Félix & Niko - Dias Inesquecíveis escrita por Paula Freitas


Capítulo 99
Apostas de Verão - parte 6 - Lokomaikaii


Notas iniciais do capítulo

Lokomaikaii = o que eu falo de coração.



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Pela manhã, Niko acordava deitado sobre o peito de Félix sentindo-o subir e descer lentamente com a respiração.

— Ah, que delícia!... – Exclamou levantando a cabeça para olhar para seu amado. – Que delícia acordar aqui contigo, meu amor. – Sorriu feliz e satisfeito pelas horas de amor do dia anterior. Começou a fazer um caminho de beijos desde o peito de Félix até sua boca, onde depositou um selinho demorado fazendo o moreno acordar.

— Hum... Bom dia, carneirinho.

— Bom dia, meu amor... Meu lindo... O mais lindo dos mais lindos...

Félix sorriu. – O que deu em você? Não que eu não goste desses elogios, porque eu adoro, afinal, sei que são da mais pura verdade né? Mas...

Niko riu. – Bobo! Quer saber o que deu em mim? Você.

Félix ergueu uma sobrancelha e logo deu seu sorriso cínico. – Eu sei que eu dei, carneirinho, mas já dei várias vezes, porque tanta felicidade?

Niko soltou uma gargalhada. Félix continuou com suas gracinhas.

— É sério, criatura, não tô te entendendo. Ah, já sei, tá falando de quando eu dei tapinhas no seu bumbum, por isso está todo felizinho?...

— Não, Félix! – Disse rindo encaixando a cabeça entre o ombro e pescoço dele. – Não é isso!... Embora eu tenha adorado algumas coisinhas que você fez ontem.

— Eu sabia. Eu sempre sei quando você está gostando, eu conheço até seus gemidos, esqueceu?

— Por um momento eu pensei ter esquecido... Mas, quando olhei em seus olhos, vi que não podia esquecer nada porque só você faz meu coração bater de verdade.

Félix ficou olhando-o sem entender porque ele havia falado isso tão sério.

— Mas, não só por isso que eu estou feliz. – Niko afirmou logo voltando a abrir o sorriso.

— Então? Qual o motivo de tanta felicidade?

— Você, Félix. Você me preenche...

Interrompeu. – Ah, isso sim, né? Até porque... – Ilustrou certo tamanho com as mãos.

Niko deu-lhe um tapinha e gargalhou e então levantou da cama. – Não é disso que eu tô falando, poxa! Você só pensa em sexo?... Eu estou falando que você me preenche o coração, Félix, a alma, a vida...

— Isso eu também sei.

— Então? – Começou a se vestir. – Você é demais, Félix, você é meu tudo, você é único pra mim.

— Eu estou amando essa sua vontade repentina de me enaltecer.

— Eu preciso te dizer que você é meu amor, meu herói, meu homem! Você é tão lindo, tão perfeito pra mim, eu não sei por que olhei pra outro se...

— Você o quê?

Niko percebeu a besteira que havia falado.

— O que o quê?

— Você disse que não sabe por que olhou pra outro. Que outro?

— Eu disse isso? Não... Eu... Você me entendeu mal...

— Entendi perfeitamente, meus ouvidinhos estão muito bem, obrigado.

Niko terminou de se vestir. – Meu amor, o que eu quis dizer foi que... Eu... E-Eu não por que eu olharia pra outro, por mais bonito ou charmoso que fosse, p-porque eu tenho você. Foi isso. Eu não sei como teria coragem para olhar para outro, eu não sei porque faria isso...

— Não foi isso que você disse não. Eu ouvi bem, você não disse que “por que olharia”, você disse “por que olhei”, tempo passado, já aconteceu.

— Ah, Félix... Eu errei.

— Sei... Acho que errou mesmo.

— O q-que você quer dizer?

— Carneirinho, será que eu ensinei Herodes a dançar hula-hula para você ainda pensar que eu não percebo quando você está mentindo? Desembucha, criatura! De quem você estava falando?

— D-De quem? O quê? Como assim?

Félix se irritou. – Não enrola, Niko! Quem foi o inseto mais bonito que eu que você viu por aqui, hein?

— Mais bonito que você? Não, Félix, ele não é mais bonito que você...

— Ahá! Você disse “ele”, então tinha mesmo alguém.

Niko ficou sem saber o que dizer. Começou a sentir a culpa de novo e já ia contar tudo, mas lembrou-se de outra coisa. – Espera. Que horas são? – Procurou o relógio.

— Não muda de assunto, Niko. Fala. Quem é ele?

— Nossa! São seis e vinte! Perdi a hora. – Exclamou ao ver a hora.

— Perdeu a hora pra quê?

— Ele me disse que a excursão ia sair as seis para um dos vulcões. Eu tenho que ir.

— Ele quem, Niko?

— Ai, Félix... Depois a gente conversa, tá? – Pegou a câmera e foi indo em direção à porta. – É que eu não quero perder essa excursão.

— Eu que estou perdendo a cabeça aqui se você não me disser quem é ele, Niko.

— Que ele, amor? Não tem ele, não tem ninguém, foi uma bobagem...

— Bobagem coisíssima nenhuma! Você disse “ele” duas vezes. Você falou com alguém, você viu alguém, você se admirou com alguém mais bonito que eu...

— Eu já disse que ele não é mais bonito que você.

— Viu só? Falou de novo! Se esse tal aí não é mais bonito que eu, é o quê? Mais novo? Mais forte? Mais alto? Mais gostoso?

— Não, Félix, por favor... Olha... Tá bom, quer a verdade? Ok. Eu ontem vi um homem que mais parece um galã de novela mexicana e eu achei ele muito bonito sim, mas só. Foi uma coisa meio, tipo, quando a gente admira um artista, por exemplo, tipo assim. Mas, você é mais, tá bom? Você é muito melhor.

Félix falou com os dentes trincados. – É o apocalipse você me dizer que um não sei quem é mais gostoso que eu. Provou por acaso pra saber?

— Ai, Félix, não fala bobagem. Você queria que eu tivesse provado por acaso?

— Nicolas Corona Khoury...

— Eu tô brincando, Félix... – Riu. – Você sabe que eu jamais te trairia, não sabe? Você é meu amor, é minha vida. – Beijou-o os lábios. – Nunca duvide do quanto eu te amo, viu? Agora, me deixa ir, amor? Eu tenho muita vontade de ir nesse tipo de excursões, eu nunca vi um vulcão de perto.

Félix permanecia com a cara fechada e os braços cruzados.

— Vai ver esse tal galã por lá?

— Então...

— Responde, Nicolas.

— Não me chama de Nicolas que eu não gosto. – Fez bico. – Quando você me chama de Nicolas é que tá zangado comigo...

— Não enrola, cachinhos dourados. Fala logo.

— Eu... Vou, mas...

— É o cúmulo! – Alterou a voz voltando para dentro do quarto. – Eu devo ter dançado a conga com os doze apóstolos para você me deixar aqui sozinho para ir se encontrar com esse fulano!

— Félix, eu não vou me encontrar especificamente com ninguém, ele é o guia.

O moreno virou para ele. – É quem?

— O guia. Era do guia que eu estava falando.

Félix voltou a se aproximar dele. – O guia? Você se interessou pelo guia?

— Não me interessei não. Eu não seria capaz de me interessar por outro homem além de você, Félix. Eu te amo. Eu só... Só achei ele um homem muito bonito, charmoso... Só. Olhar não é pecado.

Félix passou o dedinho na sobrancelha nervoso. – Já ouviu falar em “Não cobiçarás o próximo”?

— Félix, não fica chateado comigo, vai... Eu não fiz nada demais...

— É melhor que não. Eu não quero nem pensar no que você pode ter feito ou pensado em fazer. Agora entendi porque o senhor quis ficar aqui fazendo amor o resto do dia... Foi por peso na consciência, não foi? Ou, por acaso, alguma das vezes que eu estava lhe pegando você pensou nele, hein?

Niko ficou sério. – Agora você passou dos limites.

— Ah, eu que passei dos limites...

— Sim, você. Como pôde dizer isso? Como pode achar que eu pensaria em qualquer outro estando com você? – Niko o olhou nos olhos. – Dezessete anos não serviram para eu te provar que você é o amor da minha vida?

Félix respirou fundo e se acalmou. – Desculpa. Mas, eu não posso evitar morrer de ciúme.

— E eu te entendo. E para ser sincero eu estava sim com um peso na consciência enorme por ter, mesmo que por um breve instante, me sentindo atraído por esse cara. Mas, meu amor, esses coisas às vezes acontecem mesmo a um casal que se ama. De que importam coisas tão pequenas quando há um amor tão grande como o nosso?

Félix concordou com a cabeça e Niko pegou em seu rosto.

— Olha pra mim... Eu jamais senti nem sentirei por nenhum outro algo que chegue nem perto do que eu sinto por você. Vai dizer que durante esses dezessete anos você nunca olhou para mais ninguém?

— Não tive muitas oportunidades... Mas, já olharam para mim bastante. Inclusive no restaurante mesmo. Teve vezes que você nem percebeu.

— Mas, nas vezes que percebi fiz questão de mostrar que você é meu, lembra? – Sorriu. – Eu também sinto ciúme às vezes, e gosto que você sinta de mim. Faz bem para o ego a gente se sentir tanto admirado quanto cuidado por quem se ama, não acha?

— Acho.

— Então... Você me perdoa?

Félix afirmou com a cabeça.

— De verdade, Félix?

—... De verdade.

— Não está mais chateado comigo?

— Isso eu já não posso afirmar, pelo menos por enquanto.

— Olha... Eu já estou atrasado mesmo, se você quiser eu não vou. Eu fico aqui com você mais um pouquinho.

Félix suspirou e decidiu.

— Não. Vai lá, vai.

— Você quer que eu vá?

— Quero que você faça o que você quiser. Eu sou seu marido, não sou seu dono. Se você tem vontade de sair, passear, ver um vulcão ou sei lã o quê, vai.

— Mesmo?

— Vai, carneirinho, já disse.

— Pelo menos você me chamou de carneirinho de novo. – Sorriu e deu-lhe um selinho. – Não quer vir comigo?

— Você quer que eu vá com você?

— Adoraria. Além do que, Félix, não quero que você fique mais com ciúme.

— Fica difícil quando eu sei que você vai ser guiado por um tal pelo qual você quase caiu em tentação.

— Félix, eu juro que não cairia em tentação nem que o guia fosse o homem mais bonito da face da Terra. Porque mesmo diante do homem mais bonito, você carrega toda a beleza que eu preciso. A beleza do nosso amor. Você é minha tentação e é também meu paraíso.

Félix disfarçou um sorriso e disse: - Gostei disso.

Niko o abraçou. – Vem comigo, vem.

Félix pensou rápido e respondeu: - Não, acho melhor não.

— Por que não? Será um grupo de umas sete ou oito pessoas e seria tão bom nós irmos juntos, Félix, tem tantas belezas naturais para a gente ver por aqui...

— Sei, deve ter muitas...

— Félix, você ainda está chateado, não está?

—... Não, carneirinho. Vai você a essa excursão, vai. Eu prefiro ficar aqui.

— Quer ficar aqui no quarto sozinho? Ah, não, eu vou ficar com você...

— Não, carneirinho, que quarto? Eu vou à praia, vou conhecer o hotel, sei lá... Soube que tem um SPA unissex aqui, talvez eu vá lá dar um trato na minha pele de seda.

Niko acariciou seu rosto. – Pele que eu adoro acariciar. – Deu-lhe mais um beijo. – Tem certeza?

— Tenho, criatura, vai lá e, pelas contas do rosário, não me pergunta mais se eu quero ir porque a resposta é não.

Niko fez bico.

— Nem faça a carinha de carneirinho pidão que não vai funcionar.

— Ok, eu vou então, espero que ainda dê tempo. – Foi saindo pelo corredor do hotel, mas ainda virou para Félix. – Está mesmo tudo bem pra você?

— Está. Vai. Eu não estou mais com ciúme tá? Eu me garanto.

— Amor, se quando eu chegar ao ponto de encontro já tiverem partido, eu volto pra ficar com você, tudo bem?

— Tudo, carneirinho. Vai logo. – Falou já um tanto impaciente.

Niko entrou no elevador, deu um tchauzinho pra ele e partiu. Félix fechou a porta do quarto parecendo tranquilo, mas ainda estava um tantinho contrariado. Havia só fingindo se acalmar para não discutir mais com Niko.

Primeiro sentou-se na cama, depois levantou e pôs-se a andar pelo quarto, logo sentou de novo agora numa cadeira, levantou e foi até a varanda para tomar um ar tentando relaxar, mas parecia impossível. Resolveu, então, tomar um banho e sair para a praia. Talvez o barulho do mar o acalmasse.

Após o banho, pôs seu melhor perfume e vestiu sua roupa para curtir a praia. Se tinha uma coisa de que Félix se orgulhava que não havia mudado em seu corpo com o tempo era suas pernas. Para mostrá-las ele pôs uma sunga preta com detalhes brancos num estilo bem moderninho, por cima uma bermuda soltinha clara e vestiu uma camisa branca bem fina e soltinha. Penteou os cabelos de forma mais despojada, de modo que, mesmo com os fios grisalhos, parecia muito mais jovem. Saiu assim. E no caminho do hotel até a praia atraía olhares por onde passava. Inconscientemente Félix havia se arrumado com o intuito de ser admirado. Ele sabia o quanto a beleza do seu carneirinho chamava a atenção, mas para evitar ficar se remoendo de ciúmes ele queria provar que também podia chamar atenção.

Assim, levou uma cadeira de praia até um canto na areia perto do mar, tirou a bermuda para ficar só de sunga, pôs óculos escuros e se recostou todo até relaxar olhando o mar e as pessoas.

...

...

Um pouco antes, no hotel...

— Fabrício, está acordado? – O amigo dele o chamava batendo na porta.

— Entra, Pablo. Tá aberta.

Entrou. Fabrício estava terminando de se vestir.

— Desde ontem que eu não te vejo. Ficou o dia todo com aquela... Kalena?

— Praticamente sim.

— O que você fez o dia todo com ela? Posso saber?

— Que é isso? Um interrogatório?

— Só curiosidade...

— Nós ficamos. Mas, não rolou nada demais... Ainda. Hoje à noite vamos nos encontrar no luau que vai haver na outra praia. Combinamos de fazer de conta que a gente vai se conhecer pela primeira vez, como tínhamos combinado antes. Ela vai com um lenço vermelho na cabeça e eu com um no pescoço. Vai ser engraçado, mas no final vai ser muito bom.

— Você não pode ter certeza se vai ser bom.

— É impressão minha ou você está incomodado?

— Eu... Ah, Fabrício, quer saber? Faz o que você quiser. Eu não vou te dar mais conselhos.

— Eu não pedi.

— Ótimo. Até à noite. – Saiu.

—... Até. ... Espera, por que até à noite? Você também vai ao luau? – Quando Fabrício olhou para o lado ele já tinha saído. Ergueu os ombros e saiu do quarto em seguida. O amigo o esperava no corredor, pensativo.

— Ei! Por que saiu assim? Eu estava falando com você.

— Ah, eu... Só estava pensando em uma coisa...

— Em quê?

—... Nada.

— Ah, qual é? Eu te conheço. Desde ontem você está chateado comigo e não quer me contar o que tá acontecendo. É o apocalipse isso!

— Será que me conhece mesmo?

— Como assim?

— É... Nada, Fabrício, não é nada. – Desconversou. - Sabe o que é? Eu queria tirar umas fotos por aí. Eu vi seu pai tirando várias fotos, fiquei com vontade.

— Ah, o papai Niko é meio viciado em fotos, ele adora. Deve ter tirado um monte já.

— Eu vi ele saindo do hotel, mas não vi se estava com a câmera. Será que o seu pai Félix empresta? A câmera do meu celular não é das melhores...

— Empresta. Quer saber? É uma boa ideia. Assim você tira fotos minhas com a Kalena pra mostrar pra todo mundo quanto a gente voltar.

— Ah é... Que ótima ideia... – Foi irônico, mas Fabrício não percebeu.

— Eu acho difícil o papai não ter levado a câmera se ele já saiu essa hora, mas, vamos lá. – Os dois foram até o quarto de Félix e bateram na porta. Fabrício percebeu que estava aberta e entrou perguntando:

— Papi... Está aqui?

Félix gritou do banheiro. – Estou no banho.

— Pra onde o papai foi?

— Para mais um daqueles passeios turísticos dele.

— Sabe se ele deixou a câmera? Eu queria emprestada.

— Veja se está por aí...

— Vou procurar.

Fabrício e o amigo começaram a procurar a câmera fotográfica, quando o outro viu um cartão de memória em cima de um móvel.

— E esse cartão solto aqui?

Fabrício olhou. – Deve ser de mais fotos que ele já tirou. Ah, já sei... É bem capaz de ele já ter levado a câmera com outro cartãozinho dentro e deixou esse aqui cheio. Quer ver? Me empresta seu celular.

Fabrício pegou o celular do amigo e pôs o cartão dentro. Foi logo ver o armazenamento e lhe mostrou. – Viu só? Está quase cheio. Deve ser isso mesmo. – Riu. – Não sei como o papai conseguiu encher um cartão de fotos só ontem. Imagina quantos gigabytes ele é capaz de gastar mais seis dias aqui.

— Já que você colocou no meu celular, eu posso ver as fotos que ele tirou para me inspirar?

— Pode, olha aí. – Olhou para os lados. – Vamos sair. É inútil a gente continuar aqui, ele levou a câmera com certeza. Vamos, a gente tira as fotos com o meu celular mesmo.

Saíram do quarto quando Félix estava acabando o banho e o moreno nem deu pela falta de certo cartão de memória. Arrumou-se e foi para a praia.

...

...

Félix estava relaxando em sua cadeira de praia quando viu alguém se destacar em meio às outras pessoas. Um pequeno grupo assistia na praia a um homem que fazia manobras nas ondas. Era um surfista bonito, loiro, bronzeado, que o fez tirar os óculos escuros para ver melhor.

— Hum... Não se vê um desses todo dia. – Félix comentou mordendo uma das hastes dos óculos.

Ficou observando o surfista quando ele voltou para a areia e começou a tirar a roupa apertadinha apropriada para mergulho. Tirou-a até a cintura deixando à mostra seu corpo malhado. Depois pegou sua prancha e saiu correndo. Na corrida passou do lado de Félix que não pôde deixar de acompanhá-lo com o olhar. O surfista também o olhou rapidamente antes de ir embora. Depois que ele passou Félix se abanou, mas ao perceber o que havia feito logo pensou:

— Por que eu fiquei olhando para esse cara se eu tenho o carneirinho? Félix, criatura, olha a libido... Se concentra!... Ah, mas o Niko me confessou que fez o mesmo. Então não fiz nada demais. Afinal, olhar não arranca pedaço.

Quando estava pensando sobre isso, Fabrício apareceu.

— Papi!...

— Oi, Fabrício.

— Está relaxando é?

— Estou tentando. E você, onde estava?

— Eu ainda não havia tomado café da manhã quando fui ao seu quarto, por isso demorei.

— Ah, sim... – Passou o dedinho na sobrancelha. – Pensei que você tivesse dormido tarde ontem...

— Dormido tarde? Por quê?

— Porque seu papi carneirinho me contou que te viu com uma moça que você conheceu...

— Ah... Ele te contou é?

— Ele me conta tudo, filho. E você, vai me contar?

— Papi, ela se chama Kalena e eu a conheci através de um site. Eu soube que ela morava aqui e como eu já queria vir por causa da oportunidade de ter as aulas de surf aqui, eu juntei o útil ao agradável, entende?...

— Entendo.

— O papai Niko ainda tá chateado comigo?

— Não, acho que não. Ele não ficou chateado, Fabrício, ele só ficou preocupado que essa moça estivesse te fazendo de bobo. Sabe como ele é...

— Sei. E ele me flagrou com ela, por isso que ele não gostou muito.

Félix suspirou. – Filho, eu não vou reclamar com você, não tem necessidade. Só quero que você crie juízo, tá bom? Vê se não faz besteira.

— Pode deixar, papi, eu sei o que faço.

— Você só acha que sabe. Portanto, cuidado.

— Vou ter, obrigado. Ei, quer conhecer meu professor de surf já que o papai não está aqui? Eu vou encontrá-lo agora para a primeira aula.

— Hum... Eu vou. Não tem mais nada interessante pra ver aqui mesmo.

— E antes tinha algo interessante?

— Hã... Não. – Disfarçou. – Cadê seu amigo? Não vai?

— Vai, ele tá vindo. Ficou mais atrás vendo umas fotos...

...

...

Enquanto isso, Pablo estava pasmo vendo as tais fotos que estavam naquele cartão de memória.

— Não acredito nisso... Quem diria que os pais do Fabrício tiram fotos assim... Oh! Quê que é isso?!... Nossa! O seu Niko é lindo!... Hum... Será que o Fabrício puxou a ele todinho assim?... – Riu super alegre por estar vendo aquelas fotos. – E nessa é o seu Félix, quê que ele tá fazendo?... Ah! Não!... Ele não tá fazendo isso! Adoro!... – Lambeu os lábios. – Nossa! Como ele é sexy!... Não acredito que eu tô dizendo isso dos pais do Fabrício, mas é a mais pura verdade. Olha o... Uau! – Respirou fundo e guardou o celular. – Eu tenho que ver o resto dessas fotos com calma. Puxa! Que lindo...

— O que é tão lindo? – Fabrício chegou.

— F-F-Fabrício?...

— Oi? Ah, estava falando de mim? Eu sei que sou lindo. – Deu um sorriso cínico.

— N-Não, não era de você...

— Então por que tá me olhando estranho?

Mas, o garoto não estava olhando para ele e sim para Félix que se aproximava logo atrás.

— Então, garotos, vamos?

— Vamos. – Fabrício respondeu. – Você vem ou não, Pablo?

— Sim, senhor... – Respondeu ainda olhando para Félix de cima a baixo.

Obviamente Félix percebeu e estranhou.

— É... Vão na frente. – Deixou os dois passar e foi os seguindo, pensando: - Foi impressão minha ou esse garoto estava me comendo com os olhos?

...

...

Pouco depois chegaram aonde haviam marcado com o professor que para a surpresa de Félix era...

— O surfista!

— Quem, ele? É o nosso professor, papi. Não me diga que já o conhecia?

— Não, não... Eu o vi na praia agora a pouco...

— Vem, vou te apresentar. – Se aproximou e chamou: - Senhor Apolo! Somos os alunos brasileiros.

— Ah sim! Que bom que chegaram. – Foi até eles. Ao chegar mais perto, Félix percebeu como seu nome combinava para ele. O homem tinha os cabelos dourados que pareciam irradiar a luz solar, a pele bronzeada e os olhos da cor do mar. Um verdadeiro Apolo, o deus do sol.

— Bom dia! Os três serão meus alunos?

— Três? – Fabrício riu. – Não, esse aqui é meu pai. Ele queria te conhecer.

— Pai? Não poderia imaginar, é tão jovem...

Félix sorriu já que adorava esse tipo de elogios. – Não sou tão jovem quanto pareço, mas obrigado. – Apertaram as mãos. – Prazer, Félix.

— Apolo. O prazer é todo meu. – Virou para os rapazes. – Então vocês são os alunos? Fabrício e Pablo, não é?

— Sim, somos nós. Eu sou o Fabrício e o distraído ali é o Pablo. – Apontou para o amigo que não parava de mexer no celular.

— Podemos começar agora mesmo, garotos. O professor de vocês no Brasil me comunicou que vocês já passaram do nível básico do surf, hoje eu vou ensiná-los alguns truques para já começarem a praticar algo mais avançado.

— Beleza! Era o que eu queria. Só um minutinho... – Foi até o amigo. – Pablo!

Ele se assustou e desligou o celular.

— Q-Que foi, Fabrício?

— O que você tanto olha aí, hein?

— N-Nada.

— Ninguém fica com cara de besta olhando pra nada. Vamos, a aula já vai começar.

— Sim. – Guardou o celular numa bolsa que havia levado.

Enquanto os garotos se preparavam, o surfista foi conversar com Félix.

— Sabe surfar?

— Não. Nunca tentei. Eu morei toda a vida em São Paulo, o único lugar que tinha para testar a adrenalina era o trânsito. – Riu.

— Eu nunca fui a São Paulo. Já fui ao litoral do estado, a Santos, já fui ao Rio, Angra dos Reis...

— É lá que moro agora. Quer dizer, há dezessete anos já. Desde que o Fabrício era um bebê.

— Ele já tem dezessete? Desculpe repetir, mas você parece muito jovem para ser pai de um rapaz assim.

— Não se desculpe, adoro quando pensam que sou mais jovem. – Riu ajeitando a sobrancelha. – Mas, meus cabelos grisalhos não me deixam tão jovem assim, deixam?

— Alguns homens têm trinta anos e deixam os cabelos grisalhos. Para muitos dá um charme especial.

— Quer dizer que eu pareço ter trinta anos?

— Bom, eu não diria que você tem mais que quarenta. Você tem?

Félix passou a mão nos cabelos sorrindo orgulhoso.

— Na verdade... Sim, tenho alguns aninhos a mais...

— Pensei que tivesse pela idade do seu filho, mas não parece, é sério. Não é para me gabar, mas, muita gente diz que eu também não pareço já ser pai de uma mulher de vinte e um anos.

— Ah é? – Félix olhou para a mão dele e notou uma espécie de aliança. Pensou: - Então ele é casado. Menos mal, porque eu poderia jurar que ele tinha olhado para mim. – E sua filha também é surfista? – Perguntou.

— Também. Ela nasceu quando eu era muito jovem e aprendeu comigo desde pequena.

— A família toda surfa então? Você, ela, a mãe...

— Não, a mãe dela não viveu conosco.

— Ah... É divorciado, viúvo?...

— Nem uma coisa nem outra. O que aconteceu foi que... Deixa pra lá, não quero te incomodar, dizem que eu conto essa história pra todo mundo...

— Pode contar, eu sou curioso.

—... Bom, eu apenas namorei a mãe dela e ela engravidou. Depois que deu à luz, ficamos juntos algum tempo, mas...

— Ela te abandonou?

— Não exatamente, ela só não me aceitou como eu sou. Nosso relacionamento era algo impossível.

— Não te aceitou como você é?... – Pela experiência, Félix deduziu: - Você é gay?

O homem se surpreendeu e riu. – É tão óbvio assim?

— Ah, não, não é óbvio... Eu só... Digamos que eu reconheço pessoas como eu.

— Você também...

— Sim. O Fabrício é filho biológico do meu companheiro. Mas, eu tenho outros dois filhos mais velhos. O do meio é adotivo e o mais velho é biológico. Eu já fui casado com a mãe dele até. Mas, foi uma época obscura da minha vida, não vale a pena nem lembrar.

— É o mesmo comigo. – Riu. – Eu não gosto nem de lembrar. A única coisa boa que fiz foi minha filha. Hoje é que sou feliz. Mas, enfim, não vamos falar do passado e sim do presente. Não gostaria de aprender a arte do surf também?

Félix riu. – Não... Eu definitivamente já passei por muitas aventuras na minha vida para passar por isso.

— Aventura e adrenalina nunca são demais.

— Não, acho que não...

— Vamos, seria ótimo. Estou certo de que vai se divertir.

— Se eu vou, eu não sei, mas os rapazes ali vão se divertir com certeza quando estiverem rindo de mim. Eu nunca fiquei nem em pé em cima de uma prancha...

— Nunca é tarde para tentar. A não ser que você tenha medo.

— Medo eu? Imagina...

— Tem certeza? Aposto que tem medo.

— Não, eu não tenho medo. Apenas do ridículo.

— Então por que não tenta?

Félix pensou rapidamente. – Será que ele está dando em cima de mim? Bom, eu não estou dando bola, mas... Não perderia nada aceitando. Se o carneirinho estivesse aqui seria diferente, mas não, ele só quer saber de turismo... Ok.

— Quer saber? Eu posso tentar. Por que não?

— Muito bem. Gosto de pessoas com atitude. – Levantou. – Eu vou ensinar algumas coisas aos garotos agora e depois volto pra você, ok?

— Ok. – Falou mais baixo. – Volte mesmo. – Quando o surfista saiu Félix ficou pensando. – Será que eu aceitei só pra fazer ciúme ao carneirinho? De que adianta se ele nem está aqui? Ou talvez eu só tenha achado esse surfista muito atraente... – Suspirou. – Eu não deveria estar sentindo culpa depois do que o Niko fez, mas eu estou. E eu sei por quê. Porque eu amo o meu carneirinho. – Olhou de lado e o surfista estava voltando. – Bom... Mas, eu posso ter meu momento também... Afinal, eu já aceitei a aposta mesmo. Vou mostrar que não tenho medo... Nem de ser paquerado.

...

...

...

Enquanto isso, em outro lugar da ilha...

— Oh! Você veio. Pensei que não viria mais. – Disse o guia a Niko assim que ele chegou.

— Eu perdi a hora, quase não vinha mais, mas eu queria muito fazer esse passeio. Onde está o resto do grupo?

— Já foram na frente com o outro guia. Mas, eu posso te levar até onde estão, não devem estar longe.

— Ah... É... – Niko titubeou um pouco, mas aceitou. – Tá bem. Vamos.

Ao saírem o guia pôs uma mão nas costas dele por um minuto e tirou. Depois, perguntou se Niko queria ajuda para atravessar um terreno mais difícil, mas dessa vez Niko negou.

— Não, não, não precisa. Dessa vez eu vou sozinho.

— Tudo bem. Me siga.

Ao contrário do dia anterior, depois de ficar com Félix e da conversa que tiveram, Niko estava se sentindo um tanto incomodado com as gentilezas demasiadas daquele homem. Pensava: - Será que ele me interpretou errado e agora está me paquerando?... Eu não queria passar essa impressão. Eu disse a ele que tenho um companheiro que amo. Não, acho que é impressão minha... De qualquer maneira eu vou tentar não ser tão simpático com ele hoje. Tenho que mostrar que sou um homem casado e fiel e amo meu marido, que é o mais lindo de todos. É isso. Nada de pegar na mão dele hoje, nem que eu caia no chão, mas em tentação eu jamais cairei.

...

...

...

Próximo ao hotel...

Jayme passeava pelo centro da cidade com o filho e a sobrinha. Ia tranquilo por ter conseguido cuidar sozinho do filho enquanto a noiva tinha seu dia de paz e sossego, e feliz, pois logo seria a hora de ela ficar cuidando do filho e ele ter o merecido descanso.

— Tio Jayme, o Ângelo não tá cheirando bem não. – Mel comentou.

Jayme pegou o filho do carrinho de bebê e comprovou. – É, ele está com a fralda cheia. Eu vou procurar um lugar para trocá-lo, vem Mel.

Foram até onde havia uns bancos. Jayme sentou, tirou o filho do carrinho e começou a trocar a fralda dele, enquanto Mel estava atrás distraída olhando para tudo ao redor. Foi quando algo chamou a atenção da menina. Um grupo de pessoas vestindo fantasias típicas havaianas passou ali perto e a pequena Mel, muito curiosa, os seguiu.

Quando Jayme acabou...

— Prontinho, ele está limpinho agora. Está vendo alguma lixeira por aí para eu jogar essa fralda, Mel? – Ao virar e não ver a sobrinha, se preocupou. – Mel?... Mel! – Levantou. – Ah, meu Deus, não acredito que eu perdi a Mel!

Saiu dali empurrando o carrinho do filho e olhando para todos os lados, procurando a sobrinha.

Enquanto isso, a garotinha seguia o grupo.

— Ei! Quem é você? – Perguntou uma das mulheres vestida com roupa havaiana.

— Meu nome é Melissa, mas pode me chamar de Mel. Por que você usa saia de palha e florzinhas na cabeça?

As mulheres riram. – É porque nós somos dançarinas. Essas aqui são minhas colegas, cada uma aqui é de um país. Você é de onde?

— Sou do Brasil. E você? Você fala minha língua, mas é diferente.

— É que eu sou portuguesa. Falo português, mas é diferente dos brasileiros. Como você chegou aqui? Estava nos seguindo, mocinha?

— Eu vi vocês passando e vim.

— E veio sozinha? Onde estão seus pais?

— Meus pais ficaram no Brasil porque minha mãe vai me dar um irmãozinho.

— Ah é? E com quem você veio para cá?

— Vim com meu avô, com meus tios, a noiva do meu tio, com o Niko que não é meu avô, mas que disse que eu posso chamar ele de vovô e com meu priminho.

— Nossa, quanta gente!... E onde estão?

— Hum... – A garota olhou para os lados. – Meu tio Jayme ficou trocando a fralda do meu priminho e eu vim... Acho que ele vai me procurar.

— Hum... Ele deve estar preocupado, crianças não podem sair assim sozinhas.

— Eu voltar pra lá então.

— Espere, pode ser perigoso andar sozinha de novo por aí, fique aqui com a gente e espere que ele apareça, assim ficará mais segura. Quando duas pessoas estão procurando uma a outra é sempre melhor uma delas ficar parada.

— Tá bom.

— Enquanto isso quer aprender a dançar a hula com a gente?

— Quero.

...

Jayme voltou para perto do hotel.

— Ah, Mel, onde você se meteu?

— Jayme. – Sua noiva chegou.

— O-Oi, Angélica...

— Bom dia, amor. Tudo bem com você?

— T-tudo... Por que não estaria?

— Estou tão orgulhosa de você. Ficou o dia todo ontem cuidando do Ângelo, não reclamou nem nada... Merece um prêmio. – Beijou-o.

— Hum... Gostei do prêmio.

— E não é só isso.

— Hum... Estou gostando mais...

Ela riu. – Mais tarde eu te dou o prêmio completo. Agora... – Pegou o filho. – É minha vez de ficar com nosso bebê e você pode ir relaxar, fazer o que quiser.

— Sério? O SPA te fez bem mesmo, hein?

— Fez. Estou muito mais relaxada. Não quer experimentar também. O SPA é unissex.

— É... É uma boa ideia... Eu vou. Tchau. – Deu-lhe outro beijo e saiu fingindo tranquilidade, mas na verdade estava desesperado para continuar procurando a sobrinha.

...

...

...

Já na aula de surf...

O professor de surf saía da água após algumas demonstrações.

— Muito bem, meninos, agora é a vez de vocês.

Fabrício e Pablo entraram na água e o surfista sentou ao lado de Félix que só observava.

— É sua vez agora. – Disse o surfista.

— Minha vez de quê?

— Sua vez de ter umas aulas. Não disse que topava?

— Ai, pelas contas do rosário, eu nem sei porque eu disse que topava. Eu não sei nem ficar em pé em cima dessa coisa.

— Bom, essa coisa se chama prancha e isso é muito fácil de aprender. É só querer tentar.

— Se você diz...

Os dois levantaram e o surfista pôs a prancha equilibrada em cima de duas pedras.

— Veja. Assim ela vai se balançar um pouco para você sentir como é, mas não vai ser a mesma coisa como se estivesse na água. Veja como eu faço.

Ele ficou em pé em cima mostrando a posição dos pés.

— Agora é sua vez.

— Eu vou bancar o ridículo...

— Não vai não. Venha, eu te ajudo. – Pegou na mão de Félix e o ajudou a subir.

— Assim?

O surfista riu. – Sim. Só que você tem pés grandes e é muito alto, tem que arrumar essa postura senão teria sérias dores nas costas caso fosse surfar de verdade.

— Ah, ah, eu não vou surfar de verdade.

— Mas, deixa eu mostrar como é melhor mesmo assim. – Subiu junto ficando atrás de Félix. Pegou em seus braços para demonstrar a melhor posição e, como não tinha espaço suficiente para ficar de outro jeito, ficou com o corpo roçando no dele.

Enquanto o surfista lhe explicava algumas coisas Félix mal prestava atenção. Apenas pensava naquela situação inusitada. Uma hora atrás estava morrendo de ciúmes ao ouvir Niko confessar que tinha praticamente flertado com um guia turístico qualquer, e agora ele era quem estava praticamente flertando com um surfista. Já estava se sentindo culpado ao mesmo tempo que começou a cogitar:

— Será que sou eu mesmo que estou dando mole ou é esse professorzinho de surf que está me paquerando? Eu não sei, mas eu não tenho intenção nenhuma de dar sequer uma mínima esperança a ele. Quem ele acha que eu sou? Eu sou Félix Khoury, aquele que não é fácil. Aliás, sou Félix Corona-Khoury, casadíssimo. E se ele quiser dar uma de conquistador comigo, vou mostrar o quanto sou fiel ao meu carneirinho.

...


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Notas finais do capítulo

Penúltimo capítulo...



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