Broken Girl escrita por Iris


Capítulo 2
Capítulo dois: Caminho de volta


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo feito com muito carinho. Espero que gostem : )



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/476289/chapter/2

Estava assustada demais até para me mexer ou ousar perguntar em voz alta o que estava acontecendo.

_Olha podemos fazer do jeito fácil, sem bagunça, você entrega a garota vai embora, e final feliz para todos. Mas se você quiser dificultar as coisas nós te mandamos de volta para o inferno e pegamos a garota. Final feliz para mim – explicou George como se fosse uma mera cláusula em um contrato. E onde está o meu final feliz?

_Você sabe que não sou de entregar fácil. Comigo é só depois do primeiro encontro... - George não esperou Michael terminar a frase o atacou com um soco, Michael não desviou a tempo, seu rosto foi atingido o fazendo cambalear um pouco. Logo que se recuperou ele atacou com a faca, a lâmina passou a centímetros do rosto de George, isso fez com que seu companheiro agisse e viesse para cima de mim.

Entrei em pânico, enquanto ele avançava eu recuava um passo, não conseguia me mexer o suficiente para correr, estava com os pés fincados no chão e incapaz de gritar ou até mesmo pensar em agir. Logo me vi encurralada imprensada no Impala fitando os globos totalmente pretos do homem que antes eram seus olhos comuns. Tentei processar da melhor forma possível o que fazer.

Michael lutava com George, ambos tinham golpes muito precisos, socos atingindo membros, joelhos contra ossos e a lâmina da faca cortando o ar. George desviou de mais uma investida com a faca e com uma rapidez e força impressionante conseguiu empurrar o peito Michael contra o para-brisa de um sedã. Ouvi o vidro estalar e rachar com o peso, a faca caiu tilintando e George a chutou para longe.

Antes mesmo que eu preocupasse com Michel, ou gritasse histericamente, a mão do homem de olhos pretos foi parar no meu cabelo. Com força ele puxou e me forçou a arrastar meus pés para sei lá onde. Tentava desesperadamente me livrar de suas mãos, arranhava, desferia golpes aleatórios e gritava.

Nada do que eu fazia parecia o abalar. Desferi mais golpes, chutes, socos, isso apenas o irritou e em consequência ao meu chilique fui empurrada com força para o chão. Uma onda de dor foi registrada em cada parte do meu corpo. Tentei me levantar, o que conseguir foi me arrastar alguns poucos centímetros.

Dali podia ver que Michael e George se engalfinhavam no chão a metros de mim. Claramente George tinha vantagem. O rosto de Michael estava manchado de sangue por toda a parte e George apenas um filete saindo do canto da boca. Assim que se livrou da gravata de George Michael caiu de joelhos no chão, os olhos varreram tudo a seu redor, a procura da faca provavelmente.

Meu corpo mole foi girado de modo que o meu agressor se colocasse em cima de mim. Minha cintura por entre as suas pernas, suas mãos gigantes apertando com força meus pulsos no chão. Debati-me, mas não tinha muitos movimentos.

_Calma, isso vai acabar logo, logo, é só você ser boazinha e eu prometo que não vai sofrer. – disse o homem em meu ouvido com uma voz sussurrada e calma, levei alguns segundos para reparar em sua aparência e notar que ele tinha um rosto duro com definições fortes, o cabelo era cortado rente, os olhos... Podia sentir sua respiração na minha nuca.

Meu coração batia feito louco contra meus pulmões. Não sabia o que estava acontecendo e nem o que aconteceria, a única coisa da qual tive certeza naquele momento era de que queria sair dali o mais rápido possível.

No ímpeto de me defender mordi com força a orelha do segurança. Sentir um gosto forte e metálico do seu sangue. O homem berrou, soltou meu pulso cerrando o punho desferindo um soco em meu rosto.

A dor foi atordoante. Senti-me zonza e fraca, quase perdi os sentidos. Não sabia se meu nariz tinha quebrado. A sensação foi de que meu rosto tinha sido atingido por uma frigideira. Sangue quente escorreu do meu nariz dificultando a entrada de ar, suguei o que conseguir de ar pela boca sentindo o sangue do homem e o meu sangue se engolfar na língua e descer pela garganta. Virei o rosto e cuspi a baba vermelha.

Avistei algo a poucos metros, um pedaço do que parecia ser um vergalhão grosso. Talvez se me concentra-se o máximo para não desmaiar e fosse rápida conseguiria alcançar o ferro a tempo de ele perceber o que pretendia fazer.

Enquanto o homem examinava a orelha estiquei o braço bem devagar, mordi o lábio para não grunhir de dor. Consegui alcançar o vergalhão, não perdi tempo enterrei com força à arma improvisada na lateral da sua barriga, ele berrou mais uma vez, o sangue quente jorrou em minha mão. Seu corpo pesado se curvou em cima do meu, com dificuldade o empurrei para longe. Levantei o mais rápido que pude e corri para onde Michael estava.

Parei sem saber ao certo o que fazer. George apertava com seu antebraço o pescoço de Michael em cima do para-brisa quebrado, Michael tentava se desvencilhar do aperto e ao mesmo tempo sua mão tateava o bolso da calça de lá retirou algo brilhante. Seus olhos encontraram o meu e ele jogou em minha direção o objeto que quicou no chão aos meus pés com um barulho metálico. Era um chaveiro com uma chave.

_A mala... O carro... – Michael conseguiu dizer.

O Impala estava estacionado bem ao meu lado. Interpretando o que Michael quis dizer coloquei a chave na fechadura do porta malas e o abri. Fui surpreendida pela quantidade de coisas que tinha nele, coisas não, armas, facas, símbolos estranhos desenhados e até mesmo um terço tinha ali dentre outras bugigangas que não consegui identificar. Agente federal uma ova.

Peguei o que era familiar, um rifle. Meio perdida mirei a arma para Michael e George, engatilhei a arma e ela estalou alto. Minha mão tremia muito não conseguia focar o alvo, e nem tinha certeza qual era. Tentando me manter firme, atirei na direção de George, errei o tiro, a janela do carro se espatifou em milhões de cacos. Isso atraiu a atenção de George, Michael aproveitou a distração para se livrar de seu oponente e o acerta com um belo soco.

George caiu, mas ele era rápido, se levantou de pressa e colocou a mão no bolso da jaqueta, para minha surpresa e a de Michael ele sacou uma arma, mirei a arma de novo para ele que sorriu.

_Você pensa que vai se livrar dessa assim tão fácil Winchester – de novo aquele nome._ Não vai conseguir proteger a vadiazinha aí por muito tempo – ele claramente se referia a mim. Meu Deus do que ele estava falando?

_Quem te mandou aqui? – perguntou Michael/Winchester, não sabia mais.

_Você vai saber– George sorriu abertamente._ Mas é claro, não vai está vivo quando descobrir. – ele apontou à arma para Michael, segurei a minha com firmeza. Não tremia, o alvo estava na mira era só atirar. Sabia fazer aquilo, a diferença era que da última vez que atirei o alvo estava parado e não era uma pessoa.

Sem mais delongas disparei, senti o coice da arma no ombro dolorido. A bala atingiu o coração de George, ele caiu ajoelhado, a camisa ensopando de sangue e então ele riu. Como ele ainda conseguia rir?

Um gelo me subiu a espinha, não fazia ideia de como aquilo tudo era possível, meu cérebro estava entrando em curto. Michael não esperou George levantar encontrou sua faca e a afundou onde a marca do tiro era visível.

_Manda lembranças ao seu chefe seu desgraçado. – sussurrou Michael. Algo dentro de George acendeu, uma luz amarelada junto a um chiado, a luz piscou varias vezes e se apagou. Foi como se ele estivesse tendo um curto circuito interno. O corpo caiu inerte.

Michael se virou para mim com a testa franzida. Estávamos a alguns metros um do outro. Deixei a arma cair e fui a sua direção, meu caminho foi bloqueado. O homem que me atacara poucos instantes estava parado a minha frente, cambaleei um pouco para trás me preparando para correr, só não sabia se conseguiria. O rosto do homem mudou, seus olhos se arregalaram a boca aberta num grito silencioso. Estava acontecendo à mesma coisa que aconteceu a George, a luz se acendeu, piscou e apagou, o corpo caiu revelando Michael com a faca pingando sangue.

Encaramo-nos igualmente confusos.

Ambos recuperávamos o fôlego. Meu coração ainda martelava forte. Com a adrenalina dando lugar a medo á dor veio com tudo. Meu corpo inteiro doía. Meu nariz felizmente parou de sangrar. Na boca o gosto de sangue. Não queria nem ver meu estado.

_Não me diz que você aprendeu a atirar daquele jeito nos escoteiros. – comentou Michael/Winchester, limpando a faca na camisa do homem morto aos meus pés.

_Meu pai, ele, ele, me ensinou algumas coisinhas. – gaguejei, era verdade. Papai costumava caçar com os amigos antes do acidente.

Aos 14 anos observei ele limpar cada peça de um rifle na garagem de casa. Notando meu interesse ele explicou onde se encachava cada peça, como funcionava, e o estrago que fazia. Isso ele deixou bem claro. No mês seguinte fomos, (escondido da mamãe claro), a um bosque afastado da cidade, praticamos tiros – com balas de paintball – em árvores e latinhas. Ele ficou empolgado com minha mira e precisão. Foi um dia inteiro com o papai só para mim. A única lembrança feliz que compartilhávamos.

Pensava no que ele diria agora. Ficaria orgulhoso por eu ter acertado o coração de um homem?

_Eles estão... Você... – minha mente girava como se tivesse sido posta dentro de uma maquina de lavar. Não encontrava as palavras certas. As perguntas não tinham lógicas ou sentido algum.

_Na verdade você que me deve algumas explicações. – disse Michael/Winchester. Seu rosto se transformando em uma expressão severa.

_O quê? – a única coisa que conseguia dizer.

_Esses demônios você conhecia eles? Quem é você? – As perguntas foram disparadas num tom frio acusatório. Demônios? Ele disse demônios?

_Não eu... Eu não sei do que você está... – não terminei a frase, Michael/Winchester puxou meu braço e fez um pequeno corte com a faca.

_O que você... Qual é o seu problema? Você é louco! – esbravejei com raiva.

_Apenas checando. – respondeu com tranquilidade. Virei-me para ir embora, queria sair dali o mais rápido possível aquilo ia muito além de loucura. A dor física me lembrava que não era um pesadelo.

_Espera, ainda não terminei com você – gritou Michael/Winchester. Peguei minha jaqueta em cima do Impala, andei o mais rápido possível sem olhar para trás. Ele foi atrás. Pegou meu braço de novo e me obrigou a encara-lo. Seu aperto mais forte.

_O que você quer de mim? Vai tentar me matar também? – Ele soltou meu braço.

_Desculpa, mas você não está parecendo muito convincente. Aquele demônio foi bem especifico quando falou de você.

_Na verdade vocês dois pareciam ser bem amiguinhos. – falei irritada. Minha cabeça explodia.

_Não seja estúpida.

_Vai para o inferno!

_Eu já fui. – ele não parecia está brincando.

_E afinal, qual é o seu nome verdadeiro?

_Dean Winchester. Agora sua vez. Por que eles estavam atrás de você?

_Eu não sei – disse num tom firme. Ele virou o rosto para o lado, sua expressão suavizando. _ Eu só quero sair daqui. – meu tom dessa vez saiu um pouco tremulo. Dean não disse nada. Apenas voltou a olhar para mim me analisando. _E ficar o mais longe possível de você. – acrescentei recobrando o tom de voz firme.

_Me desculpe, mas não posso deixa-la ir agora, seria mais seguro ficar comigo. – ficar com ele? E se ele fosse uma daquelas coisas de olhos pretos, e se ele estivesse me enganado a noite inteira para me levar para sei lá onde, e o único motivo de ter me salvado fosse para eliminar a concorrência? Afinal eles tinham falado em um chefe. Isso era ainda pior do que ele ser um tarado do bosque.

Com toda minha força e desespero fechei o punho impulsionei o braço para trás e o levei com força a seu rosto. Minha mão parecia ter atingido uma parede, provavelmente deve ter doído mais em mim do que nele. O resultado foi satisfatório atingir sua mandíbula, sua cabeça foi para trás com o impacto. Tinha uma chance apenas, usei sua surpresa para me virar e corre o mais rápido possível.

Entrei em ruas, passei por pessoas, carros, ouvir buzinas e reclamações atrás de mim quando esbarrava em alguém, então senti uma onda de alivio por ele não ter me seguido.

...

Caminhava fazia há algum tempo. A rua deserta. Estava mais calma, porém ainda pensava no que iria fazer a parti dali. Iria a policia e diria o quê? Que fui atacada por dois homens com olhos totalmente pretos? Que atirei em um deles no coração e ele riu? Ou que quando morreu luzes acenderam dentro dele? Não, não podia fazer isso, o máximo que conseguiria seria uma camisa de força. Isso me fez lembrar o que diria a meu pai quando chegasse em casa.

Avistei um bar a beira da estrada. Fiquei a alguns metros de distância, decidindo se entraria ou não. Se entrasse poderia me limpar pelos um pouco para poder pegar um taxi para casa, mas o que me preocupava era o tipo de gente que estaria ali dentro. Decidi entrar.

Assim que abri a porta fui atingida por uma fumaça de tabaco, cheiro de cerveja e hambúrguer. O lugar era bem simples, estava mais para boteco. Uma musica country soava baixo. Todos os presentes de imediato olharam para mim, eram poucos. Todos homens. Conseguir identificar uma mulher, a garçonete com o cabelo e vestimentas masculinas. A bandeja que segurava foi ao chão quando notou minha presença, batata frita se espalhou aos seus pés e de alguns demais que estavam pertos, uma garrafa cerveja quebrou deixando uma massa nojenta de batata escaldada com cerveja barata no chão já imundo. A bandeja girou pelo salão e parou no pé de um homem com uma cara nada amigável.

Depois do estrondo o silêncio tomou o lugar, até a música parou. Não sabia o que fazer. Apenas fiquei parada olhando para as expressões assustadas e alarmadas que me encaravam. Alguém saiu de uma porta nos fundos. Um homem baixo, sua barriga saliente fazia volume sobre o avental que talvez já houvesse sido branco algum dia. Seus olhos eram esbugalhados e o nariz grande, seu rosto não tinha proporções. Os cabelos achatados por uma touca de redinha.

_Meu Deus! – exclamou a me ver. Ele se aproximou. _Julia, corre aqui filha – gritou atrás de si.

_Meu pai do céu. Menina você está bem? – perguntou a mim.

_Sim estou, só, por favor, eu posso usar o banheiro? Juro que vou embora em seguida – pedi depressa demais, o homem pareceu confuso. Uma garota morena apareceu na porta de onde o homem saiu. Ela olhou assustada para mim e se aproximou. Julia parecia ter uns 16 ou 17 anos.

_Você quer que eu ligue para policia? Ou para alguém? – a preocupação do homem parecia genuína. Julia olhava curiosa assim como todos no bar.

_Não, não ligue para policia eu só quero usar o banheiro – disse com urgência na voz. Depois de um tempo o homem assentiu.

_Claro, claro, Por aqui – indicou o caminho para a porta nos fundos. _Julia vá pegar umas toalhas. – deu as instruções para a menina.

Entrei pela porta, que se revelou uma espesse de despensa. Engradados de bebidas se amontoavam em toda parte, na direita um corredor escuro, Julia sumiu por ele.

_O banheiro fica no final desse corredor – disse o homem apontando. _Você tem certeza que não quer que eu ligue para policia?

_Tenho, obrigada. – entrei no corredor e uma porta entrou em foco.

O banheiro era mal cheiroso e só contava com uma luz fraca. Acima da pia um espelho sujo e rachado, um sanitário e só.

Esfreguei as mãos na agua corrente, o sangue depois de seco demorava a sair. Alguém bateu a porta. Julia me entregou uma toalha de rosto, agradeci fechando novamente a porta. Umedeci a toalha e encostei de leve no nariz. A dor foi quase insuportável, lágrimas brotaram em meus olhos, tive que me segurar para não as deixar escaparem. Limpei o rosto com delicadeza para não provocar mais dor. Fiz o que podia para limpar os arranhões na perna, na têmpora esquerda e as manchas de sangue no sapato e vestido. Recoloquei a jaqueta e me preparei para sair.

O homem e Julia me aguardavam. Tentei sorrir para eles.

_Muito obrigada, agora eu preciso ir. E por favor, não chamem a policia. – não esperei por eles, disparei por onde entrei. Entrando novamente no salão sentir todos os meus passos sendo observados.

...

Depois de andar um pouco finalmente encontrei um ponto de taxi. E finalmente estava em casa. Não tinha preparado nenhuma desculpa para meu pai, sabia que passava da uma da manhã e era provável ele estar acordado me esperando. O jeito era entrar, e se ele percebesse algo, o que seria obvio, diria que levei um tombo. Não era nada convincente, mas era melhor que a verdade.

Respirei fundo, tirei os coturnos e peguei minha chave. Entrei devagar fazendo o mínimo de barulho. Escutei a televisão ligada na sala. Papai se encontrava esparramado no sofá. Estava dormindo, os óculos descansando na ponta do nariz, o controle na mão. Passei por ele nas pontas dos pés, subi os degraus da escada, dois de cada vez, estava quase no topo quando...

_Filha é você? – tropecei nos degraus quase caindo escada abaixo com o susto. A luz foi ligada, não tinha saída, tive que encarar. Virei. Ele arregalou os olhos recolocando os óculos.

_O que foi que aconteceu com você? – perguntou alarmado.

_Eu caí. – minha desculpa parecia bem melhor na minha cabeça.

_Você caiu? Venha me deixa ver isso. – me aproximei hesitante, fechei mais a jaqueta para ele não perceber o sangue no vestido. Ele pegou meu rosto examinando.

_Meu Deus, como assim você simplesmente caiu? – como previr ele não engoliu essa.

_Foi isso, eu tropecei e caí não se preocupe estou bem. – disse com certa irritação que não pude conter.

_Eu sei que você estar mentindo. Vamos Isabel me conta o que houve? – suspirei. Estava queimando meus neurônios para conseguir encontrar uma desculpa decente e convincente.

_Eu me meti em uma briga. – o máximo que conseguir.

_Você o quê?

_Eu estava no bar, ai uma mulher começou a dar em cima do cara que estava comigo nós nos desentendemos e ela me bateu. Foi isso, satisfeito? – não fazia ideia de onde tirei aquilo, mas era melhor passar por louca ciumenta a ter que dizer o que nem a menos tinha entendido.

_Uma briga? – ele arqueou uma sobrancelha, incrédulo.

_É uma briga, posso subir? Estou com um pouco de dor de cabeça. – ele olhava para mim com uma expressão estranha.

_Isabel acha mesmo que eu vou cair nessa? Vamos me diz à verdade o que aconteceu? Quem fez isso com você? – sua vez beirava a preocupação extrema.

_Foi isso pai. Eu só...

_ Foi aquele garoto que você foi encontrar não foi? Eu vou ligar para polícia.

_Pai não. – segurei seu braço o impedindo de pegar o telefone.

_Isabel, olha o seu estado. Onde está Adam? Ele viu o que aconteceu?

_Pai, por favor, eu falei a verdade, eu tinha bebido um pouco. Pessoas fazem coisas inconsequentes quando bebem, e ela era mais forte que eu, então claro por isso estou assim, não se preocupe o segurança cuidou dela. – ele ainda me encarava com a testa franzida. Já não tinha mais o que dizer para convencê-lo. _Não é tão ruim quanto parece, nem tá doendo. – tentei sorrir. Essa provavelmente era a maior mentira que já contei na vida. Estava doendo e muito, mas ele não precisava saber disso. Sabia que não estava convencido. Mas o que podia fazer? Já que contar a verdade não era uma opção.

_Vamos ao hospital... – acabei rindo friamente da sua preocupação. _O que é tão engraçado?

_Você. Por que se importa agora? Está tentando compensar os vinte anos perdidos ou quer ganhar como pai do ano? – deixei escapar, não queria feri-lo, muito menos ter de olhar aquela expressão magoada e envergonhada. Estava descontando toda a minha frustração e raiva nele.

_Isabel, por favor, eu só estou preocupado com você, eu sou seu...

_O quê? Você é meu pai, ok, certo. Você nunca agiu como tal, não pode mudar o passado. Eu não consigo fazer isso... – respirei fundo estava tentando manter o autocontrole.

_Eu sei que é difícil, mas temos que tentar, somos uma família. – seu tom era controlado e paciente, eu estava preste a explodir.

_Minha mãe morreu, o Jamie também, e você passou todo esse tempo me culpando por causa disso, é isso que chama de família? – lágrimas de raiva rolaram no meu rosto. _Nossa família estava morta muito antes daquele acidente, Meu Deus, eu não entendo como a mamãe pode ter sido tão cega a ponto de não enxergar que você não amava a própria família, quando o Jamie nasceu era tudo fingimento, não é?

_Não diga isso, eu amei, eu amo vocês, Isabel você é tudo o que eu tenho.

_Então é isso, você não quer morrer sozinho abraçado a uma garrafa de uísque. – o impacto das minhas palavras fez tudo cair num silêncio absoluto. Minha voz enfurecida e fria ressoou pela casa vazia.

Meu corpo doía. A raiva e ressentimento me consumiam. Não queria me descontrolar de tal maneira. Não queria dizer aquelas coisas. Não queria ter de olhar para rosto triste daquele homem que era meu pai. Não queria nunca ter saído de casa naquela noite. Não queria ter conhecido Dean Winchester. Não queria me sentir extremamente culpada.

_Suba e vá descansar. Amanhã cedo nós vamos ao hospital e você vai me contar o que houve – sua voz transparecendo completamente que o havia ferido e magoado. Ia me desculpar, mas não conseguir pronunciar as palavras certas. Mantive-me na minha linha de defesa entorpecida demais para poder ultrapassa-la. _Ai eu decido o que fazer. – completou pensativo.

Subi depressa. Encostei-me a porta do quarto sentindo uma onda de alívio. Completamente abismada com meu descontrole. Como pude fazer aquilo, feri-lo daquela maneira. Que espécie de filha eu era?

...

Assim como dito papai me levou ao hospital, não comentou a conversa da noite anterior, só falou o necessário, agiu como se nada tivesse acontecido. Não tinha me perdoado sabia disso, e eu também não conseguir pedir por seu perdão, algo mais forte me impedia. Orgulho? Talvez. Tomei o cuidado de ir com uma roupa que cobrisse os hematomas que tinha espalhado pelo corpo. Voltei para casa com uma espécie de bandage no dorso do nariz.

Não tinha dormido nada na noite anterior. Além da dor incessante, as perguntas rodopiavam como furacão na minha cabeça deixando tudo bagunçado e destorcido, desafiando minha sanidade. Tinha que encontrar as respostas e a única pessoa que as tinha era Dean Winchester. Assim que recuperasse minha força iria caçar aquele desgraçado e exigir que me contasse tudo o que tinha acontecido.

Era dois da manhã e eu não tinha dormindo ainda então comecei a trabalhar antes que deixasse minha mente sobrecarregada me deixar louca.

Pelo visto não conseguiria trabalhar. Digitei depressa o site do jornal da cidade, ignorei os anúncios dos estabelecendo (inclusive tinha uma foto do meu pai sorridente em frente a sua loja em um dos anúncios), noticias sobre esporte e as novas da capital. Finalmente achei a manchete que procurava e ao mesmo tempo não queria ler.

Dois corpos haviam sido encontrados numa bacia de lixo próximo ao bar Yellow Submarine - Não precisava ser nenhum Sherlock Holmes para adivinha que os mortos em questão eram os caras de olhos pretos - Tinha pequena declaração da policia e nenhuma menção ao agente federal Michael Cooper.

Com suspiro me preparei para fecha a pagina quando lá no final do link algo pescou minha atenção.

“Um incêndio em um pequeno bar na estrada Hilton mata doze pessoas”.

Não precisou de mais nada para eu fechar o notebook com estalo e senti o sangue congelar nas veias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso, Deixem reviews, me digam o que acharam. Até o próximo capítulo.

XOXO