. Ela me disse, mas pediu que eu guardasse segredo. Carneirinho, você vai ganhar mais um neto e eu vou ganhar mais dois.

Niko levou uma mão à boca, surpreso e emocionado, e se encostou em Félix.

— Viu só, carneirinho? Eu não te disse que nós sempre teremos crianças para cuidar. Os filhos crescem, vêm os netos.

Quando Félix percebeu Niko estava chorando.

— Ah, não, carneirinho, já começou? Você é mesmo um pote de geleia.

— Sou mesmo, e daí? Félix... O Jayme vai ter outro filho!... Você não poderia me dar notícia mais bonita. E justo quando eu ia te dar outra notícia...

Se olharam. – Outra notícia? Qual?

— Naquela hora que você saiu atrás do Fabrício, o Jonathan ligou. A Anna finalmente deu à luz a um menino.

Agora Félix foi quem ficou boquiaberto e emocionado. – Já nasceu?... Ah! Um menino! Eu sabia! – Comemorou.

— Sabe o que mais? Ele disse para te dar o recado, que você estava certo. Seu neto é um bebê grande, branquinho com o cabelo preto... Sua cara.

Félix estava sorrindo feliz, mas Niko viu uma lágrima escorrer que ele logo limpou. O loiro sabia que o marido adorava chamá-lo de pote de geleia, manteiga derretida e tudo quanto fosse apelido para dizer que ele era chorão e sentimental, mas Félix não ficava atrás. Era também uma doçura e puro sentimentalismo quando o assunto era seus filhos e seus netos. Para Niko, Félix era um gigante cuja única fraqueza era a família. E como ele amava que aquele homem fosse assim! Para demonstrar pegou algo que havia levado.

— Me dá sua mão, Félix. – Niko amarrou em seu pulso uma ponta do lenço vermelho que havia tirado do filho.

— O que significa isso, carneirinho? É algum fetiche?

— Não... – Respondeu enquanto amarrava outra ponta em seu próprio pulso. – Você se lembra da lenda do Akai Ito que te contei antes de viajarmos.

— Ah, lembro... Não é a do fio vermelho que une as almas destinadas a se encontrarem?

— É. A cada ano que passo ao seu lado, Félix, eu tenho mais certeza de que essa lenda é real. Mas, no nosso caso, não é só um fio não... É algo como isso. – Levantou o braço e o de Félix foi junto. Os dois estavam entrelaçados pelo lenço vermelho.

Ficaram se olhando apaixonados por uns instantes, até que Félix propôs:

— Ei... Você ainda quer se casar comigo de novo?

Niko abriu um sorriso.

— Quero... Mas, tem que ser agora mesmo.

— Agora? Como vai ser agora?

— Quer vir comigo a um lugar secreto que conheci?

— Hum... Sei não, carneirinho... Mas, como eu vou para onde você for né?...

— Vem.

Pegaram o barco e foram até onde Niko indicava, não muito longe dali. Era perto dos lugares por onde Niko havia andado antes.

— Agora me segue, Félix. Temos que subir esse morro até o outro lado.

— O quê? Não, Niko, será que eu fiz um luau durante a travessia dos hebreus para você me trazer aqui para subir morro em vez de ficarmos lá na ilha, quietinhos... Quer dizer, não tão quietinhos, mas...

— Vem, Félix, por favor. – Fez aquela carinha de carneirinho pidão como Félix chamava.

Félix suspirou. – Ai, carneirinho... O que eu não faço por você.

Foram subindo. Em um dado momento Niko ia escorregando e Félix o segurou forte.

— Nossa! Que pegada! – O loiro exclamou e completou. – Não tem pegada melhor que a sua, meu amor. – Beijou-o.

— Eu sei, ora. Melhor que eu não há.

— Não mesmo. Vem, estamos chegando.

Quando finalmente chegaram ao local, Félix ficou deslumbrado com a vista. Niko também, pois o lugar onde o guia o havia indicado era ainda mais bonito à noite.

O loiro pegou em suas mãos para dizer:

— Meu amor, aqui, nesse lugar em meio à natureza, é um local considerado sagrado para o povo daqui. Os casais que se amam de verdade vêm aqui e fazem seus votos e juras de amor, tendo as árvores, o lago e a cachoeira por testemunhas. É como se fosse um casamento realizado pela maior das autoridades, a mãe-natureza. Aqui eu gostaria de renovar os votos com você... Meu amor para toda a vida.

Félix ficou emocionado. – Então era por isso que você... – Riu. – Por isso você queria sair tanto, o Fabrício me deu a dica, mas não me disse tudo...

— Eu pedi pra ele guardar segredo sobre o que eu estava planejando.

— E você quer fazer isso agora?

— Não... Na verdade eu ia te fazer essa surpresa amanhã, à tarde. Está tudo combinado, vamos trazer nossa família para cá, faremos nossos votos, depois um piquenique... E todos irão comemorar conosco nossas bodas, nossa felicidade, as vidas de todos nós.

— E nosso amor, o amor às nossas vidas... – Falava com o rosto bem próximo ao dele, dando-lhe beijinhos. – Hum... Como é bom amar você... Mas, se quer isso só amanhã... O que você quer agora, carneirinho?

— Adivinha... – Niko riu, beijou-o e saiu correndo em direção à cachoeira.

Félix sorriu e foi atrás. – Quer apostar como eu adivinho?

...


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Notas finais do capítulo


FIM



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