Broken Girl escrita por Iris


Capítulo 3
Capítulo três: Adeus


Notas iniciais do capítulo

Heyy o/ Mais um capítulo saindo. Talvez tenha ficado um pouco longo que os demais, mas tenham paciência hehe. Espero que gostem.

Enjoy ^^



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_Desculpa, mas não posso dar esse tipo de informação. – informou o jovem recepcionista do hotel mais fuleiro da cidade, não que em Greeley houvesse hotéis 5 estrelas.

Assim que acordei – se é que três horas de sono contasse – liguei para todos os hotéis da cidade, três no total, atrás de um Dean Winchester ou Michael Cooper. Como era de se esperar eles não podia fornecer esse tipo de informação, então fui ao departamento de policia, era melhor do que bater em porta em porta nos hotéis a procura de Dean. Na delegacia não esperava muita coisa já que tinha certeza que Dean Winchester não era nem de longe um agente da lei.

Lá um dos policias me disse que um tal de agente Cooper estava investigando uns assassinatos estranhos. Com alguns sorrisos afetados (dolorosos, afinal meu nariz foi quase arrancado do rosto) e algumas piscadas de olhos, surpreendentemente – minha aparência não estava lá as das melhores – consegui o nome do hotel onde o “agente federal Michael Cooper” estava hospedado.

Caía um diluvio lá fora e por ter corrido do estacionamento até o hotel minha roupa estava praticamente encharcada.

O carro que vim dirigindo pertencia à loja, não tinha carro e nem pretendia ter um. Planejava ter minha carteira desde os 13 anos, mas depois de vê o que um carro pode fazer, vê que um veículo poderia se transformar numa arma poderosa eu desisti.

_É só me dizer em qual quarto Michael Cooper está hospedado. – supliquei. O menino ruivo do outro lado do balcão pareceu indeciso. _ Eu queria muito falar com essa pessoa. É só me dizer qual é o quarto – ele olhou para os lados verificando se tinha alguém observando. _Por favor. – acrescentei com uma voz chorosa. O garoto suspirou e debruçou sobre o balcão.

_Quarto 23 segundo andar – disse num sussurro conspiratório. Sorri para ele e agradeci no mesmo tom conspiratório.

Olhando para meu reflexo num quadro velho no corredor examinei meu nariz. Estava vermelho, mas graças às mãos magicas de um médico estava bem melhor que no dia anterior, por isso pude tirar o bandage.

Encontrei a porta. Bati duas vezes. Dean atendeu e me fitou por uns estantes.

_Você está horrível. – foi à primeira coisa que disse a me ver. Que gentil.

_Obrigada. Você também está ótimo. – retruquei. Ele tinha também as marcas da batalha passada. Espalhados pelo rosto vários cortes pequenos ainda não cicatrizados. O meu soco pelo visto não tinha deixado nem um pequeno hematoma.

_E obrigado pelo murro, acho que deve ser assim que você agradece quem salva sua vida duas vezes. – disse sarcástico recostando no batente da porta impedindo minha passagem. Não pedi desculpa. _Por sinal, como me achou?

_Usei minha bola de cristal.

_Engraçado. – não, ele não achou. _Foi o policial Phillips, aquele fofoqueiro. Não foi? – concordei com a cabeça. _Na verdade eu estava de saída, ia para Rua Baker, numero 126. – meu endereço. Decidi não perguntar como ele conseguiu.

_Bom, acho que economizei sua gasolina.

_Não veio aqui só para dar respostas engraçadinhas. A que deve o prazer da visita, senhorita Corand? – falou num falso tom cortês. Dean abriu passagem para que eu entrasse.

O quarto era como qualquer quarto de hotel barato, tinha a mesma aparência de muito gasto e o ar abafado. Havia também a cor do papel de parede descascado que não combinava com a roupa de cama com estampa brega.

Ele cruzou os braços e permaneci parada no meio do quarto. A expressão de Dean continuava a mesma; o cenho franzido e uma sobrancelha meio arqueada. Não tinha o porquê de rodeios fui direto ao ponto.

_Doze pessoas morrerão poucas horas depois de eu deixar um bar, talvez você também queira me matar, mas eu preciso que me diga que droga está acontecendo. Quem são essas pessoas de olhos pretos? – ele suspirou e conteve a postura rígida.

_Demônios. – respondeu.

_Demônios? – perguntei absorvendo a ideia de que demônios literalmente existem. Uma sensação estranha e curiosa pulsou dentro de mim. Por algum motivo não estava aterrorizada com essa descoberta. Talvez seja por que explorei todas as formas racionais possíveis de explicar o que tinha acontecido e não cheguei a lugar nenhum. Era hora de explorar as lacunas mais insanas.

O que mais existe no mundo que não sabemos?

Passei a mão pelo cabelo molhado, gotículas de água pingavam em minha blusa também molhada, os fios mais curtos grudavam no rosto. Dean me ofereceu uma toalha. Enxuguei-me como deu e torci o cabelo na toalha deixando-a encharcada. Devolvi a toalha e ele a jogou de qualquer jeito na cama atrás de si.

_É. E existem também vampiros, lobisomens, bruxas, fantasmas e têm até um papai Noel do mal. – Ele mostrava uma casualidade ao falar como se tivesse ditando a lista de compras.

Dean continuou contou o real motivo de estar em Greeley. Um vampiro. Era esse o motivo dos assassinatos estranhos. Tudo aquilo parecia loucura, porém ele fazia com que tudo tivesse sentido.

_Esses demônios mataram doze pessoas só por que me ajudaram. Por que fizeram isso?

_Por que são demônios, para eles não existe certo ou errado. Não há nenhuma moral em ser um demônio. Matam por que acha divertido ou por que querem alguma coisa.

_Eu, eles querem a mim. Aquelas pessoas morreram por minha causa. – concluir amargamente sentindo a culpa me dar um belo de tapa na cara. _Quantos desses demônios existem?

_Centenas, milhares, é difícil saber. – sentir algo afundar em mim.

_Não foi sua culpa, aquelas pessoas só estavam no lugar errado e na hora errada. – ele tentou me confortar.

_Obrigada, me sinto bem melhor agora. – respondi sarcástica. Ele ignorou minha arrogância desnecessária. Suspirei começando sentir a exaustão cair sobre meus ombros. _Então, você caça essas coisas e salva a mocinha no final? – Dean deu de ombros.

_Mais ou menos isso, exceto que geralmente as mocinhas agradecem no final. – só faltou ele dizer “se é que você me entende”. Minhas maças do rosto esquentaram ao lembrar que quase fiquei com esse louco com complexo de herói. Enviei comandos claros ao meu cérebro para não me deixar vermelha.

_Mas, isso deve ser horrível, quero dizer, viver desse jeito, arriscar a vida pela de outras pessoas e nem ser pagos por isso, eu sei que o que estou dizendo pode soar um pouco egoísta, mas... é loucura. – tentei entender o por que alguém optaria por viver daquele jeito.

_Vale o esforço quando no fim do dia você vê que a pessoa que salvou pode ter uma vida feliz e longe dos pesadelos que foram as nossas. – ele tinha o olhar complexo e carregado. Não sabia de quem ele se referia quando disse “nossas”, talvez pessoas que fazem esse mesmo tipo de trabalho. _ Agora que tal falarmos sobre o que aconteceu?

_Por isso estou aqui.

_Notou algo estranho ou incomum com você ultimamente? – perguntou, sua expressão assumindo rigidez. Ele ainda desconfiava de mim, isso estava claro.

_Você não confia em mim, não é? – a simples pretensão de um sorriso provocou dor na área do nariz. Imaginei como estaria parecendo, molhada com o nariz vermelho.

_São ossos do ofício. E tenho certeza que você também não confia em mim. – ele estava certo.

_Não. Eu não faço ideia do por que aqueles... demônios estarem atrás de mim, esperava que você me dissesse. – A palavra “demônios” soou estranha quando dita.

Realmente não fazia ideia do porque fui atacada, aquilo era meio absurdo até. Que interesse um demônio tinha em mim? Só de pensar subia um frio na espinha.

_Talvez eu não tenha rezado o suficiente. – Dean não respondeu a minha piadinha infame, apenas fez um maneio de cabeça quase imperceptível, um leve esboço de um sorriso brincava em seus lábios.

Nunca tinha sido muito religiosa e não acreditava que o ataque dos demônios tinha alguma coisa a ver com minha religião, ou falta dela.

O celular vibrou no meu bolso, o pesquei de dentro da calça molhada. A tela estava úmida embaçando o visor, mas podia ver de quem era à ligação, as letras diziam: Pai. Ignorei e voltei minha atenção para Dean. Provavelmente papai tinha voltado para casa mais cedo do que tinha imaginado.

O celular tocou de novo e continuou até que não dava apara ignorar. As coisas já estavam ruins, não queria que ficassem piores. Ainda morava no mesmo teto que ele, querendo ou não lhe devia explicações.

_Pai eu estou bem... O quê? – sua voz do outro lado da linha estava entrecortada ofegante. _Pai? Pai? está me ouvindo? Pai? – uma pancada forte. O telefone ficou mudo, esperei para ver se ouvia mais alguma coisa. Nenhum som veio.

Segundos antes ele disse as pressas para não voltar para casa. Aquilo me deixou preocupada.

_Problemas? – perguntou Dean.

_Qual são as chances daquelas coisas iriem atrás do meu pai. – pela cara de Dean eu não precisava de uma resposta. _O que eu faço agora? – perguntei deixando o medo me dominar perdendo o controle das batidas do meu coração.

_O mais seguro seria ficar aqui, vou colocar símbolos nas janelas e porta, tenho sal no porta malas, isso vai...

_Espera aí, o quê? Sal? Você vai lá matar o demônio enquanto eu fico aqui comendo pipoca? – ele bufou.

_Olha...

_Olha você. – o interrompi já beirando a histeria. _Não posso ficar aqui parada. Não confio em você, eu nem conheço você. Está tudo muito confuso agora. E fala sério, você me fala de demônios e fantasmas e depois me pede para ficar num motel com você – ri meio que para aliviar minha própria tensão.

_Olha quanto antes aceitar melhor vai ser para nós dois. Melhor vai ser para seu pai. – olhei para o quarto atrás dele e depois para ele. Alguma coisa nele me dizia para ficar longe que era problema, mas ele era minha única pista, precisava dele.

_Vou com você – decidi.

_É perigoso, você fica aqui.

_É meu pai e minha casa. Eu vou com você! – ele me fitou por uns momentos me avaliando e mesmo contrariado assentiu.

Não percebi que tremia até pegar as chaves do carro da loja e entregar a ele que recusou e disse que iriamos no seu carro - tinha um arsenal o porta malas-. Dean pegou a jaqueta na cabeceira da cama, colocou a arma no cós da calça e a faca no bolso da jaqueta, feito isso corremos para o estacionamento.

A chuva ainda caia forte fazendo um barulho abafado sob a lataria do Impala acompanhando as batidas fortes do meu coração.

O céu estava em fúria, o ruído alto dos trovões me pegava desprevenida provocando sustos, raios de alta intensidade cortava o céu. Era tudo como uma premonição do que me esperava, como se o céu tentasse me avisar para não ir em frente.

...

Dean dirigia a toda velocidade seguindo as instruções dadas por Isabel. Enquanto dirigia pensava no ataque no estacionamento do bar e logo depois o incêndio no outro bar onde Isabel havia estado só alguns instantes. Sabia que tinha algo muito errado acontecendo, era muito barulho por uma garota.

O pouco que investigara sobre Isabel encontrou uma noticia antiga, de um jornal local; um acidente de carro anos atrás no qual os mortos eram a mãe e o irmão caçula de Isabel. Encontrou também um histórico psiquiátrico de após o acidente. Parece que Isabel não era a Senhora sanidade.

Não pode evitar pensar em Sam, imaginou o que seu irmão estaria fazendo e onde estava.

A mágoa que sentia pelo irmão ainda estava muito presente, afinal esse foi um dos motivos dos irmãos se afastarem. Alguma coisa havia quebrado entre eles, e não seriam desculpas e arrependimentos que iriam concertar. Além isso Dean achava que seria melhor assim. Acreditava que tudo de ruim que acontecia era por que um era o calcanhar de Aquiles do outro, suas fraquezas.

Em parte se culpava por não conseguir impedir Sammy de matar Lilith. Se percebesse antes, se fosse mais paciente quem sabe poderia salva-lo. Mas não salvou.

O que podia fazer era deixar que seu irmão fosse e esperar que ele ficasse bem. Quem sabe se separados tinham alguma chance de mudar como as coisas geralmente terminavam para eles...

A pressão e a culpa pesavam em sua consciência. Tinha falhado ao romper o primeiro selo. Falhado com Sammy. Não podia falhar novamente. As palavras de Zacarias ainda ecoava em sua mente “Você é espada de Miguel”, “você é a casca”...

As estáticas no radio indicava que já havia começado. Terremotos, guerras, incêndios, uma tragédia atrás da outra. Isso lhe parecia só uma lasca da ponta do iceberg.

Bem vindo ao apocalipse.

Afastando esses pensamentos se concentrou em encontrar alguma razão para os demônios estarem atrás da garota e se havia algo sobrenatural no acidente de carro, não encontrou nada. Tinha cogitado a possibilidade de estarem atrás dele, mas esta não se sustentou.

Seja lá o quê querem com Isabel era importante, mataram 12 pessoas por causa disso e algo lhe dizia que não iriam parar. A conclusão era que coisa grande vinha por ai.

A menina amedrontada ao seu lado fitava o para brisa a sua frente, parecia inocente demais para ter qualquer coisa que pudesse interessar os demônios ou que a fizesse parecer de alguma forma suspeita. E Lúcifer era o anjo mais belo e devoto e olha só o que ele anda aprontando. Sua mente o lembrou. Dean fez questão de não ignorar.

...

Não esperei que Dean estacionasse por completo, soltei do carro e corri para porta ouvindo o pedido de Dean para eu esperar. Não foi preciso pegar a chave, a porta estava entre aberta.

Fui entrando devagar, meus pés pesavam 100 quilos agora. Quanto mais avançava mais nervosa ficava. Saindo do hall da entrada parei e contemplei aterrorizada o que temia encontrar.

Tudo estava revirado. Móveis fora de lugar; uma estante tombada cuspia os livros ao chão, a mesinha de centro fora empurrada para um canto da sala, objetos espalhados pelo chão e muita coisa quebrada. Sinais claros de uma luta e nenhum sinal de meu pai.

Mal tinha percebido Dean parado ao meu lado com a faca na mão antes de ele me dizer:

_Fique atrás de mim. – ignorei seu aviso e subi as escadas correndo.

_Pai! – gritei. Nada respondeu. Fui até meu quarto, era a primeira porta, nada lá e tudo estava na perfeita ordem. A segunda porta um quarto de hospedes, nada. Terceira, hesitei com a mão na maçaneta. Não entrava ali fazia anos e tinha certeza que meu pai também não.

Meus olhos embargaram e um nó se formou na minha garganta. Pisquei para clarear a visão e respirei fundo para me acalmar, tinha que entrar.

Antes de afirmar minha decisão parei de novo. Devagar retirei a mão pegajosa da maçaneta. Reprimir um grito quando vi a cor vermelha lambuzada na palma da minha mão. Olhei em volta e só agora reparei na trilha de pequenas gotas de sangue disfarçadas no piso escuro.

No começo do corredor Dean se movia a minha direção. Ele olhou para minha mão e depois para mim, não precisei explicar nada. Olhamos ao mesmo tempo para a porta branca com o nome Jamie moldado em madeira pintada com tinta azul pregada no topo da porta. Dean se adiantou, colocou a mão na maçaneta, seus olhos encontraram os meus. Era um pedido de permissão e um aviso para eu está preparada para o que encontrasse ali. Assenti, engolindo em seco o medo e a apreensão.

A porta se abriu e antes mesmo que pudesse registrar o que aconteceu Dean já estava dentro do quarto com a faca em punhos. Entrei logo em seguida e foi como passar por um portal ou coisa parecida.

Aquilo não era real. Meu pai numa cadeira, ou melhor, amarrado em uma cadeira, sua cabeça baixa contra o peito, os olhos fechados e sangue, muito sangue. Não podia ser real.

Os retalhos que fora sua camisa encharcada do liquido escuro. Seu rosto muito machucado praticamente irreconhecível. Não se via um pedaço de pele limpa.

Com um passo de cada vez cheguei mais perto e antes que pudesse ter controle sobre mim já estava ajoelha na poça de seu sangue.

_Pai, olha para mim. – Segurei seu rosto mole. Algo comprimia meu peito. _Pai? Pai? Por favor, acorda, por favor. – nenhuma reação a minha súplica.

Não tinha sentido as lágrimas molharem tanto meu rosto. Tateei as cordas que prendia seus pulsos achando o nó. Minhas mãos tremiam muito e elas foram logo substituídas por outras mãos. Dean conseguiu tirar o corpo da cadeira e estica-lo no tapete.

_Me perdoa, me perdoa... – apertei dois dedos em sua garganta tentando achar algum sinal de vida. Não senti absolutamente nada.

Olhai para Dean em pé atrás de mim, o véu de lágrimas em meus olhos me impedia de enxergar bem seu rosto.

_Sinto muito. – ele falou com pesar.

Voltei a olhar para meu pai, ou o que sobrou dele. As lágrimas se tornando soluços. Estava afundando em culpa. Meus dedos trêmulos tocaram com cuidado seu peito marcado com fendas escuras e fundas. Eu tinha que fazer alguma coisa, tinha que...

_Me desculpe. Eu... – a frase que tentava dizer morreu na minha garganta quando ele abriu olhos. Olhos negros como a noite.

Não consegui reagir a tempo. A mão já apertava minha garganta. E era tudo um caos.

Dean estava lá, a faca estendida, era só ele a levar para frente, e foi o que fez. Um segundo, só um segundo antes de a lâmina afundar no peito do demônio que possuía meu pai alguma coisa invisível aos meus olhos o jogou contra a parede do outro lado do quarto.

Vidro quebrou quando os portas retratos caíram da parede, a faca caiu e eu também caía. Não conseguia respirar. Apertei com força os punhos de ferro que bloqueava o ar de entrar em meus pulmões enquanto meu pai ria e falava numa voz estranha.

_Sentiu saudades do papai?

Nossos rostos estavam próximos o bastante para aqueles olhos negros me fazerem enojar e desejar que aquilo acabasse logo.

_Você não é meu pai. – minha voz saiu estrangulada, bem eu estava sendo estrangulada.

_Não, papai se foi há algum tempo e nossa como ele gritava. Não se preocupe, em breve você vai conhecer o meu pai. – o quê? _Sabe o que o seu papai pensava sobre você? Ele achava você uma aberração, desde que você nasceu ele sabia que não pertencia a ele. – oque ele tentava me dizer? Meu cérebro não tinha oxigênio o suficiente para eu pensar em qualquer coisa.

Algo vibrou dentro de mim a principio achei que eram os espasmos do meu corpo necessitando desesperadamente de ar, só que não era. Era outra coisa. Houve um momento em que o rosto do meu pai se contorceu em uma expressão estranha que julgava ser júbilo e depois confusão.

O demônio soltou meu pescoço tão rápido que era como se eu o tivesse machucado. Isso era impossível por que sabia que minhas unhas cravadas no seu ante braço não chegava nem perto de um incomodo para ele.

Caí para o lado, apertei a mão no pescoço dolorido como se para guiar o ar para o lugar certo. Eu parecia uma maquina confusa que implorava por ar e ao mesmo tempo tentava parar de chorar para facilitar o processo.

Vi Dean investir para cima do meu pai, seu corpo por cima do dele a mão de meu pai bloqueando a faca de perfura-lo. Dean se esforçava e tudo o que o demônio precisou fazer foi levantar o joelho e chutá-lo para longe. Dean se chocou contra as portas do pequeno armário com um estrondo quebrando a madeira atrás de si.

Com uma insistência e resistência que eu não tive, Dean levantou depressa, papai fez o mesmo. Dean tinha raiva, os olhos faiscando voraz enquanto se movia determinado de encontro a meu... o demônio, e ele só se divertia. O primeiro soco acertou seu rosto, tive a impressão que o demônio se deixou ser atingido para só então puxar Dean pela gola da jaqueta e empurra-lo contra parede.

Tudo ao meu redor se transformou em uma cacofonia dolorosa. Não era capaz de levantar ou parar de chorar. Engatinhei para um canto e apertei com força a palma da mão nos ouvidos.

Nada era possível bloquear o som do quarto do meu irmãozinho sendo destruído. Móveis e brinquedos que continham memorias felizes eram massacrados pelos dois homens lutando. O mais irônico era que meu pai tentava me matar enquanto um estranho tentava salvar minha vida.

Exatamente, ele tentava salvar minha vida. Deveria fazer alguma coisa para tentar ajudar e não ficar encolhida num canto chorando feito uma presa indefesa.

Decidir fazer alguma coisa bem na hora que o demônio tentava jogar Dean pela janela. Meus olhos varreram tudo que tinha a minha volta até encontrar a perna quebrada de uma cadeira.

Não me permitir pensar muito, peguei a madeira e caminhei até a janela decida do que deveria fazer. Ergui a madeira e deixei que a ponta farpada e perigosamente quebrada perfurasse as costas de meu pai.

Senti cada polegada da haste afundar no meu peito, ele não sentia a dor, eu sentia, e sentia tanto.

Ouvir o grito do meu pai cortava-me ao meu, e saber que era por minha causa me deixava em estilhaços.

Soltei o cabo e dei passos para trás quando ele se virava. Sua mão foi às costas e voltou com a perna da cadeira quebrada marcada com sangue.

Era isso, iria morrer. Sentia como se fosse. Antes disso minha mente permitiu que eu notasse uma presença nova, depois disso que eu visse os olhos negros de meu pai se tornar branco.

De onde eu só via escuridão agora via luz, dois faróis acesos. Da boca que liberava um grito de dor a mesma luminosidade. Era de ferir os olhos.

Não duraram muito tempo, as luzes apagaram e eu voltei a contemplar a escuridão. Dessa vez não eram os globos oculares negros, dessa vez eram cavidades. Dois buracos que emitiam linhas de fumaça.

O corpo do meu pai caiu. Morto e cego.

Como tudo se resumia a olhos, pares de olhos perfeitamente humanos e azuis cor do céu me fitava, um rosto completamente plácido e um casaco incomum.

Duas coisas. Primeira: eu fui tocada. Segunda: Eu fui obrigada a me deixar levar pela escuridão e me desligar de tudo.

...

_Castiel? – Dean ofegava enquanto se recuperava se aprumando para retomar o equilibrou depois de quase ser jogado pela janela. Ele assistiu quando Castiel matava o pai de Isabel e quando ele tocou sua testa e ela caiu inconsciente.

_O que está fazendo aqui? E como me achou? – a surpresa era clara na voz de Dean. Não estava surpreso pela aparição repentina - Castiel sempre fazia isso – mas sim pelo motivo da aparição repentina.

_Bobby me disse. – respondeu Castiel enigmático. _Vejo que eles já descobriram. – disse Castiel mais para si mesmo do que para Dean.

_Eles quem? Os demônios? – indagou Dean sem entender. Castiel apenas assentiu. _Cass, você não está sendo muito esclarecedor aqui. – completou irritado.

_Dean, esse era o pai dela? – Cass mantinha os olhos fixos na garota.

_O cara que você fritou? É, é o pai dela. Você sabe o que os demônios querem, não sabe? – quis saber.

_Coloque-a na cama. – sugeriu Castiel ignorando a pergunta. Dean esperou, notando que não conseguiria fácil sua resposta fez o que Castiel pediu. E também não era certo deixar Isabel no chão numa poça de sangue.

Dean a tomou no colo e a colocou gentilmente na cama um pouco pequena para ela. O sangue na roupa de Isabel sujou sua camisa e o colchão forrado com lençóis de temática infantil.

Castiel o acompanhava pensando no que poderia dizer a Dean. Não podia contar suas suspeitas sobre a garota, não que não confiasse em seu amigo humano, só não sabia ao certo que parte da história que conhecia poderia ser contada. Nada estava confirmado, eram apenas boatos, partes de lendas.

_Agora desembucha. – ordenou Dean.

_Dean, você precisa protegê-la.

_Como é que é?

_Eu ouvir dizer que estão atrás dela, o céu, o inferno. Parece que ela tem alguma coisa que interessam ambos os lados. – Castiel achou suficientes esses detalhes.

_Como assim? – Dean estava lutando para entender sem muito sucesso.

_Se um dos lados pega-la pode ser catastrófico. – Castiel soou sombrio. Dean tentava desenrolar os nós que formaram sua cabeça.

_Mas, por quê?

_Eu não sei – respondeu com certa amargura. _Eu fui expulso, Dean. Perdi parte dos meus poderes e eles não me dizem muita coisa. Só preciso que cuide dela por enquanto.

_Você quer que eu fique de babá, é isso? – Castiel foi até Isabel e tocou sua testa mais uma vez. A vermelhidão na área do nariz e pescoço sumiu assim como qualquer outro ferimento físico que estivesse. Feito isso entalhou símbolos enoquianos em sua costela, como tinha feito com Sam e Dean.

_O que você fez com ela? – perguntou Dean.

_Eu preciso ir.

_Não. Você não vai bater as asinhas e dar um fora daqui antes de me dizer o que... – tarde demais, Castiel já tinha ido. Dean ficou parado olhando para onde se encontrava Cass há poucos segundos. _ Droga!– exclamou. Odiava quando Castiel fazia aquilo.

Dean olhou o quartinho destruído. Era simplesmente cruel matar um homem no quarto de seu filho falecido.

Quando se mexeu sentiu algo estalar sob seus pés. Ele pisava em cima de um porta retrato quebrado. Na foto um menininho sorridente de cabelos castanhos e olhos acinzentados sorrindo e com o rosto colado a uma Isabel bem mais nova, porém os mesmos olhos grandes e azuis e os cachos escuros permaneciam tornando impossível não identificá-la.

O que faria agora?

...

Estava na minha cama. Senti a macies do travesseiro no rosto. Mesmo sem abri as pálpebras podia dizer que era noite. Sempre esquecia a cortina da janela aberta então quando a manhã chegava à luz do sol inundava o cômodo e a mudança de luminosidade era visível mesmo de olhos fechados.

Abri os olhos. A primeira coisa que notei foi que aquela cama e aquele quarto não eram meus. Estava escuro não fazia ideia de onde estava. O quarto era pequeno e abafado, as paredes eram forradas com um papel de parede creme velho e descascadas.

Apesar de não lembrar sabia que tinha estado ali antes, busquei na memoria algo familiar no quarto. Pensando nisso percebi que tinha poucas lembranças das horas anteriores.

Manchas marrons se espalhavam em vários pontos da minha camisa endurecendo o tecido. A calça tinha as mesmas manchas principalmente na área do joelho. Minhas mãos estavam tingidas com algo avermelhado. Levantei assustada, tateei a parede encontrando o interruptor do quarto o ligando.

Lutava para entender o que estava acontecendo, nada vinha à mente, as lembranças eram apenas borrões indecifráveis.

Alguém girou a maçaneta, recuei desligando a luz. Quando a porta foi aberta adentrou no cômodo alguém. Só conseguia discernir a forma de uma silhueta. A luz foi ligada, um homem entrou em foco. Aquele rosto com certeza era familiar, já o vira antes, a memoria que tinha dele envolvia um estacionamento. Seu nome era Michael. Não, não era esse seu nome. Dean, esse era seu nome.

_Ha, você acordou – disse a me ver._ Como está? – perguntou.

_Bem... Eu acho. – Dean me olhava com o cenho franzido.

_Isabel, lembra-se do que aconteceu? – perguntou se aproximando. No tom certa cautela. Abri a boca para responder, fechei em seguida. Era uma pergunta fácil, por que era tão difícil encontrar a resposta? É claro que eu lembrava. Do que? Não sabia dizer.

_Lembra-se do que houve com seu pai? – tentou novamente. Meu pai? Vasculhei a mente e tudo ainda estava meio nublado. Esforçando-me um pouquinho as coisas começaram a ficarem nítidas. O estacionamento, a luta, o quarto onde estava - estive ali antes onde Dean me contara sobre fantasmas e demônios - em seguida a porta de casa entreaberta, o quarto de Jamie. Meu pai...

A lembrança veio como um balde de água fria me fazendo acorda. As manchas na roupa eram sangue, não meu, do meu pai.

Como uma enxurrada as lembranças foram derramadas na minha mente. Lembrava-me de tudo agora. Cada detalhe carimbado na minha memoria que iria carregar para sempre comigo. E o mais incrível era que eu não sentia nada.

Absolutamente nada.

_Tudo bem? – perguntou Dean.

_Sim. – ele continuou me olhando preocupado.

_Então você se lembra de tudo?

_Lembro. – ele assentiu lentamente. _Quem era aquele homem? – me lembrava também de aparecer mais alguém naquele quarto.

_Aquele era Castiel.

_O que ele é?

_Um anjo. – ual, um anjo, só, ual.

_O que um anjo tem a ver com tudo isso?

_Quando tentei perguntar ele sumiu no ar.

_Esse Castiel, ele meio que salvou minha vida, ele é um anjo da guarda ou coisa assim? – Dean sorriu.

_Acredite, ele não faz o tipo. – era natural o jeito como Dean falava de Castiel. Ele o conheceria, é claro.

_Castiel é seu amigo?

_Digamos que passamos por muita coisa juntos. Ele fez muito por mim, mais do que deveria, então é, acho que posso chama-lo assim. – pelo seu olhar diria que as coisas que Castiel fez por ele ou o que eles passaram juntos não eram lembranças felizes ou das quais valeria a pena recordar como inicio de uma amizade.

_Há quanto tempo fiquei fora do ar? – perguntei sentindo meus músculos entorpecidos descansados. Dean verificou a hora no celular.

_Algumas horas. – balancei a cabeça.

_O que fez com o corpo? – minha voz variava entre usual e tons fracos.

_Nada, eu estava esperando você acordar e... bom, podemos dar a ele um enterro de caçador. – levantei uma sobrancelha interrogativa. _Fazemos uma grande fogueira e...

_Entendi. – era incomodo como Dean me olhava, ele não sentia pena de mim só tinha certa preocupação, alguma coisa para ele não parecia certo. Novidades parceiro, nada disso parece certo.

Sabia que ele não esperava uma versão de mim tão calma e pacifica após os acontecimentos das horas anteriores. Na verdade nem eu. Acho que só estava cansada.

_Entende que agora sua vida não vai ser como era antes. O único modo de sobreviver e não deixar que pessoas próximas a você se machuque e deixar tudo para trás. – concordei. _Venha comigo e podemos resolver isso juntos. Tenho algumas pessoas que pode nos ajudar. Vamos sair agora direto para sua casa pegar suas coisas. Sem despedidas de ex-colegas de escola, namorados, nada. E também sem paradas para lanchinhos para viagem. Tudo bem?

_Não tenho muitos amigos. Só existe uma pessoa que iria notar minha falta. – me lembrar dele provocou emoções que antes não estavam ali.

Dali em diante Dean arrumou suas coisas e fechou a conta no hotel. Estávamos a caminho do enterro do meu pai.

...

A casa onde eu cresci pela primeira vez parecia de outra pessoa. Era uma intrusa invadindo uma casa fria e mórbida. Dean arrastara meu pai para sala e o deixou descansar no sofá. O lençol que cobria seu corpo não impedia que o sangue ultrapassasse o tecido fino e fizesse uma estampa medonha.

Passei pela bagunça da sala e rumei para meu quarto. Meu antigo quarto. Quando notei o nó na garganta engoli em seco, estava indo bem, não podia fracassar agora. A melhor coisa a se fazer era trancar a carga de emoções num baú, jogar a chave fora e deixar a caixa bem no fundo mais remoto do meu ser.

Fazendo essa tarefa interna consegui arrumar minhas poucas coisas. Coloquei numa mochila e numa bolsa algumas roupas, pares de sapatos e uma nécessaire. O que julgava ser inútil ou desnecessário – como um vestido de festa ou o meu único par de saltos alto – deixei no mesmo lugar.

Bem lá fundo do armário o vestido preto que vesti no enterro da minha família. Peguei o vestido sentindo nos dedos o tecido maleável e empoeirado pelo tempo. Lembrava como se fosse ontem.

Na época estava sob “avaliação psicológica”, e havia insistido incessantemente em está presente no enterro, afirmei que aguentaria e que poderia mantar o controle.

Estava enganada, e para minha vergonha e humilhações tiveram de me arrastar para fora do enterro da minha família por que não fui forte o suficiente.

Desde aquele dia prometi a mim mesma que nunca perderia o controle daquele jeito, me manteria firme mesmo que estivesse destruída por dentro. Mantive a promessa durante seis anos e hoje não seria diferente.

Joguei o vestido de volta no armário no mesmo instante ouvi batidas na porta aberta.

_Quer ajuda?

_Por favor. – Dean pegou minhas bagagens e levou para porta.

_Dean. – ele se virou. _Posso tomar um banho pelo menos, me sinto imunda. - e de fato estava. Meu cabelo parecia um ninho de passarinho, as pontas cobertas com sangue seco. Minha roupa também estava suja e fedendo a sangue. Tudo em mim cheirava a sangue.

_Claro. Vou esperar lá embaixo, qualquer coisa é só gritar. – assenti.

No espelho do banheiro eu percebi que todos os meus arranhões, hematomas e cortes tinham magicamente desaparecidos. O anjo. Só poderia ser.

O banho não durou muito tempo. Foram dez minutos para me limpar e lavar o cabelo. Mais dez para me secar e colocar uma roupa limpa. Jeans e camisetas e botas são perfeitos se você está fugindo da sua cidade.

Minha cidade, quando foi que comecei a considerar Greeley minha cidade?

Assim que desci as escadas ouvir a voz de Dean vinda da cozinha.

Ele estava de costas para mim e no celular. Pensei em fazer algum barulho e anunciar minha chegada, mas o teor da conversa me fez parar na entrada da cozinha e ouvir.

_...É Bobby, foi o que acabei de dizer. Tire um pouco de pó desses livros e me diz se encontrar alguma coisa... Eu já disse. Cass não me disse nada... Tudo bem...Não, vamos deixar isso entre nós... e Bobby. – ele fez uma pausa e depois voltou a falar, a voz assumiu uma entonação amuada. _Sam, você deve saber, nós meio que decidimos dar um tempo um do outro... É Bobby, dessa vez não fui eu... Eu não... – como se se irritasse ele completou: _Só fica de olho por mim, ok? Qualquer coisa me mantenha informado – outra pausa – Qualquer coisa.

Dean desligou sem se despedir. Achei que era hora de me anunciar. Afastei-me e dei alguns passos fazendo barulho com os pés. Dean se virou o rosto anuviado. Alguma coisa no telefonema um pouco tenso.

Não em contendo decidi perguntar:

_Bobby também é caçador?

_Um dos melhores que conheço. Ele pode os ajudar com, você sabe, seu problema. – depois se corrigiu: _Nosso Problema. – isso era bom, não seria só eu e Dean.

Pensei e repensei e não impedi que a pergunta escapasse:

_E Sam, é sua ex? Ela é caçadora também? – coloquei as mãos nos bolsos e desviei o olhar desconfortável com minha própria intromissão. Dean riu.

_Sim, ele é caçador também. – ri sem jeito. _E meu irmão caçula. Às vezes ele pode ser tão chato quanto uma ex-namorada. – sorri, esperava na verdade que ele não respondesse tão gentilmente.

_Ele vai nos ajudar também? – disparei outra pergunta passei por ele e abrindo o armário em seguida afastado algumas latas de ervilha. Onde estava? ali, bem lá no fundo, atrás dos cereais estava garrafa de Uísque que papai achava que eu não sabia que ele escondia. E é claro que estava atrás dos cereais, odiava cereais.

_Não, digamos que no memento ele está numa rehab de toda essa porcaria demoníaca. – entendi que aquele era o fim das perguntas.

Tirei a rolha e dei um gole grande. O liquido desceu como lava pela garganta. Fiz uma careta e tossi um pouco tentando me adaptar com a sensação. Limpei as gostas que escaparam da boca com a palma da mão e oferecia a garrafa a Dean. Ele hesitou e depois tomou a garrafa da minha mão levando a boca. Sentou na cadeira atrás dele. Dei a volta no balcão e parei na entrada da cozinha. Ele girou na cadeira ficando de frente para mim.

Recostei no batente da porta que dava passagem para a sala. Observei Dean. As roupas gastas, a postura rígida e o olhar reflexivo e feroz, um típico caçador, só que com presas diferentes. Tinha também o jeito bad boy, não a versão que se vê em comédias românticas adolescentes, ele era realmente o bad boy, só que bem mais profundo e com muitas camadas. Esse cara é que iria me proteger e me ajudar.

_Vou levar o corpo para o carro, acharemos um lugar onde ninguém possa nos vê. – disse me devolvendo a garrafa.

_Isso não vai terminar bem não é. – não era uma pergunta e eu não me referia ao corpo do meu pai ou toda situação presente. Referia-me ao futuro.

_Não vai ser fácil. Mas você é uma garota durona, vai aguentar bem. – levei a garrafa de volta aos lábios. O segundo gole foi bem mais agradável.

_Acha que sou durona? – ele me olhou minuciosamente.

_Até três dias atrás você tinha uma vida normal, eu sei que não vivia o sonho americano ou morava numa casa com cercas brancas, uma família legal e um cachorro chamado Spakie, mas tinha sua normalidade. Aí você espiou por trás da cortina e soube o que não deveria saber. Os monstros que achava que tinha atrás do armário quando criança se tornou reais. E como se não bastasse você foi engolida por isso tudo. Muitas pessoas no seu lugar estariam enlouquecendo.

Só olhei para ele que sustentou o olhar. Não notei até ter consciência que um sorriso surgira no meu rosto. Fui a primeira a desviar o olhar e ir até a sala, os cômodos era perto o suficiente para Dean assistir o que iria fazer.

Chegando ao sofá levantei a garrafa de Uísque e virei de modo que o liquido escorresse e molhasse o lençol sujo com sangue. Voltei-me para Dean.

_Acha mesmo que não estou enlouquecendo? – ele saiu da cadeira e caminhou para sala. Espalhei o uísque pelo chão, molhei também as cortinas. Dean me impediu de jogar o que sobrou nos livros caídos.

_O que está fazendo? – sua mão presa em meu pulso desafiava o líquido da garrafa a cair ou continuar preso.

_Vou queimar a casa.

_Não precisa fazer isso. Quando tudo acabar você pode voltar, ou vender...

_Você mais do qualquer outro sabe que isso não vai acontecer, Dean, você disse que minha vida antiga não existe mais. Essa não é minha verdadeira casa, eu não tenho um lar e essa não é minha cidade. Quem eu era enquanto vivia aqui pelo visto não é quem eu realmente sou. – a mão que me segurava suavizou um pouco. _O motivo de eu não está me desmanchando em lágrimas é que eu já chorei muito e a maioria das vezes foi por ele. – olhei para o corpo coberto no sofá tenho ciência de que estava deixando as emoções escaparem. _Estou cansada de chorar por causa dele. Então eu quero que ele queime nessa casa onde eu vivi os meus piores infernos e ele nem se importou. Deixe que eu enterre meu passado, Dean.

Dean percebeu que aquilo ia muito além do que eu dissera a ele, era algo pessoal, algo que eu tinha fazer para me sentir melhor. Ele deslizou os dedos do meu pulso colocou a mão dentro da jaqueta e tirou de lá um isqueiro. Ofereceu-me o objeto, o peguei sentindo no frio do metal a oportunidade de finalmente me livrar das correntes que me prendiam a Greeley.

Dei uma última olhada na casa.

Estava sozinha agora, parecia errado pensar, mas me sentia mais livre do que nunca. Neste dia não queimaria um corpo e uma casa, queimaria também a garota que tinha sido. Estava finalmente pronta para cuidar da minha vida, pronta para ir embora mesmo que o destino parecesse incerto e extremamente perigoso. Não me importava. Estava apenas pronta.

Peguei do bolso a foto que tirei de Jamie com uma câmera analógica há oito anos. Adeus irmãozinho.

Deixei que a foto caísse e comtemplei a pequena chama laranja projetada do isqueiro.

Lancei o isqueiro a poucos metros a frente. O efeito foi instantâneo, pequenas labaredas se incitaram e correram lambendo as cortinas, chegando ao sofá envolvendo o corpo do meu pai como se ansiasse por ele.

Logo quase toda sala estava tomada por chamas. Era lindo ver que o fogo era capaz de transformar em cinzas toneladas de memorias. Algumas boas e outras muito ruins.

Dean pegou meu braço e me afastando do fogo para logo após a porta se fechar atrás de nós.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Deixem eu saber o que acharam. Até a próxima.

XOXO