Broken Girl escrita por Iris


Capítulo 15
Capítulo quinze: Há uma Luz que Nunca se Apaga.


Notas iniciais do capítulo

Hii, como estão? Bem aqui vai mais capítulo gigantesco, juro que não pretendia fazê-lo assim, mas sempre me empolgo um pouco hahaha O capítulo tem base no episodio 5x16.

Espero que gostem!

Enjoy^^



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Por um momento fiquei congelada no lugar esperando por alguma coisa, talvez que eu acordasse no meio da madrugada com Dean, e Sam perfeitamente seguro no quarto ao lado. Era assim que eu queria que acontecesse, mas não aconteceu. As pessoas passaram por mim até que restou apenas eu, Dean, Sam no chão, Jhonny, Antony e mais quatro homens que fugiam completamente do meu conhecimento.

Um deles notou minha imobilidade e antes que um pensamento de tentar reagir passasse por minha cabeça me deixei ser arrastada para o centro do semi círculo com Dean no extremo ao lado de Sam. Tinha tanto sangue em sua camisa, por que ele não se mexia?

_Cara, o que você fez? Não era para ter atirado nele assim... – falou um deles.

Não sabia qual e nem ligava. Estava no mínimo a dizer chocada, o que me segurava era Antony, sabia por conta da voz rançosa no meu ouvido.

_É bom vê-la de novo, docinho. – sussurrou no meu ouvido e eu quis apertar sua garganta até expulsar qualquer resquício de ar dos seus pulmões.

Essa raiva me ajudava a não pensar em Sam, e morte, e Dean. O sangue fervilhava nas minhas veias.

_Solta ela Antony, ela não vai a lugar nenhum. – disse Jhonny. Devagar a pressão que os dedos de Antony fazia nos meus braços foi diminuindo até que ele me soltou. A maioria me encarava como se esperasse que eu fizesse alguma coisa.

_Ela parece só uma garota para mim. – disso o da ponta.

_É ela parece, mas essa garota matou minha filha e quase me matou. Essa garota e os Winchesters tiraram tudo o que eu tinha na vida. Eu nunca vou esquecer da visão da minha filha embaixo dessa criatura enquanto ainda respirava, essa garotinha enfiou um caco de vidro no coração dela. – tinha tanta dor nas suas palavras que eu as sentia perfurando em mim de um jeito que quase me fez ter compaixão por ele. Jhonny estava com o rosto cansado, a barba cinzenta por fazer, a parte abaixo dos olhos como duas meias luas escuras e a expressão não exibia nenhuma satisfação por conseguir sua vingança. Ele parecia exausto e decadente, como um homem morto que de repente voltou a vida e percebeu que deveria ter continuado em seu leito.

Não conseguia suportar olhar para ele diretamente e reviver todo aquele pesadelo naquela maldita cidade. Meus olhos se encheram de lagrimas, não por ele, por toda a situação, por Dean e Sam e por mim. Por que tirei uma vida e nem sequer chorei por isso. Tudo aconteceu tão rápido, tive que me forçar a esquecer e passei a minha dor por uma perda por cima da real dor que era saber que minhas mãos tinham tirado uma vida inocente.

_Eu sinto... – ouviu-se um estalo, como um tiro, mas baixo, e só sentir meu corpo vertiginar e cair com o impacto da mão pesada de Jhonny no meu rosto. O chão duro e sujo castigando meus ossos e a ardência e calor começando a se espalhar pelo rosto.

Houve um movimento do outro lado da sala, Dean se levantou e tentou me alcançar, mas as armas que apontavam para ele e para mim impediu que seus pés fizessem o percurso. Me virei para encarar Jhonny, de baixo como uma mera criada que deve se portar com insignificância perante aos seus patrões. Apesar da raiva derramada em cada parte minha não sentia ela me ajudar a tentar levantar, a tentar descobrir uma forma de mudar o quadro. Então continuei no chão esperando o próximo passo, e dessa vez foi Dean que falou.

_Como está vivo? – perguntou, apesar da voz firme e grave, que é uma das suas características, se manter só eu consigo ver nos seus olhos, naqueles olhos desesperadamente verdes, o quanto ele temia e o quanto ele estava sofrendo por Sam e por mim. E Sam... por favor mexa esse peito, abra os olhos, diga alguma coisa... _Estava morto quando...

_Estava quase morto, por algum motivo, alguma força maior que a minha achou melhor que eu vivesse. – respondeu Jhonny tirando os olhos de mim.

_E você, eu deveria ter matado quando tive chance. – Dean olhava com ódio e desprezo para Antony que sorriu satisfeito em ver a reação em Dean.

_Como a vida dá voltas, não é? – dessa vez Dean não respondeu a ele.

_E vocês, eu vejo que são caçadores, eles eu entendo mas qual o motivo de vocês?

_O Apocalipse é nosso motivo. Ouvimos por aí que seu irmãozinho, aliás meus pêsames, foi que nos atirou na fornalha. Ninguém pode ferrar com o nosso planeta e continuar andando por aí como se fosse o maldito soldado Ryan. – disse um deles com raiva e com a conotação de que o que acabara de falar fora a mais pura das verdades, que o que acabaram de fazer fosse a coisa mais certa a se fazer.

_Não é assim que resolvemos as coisas, atirando nas pessoas sem nem lhe dar a chance de se explicar...

_Não tem o que explicar! – rosnou Antony. _Eu vi com meu próprio olhos o que aqueles demônios fizeram, foi tudo por causa do seu irmãozinho. Pessoas, nossos vizinhos, amigos e famílias morreram por que seu irmão fez a escolha errada. – ele agora elevou o tom de voz, como se discursasse algo motivador para soldados preste a entrar na guerra. _Todos aqui são pessoas decentes, ninguém aqui merece o que foi feito a eles, nós podemos lutar, podemos morrer caindo de pau nesses desgraçados de olhos pretos, mas e as outras pessoas? As que nem sabe o que estão enfrentando, em Dean? Como fica essas pessoas? E como ficam as pessoas que as amam e que as perdem por está no meio do fogo cruzado que vocês armam toda vez que passam por alguma cidade? Você fala em salvar vidas mas não para e pensa em quantos foram desperdiçadas só para você salvar sua vadiazinha e o monstro do seu irmão. Então não vem dá uma de superior para cima da gente.

Todos se calaram e Dean, por mais que talvez passasse imperceptível, tremeu um pouco olhar que dirigia ao o outro caçador, e eu odiei Antony ainda mais por causa disso.

_Não tem nada a esconder meus amigos, podem mostrar o seus rostos para que ele veja quantas vidas de conhecidos ele desgraçou. – os comparsas hesitaram um pouco, mais um por um foram tirando as máscaras e revelando rostos desesperançosos. Vi no olhar de Dean a surpresa, confusão depois raiva. Ele conhecia aqueles homens.

_É bom saber que ainda posso contar com vocês. – disse friamente. Dois deles abaixaram o olhar como se estivessem finalmente tomando consciência da grave situação e não quisessem ficar ali. Os outros permaneceram firmes quando Dean passou o olhar por cada um deles.

A tensão era tão pesada que pareciam ser exalada na respiração de cada um. Aproveitei o momento em que discutiam e me arrastei para perto de Sam. Minha mãos pararam no ar enquanto eu tentava provocar nele algum estimulo de vida. Com dedos trêmulos os pressionei no seu pescoço. Nada, não tinha nada, nem um fraco batimento.

_Sam... – chamei baixinho para que ninguém ouvisse, mas estavam envolvidos tanto em mostrar quem era pior que o outro que nem me notaram. _Sam, por favor, abra os olhos... – minha garganta começava a apertar enquanto tentava segurar o máximo o choro.

Naquele momento sofrível foi que conseguir sentir o quanto ele significava para mim. Nos conhecíamos a tão pouco tempo e mesmo assim eu sentia que se ele não acordasse iria sentir falta da sua presença perto da minha, sua generosidade e compaixão, nossas conversas leves e descompromissada, o toque leve de seus dedos roçando minha orelha, ou modo como sorriu para mim horas antes na mesmo lugar. Era tão terno, tão doce que nenhum passado sombrio ia apagar essa impressão que tinha dele. Sentia todo o ele como um algo que foi crescendo aos pouquinhos e quando dei por mim já estava marcado em mim, ocupando um espaço especial e reservado no peito.

Ele se fora a poucos minutos e eu já sentia uma dor tão profunda que não conseguia explicar nem se quisesse. Aquilo não estava certo, não estava...

Um puxão no meu cabelo e eu já estava longe de Sam, sendo arrastada para perto de alguém com grosseria, ele pegou meu braço e me forçou a ficar de pé. A ponta de uma lâmina, fria e mortalmente afiada foi encostada na minha garganta. Antony sorria feito um louco na minha nuca.

_Vamos vê como o machão se comporta se fizermos o que fizeram com nossa gente no bichinho de estimação dele. – senti os lábios molhados dele roçarem meu pescoço e faca fincar mais forte na minha pele. Dean já avançava, mas com um movimento de cabeça os dois homens atrás dele o contiveram. Seus olhos não saiam dos meus, ao mesmo tempo em que me davam força me quebravam por dentro. O ódio contido nele e o medo me fizeram querer preservar ainda mais minha vida, não por mim, por ele. Deixei que Antony distribuísse beijos na minha clavícula. _Se der mais um passo, eu enterro a essa faca no pescoço dela e aí veremos quem é mais rápido.

_É melhor você me matar agora, por que eu juro por Deus que quando voltar vou acabar com você. Tenho certeza que vai apreciar o que aprendi no inferno. – disse Dean, as palavras afiadas e destrutivas como ácido que até eu senti um arrepio passar pelo corpo. Os olhos deles agora estavam pousados em Antony, não sei se Dean viu, mas sentir que a faca no meu pescoço tremeu um pouco.

_Revistem ele, peguem qualquer arma que ele tiver. – os outros obedeceram, enquanto dois deles o seguram os outros vasculhavam em cada bolso de Dean, tirando de lá, uma faca comum, a faca que mata demônios, sua arma, um canivete, e algumas balas soltas. Dean ficou imóvel quando levaram suas armas, ele nem parecia que ia reagir, estava entorpecido, parecia querer o que tivesse por vir. Com Sam morto ele não se importava que morresse também, dizia isso para mim com os olhos, como palavras veladas e mórbidas. Ele sabia que ia morrer e que eu também iria, e nos olhos revelava a certeza de que voltaríamos, e quando voltássemos cuidaríamos da situação. Mas e se estivesse errado? Eu fiz de você intocável. Disse Lúcifer uma vez...

Uma dor incomoda passou pelo meu pescoço, Antony tinha feito um corte com a faca, era superficial, mas ainda assim doía.

_Que tal brincarmos de médico? – disse Antony cortando agora a pele abaixo do meu ombro. Contrai o rosto, evitei olhar para Dean. _Vamos abri-la na sua frente Dean, quero saber que tipo de criatura ela é, o que será que podemos encontrar, aqui... – um corte mais profundo perto do meu coração, a faca afiada chegou a rasgar um pedaço da minha camisa, soltei um grunhido de dor e mordi o lábio logo em seguida, não ia dar esse gostinho a ele.

_Você é um covarde, seu filho da mãe, se quer descontar em alguém por não ter ganhado abraços o suficiente da mamãe, desconte em mim, ela não tem nada a ver com isso. – uma nota de desespero, acima da raiva, foi detectada na voz de Dean. Antony gargalhou, seu peito estremecendo a minhas costas.

_Você até que é um sujeito engraçado Dean, acho melhor começar a relaxa por que a brincadeira está apenas começando...

_Chega de brincar. – disse Jhonny, que até então tinha feito se esquecerem de sua presença ali. Ele caminhou até mim, os passos lentos mas firme, os olhos escuros, e a faca que mata demônios brilhando perigosamente. Senti a cada martelada no peito um passo seu. Ele parou diante de mim, me assombrando com sua altura e todo seu corpo que tampava minha visão de qualquer coisa além.

Num momento estava respirando prensada contra o corpo de Antony no outro estava arquejando com a dor que começou na minha barriga.

O tempo parecia parar só para que eu sentisse tudo. Para que eu sentisse cada polegada da lâmina se enterrando na minha pele, rasgando minha carne. Para que eu sentisse o calor explodir em mim. E para que eu visse cada lampejo de luz que iluminava os cantos escuros e cobertos do meu corpo.

Estava acesa. Estava morrendo de dor. Estava assustada demais para fazer alguma coisa. Eu via as luzes alaranjadas piscarem dentro de mim, o chiado zunir e os curtos circuitos internos se intensificarem. O braço de Antony perdeu o contato comigo. Vi Jhonny se afastar e nos olhos arregalados de Dean a representação do que todos pensavam.

Estava queimando, numa dor tão insuportável que meus joelhos cederam, o impacto deles no piso duro não foi sentido. Ela é um demônio, alguém havia sussurrado baixo, ou pelo menos pensava que tivesse.

Apertei a mão trêmula no cabo. O mínimo contato com ela ainda na minha pele transformava a dor em algo pior. Estou morrendo, Dean está apenas me assistindo morrer como todos os outros. Estou morrendo.

De algum jeito é pior que isso. Uma dor que nunca sentir antes, que nem podia sequer imaginar sentir. Como um fogo de artificio a dor explode pelo meu corpo me queimando de dentro para fora, subindo pela garganta e indo a cabeça. Tentei gritar, mas o som morre na minha boca e vem em forma de sangue vermelho vivo que imediatamente começa a escorrer pelo queixo e mancha minha camiseta.

Finalmente algo acontece e todos os olhos se voltam para a porta. Um corpo, vestido com terno preto. O reconheço. É o cara do carro, o homem sem expressão, alguns avançam sobre ele e eu tenho a confirmação da sua espécie, ele é um anjo. A maneira como opera era pratica e rápida, o jeito que levantava a mão e fazia a luz explodir dentro dos caçadores era quase impressionante.

Eu tenho certeza que ele vai me matar. Com o resquício de força que restou em mim, mordo os lábios e num puxão só retiro a faca. Não sei se ferir minha boca tentando conter um berro, só sentia o gosto de sangue, e o cheiro do meu sangue vazando de mim para o piso.

E apago. O chiado em minha pele cessa e posso me sentir humana de novo. Quando tendo a cair para frente sem forças mais para nada, alguém aparece e me agarra. Dean, ele me segurava contra si e murmurava algo para mim que não conseguia entender, só conseguia ouvir meu coração bombeando sangue mais rápido para que minha morte seja mais lenta. Ele olhou para frente, e se encolheu colocando minha cabeça em seu peito e apertando meus ouvidos na tentativa de bloquear o som que o anjo produz.

Tudo explodiu ao nosso redor, cacos de vidro voaram acima da nossa cabeça, a luz banhou tudo e os gritos foram ouvidos, curtos e agoniantes, e então os corpos desabam no chão e tudo apagou de uma vez. Dean levantou o corpo e consegui ver novamente. O homem de terno estava olhando para nós dois. Ele agachou e pegou um objeto do chão. Olhei para Dean, por que era algo que reconhecia, ele estava olhando para o homem que agora se levantou, continuei olhando para aqueles olhos verdes tentando esquecer a dor.

Dean me ajeitou no chão, um grunhido de dor escapou da minha boca. Ele se levantou e encarou o anjo, pronto para uma luta, mesmo sabendo que não tivesse a menor chance, o anjo devolveu o olhar. Dean enfim olhou para mim, e eu queria fazer sumir o pânico em seus olhos, abriu a boca para dizer alguma coisa. O som de suas palavras foram abafadas pelo som de um disparo muito perto.

O corpo de Dean foi impulsionado para trás, sua mão levada ao peito florescendo em sangue, e então ele caiu de joelhos e em seguida para frente, ao lado do corpo do irmão. Sufoquei um berro na garganta começando a engasgar com meu sangue.

Estiquei minha mão para Dean, meus dedos tocando os deles quando o anjo se aproximava. Ele se agachou novamente. Seus olhos eram escuros como a noite, insondável numa expressão completamente vazia. Ele esticou a mão e eu fechei os olhos esperando pela dor ou alívio.

Senti dedos na minha testa, depois uma espécie de puxão no meu cérebro e tudo começou a girar. Até que parou...

Tudo parou, a dor, o calor e o som de pessoas sendo mortas. Não conseguia abrir os olhos de imediato, ainda estava muito assustada. O solo que estava deitada era de alguma forma diferente, liso, úmido e frio. Devagar abri os olhos, uma pequena fenda para espiar através delas.

Tinha um grande véu negro sobre minha cabeça, sem estrelas e poucas pinceladas de nuvens carregadas. Me sentindo corajosa, abri mais os olhos. Pingos finos e delicados de chuva acariciavam meu rosto, a lua cheia era impressionantemente grande, recorda por algumas nuvens que passavam ocasionalmente. Com a visão ampliada, vi também margem de estruturas se erguendo para o céu.

O que tinha acontecido? Onde estava? Quem era aquele anjo? E Sam e Dean? Por que essa impressão que só existia eu num vasto infinito? Essa perguntas preenchiam minha mente e a falta de qualquer resposta me deixava mais desesperada.

Me levantei devagar, girei nos calcanhar tentando achar algo para seguir. Era uma rua. Uma longa rua. Postes com aparência de muito antigos ofereciam o mínimo de luz amarelada. Ladeando os dois lados das calçadas; lojas com aparência decadentes, vidraças quebradas e o breu dominando seu interior. Havia também alguns prédios pequenos e compactos, janelas escuras, tijolos aparentes e a tinta que a cobria tão enegrecidas que era impossível definir a cor. Esses pequenos comércio moribundo e irregular se seguiam até o fim da rua, do lado direito e esquerdo, até se perder de vista.

Nenhum som era ouvido a não ser minha respiração pesando. Eu parecia o único ser vivo ali. Respirei fundo e me concentrei em não deixar o pânico me dominar. Tentei empurrar todos os meus sentidos que me avisavam que aquilo não era bom e tentei pensar racionalmente. Bom, eu poderia estar sonhando, poderia estar... morta? Era isso, estou morta, e isso é... o inferno?

Para não ficar parada ali e enlouquecer comecei a andar. A garoa começando a me deixar com frio. Meu coração batia tão forte que achei que fosse o único som naquele lugar. Por onde andava procurava alguma fonte de vida, uma pista.

Até que parei fazendo meus pés derraparem no asfalto molhado. Havia me assustado com manequins de uma loja, que no escuro pareciam figuras humanas. Depois que o coração voltou aos batimentos menos dolorosos recomecei a andar

Isabel. Disse uma voz curiosamente conhecida. Me virei no susto, e não vi ninguém.

Isabel, preciso ser breve...

_Castiel? – perguntei encarando o vazio escuro em todos os lados.

Sim, eu não estou aí. Quero que me diga o que você está vendo.

_Mas como você está fazendo isso, como está... na minha cabeça? – estava confusa, ouvia a voz de Castiel claramente dentro da minha cabeça.

É um antigo feitiço com sangue.Achei que não funcionaria mas... enfim. Concentre-se, o que vê?

_Uma rua, algumas lojas destruídas...

Como é o céu?

_O quê? – perguntei começando a ficar com dor de cabeça.

O céu, o que vê acima de você?

Olhei para cima, a única coisa diferente era o tamanho da lua, era como se estivesse em um planeta mais próximo dela.

_A lua, é... enorme.

Precisa correr e se esconder, não deixe que ele encontre você...

_Espera, onde eu estou? Quem não pode me encontrar? – minha voz já começava a ficar estridente, estava mesmo tendo uma conversa com a voz de Castiel na minha cabeça?

Está no céu...

_Céu? Como? Eu morri?

Não, esse é o problema. Você estar fisicamente no céu...

_O está acontecendo? como eu posso estar no céu se não morri, onde estão Sam e Dean... – estava começando a sentir as pontadas de pânico. Mesmo na minha cabeça senti a hesitação de Castiel. _Cass, o que foi?

Eles vão ficar bem. Faça o que eu disse, se esconda o quanto puder, não deixe que ele te veja. E... me desculpe, não posso ajudar...

_Cass, por favor, o que eu faço? Quem vem... – mas ele já tinha ido, estava sozinha de novo dez vezes mais assustada. Um trovão soou no céu estranho como se anunciasse a presença de alguém.

Pude vê-lo no final da rua, apenas uma silhueta esguia ao longe, mas eu já sabia quem era. Aquele anjo havia me colocado naquele lugar. Seguindo o conselho de Castiel, procurei um lugar para me esconder. Olhando para todos os lados corri para uma porta vermelha encardida a esquerda.

Estava entrando em um antigo bar, não mundo diferente do que eu estava a minutos atrás. Só que este era bem menos iluminado, tinha vidro quebrado por toda parte, esqueletos de cadeiras e mesas quebradas por toda parte, um velho jukebox no fundo, uma mesa de sinuca tombada pela falta de uma das pernas no lado oposto, e o velho balcão no lado direito. Passei por todo o entulho e corri, para trás do balcão.

Ouvi uma série de passos irregulares na rua, me encolhi ainda mais no cantinho escuro e bolorento. Mal enxergava um palmo a frente. Meu coração batia tão rápido e tão alto que o sentia nos ouvidos. O terror sufocando meu peito e o pânico começando a se infiltrar no corpo até meus ossos. Tentei vencer o tremor e continuar imóvel, não sei se consegui por que só ouvi o som do meu coração martelando.

Outro barulho irrompeu o silêncio, uma porta se abrindo, a porta do bar. Ele não ligava em ser silencioso, seus pés que pareciam leves esmagavam vidros no chão, enquanto eu ouvia o arrastar de coisas para longe. Estava tão perto. Prendi a respiração.

Estava com tanto medo.



... - ...



Castiel ainda podia ouvir Isabel o chamar. Logo ele quebrou a conexão. Não tinha nada que poderia ajudar. Ele havia aparecido ali logo depois que Dean rezou para ele, infelizmente chegou um pouco tarde.

O feitiço foi feito com o sangue de Isabel, uma poça no chão sujo daquele bar, era algo raro e muito antigo usado em batalhas, e a conexão era sempre com um outro anjo. O conceito vinha de que todos os seus irmão eram feito da mesma matéria, então existia uma fina rede interligando todos eles. É claro Isabel não era um anjo, estava longe de ser um, mas a essência de Lúcifer era forte, pulsava dentro dela como uma recente estrela.

Tão forte que Castiel podia vê-la e sentia-la. Ele também sentia outra coisa, algo mais pesado e sombrio. O sangue de Lilith era pungente e quase dominante, o cheiro, o poder que ele proporcionava era de assombrar. E ele guardava consigo suas opiniões sobre os efeitos colaterais da experiência de Lúcifer. Ele sabia que quanto mais Isabel usava do poder, mais forte ficava, mas seu corpo humano tentava se adaptar as mudanças, e chegaria o ponto em que sua força vital não aguentaria e cederia. Isabel tinha uma sentença de morte cravada no peito. E seja lá o que Lúcifer planejou para ela Isabel não sobreviveria.

Castiel limpou o símbolo riscado com giz no chão, quando ouviu a voz de Dean o chamando pelo radio velho que encontrou para fazer o outro feitiço. O radio estava no centro de um circulo de símbolos enoquianos. Algumas palavras ditas em enoquiano e aquilo permitia que se comunicasse com os Winchesters.

Castiel?

Castiel fechou os olhos e se concentrou, projetando sua imagem para o que Dean usava para se comunicar.

_Estou te ouvindo. – disse abrindo os olhos, estava olhando para Dean, uma imagem borrada e distante, mas ele conseguia ver Dean e Sam diante de seus olhos.

Eu consegui achar o Sam, e aconteceu uma coisa estranha, uma luz...

_Não cheguem perto da luz. – advertiu Castiel.

Tudo bem, valeu Carol Anne. Mas o que foi isso? perguntou Dean.

_Zacarias, se encontrar vai trazer você de volta, não podem dizer Sim se estiverem...

Não podemos voltar agora. Disse Dean depressa, Castiel ouviu Sam questioná-lo, mas Dean o ignorou e se voltou para a televisão velha onde Castiel aparecia numa imagem irregular e cheia de estática. Você disse que Isabel pode está aqui, não vou voltar sem encontrá-la.

_Você não pode encontrá-la.

Como assim eu não posso encontrá-la? Castiel realmente não tinha muito tempo, ele não conseguiria manter o feitiço por muito tempo, sentia pelo amigo, mas ele precisava ser direto.

_Já a encontraram, eu falei com ela...

Quem a encontrou?Tinha um pânico contido na voz de Dean, Sam perguntou mais uma vez o que estava acontecendo, ele dispensou as perguntas com os olhos grudados no visor. Não estava muito diferente de quando o contatou pela primeira vez, contando que Isabel tinha sido levada, e talvez estivesse no céu e bem, Castiel tinha conseguido fazer Dean se acalmar e fazer o que ele pedia prometendo que encontraria Isabel e que tinha certeza de que ela estava bem e viva. Ele agora temia não conseguir fazer com que Dean colaborasse.

_Escute, ela está bem. Ela vai ficar bem, Dean eu preciso que faça algo por mim... – mentiu, e Dean o interrompeu como se percebesse a mentira. Na verdade Castiel não fazia ideia do que poderia acontecer a Isabel.

Como sabe que ela está bem? Cass, onde ela estar?

_Dean eu não tenho muito tempo. Eu não sei onde ela estar, mas você não pode alcança-la... – Castiel fez uma pausa e resolveu que deveria tentar falar com quem aparentava está mais calmo para ouvi-lo. Apesar de Sam parecer um pouco perturbado também ele ouviria. _Sam, ouça, não podem deixar que Zacarias o alcance, ele ira trazê-los de volta...

E isso não é bom por que...disse Sam.

_Por que estão atrás do Portal, é uma rara oportunidade.

Para que? perguntou Dean impaciente.

_Precisam encontrar um anjo, o nome dele é Josué.

Não. Estou de saco cheio de anjos, se quer tanto saber as novidades de seu amiguinho venha visitar ele você mesmo. Agora me diz o que aconteceu com ela. Castiel começou a se irritar de verdade com Dean. Será que ele não fez o suficiente para conseguir pelo menos um favor do Winchester?

_Eu não posso entrar no céu! E sua namorada está bem, eu já disse. – esbravejou perdendo a paciência. Antes que Dean revidasse Sam interveio.

E o que tem de tão importante com esse tal de Josué?

_Dizem que ele fala com Deus.

Eu estou pouco me lixando se ele toma cerveja até com Michael Jackson. Cass pelo amor de... Eu preciso saber...

_Dean, você não pode ajuda-la! Tem coisas mais importantes acontecendo como finalmente descobrir o Deus anda dizendo. Isso pode nos salvar, pode salvar Isabel. – Castiel estava realmente bravo, ele tentou se acalmar, sentia a conexão falhar cada vez mais, tinha apenas alguns segundos, então num tom brando e quase suplico disse: _Por favor, eu só quero que sigam a estrada.

Que estrada? perguntou Sam.

_É chamada Axis Mundi e ela atravessa o céu. Algumas pessoas a veem de diferentes formas, para vocês é feita de asfalto, a estrada vai leva-los ao jardim e lá encontrarão Josué e Josué pode nos levar a Deus. – ele sentia o contato escoar. _O jardim... Sigam a estrada... – e acabou.

Então Castiel esperou. Esperou se segurando em esperança. E se realmente soubesse o paradeiro de Deus, qual seria seu próximo passo? Ele queria muito acabar com aquela guerra que estava só começando, queria fazer as coisas certas, queria voltar a unir seus irmão e mostrar a eles através da humanidade que tanto lhe acolheu que talvez eles tivessem escolha.

Mas no fundo ele sabia que isso era quase um delírio, com Deus de volta ao comando muitos se curvariam diante se sua imponência e importância. E ele temia em não ser aceito.

Uma vez caído, sempre caído. E um exemplo que Lúcifer lhe dera se aplicava bem ali. Ele era mesmo tão diferente de seu inimigo?



... - ...



O ar parecia pequenas pedras de gelo que era impossível de ser inalado. Meus joelhos ardiam e todas as minhas terminações nervosas pareciam inflar com o pânico, tornando a tarefa de prender um grito na garganta e não me mover mais difícil. Eu sabia, no fundo sabia que não tinha saída, o anjo...

_Posso ouvir seu coração batendo. – a voz flutuou até mim fazendo meus ossos gelarem. Era uma voz bonita, firme, sonora e grave. Soltei o ar que prendia com tanto afinco e me forcei a encontrar a bravura em mim. Se ia morrer não ia morrer como um camundongo encolhido no escuro. Devagar levantei, os minúsculos cacos de vidro que se prenderam na minha roupa caindo e tilintando no chão.

Ele estava de costas para mim, uma sombra todo de preto. Sai de trás do balcão e esperei, firme, coluna ereta e o medo escondido por trás de uma expressão corajosa.

_Você vai me matar. – não foi bem uma pergunta, apesar de ter soado como uma. Ele finalmente se virou para mim. Seu rosto coberto por um véu de sombras não revelava muito, mas o tinha visto o suficiente para saber que seria impossível tirar alguma expressão ou pista daquele rosto. Ele demorou um tempo para responder, estava de frente para mim, as mãos unidas atrás das costas os pés levemente afastados.

_Isso depende. – disse finalmente.

_Depende do quê? – não tinha certeza, mas parecia que consegui arrancar alguma reação dele, uma mínima curvatura no canto a boca, como num sorriso torto, e nesse mesmo segundo ele desapareceu. Assim, sumiu, como Castiel fazia. Nem por isso consegui relaxar, e nem podia, então continuei parada no mesmo lugar encarando o lugar onde antes era ocupado pelo anjo. Ouvi um barulho atrás de mim, como um bater de asas, muito perto, tão perto que sentir o hálito quente da sua boca na minha nuca quando ele sussurrou:

_Você. – e antes que pudesse pensar em qualquer coisa senti uma pressão na minha cabeça, me puxando para baixo tão rápido que no mesmo momento uma dor forte explodiu pela minha testa. A bancada era dura e muito resistente ao tempo, sabia disso por que ele bateu com minha cabeça ali.

Desabei no chão sentindo a dor se espalhar pelo meu cérebro, enquanto registrava a umidade do meu sangue escorrendo da minha testa, passando pelo meu nariz e me fazendo provar do próprio dele outra vez.

Tudo girava num turbilhão, ele pareceu me deixar um minuto para me firmar, para que mesmo que tudo girasse e a dor me atordoasse não fosse o suficiente para me impedir de esticar a mão para um pedaço de madeira roliça com a ponta firmemente afiada e fatal. Envolvi os dedos em volta do bastão e num movimento rápido enterrei a ponta no sapato lustroso dele.

O objeto afundou comprovando minha teoria de que era resistente o suficiente para perfurar o sapato e cravar-se no pé dele. Com essa pequena deixa comecei a me arrastar para longe, a princípio não conseguia me colocar de pé, então engatinhei o mais depressa que podia. Sentia o vidro no chão espetando a palma da minha mão e meus joelhos, mas nada era comparada a dor de cabeça.

Continuando nesse ritmo conseguir alcançar a porta. Minha mão instável abriu a maçaneta e eu fui cuspida para fora, não conseguindo força para as pernas funcionarem direito. O brilho perolado da lua me atingiu, assim como a chuva fina, tentando com dificuldade lavar meu sangue que não parava de escorrer da minha testa.

De joelhos consegui me firmar, depois me apoie num poste e fiquei de pé. Ainda via as coisas um pouco enuviadas e vertiginosas, mas conseguia manter um certo senso de gravidade conseguindo assim dar alguns passos me apoiando sempre na parede ou em qualquer coisa que não me deixasse cair. Estava fugindo, mas para onde? Tentei buscar na mina mente Castiel, ele tinha que me ajudar. Era desesperador o silêncio fúnebre da minha mente dolorida e do lugar em si.

Me sentindo mais segura para me movimentar comecei uma corrida fraca, meus pés pareciam está carregando toneladas cada um. Era lento e agoniante a forma como meu corpo trabalhava, mas era o que conseguia fazer, o que eu deveria fazer. Eu também poderia tentar me esconder de novo, tentar uma conexão com Castiel de novo, ou...Como era possível eu ter voltado para o chão de novo?

A batida na minha cabeça só podia ter me deixado burra, é claro, foi anjo, dessa vez nem o sentir por perto, só percebi surpresa quando seu pé cruzou o meu me fazendo cair de novo, um truque velho e que ainda continuava funcional. Minha blusa imediatamente mediu o grau frio do asfalto molhado pela chuva fina e incessante. De alguma forma era bom para minha testa febril.

Eu não consegui me mover direito, então fiquei e esperei. Ele era a imagem perfeita de um anjo, sua pele como lousa refletindo o tom perolado da lua, as cavidades do rosto magro mais angulosas o deixando com uma aparência cadavérica. Observei quando ele ergueu o pé direito, prever o golpe, e mesmo assim não o deixou menos doloridos.

O bico do sapato parecia ter se afundado dolorosamente na minha costela. Uma onda atordoante de dor passou por toda minhas costas e se moveu para meu corpo. Não consegui reprimir o grito de dor que escapou da garganta. Meu corpo rolou no chão com o impacto e agora eu encava o céu noturno e cavernoso, me perguntando qual era o plano Dele para mim.

Ele apareceu diante de mim, a cabeça não conseguindo cobrir a grande lua, que formava um halo envolta dos seus cabelos negros agora prateados nas pontas. Ele me olhava com certa curiosidade tediosa. Se ajoelhou ao meu lado bem ao meu lado. Pisquei para afastar o sangue na minha pálpebra e disfarçar a dor no corpo inteiro. Ele moveu a mão para dentro do casaco, tirou de lá a adaga dos anjos, olhou para ela, testou a lâmina na ponta dos dedos e quando comprovou em estava afiada o suficiente encostou o metal frio fazendo pressão na minha clavícula.

Tentei encontrar luz naqueles olhos negros para que quando partisse tivesse algo em que me agarrar, uma última lembrança de alguma coisa bela neste mundo. Mas não vi nada além de um túnel negro e imperdoável. Numa leve demonstração de qualquer emoção ele estreitou os olhos, o movimento na minha garganta fazendo a ponta da adaga perfurar a pele fina ali e sentir o sangue escorrer para a lateral do pescoço e se entranha nos fios de cabelo na minha nuca. Uma ruga pareceu entre sua testa, seus olhos fixos nos meus. Vamos logo, acabe com isso. Implorei, já não aguentava mais ouvir meu coração batendo tão forte. Já estava farta de sentir aquele medo da morte.

O anjo então afastou a lâmina do meu pescoço, com a habilidade de um gato se pôs de pé. Estava surpresa, aliviada talvez e ainda mais temerosa. Continuei no mesmo lugar onde estava, não por que queria e sim porque não tinha condição de mais nada a não ser ficar ali deitada no chão frio sentindo que minha cabeça tinha sido rachada ao meio e minhas costelas partidas.

_Vamos, me dê um desafio, está muito fácil. – disse estendo a mão para mim, aquilo parecia um jogo para ele, ou algo que talvez ele fizesse para passar o tempo para não se entediar. Consegui esboçar um sorriso cínico.

_Se vai me matar, me mate logo. Sabia que ia ser assim no momento em que aceitou a tarefa. – disse estranhando minha voz derrotada e seca.

_Eu quero que lute pela sua vida. Me entretenha. Mostre o que tem escondido nesse corpinho frágil. – falou em tom de desafio, ele realmente esperava que eu lutasse. Transformei meu sorriso numa gargalhada, um som ápero e seco. Minha costelas reclamaram com as contrações.

_Eu não tenho nada, sua imprensa está mais errada do que certa, não é assim que as coisas funcionam. – ele não se abalou com minha resposta, sua mão estendida voou para meu braço e me ergueu como se eu não pesasse nada. Ele me olhou bem nos olhos e me largou dando alguns passos para trás, quase desabei de novo sem nenhum apoio a não ser meus pés, após alguns tropeços conseguir me manter em pé. _O que agora? Espera que eu lute com você? Não acha que seria injusto, tento em vista que você possui uma pequena vantagem.

Ele voltou a me olhar com aquela expressão imperturbável, a adaga deslizou de seus dedos e caiu no chão fazendo o barulho ecoar, o anjo afastou objeto com o pé e depois cruzou os dedos as costas como havia feito antes.

_Não me referia a adaga, você é um anjo e eu...

_Você não é humana, não mais. Não deveria nem estar pisando nesse solo, respirando esse ar. Deus não deveria permitir que criaturas abomináveis como você sequer conseguisse entrar em sua casa. – falou confirmando a minha teoria de que ele seguia ordens superiores, mas de quem? Aquele anjo era um servo fiel, um crente devoto a causa de livrar o mundo de criaturas maléficas.

_É como a serpente no paraíso. – o tempo que ganhava talvez não viesse me servir de nada, mas mesmo assim continuei falando. _Ouvi dizer que papai não está em casa, que abandonou seu rebanho para pegar sol em Tijuana. – estranhei o modo como tinha soado como Dean, e empurrei o pensamento para longe para não ter mais com o que me desesperar.

_Primeiro limpe sua boca suja antes mesmo de pensar em pronunciar o nome Dele. – seu rosto tinha se contraído e sua postura se enrijecei, o tinha irritado. O anjo deu alguns passos a frente parando bem diante de mim.

_Deus cansou de tanta porcaria, de tanta destruição em nome Dele. Ele quer ver nosso pequeno planeta queimar. – não pretendia dizer aquilo, foi como se as palavras fosse uma verdade terrível de que todos tinham conhecimento mas ninguém queria pronunciar em voz alta.

Não esperava uma reação tão explicita, tinha certeza que tinha pisado em um de seus calos. Tinha tanta certeza que o deixei furioso por que sentir sua mão pesada no meu rosto, o impacto mais forte do que o de Jhonny. Esse reativou a dor na minha cabeça elevando um nível superior.

Sem alterativa caí no chão com a maça do rosto em chamas, a coluna tão fragilizada ameaçando se partir a qualquer momento. Tinha caído sobre uma poça de água, alguns dos respingos entraram na minha boca, mas parecia limpa e tirada do mais puro riacho. Olhei para o anjo acima de mim, o rosto torcido em raiva, observei enquanto ele desafivelava o cinto da calça o arrancando e enrolando a ponta na mão. Não precisei pensar muito no que ele ia fazer com aquilo, por que logo depois um dor atravessou minhas costas como um raio.

Veio o segundo golpe me fazendo arqueja no chão enquanto ele descia o cinto nas minhas costelas. Um golpe após o outro, mais um e outro sem intervalos. Minhas costas ardiam, a dor era lancinante, parecia que o cinto estava revestido com lava de um vulcão, e o contato com meu corpo o fazia entrar em combustão.

Sabia que tinha rasgando minha camiseta, as tiras manchada com sangue, minha pele vermelha em baixo clamando por alivio. Não aguentei e gritei, um grito estridente e demorado.

Depois veio as lágrimas, quentes e agonizantes e nesse ponto comecei a rezar. Me encolhi no chão pedindo a qualquer um que o fizesse parar, por que não conseguia suportar, era demais. Me sentia em brasas, queimando aos poucos sentindo tiras de peles seres arrancadas. Gritei mais uma vez e implorei.

_Por favor, pare, por favor... eu... – pedi a ele, levantou o mão para cima e ousando me virar para poder ver seu rosto. Pequenos fragmentos de memória aleatórias escaparam para minha cabeça.

A primeira vez que beijei Dean, o que pensei ter sido um erro naquela época. Depois veio a declaração para mim e para ele de que o amava, o amava tanto que só ele conseguia fazer com que o ar fosse expulso de mim ou que cada parte do meu corpo o desejasse, próximo o suficiente para que eu olhasse naqueles olhos feito de esmeraldas e percebesse que por mais que tenha perdido tudo ainda o tinha, de uma maneira torta mas minha.

O anjo olhava para mim com o cinto erguido, pronto para outro golpe. E também tinha Sam, uma surpresa agradável no meio de tempos caóticos, um amigo, um amor recente. Ele acreditava em mim, foi o que disse numa madrugada, e era tão fácil acreditar, tão fácil falar, qualquer coisa e fazê-lo entender. Imaginar como seria olhar aqueles olhos verdes acinzentados como um céu límpido preste a uma tempestade, imagina-lo mais perto, tão perto que pudesse saber seu cheiro ou como seria o encaixe de seus lábios no meu.

Não podia desistir. Por ele que acreditava em mim, e que me fazia querer iniciar novas descobertas, mesmo que fosse um jogo perigoso. Por Dean que me resgatou tantas vezes e foi o único a experimentar do meu amor. E por mim, por que simplesmente eu odiava o jeito como o anjo olhava para mim.

Vi o chicote improvisado vir em minha direção, vi seu percurso e sabia o que fazer. Levantei a mão no momento que o couro ia tocar minha pele. Segurei firme a tira e a usei como impulso para ficar de pé.

Não saberia bem como explicar, mas quando toquei minha mão em seu peito podia senti-lo, ouvir seu coração batendo além do meu. Podia ouvi-lo e o sentir pulsar na minha mão. Quase não acreditei quando ouvi seu coração desacelerar, ou seja lá o que o um anjo tenha no peito.

Sua vida fluía até mim como algo que eu pudesse tocar e segurar mesmo que seja translúcido. Acho que estava sorrindo, não sabia. Estava carregada como a nuvem acima de mim, cheia com ódio absoluto. Ele estava preso a mim. Enquanto eu respirava livremente ele se asfixiava.

Aproximei meus rosto do dele para sussurrar: _Você vai para o inferno.

_Achei que não... achei que não tinha nada. – gaguejou, era quase patético ver um anjo daquele jeito.

_Um bom jogador nunca revela o trunfo na primeira rodada. – soava estranhamente fria e cortante.

Ele respirou ruidosamente, levei minha mão a seu pescoço, o forçava a olhar para mim enquanto sua essência era massacrada. Tinha que me concentrar para poder encontrá-la. E lá estava, bem no centro.

Quando a encontrei consegui moldá-la, ele começou a brilhar, a luz sendo emitida de dentro do seu corpo, fazendo as veias do pobre humano que possuía se evidenciar. As minhas próprias começavam a aparecer, pequenos caminhos negros se cruzando nos meus braços ao dorso da mão. Por um segundo me assustei, mas algo bem mais forte dizia para mim que deveria continuar. Que deveria ir em frente e me entregar a aquilo, deixando que me possuísse e permitisse que me transformasse no que aquele anjo mais abominava. Então me livrei de todas as minha barreiras.

Deixei que a escuridão me abraçasse, mostrasse o que eu podia fazer. Lembrava bem da sensação de vida e força que senti quando o usei pela primeira vez com o anjo ruiva. Era bem parecido, só que dessa vez podia matar, dessa vez não queria que recuasse e sim me arrebatasse. O que queria fazer era destruir seus fragmentos sagrados. Um trovão soou no céu, seguido de um raio. Liberei como um vírus ou uma aranha venenosa dentro do seu sistema minha aura negra. Soltei sua garganta e ele cambaleou para trás.

Não sentia falta de ar por que não era humano, mas sentia outra coisa. Observei satisfeita enquanto ele se debatia, em busca de algo passeando pelo corpo, e vi o quanto ele brilhava por dentro, um luz contida, vi no rosto inexpressível o horror. Ele caiu de joelhos o rosto virado para céu tempestuoso, escancarou a boca, um grito agudo saiu da sua garganta cortando o silêncio e reverberando por todo o lugar.

_O que fez comigo? – berrou para mim. Seus olhos estavam vermelhos, as veias soltadas escuras iluminadas pela luz que pulsava dentro dele cada vez mais forte. Ele se debatia e arranhava a própria pele como se quisesse dar fim a uma coceira terrível, mesmo que isso o ferisse. O próprio desespero e agonia estampado no rosto. Ele parecia estar sendo torturado. E eu só conseguia assistir a tudo indiferente, sentindo um orgulho proibido e impróprio.

E pulsou, mais uma vez e depois outra até que uma luz forte e cegante iluminou cada canto daquela rua sinistra. Protegi os olhos com as mãos e o ouvir gritar mais uma vez. O grito durou pouco, e em seguida a luz cessou, de uma vez só como se deixasse de existir. O céu acima começava a me castigar, a chuva aumentara gradativamente e agora açoitava minha costas feridas, mal sentia a dor. Sentia-me revitalizada.

O corpo de anjo estava estirado no chão, o cheiro de carne queimada se misturava ao cheiro agridoce da chuva. Não me aproximei para olhar de perto, já sabia o que acontecera com ele, já tinha visto antes. Humanos eram limitados a esse tipo de poder, seus corpos não suportavam, então entravam em combustão.

Dei alguns passos para trás ainda me sentindo eletrizada. Olhei para os lados esperando pelo próximo evento, e ao longe um par de olhos brilhantes como diamantes no meio do carvão me fitava. Demorou um tempo para perceber que aqueles olhos eram os meus refletidos. Lentamente me aproximei da janela quebrada. Meio entorpecida e hipnotizada me fitei, sentindo tudo em mim congelar e meu estômago revirar.

Eu olhava para mim, mas não parecia eu. Parecia outra pessoa, meus olhos brilhavam, mesmo que minhas pupilas enormes predominasse, o azul topázio era vivo feito chamas. O que me assustava era meu rosto muito branco como neve com linhas de veias finas e enegrecidas no meu pescoço tentando subir por ele e se desenhar nas minhas bochechas, testa e cantos dos olhos. Por mais que parecesse algo sobrenatural era difícil não admirar o trabalho feito, em baixo daquilo tudo a ferida na minha testa era fina, pouco sinais de sangue ou aranhões, minha pele úmida se assemelhava a porcelana e meu cabelos negros só apareciam no reflexo por que a chuva o fazia brilhar.

No que estou me transformando? O desespero começava a pontuar feito agulhas em meu peito. Uma dor quase física, e horror tão genuíno que me afastei da janela sentindo-me enjoar. Começava a arfar com força enquanto todo o manto negro que me cobria se afastava e eu olhava minhas mãos, pulso e braço cheia daquelas veias. Tentei me livrar delas como o anjo tentou fazer, aranhando a pele freneticamente, até que senti o sangue colorir o preto e o branco.

Minha garganta começava a se fechar e meus olhos começavam e embaçar enquanto entrava em pânico. Apavorada comigo mesmo, tremendo com o frio ártico que varria meu corpo. Olhei para o lados desamparada, sentindo mais ainda a necessidade de ter um braço firme ao redor dos meus ombros e um peito para chorar livremente como fiz quando perdi Adam e Sam se tornou minha fortaleza.

Levei a mão a boca reprimindo um grito. Iria começar a correr quando sentir uma mão pesada e firme no meu ombro. Virei para encara-lo, vi o rosto de uma mulher, não por tempo o suficiente para registrar qualquer coisa de suas feições. Ela pousou a palma da mão quente na minha testa e eu vi qualquer luz apagar...

...

Palavras como; Segurem. Sentem isso? O que faremos agora? O que ela é? Flutuavam para minha mente. Eu não sentia nada, não sentia nem meu corpo, era como se minha consciência estivesse solta por aí capitando o mínimo de sons.

A sensação era de tomar altas doses dos mais potentes alucinógenos. Estava tão dopada que mesmo que quisesse me defender ou falar não chegaria nem perto das duas coisas. Tentei manter algum foco. Ouvia palavras desconexas e sem sentindo, algum tipo de termos desconhecidos entre o um som agudo, suave e doce. Tinha certeza de que se fadas existissem elas produziriam aquele som. Fino e agradável como um violino e ferino como uma arma. O ressoar dos anjos.

E era incrível a quantidade de vezes que poderia ter morrido hoje. Se já não estivesse morta. Senti algo passar queimando pela minha pele dos braços e costas, aos poucos me sentia sendo descongelada. Calor se espalhando como uma coceira, irritante até que se tornou doloroso. Tentei me mover, ou protestar, mas não consegui, agora era limitada. A coisa quente foi colocada sobre minha testa. Até que desmaiei de novo...

...

Meus olhos finalmente foram abertos, o mínimo para que eu visse algumas coisas. Estava deitada, sabia disso por que via luzes, uma fileira delas brilhando como estrelas, e também relances de rostos. Angulosos, redondos, mulheres e homens. Eles pareciam irradiar um brilho que era um pouco doloroso olhar, fora que minha visão estava um pouco embaçada.

Aos poucos senti alguma estabilidade. Sento meu corpo, meus membros relaxados e pesados. Quando tomei conhecimento de que minha cabeça podia ser movimentada a movimentei, tão lentamente que achei que não iria chegar nunca. Meu cabelo roçou na minha bochecha e no meu nariz fazendo cócegas, estavam secos e macio. E então conseguir ter uma visão mais ampla, mesmo que mais embaçada que a anterior. Estava no que parecia uma sala, as paredes brancas e a que eu estava olhando de vidro.

Através dela via um corredor se seguir, até onde minha visão não alcançava. E no meio dele dois homens, um vestia roupas simples, jeans e camisa de flanela para dentro da calça, o outro vestia um terno semelhante ao do anjo que me atacou. De onde estava e com a mente vacilando era difícil enxergar com clareza rostos. Tinha alguma coisa errada com o de terno, ele apertava com firmeza o braço esquerdo com a mão direita, como se tivesse contendo alguma coisa abaixo do ombro. Ele manteve a mão ali enquanto falava, depois a soltou, vi o brilho escuro na palma da mão, como sangue, ele levou a mão suja dentro do casaco e tirou de lá um objeto. Com a luz refletida o objeto brilhou prateado. Era pequeno, tão pequeno que o de jeans o pegou e colocou no bolso da camisa.

Meus batimentos acelerarem confirmando a presença do meu coração. Minha cabeça começava a girar tentando criar perguntas, mas logo elas evaporavam feito fumaça e eu não conseguia manter nada. Uma sensação forte de que eu não deveria estar ali foi me tomando. Mexi meus dedos, um tecido macios entre meus eles. Comecei uma seção de movimentos.

Um minuto estava na cama no outro no chão, tinha tentando ficar de pé mas fracassei, ouvi o corredor sendo movimentado. Um barulho enorme soou fazendo eu apertar os olhos para a dor de cabeça. O barulho na verdade foi eu quem provocara, tinha esbarrado em alguma coisa, uma mesa e uma bandeja de prata tinha caído no chão espalhando objetos estranhos e prateados no mármore branco e frio. Os objetos em questão eram coisas que nunca tinha visto antes; espécies de pinças, alicates, tesouras e algo parecido com uma injeção só que maior e parecendo mais letal, o mais chocante era a segunda cor neles. Vermelho vivo. Estavam sujos com sangue. Arfei com a possibilidade de que talvez aquele fosse meu sangue.

Logo percebi que não usava minha roupas, estava apenas com um lençol branco sobre o corpo, que agora se embolava no chão junto comigo. Minha bochecha tocou o mármore, o frio penetrando na minha pele novamente. A onda entorpecente me arrastando de novo para inconsciência. Mãos me tocaram e queria muito ter força para afasta-las, estavam me vendo nua.

Uma superfície macia recebeu meu corpo, e de repente tem gente demais me olhando. Olhares sérios e faces sem nenhuma pista de emoção.

_Eu cuido disso. – falou uma voz calma, em reação todos se afastaram silenciosamente. Ficando só eu e o homem com a camisa xadrez de flanela. Ele tinha olhos da cor do céu.

_Quem... – minha voz não conseguia se sustentar enquanto via o rosto do homem ficar borrado como uma pintura a óleo. Tinha uma impressão de que ele levou o dedo indicador aos lábios, fazendo um sinal de silêncio.

_Isso vai doer, tente não se agitar. – disse para mim. O que ia doer? Ele colocou a mão na minha testa febril e outra na minha barriga, fazendo pressão. Mas o que...

Uma dor assustadoramente lancinante foi sentida até meus ossos, meus nervos e células, fazendo minha coluna arquejar e minha garanta mal conseguir conter o grito que escapava da minha boca. Minha barriga parecia que estava sendo dilacerada, e a queimação eram tão dolorosa que parecia que tinha ingerido lava.

Desejei estar morta, de novo e de novo até que meu pedido fosse aceito. Uma luz branca atingiu meus olhos e a dor parou me levando para longe...



... - ...



A primeira coisa que vi foi galhos de diferentes espessuras. Estava com o rosto para cima olhando um emaranhado de folhas novas e velhas, entre seus espaços via os pedacinhos do céu azul, pequenos vidros coloridos de um vitral.

Estava sentada num banco. Olhei mais a frente, via-se um gramado se estender e dos lados extremos canteiros de flores. Era com certeza um lugar lindo. E tinha pessoas ali, pessoas passeando com seus cachorros, pessoas caminhando ou correndo ou conversando. E o cheiro de flores tocadas pelos raios de sol dourados como no inicio da manhã eram agradáveis.

_É lindo aqui, tem razão. – dei um salto do banco. O dono da voz era um rapaz sentado ao meu lado. Ele olhou para mim e sorriu. Seus olhos eram familiares, azul como azul. E aos poucos as coisas iam ficando mais claras. Tinha apenas alguns flashes do que aconteceu anteriormente. O bar, os tiros, a faca, a dor, o anjo me atacando e depois mais dor, e claro o quarto estranho com objetos sujos com sangue mais estranhos ainda, e também ele me dizendo que iria doer.

Por puro reflexo olhei para baixo, felizmente estava com minhas roupas, limpas e secas. Procurei por veias negras em meus braços, não as encontrei. Na verdade não encontrei nada, estava limpa, minhas mãos antes feridas sem nenhum arranhão e minha cabeça também, usando o tato não senti nada. Nem mesmo minhas costas estavam doloridas ou feridas.

_O que fizeram comigo? – perguntei a ele estranhando minha voz firme. Ele olhava para frente, a expressão serena e relaxada. Era bonito, tinha um rosto marcante e jovial, o cabelo escuro fazendo seus olhos se destacarem ainda mais.

_Curamos você. – respondeu.

_Como assim me curaram? – perguntei deixando o tom subir uma oitava.

_Como vê, seus ferimentos, todos eles. – ele agora olhava para mim. _Quer por favor se sentar, as pessoas estão começando a olhar. – olhei em volta, tinha mesmo algumas pessoas lançando olhares curiosos para nós.

_Não me importo! Isso é alguma encenação, não é? Estamos no céu, esse parque, essas pessoas...

_Céu? Não estamos no céu, não mais. – me interrompeu se levantando juntando-se a mim que começava a ficar um pouco histérica. Ele chegou bem perto para falar em voz baixa no meu ouvido. _Olhe em volta, veja, conhece esse lugar.

Fiz o que ele pediu, olhei em volta. Vi exatamente o que via antes, mas tinha agora uma sensação familiar. Ele tinha razão conhecia aquele lugar.

_Isso é o... Waterperry Garden. Eu costumava vir aqui com a minha mãe quando era pequena. – disse quase num sussurro. Estávamos mesmo ali, minha cidade natal? Naquele momento eu queria fazer um tour pela cidade, até mesmo conversar com as pessoas, sentia falta até do sotaque familiar, o cheiro daquelas flores, o lago mais um pouco atrás. Só... como? Como estava ali se a um minuto atrás parecia que estava sendo torturada. _Quem é você? – exigir saber.

_Não gostaria de se sentar um pouco? Apreciar a vista, imaginar como seria sua vida se tivesse continuado aqui...

_Quem é você? – perguntei outra vez com mais ênfase. Ele me olhou por alguns instantes antes de dizer o nome que nunca imaginaria que ele diria:

_Miguel. – pisquei, por que era isso que podia fazer, além da expressão de surpresa que tenho certeza que parecia cômica.

_Miguel? Miguel O arcanjo? – repeti aturdida.

_Se prefere assim. Agora sente-se. – obedeci debilmente, não tinha escolha e se continuasse em pé cairia.

_Você me salvou uma vez, quando Castiel tentou me matar, então era mesmo você? – não queria, mas soava um pouco impressionada.

_Sim, era eu, aliás salvei você uma segunda vez hoje. – franzi o cenho, ele entendeu o sinal e continuou. _Você ia morrer se eu não curasse você, aquela faca especial, aquilo ia mata-la. Se mandasse você de volta sem que concertasse o estrago estaria no chão agora se afogando no próprio sangue. Seu amigo anjo, Castiel, ia tentar salvar você, mas não conseguiria, nenhum anjo pode, exceto dois. – ele continua olhando para o longe. Não precisei perguntar para saber quem era os anjos. Miguel e Lúcifer. O que esses dois anjos queriam comigo?

_Achei que só Dean poderia ser seu receptáculo. – comentei, pela primeira vez achando estranho aquele belo rapaz servir de casca para Miguel, com certeza não era o que esperava.

_A questão não é quem, e sim a linhagem de sangue. Desde de Caim e Abel. Dean não é o único, está na família, e eu busquei esse... corpo muito longe. Não posso me demorar nele. – minha mente fervilhava com tantas coisas que demorei um pouco para compreender o que ele estava dizendo.

_Você é o John, John Winchester? – disse um pouco incrédula. Mesmo sabendo que era Miguel que manejava as cordas eu não esperava encontrar o pai dos meninos. Era um pouco curioso. Queria que Dean e Sam estivessem ali, isso fez meu coração se apertar.

_Você tem uma boa percepção das coisas. – disse Miguel, os olhos azuis vividos tão distantes das variações de verdes que eram os dos filhos.

_Como conseguiu que ele dissesse Sim? – perguntei desviando um pouco das minhas perguntas mais importantes, talvez temesse as respostas.

_Você faz perguntas demais. – Miguel se virou no banco e olhou atentamente para mim. Era como se ele se entreter-se comigo, como se estivesse espiando um projeto que tinha tido sucesso, era quase uma peculiar admiração. _Meu irmão escolheu bem.

_O que quer dizer com isso? – ele sorriu, ele realmente era muito bonito e eu me sentia envergonhada só de pensar assim do pai dos garotos pelo qual fui capaz de amar. E mais uma vez ele não me respondeu, então decidi fazer as outras perguntas, as quais eu arrancaria dele respostas. _Se queria tanto me salvar por que mandou um anjo para me matar?

_Bom, – ele se inclinou para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, uniu as mãos o olhar perdido em algo nas árvores e flores no parque. _Aquilo foi um teste. Talvez fique feliz em saber que passou.

_É, estou radiante. – disse num sarcasmo seco, o que fez o sorriso dele se alargar. _O que quer dizer com teste, um teste para que? – Miguel se volto para mim, os olhos pareciam capazes de me ler por inteira. Estava sério, a boca uma linha reta.

_Para saber o quanto você é útil. Para saber a extensão de seus poderes. Você acabou de matar um anjo, com as próprias mãos. Isso é... grandioso. Joriel era um bom soldado, um dos melhores, e você acabou com ele. Eu o ouvir gritar, ele sentia dor. Foi... impressionante. Queríamos descobrir o que você é.

_E se... e se eu morresse? – minha voz soou fraca.

_Não morreu. E bem... se isso acontecesse não seria mais problema meu. Se você morrer Lúcifer ira encontra-la. Não importa o que faça, você pertence a ele. Percebo isso agora. – falou Miguel endireitando a postura.

_Não pertenço a ninguém. – disse baixinho como se estivesse tentando me convencer daquilo.

_A ligação que tem com Lúcifer é mais forte do que pensa. Você foi... marcada.

_Marcada? – minha cabeça começava a girar como se ao invés de cérebro eu tivesse mecanismos.

_Sua alma, quando morreu ele a trouxe de volta a vida, mas sua alma fora corrompida. Pense nisso como um carimbo, e o que ele fez com você não permitira que sua alma suba ao céu, não importa o que fizer na terra ou que seja absolvida de seus pecados. Você é um pecado.

Não sabia o que dizer, nem o que pensar. O que Lúcifer fez comigo era quase demais para suportar sem surtar, quando mais descobria mais repulsiva a mim mesma ficava. Ele tinha feito mais do que me transformar em... nessa criatura. Ele me transformou em algo terrível, totalmente errado e horrível. Um monstro disfarçado de humano. Ele fez com que eu me odiasse.

Limpei a garganta, não ia fraquejar na frente do arcanjo Miguel.

_Como ele fez isso se estava preso na jaula? – perguntei saindo do meu estado de horror, a voz me traindo e se pronunciando sem força alguma.

_Eu não tomo conhecimento de todos os negócios sórdidos do meu irmão. Pergunte a ele. – perguntar a ele? Como se eu tivesse contato direto com o Diabo, como se eu quisesse tomar chá com ele e discuti o por que e como ele ferrou com a minha vida. Vida que alias nem deveria existir.

_O que você quer de mim?

_Está começando a fazer as perguntas certas. – ele se recostou no banco e voltou toda sua atenção para mim. _Tem tempestade vindo por ai, e está cada vez mais próxima. Os Winchesters não são capazes de impedir, mas eles vão tentar, é isso que fazem. E você... você é uma peça importante nesse jogo. Uma variável que não prevemos. Precisa escolher um lado, e logo. Quando meu irmão a convocar, e ele vai, precisa saber para quem está lutando. O que eu quero de você, é sua lealdade...

_Eu sei por quem estou lutando, eu seu em que lado estou! – o interrompi indignada. Uma moça que passava a nossa frente nos olhou desconfiada, respirei fundo para controlar o limite da minha voz. _Estou do lado das pessoas que não tem nada a ver com essa sua briguinha com seu irmão.

_Acha mesmo que ira resistir a Ele. Isabel, você não entende o que meu irmão fez com você. Você pertence a ele, você ira até ele, querendo ou não. Porém, você tem os Winchesters, eles são a única coisa que a impede. Mas Lúcifer se preveniu muito bem. Ele têm algo que vai fazê-la mudar de ideia quanto a sua... lealdade. Eu vi o jeito que ficou quando matou Joriel, vi a satisfação em seu rosto, você gostou daquilo. Gostou da sensação de poder. Você viu como se transformou. Isabel, você sente prazer no poder que o sangue de Lilith proporciona a você. – ele ajeitou o corpo para ficar bem próximo a mim, sendo eu capaz de sentir o cheiro de creme de barbear, sabonete, e graxa. O suficiente para que eu sentisse como um manto morno sobre mim todo o seu poder e glória. _Eu quero sua ajuda, quero que mate meu irmão.

_O quê? – repliquei um pouco chocada.

_Quero que quando chegar a hora você esteja comigo. – continuou com a voz baixa e os olhos faiscando.

_Não posso, eu... isso não é possível. – disse num sussurro quase inaudível.

_É possível. O que você tem é magnifico, e fica mais forte. Eu senti, ouvir seu chamado quando estava naquela cidadezinha, em uma só vez você dizimou uma cidade inteira de demônios. Acredite, você é capaz.

_Disse que Lúcifer têm algo que vai fazer eu mudar minha lealdade, o que ele têm? – deslizei um pouco no banco criando alguma distância entre nós. Ele ficou em silêncio por um tempo, tanto tempo que sentia meu estômago se contrair em apreensão. Enfim disse placidamente, desviando o olhar de mim para o parque outra vez:

_Não a trouxe aqui só por que esse era o lugar agradável que estava na sua mente. Quero que veja uma coisa, quero que observe atentamente. – devagar seguir a linha de seu olhar. Não via nada demais, apenas algumas pessoas passeando, se exercitando, um menino jogando frisbe como o que parecia ser a mãe e só. O mesmo cenário desde que chegamos ali. Voltei a olhar para ele. _Tenha paciência, observe.

Fiz o que ele pediu, respirei fundo e olhei para frente, olhei para cada rosto desconhecido, cada sombra daquele parque e nada me pareceu suspeito ou de alguma forma que chamasse a minha atenção. Mas mesmo assim continuei olhando, esperando algo surpreendente soltar a vista. Se passaram alguns minutos e eu começava a ficar impaciente. Ia perguntar a Miguel o que estava olhando quando alguma coisa voou na minha direção e pousou a meus pés. O frisbe do menino. O peguei na mão pronta para devolver, o garoto vinha correndo na minha direção.

_Observe. – sussurrou Miguel. Ia perguntar o quê quando o menino parou ofegante na minha frente. Diria que tinha mais ou menos dez anos ou onze, um emaranhado de cabelos escuros meio encaracolados grudados na testa por conta do suor.

_Moça, me desculpa se acertei a senhora. – disse o menino preocupado, o sotaque de Oxford bem carregado.

_Tudo bem, não me acertou. – disse o tranquilizando. Ele então sorriu, os olhos tão cinzentos como o céu em dia de tempestade, um brilho infantil neles. Era um menino bonito e era tão...

Meu coração pareceu dar um tranco e tudo colidiu de maneira tão chocante e dolorosa que me deixou tonta. Jamie?Impossível, era só um garoto. Mas aqueles olhos cinzentos como os do papai. A semelhança era chocante e fazia com que tudo a minha volta perdesse o sentido. Era uma fantasia, um truque cruel de Miguel. Mas mesmo assim deixei que meus olhos ardessem. O garoto falava alguma coisa para mim, acho que era em relação ao brinquedo ainda na minha mão. Ele franziu o cenho. E meu mundo começou a girar.

Senti meus dedos perderem o contato com o plástico, Miguel falou alguma coisa para ele, o menino respondeu e com um sorriso, depois olhou para mim por alguns segundos e se virou, correndo de volta para alguém que não podia ser sua mãe.

Me jogaram em um tanque cheio de emoções. Não sabia o que pensar, tudo se resumia a uma cor, os olhos deles. Eu reconheceria o meu irmão, reconhecera aqueles olhos. Já os meus estavam embaçados, e meu coração tão apertado que o sentia se contrair no peito.

_O que... o que é isso? – perguntei fraca deixando que as lágrimas traçassem seu caminho no meu rosto. Miguel olhou para mim, o cenho franzido parecendo que estava preocupado, ele expressava reações tão humanas.

_Você não parece bem. – disse um pouco indiferente apesar de mostrar preocupação.

_É claro que não estou bem! – explodi, as lágrimas caindo ferozmente agora. _Eu acabei de... Meu Deus, o que está acontecendo? Isso não pode, não pode ser real, não pode... – começava a soluçar, não me importando com as pessoas que passavam. Levei a mão ao peito, amassando a camiseta. Meu coração estava preste a se quebrar. Estava tremendo e a sensação de tontura me dominava. Se não tivesse sentada eu tenho certeza que estaria no chão. _Por favor, me explica o que é isso?

_Seu irmão, demônios criaram seu irmão por todo esse tempo...

_Não! você está mentindo. Eu enterrei ele! – gritei. _Como pode? Isso não é possível, eu... – Miguel pegou a minha mão e eu sentir uma onda forte me arrebatar, uma sensação apaziguadora, e todo o pânico alojado na minha garganta, toda a histeria em minha cabeça foi se acalmando. Parecia uma droga, feito as que eu tive que tomar quando acordava no meio da noite gritando por que eu tinha matado meu irmão e minha mãe.

Eu sofri tanto, mas tanto que só de imaginar que talvez aquilo fosse uma farsa me deixava desesperada e entorpecida. Aos poucos meu batimentos voltaram ao normal, minha respiração também, e os soluços acalmaram. Miguel não largou minha mão. Olhei para frente, tomando coragem para olhar o garoto. Ele não jogava mais, a moça que o acompanhava falava com ele e os dois se afastaram, a moça arrastando-o para longe. E tive a impressão que ela olhou diretamente para mim, estava longe mas podia ver o quanto ela temia, não a mim, mas a quem estava ao meu lado. Ela era um demônio e estava levando o garoto para longe de mim. Levando o meu Jamie.

Tive um impulso de levantar e correr até eles, afasta-lo dela, mas a mão segurando meu pulso era forte demais, não ia deixar eu ir em lugar algum.

_Eu sei que isso foi um choque para você, mas não pode ir até lá. Tem demônios nesse parque, muitos, não conseguiria nada...

_Mas você pode. Se isso é verdade, por favor salve meu irmão. Você precisa... – estava falando muito rápido, me atrapalhando com os pensamentos em turbilhão. _Por favor.

_Pretendo salvar seu irmão, não agora, não aqui e não hoje. – respondeu soltando meu pulso. Olhei para frente e o parque de repente estava deserto. Eles tinham sumido além dos jardins, e as outras pessoas pareciam ter acompanhando os dois e deixando uma impressão de que eu e Miguel estávamos sozinhos.

_Aquelas pessoas, eram demônios? – perguntei exaurida.

_Eram, pelo menos a maioria. Eles perceberam algo estranho, nos notaram e foram embora.

_Como? Como isso é possível? – perguntei novamente. Minha mente revirando o passado que me esforcei para esquecer, voltando a cena de quando o carro caiu da ribanceira. Minha mãe, Jamie e meu pai desacordados, tinha tanto sangue, tanto ferro torcido e eu gritava tanto e ninguém ouvia. Eu só pedia a Deus que os salvasse. Estava tão escuro...

_Não deve ter sido complicado. Era só usar alguns demônios aqui e ali, um corpo no lugar, um pai desesperado demais para ver a farsa e pronto. – eu não conseguia parar de deixar as lágrimas mornas caírem. Era tudo tão absurdo. Tão impossível.

_Para onde eles levaram o meu irmão? – perguntei a voz tão carregada que era vergonhoso.

_Para um lugar seguro, ele tinha cinco anos, foi criado em um orfanato de muito prestigio aqui em Oxford. Ele está bem, não se preocupe, em todos esses anos ele nem sabe da existência de demônios. – olhei para ele aturdida e começando a ficar entorpecida com tudo aquilo.

_O que você quer? – perguntei deixando as lágrimas de lado. Ele me fitou, era esse o objetivo de tudo aquilo. Ele estava roubando a tentativa de Lúcifer de conseguir o que quiser de mim. E eu daria tudo.

_Quero que convença Dean e Sam a dizerem Sim. Mas entenda, eu não quero essa luta, mas ela vai acontecer e quando acontecer eu não quero ter que matar meu irmão.

_Não precisa lutar se não quer.

_Eu preciso. Sou um bom filho. – balancei a cabeça.

_Não posso fazer isso. Dean e Sam nunca diriam Sim...

_Eu tenho certeza que está subestimando sua influencia nos dois. Eles amam você, fariam qualquer coisa que pedisse, é só saber pedir. Convença-os a dizerem sim e eu salvo seu irmãozinho.

_Achei que para você só interessava se Dean dissesse Sim, o que Sam tem a ver com isso?

_Não seria uma luta justa se meu irmão usassem aquele corpo despedaçando, e tem mais uma coisa. – ele levou os dedos ao bolso da camisa e tirou de lá alguma coisa. Tinha uma vaga lembrança de quando ele adquiriu aquilo; o anjo sangrando e entregando a ele... Miguel levantou o objeto para luz e eu vi que era um anel, masculino. Quando ia perguntar ele voltou a falar. _Isso aqui pertence ao cavalheiro Peste. Seu namorado tem o anel de Guerra, faltam dois e depois temos uma chave. Essa chave abri uma porta. A Jaula de Lúcifer. – ele fez uma pausa. Esperava que dissesse algo mais, mas ele não disse, então perguntei.

_O que pretende fazer com isso? – perguntei limpando o rosto os últimos registros de lágrimas.

_Nada. O que vocês poderiam fazer, isso sim pode ser interessante. Vou ficar com isso aqui, por que tenho certeza que essa chave, essa descoberta da jaula vai ser o plano de vocês. Mas não posso deixar que isso aconteça. Tenho que lutar com meu irmão. E você terá que mata-lo. Só assim será o paraíso na terra. – balancei a cabeça negativamente enquanto ele insistia naquela insanidade.

_Se quer tanto ele morto, por que não mata você mesmo? – ele pareceu genuinamente ferido, como se essa ideia nunca tivesse lhe ocorrido, e isso o deixasse assombrado, mas logo ele se recuperou.

_Ele ainda é meu irmão, não quero mata-lo. Não posso. Lúcifer só precisa de uma lição de mim. – ele se levantou. Parecia pronto para partir. _Hora de voltar...

_Mas e meu irmão, eu quero ver ele, você pode me levar... – me calei quando senti que ele pegou minha mão, e tudo começou a girar e ficar tão claro que nem podia vê-lo. Nos encontraremos em breve. O ouvi sussurrar...

Agora estava cercada por escuridão. Insegura quanto ao meu peso em pé. Estava de volta onde tudo começou, de volta ao bar. Respirei fundo, e passei os dedos no cabelo tentando controlar-me. Agora que estava de volta tinha muito no que pensar. No meio do bar Castiel me fitava. Seus olhos azuis escuros brilhando na pouca luz, na expressão certa surpresa. Era obvio que ele não esperava que voltasse.



... - ...



_Eles não deviam já estar de volta? – perguntei a Castiel. A pouco ele tinha me contado o que Sam e Dean estavam fazendo no céu.

Eu começava a ficar preocupada. Estava sentada no chão, as costas na parede e os joelhos dobrados e com as duas mãos apoiando a cabeça pesada de pensamentos.

Contei a Castiel o por que ainda estava respirando. Contei sobre o teste, os anéis, e sobre a sala onde acordei - ele disse que provavelmente ele estavam tentando descobrir o que eu era - disse também sobre a teoria de Miguel de que eu deveria matar Lúcifer. Deixei de fora a chantagem de Miguel por causa do meu irmão.

Meu irmão vivo. Era muita informação para minha cabeça numa noite só. Sentia uma espécie de felicidade contida, mas o medo de que aquilo tudo fosse uma fantasia esmagava meu peito cheio de esperança. E eu não fazia ideia do que fazer.

_Eles vão voltar logo. – respondeu Castiel vazio. Ele estava encostado na mesa de sinuca olhando para o nada. Abaixo os rabiscos de anjos feitos com sangue e giz. Castiel tinha expressado poucas opiniões sobre o que acabei de conta. O silêncio me incomodava. Precisava falar alguma coisa ou fazer alguma coisa, mesmo que parecesse que toda a energia do meu corpo estivesse sido sugada. Nem sabia se conseguiria levantar dali. E segurar as lágrimas era um esforço que exigia muito de mim.

_Acha mesmo que posso matar Lúcifer? – perguntei, a voz baixa e fraca. Castiel finalmente olhou para mim.

_É possível. Mas... – ele hesitou, e aquilo não podia ser um bom sinal, Castiel não costumava hesitar.

_Mas o quê?

_Você morreria. – aquelas duas palavras demoraram um pouco para surtir efeito, tanto que por uns segundos encarei Castiel totalmente impassível. Quando finalmente fizeram sentido eu descobrir que estava tão entorpecida com as descobertas do dia que não conseguia demostrar ou sentir qualquer emoção. Continuei fitando Castiel enquanto meus pensamentos tomavam uma linha racional.

_Então é isso que Miguel quer, ele estar tentando se livrar de mim e de Lúcifer de uma vez só?

_Ele descobriu que você é uma ameaça e não pode mais arriscar, seria mais inteligente não tentar matar você e sim fazer com que se mate. – completou Castiel. Afundamos no silêncio mais uma vez.

Eu era usada como uma peça de xadrez, os jogadores eram Lúcifer e Miguel, ambos tinham controle sobre mim. Miguel sabia que eu faria qualquer coisa pelo meu irmão, e Lúcifer têm meu irmão. Confio em Miguel e salvo meu irmão ou confio em Lúcifer e salvo meu irmão. Morro tentando matar a criatura que destruiu minha vida ou sou usada como arma na mão do mesmo, o que provavelmente também me mataria.

Queria gritar, queria quebrar algo até minhas mãos sangrarem, por que não conseguia vê uma saída, não conseguia encontrar um jeito de contornar a situação e a ideia de que não tinha ideia do que fazer era insuportável. Agora as apostas eram mais alta e numa jogada mal calculada poderia perder tudo. Minha mente provavelmente estava fritando e entrando em curto.

Apertei mais os dedos entre os feios do cabelo como se fosse arranca-los. Queria sentir dor, queria esquecer de tudo e dormir por semanas. Queria tanto achar um jeito de separar meus pensamentos emoções em uma lousa para que eu possa avaliar com cuidado cada aspecto de cada um. Por que só assim conseguiria sair desse labirinto que se fechava mais a minha volta.

Uma barulho me arrancou dos meus pensamentos conturbados, um arquejo, Dean tinha acabado de acordar. Saí do meu estado de torpor e corri para ele. Em seguida foi a vez de Sam despertar. Ajudei Dean a levantar, mesmo que não precisasse, mas o buraco na sua camisa manchada sangue ainda assustava. Assim que ficamos de pé ele me puxou para si num abraço forte. Depois me afastou me examinando de baixo a cima.

_Você está bem? – perguntou ofegante, olhando para um ponto na minha barriga. Onde não havia marca, nem sangue e nem vestígios de que eu tinha levado uma facada. Ele segurou meu rosto procurando meus olhos, parecia um pouco desesperado e muito preocupado, depois me abraçou novamente. Apertando uma mão na minha cintura e outra a na minha cabeça contra seu peito. Quase podia sentir o alívio relaxar seu corpo. Tive que resistir ao impulso de me agarrar a ele e chorar em seu peito.

_Dean, eu estou bem. – disse com a voz abafada em seu peito, ele finalmente me soltou. Quando fez tentei achar Sam atrás dele. Ele parecia bem o que fez meu peito se aliviar. Ele olhou pra mim compartilhando do meu alívio. Queria abraça-lo também, mas senti que não deveria. O que importava era que meus garotos estavam bem, era isso em que tinha de me concentrar agora. _Eu explico tudo depois. – disse a Dean.

_Então, encontraram Josué? – interveio Castiel. Ele parecia ansioso, os olhos brilhando de esperança. E eu também fui contagiada com aquilo, talvez aquela fosse a resposta e eu não precisasse decidir nada. Dean e Sam trocaram olhares e vi que tinha alguma coisa errada. Dean abriu a boca para falar, mas foi interrompido pelo barulho de sirenes.

Luzes vermelhas e azuis explodiram das poucas e janelas do bar, obviamente alguém havia chamado a policia. E foi aí que percebi que o tempo aqui era diferente de quando estávamos no céu. Ainda escuro aqui, e por conta do fuso horário amanhecia na Inglaterra. Eu tinha sensação de ter se passado uma eternidade longe de Dean quando na verdade se passaram alguns minutos ou horas.

_Cass. – disse Dean. Numa piscar de olhos já estávamos no meio do quarto em que dividia com Dean.



... - ...



A última esperança lhes foi arrancadas. Sam viu isso em Dean enquanto Josué falava, em Castiel enquanto ouvia o que o irmão tinha a dizer e em Isabel, que pareceu empalidecer ainda mais. E Sam também se sentia derrotado. Mas ainda existia a centelha de que nem tudo foi feito, de que nem tudo estava acabado.

Depois de ouvirem o que Isabel tinha a dizer e contarem o que eles passou, foi decisão unanime voltar para casa de Bobby. Atravessaram o estado de Nebraska, o silêncio dominando o pequeno espaço do Impala. Todos estavam cansados e imersos em pensamentos. Sam não pode deixar de notar algo em Isabel, ela tinha passado por coisas horríveis - como foi narrado por ela; o teste doentio de Miguel, depois a sala onde ela acreditava que foi "virada do avesso" e ainda a conversa com Miguel - mas tinha outra coisa, algo que a perturbava.

Depois de chegaram pela tarde todos contaram a Bobby os acontecimentos e foram direto para as camas. Aquele lugar tinha virado um refúgio, onde os problemas ficavam além das cercas do ferro velho e eram incapazes de se aproximarem. Apesar dos fantasmas do episódios vividos por Sam no quarto do pânico ainda o deixar desconfortável ele se sentia bem ali.

Agora Sam estava acordado ás 3 da manhã, deitado de costas na cama, num colchão não muito macio, olhando para o teto, fazendo um esforço para distinguir figuras nas manchas acima, tentando pelo menos fazer sua mente parar de pensar no Apocalipse e suas vertentes. Tediado e com as costas começando a reclamar ele decidiu se levantar e ir buscar uma xicara e café ou qualquer outra coisa que tivesse na geladeira de Bobby.

Desceu as escadas com o cuidado para não fazer barulho e acordar Dean e Isabel que dormiam no quarto em frente, os dois mereciam um descanso. Chegando na cozinha ele começou a preparar seu café. Quando achou estranho a iluminação vinda sala, a lareira ainda estava acesa. Ele sabia o porque muito antes de Isabel aparecer no batente na entrada da cozinha com uma caneca na mão.

Ela sorriu para ele, metade do seu rosto coberto por sombras, a forma do cabelo quase indistinguível na escuridão atrás de si, mas Sam não deixava de se impressionar com o brilho de seus olhos, eram como fogo azul numa penumbra. Ele correspondeu o sorriso enquanto ela se aproximava para se recostar na bancada de frente a ele.

_Acho que posso considerar esse lugar o nosso lugar. – disse baixinho ainda sorrindo. Ela é claro fazia referência ao encontro em que os dois tiveram numas madrugadas atrás, onde ficaram sozinhos pela primeira vez, e foi quando Sam disse que acreditava nela. O sorriso de Sam se alargou e ele se voltou para a tarefa de continuar preparando o café.

_Não posso discordar. – respondeu jogando o pó no coador colocando a água quente logo em seguida.

_Não consegue dormir? – perguntou Isabel, agora olhando para a caneca nas mãos.

_Não. – disse Sam pegando gentilmente a caneca vazia da mão dela para reabastecer.

_Corre um rumor pelo clube da insônia que diz que café não é uma bebida muito indicada nesses casos, mas você sabe, são apenas boatos. – disse ela com a última parte usando um tom conspiratório que fez Sam rir, derramando um pouco de café fora da sua caneca. _Shh, vai acordar os outros afortunados que conseguem dormir.

_Mesmo com esses boatos seríssimos aqui está você com uma caneca vazia na mão. Rebelde. – agora foi a vez de Isabel dar uma curta risada abafada.

_Errou Sherlock, era chá.

_Chá? Não sabia que Bobby era chegado a chá. – disse Sam franzindo o cenho enchendo a caneca de Isabel, o aroma de café recém preparado empesteando a cozinha.

_Isso eu não sei, comprei esse na nossa última parada. Uma dica, não compre chá em postos de gasolina, tem gosto de folhas velhas que nem com muito açúcar melhora. – Sam balançou a cabeça negativamente um sorriso brincando nos lábios. _O que foi?

_Nada, só que as vezes você é tão... britânica, mesmo vivendo aqui a tanto tempo. Açúcar?

_Ainda carrego comigo um pouco do patriotismo. E pouco açúcar, gosto do gosto amargo. – Sam colocou uma colher de açúcar e mexeu, depois lhe devolveu a caneca, ela levantou como num brinde e sussurrou: _Vida longa a Rainha. – Sam assistiu sorrindo enquanto ela tomava uma golada do café, seus olhos fixos nos dele, e ele se lembrou de algo importante.

_Ah, espere aqui, tenho uma coisa para você. Algo que comprei lembrando sobre o que me disse sobre seu aniversário esse ano. – ela olhou para ele como criança olha para um presente em baixo da árvore da árvore de natal com seu nome nele.

_O que é? – perguntou ansiosa.

_Espere aqui, eu vou buscar.

_Como se eu fosse a algum lugar. Vai logo. – disse Isabel empurrando Sam para fora da cozinha. Sam partiu rápido tentando não fazer barulho.

Ele vasculhou no fundo da mochila e logo encontrou o que procurava embrulhado num papel de jornal de dois estados atrás em que tinham passado, ele tinha esquecido completamente daquilo. Também dados aos acontecimentos ele achou que não fosse a hora de presentes, mesmo que fosse uma coisa simples. Mas o motivo real por não ter dado foi por que achou um pouco pretensioso e inapropriado de sua parte, afinal Isabel era a... namorada? Garota do Dean.

Mesmo hesitando ele desceu as escadas de volta, agora que já falou não tinha como voltar. Chegando ele encontrou Isabel esperando por ele, no meio da sala. Só agora com a luz da lareira, se apagando aos poucos, ele reparou no que ela vestia; Um shortinho curto e solto cor de rosa com bolinhas, e dessa vez ela deixou a camisa de Dean de lado e vestiu uma camiseta branca, um pouco curta para seu tamanho mostrando um pouco da barriga e um pouco do umbigo quando ela se mexia.

O cabelo negro um pouco indisciplinado moldurava o rosto destacando ainda mais os olhos intensos. Ele se pegou olhando para Isabel com outros olhos, não maliciosos ou impuros, mas ele era um homem e com o raciocínio totalmente masculino ele via a sua frente uma mulher incrivelmente sexy, algo impossível de ser indiferente. Sam sentiu-se enrubescer e torceu para que ela não percebesse.

_Não fique aí me olhando, eu quero ver o que você comprou. – se possível o rosto de Sam esquentou ainda mais, e ele queria não ter descido aquelas escadas da primeira vez. É claro que pelo tom Isabel estava brincando, ela não parecia perceber nada, nem mesmo a face vermelha de Sam. Ele esticou para ela o pequeno quadrado, mantendo certa distância, e ela para ele sua caneca.

Isabel lançou um último olhar divertido a Sam antes de começar a desembrulhar o jornal velho. Sam se sentiu satisfeito quando os cantos da boca de Isabel subiram num sorriso largo. Ela olhou maravilhada para a capa do fita k7 rara e antiga da sua banda favorita e depois para ele, a gratidão estampada nos seus olhos.

_Isso é... incrível, mesmo, eu adorei. – disse ela, Sam notou que ela realmente tinha gostado, e se preocupou quando viu que Isabel se emocionara.

_Hã, tudo bem? – perguntou diminuindo a distância entre eles.

_Sim, é só... isso é tão... gentil. Eu só me lembrei do Adam, ele era o único que sabia que eu amo essa banda, nem mesmo meus ex namorados sabiam ou tinham prestado a atenção num detalhe tão pequeno, mas que significava muito para mim. As músicas do The Smiths me inspiravam na hora de fotografar. Eu sempre pensava nisso como algo muito pessoal. – Sam não sabia o que dizer. _Como você soube? –ele não tinha nenhuma resposta profunda ou que envolvesse um conhecimento muito minucioso sobre Isabel, então disse a verdade:

_Eu vi você vestindo uma camiseta com o símbolo da banda. Foi apenas uma suposição. – respondeu Sam encolhendo os ombros. Isabel riu e tampou a boca para abafar a risada. _Eu vi quando passei numa loja de discos antigos, perguntei ao vendedor e ele me disse que era uma coletânea das melhores músicas da banda, feita apenas poucas cópias em 83 antes da banda terminar, então essa deve ser uma das poucas que ainda sobreviveram ao tempo e... – com um sorriso fazendo sumir a umidade de seus olhos ela jogou os braços em volta de Sam num abraço o fazendo se calar.

_Obrigada. – disse no peito dele. Quando ela se afastou estava com um sorriso brincalhão no rosto. _Vamos ouvir.

_Agora? – perguntou Sam.

_Claro. – Isabel se afastou dele e começou a procurar por alguma coisa. Ele a observou enquanto pegou um radio velho do Bobby e levou consigo para perto da lareira. Colocou numa mesa no canto e pôs a fita tomando o cuidado para deixar o volume baixo. Ela se voltou para Sam, seus olhos estampados de divertimento e ele se lembrou o quão jovem ela era. _Vem, vamos escutar.

Sam pegou sua caneca na cozinha e se juntou a ela, sentou numa cadeira de frente para Isabel - que estava na poltrona com os pés no acento e os joelhos dobrados - de costas para a lareira. O calor que emanava das chamas era bem vindo. Ele ouviu as primeiras notas da música "Please, let Me Get What I Want" baixinha e suave se entrelaçar entre os dois. Eles não disseram nada. Ficaram em silêncio ouvindo a primeira faixa da música como se ela precisasse desse silêncio para ser absorvida e entendida. Apenas as palavras cantadas do vocalista e nada mais.



"...Eu não tenho sonhado há muito tempo

Veja, a vida que eu tive

Poderia fazer um bom homem mal

Então, pela primeira vez na minha vida

Deixe-me ter o que eu quero

Senhor sabe, que seria a primeira vez..."

Quando a música acabou e Isabel sorriu para ele quando outra começou.

_Me conta algo engraçado, sobre você. – pediu ela, Sam a encarou sem ter muita certeza do que deveria dizer. Não tinha muito de engraçado sobre ele que poderia interessar, mas ele lembrou de algo que talvez ela achasse engraçado.

_Eu odeio palhaços. Do tipo se eu fosse presidente proibiria os malditos palhaços de andarem pela América. – ele conseguiu o que queria Isabel tentava sufocar uma risada, sem muito sucesso e ele se preocupou se alguém poderia ouvi-los.

_Como assim? Você se escondia debaixo da cama quando passava o comercial do McDonald's? – ela limpava os cantos dos olhos que escorreram lágrimas do esforço de tentar conter uma gargalhada. Sam conseguiu rir também. Ele gostava daquilo, de como ela o contagiava e parecia capaz de folheá-lo como um livro e ele nem se importava que Isabel lesse suas linhas e encontrasse nos seus parágrafos o que ele não revelaria para ninguém.

Ele teve amigos, teve um amor e perdeu tudo isso, mas agora tinha alguém que conhecia o segredo que ele havia escondido de todos para protege-los e também por medo da reação que teriam. Isabel sabia o que ele fez, sabia que se Sam não tivesse feito decisões erradas ela não estaria em perigo, Adam não morreria e talvez ela pudesse realmente ser feliz. Mas Isabel o olhava como alguém que confiava, não havia acusações ou repulsa, tudo o que era ruim tinha ficado para trás e pela primeira vez ele se sentia leve e compreendido.

Sam nem sabia que podia se sentir assim até conhece-la.

_Não, eu não fazia isso. – disse Sam com a voz baixa e alegre.

_Mas da onde isso vem? Algum palhaço te mostrou outra coisa ao invés de um algodão doce quando você era criança?

_Deus, não, não é nada disso. – Sam se apressou a dizer. _Acho que era por que as vezes eu era obrigado a ficar naqueles lugares onde os pais largavam as crianças quando cansavam delas ou simplesmente não tinham ninguém para tomar conta. Dean e meu pai me mandavam para lugares assim quando tinha que resolver alguma coisa, ou quando Dean queria ficar com alguma garota e não tinha com quem me deixar. Então eu ficava bravo com aquilo, eu achava que já era grande demais para ficar desenhando com giz de cera e ter que assistir os malditos palhaços tentarem fazer truques que eu já sabia como eram feitos. Eu acho que canalizei toda essa raiva em uma coisa só. – ela balançou a cabeça e disse:

_Pobrezinho. – parecia que ela lamentava de verdade mesmo que estivesse sorrindo, o que Sam achou um tanto fofo.

_E você, me conta algo engraçado sobre você. – pediu Sam, se divertindo com o jogo. Isabel tomou um gole longo do café e pensou um instante.

_Isso é constrangedor, mas eu tive uma paixão platônica pelo Nick Carter do Back Street Boys.

_É, isso com certeza é constrangedor. – comentou Sam.

_Eu achava que nós íamos nos encontrar no ponto de ônibus, na biblioteca ou coisa assim, ele derrubaria meus livros e nós nos olharíamos bem nos olhos nos apaixonando instantaneamente. Casaríamos e eu iria morar com ele numa casa enorme longe do meu pai, e levaria Jamie comigo, e teria acesso livre a todos os shows. – disse ela como se recordasse de algo extremamente ridículo do seu passado mas que trazia boas lembranças. Sam deixou escapar o sorriso no rosto.

_Que romântico. – ironizou.

_É sim muito romântico. E como chama mesmo quem tem fobia a palhaços... – ela pareceu pensar seriamente, Sam apenas riu com a provocação.

_Ei, não zombe do meu trauma de infância, isso é mais sério do que uma paixonite pré-adolescente pelo Justin Bieber da geração passada.

_E você acha que nunca encontrar com Nick Carter não foi um trauma para mim? – ela fingiu está magoada dramaticamente levando a mão desocupada ao peito. _Estou muito chateada com você Sam Winchester, feriu meus sentimentos com essa declaração tão...

_Equivocada? – Sam ofereceu a ela a palavra.

_É, exatamente. Estou pensando seriamente em cortar laços com o senhor, Winchester. – Sam se deixou levar pela brincadeira.

_Faria isso? Mesmo depois de receber minhas sinceras desculpas? Eu realmente me arrependo de fazer tão pouco caso dessa desilusão amorosa tão dolorosa. Eu sinto pelo seu sofrimento, e sinto pelo homem que deixou de conhecer uma senhorita tão bela. – Isabel foi a primeira a ceder ao teatro e Sam viu um sorriso um pouco tímido surgir em seu rosto, estava escuro mas ele podia jurar ter visto ela corar.

Depois de um tempo de silêncio, outras músicas tocadas e goles de café meio frio Isabel falou novamente:

_Me conte mais, quero ouvir mais sobre você.

E assim Sam fez, contou para Isabel histórias de seu tempo de colégio e infância, algumas envolvendo Dean. Eram apenas memórias felizes e engraçadas, Isabel ria enquanto ele contava, fazia poucas perguntas só o ouvia com alguns comentários provocativos aqui e ali.

E assim o tempo passou, as músicas foram chegando a metade das faixas e os dois se acalmavam, satisfeito em sentirem a barriga se contrair pelos motivos certos. E o silêncio os cobriu novamente. E Sam aproveitou o momento para olhar para ela. Isabel olhava para a lareira crepitando em suas últimas chamas lançando sobras dançantes em seu rosto e deixando seus cílios longos estampados no alto das bochechas. Parecia perdida e muito distantes. Ela tinha rido com ele e feito piadas, mas só podia encobrir em até certo ponto o que realmente sentia, Sam sabia que tinha alguma coisa errada.

_Está tudo bem? – perguntou preocupado. Ela olhou para ele um pouco sobressaltada, como se fosse pega fazendo algo que não deveria. Antes que ela vestisse sua armadura novamente ele viu o lampejo em seus olhos de que realmente tinha acontecido alguma coisa.

_Claro. – respondeu disfarçado muito bem, mas não o suficiente. Sam se perguntou desde quando podia interpretar os sentimentos de Isabel. Ela não se sustentou por muito tempo, Sam assistiu quando Isabel deixou a escudo e se mostrou inteira para ele. Uma expressão um pouco assustada e acuada, os olhos bem abertos refletindo as chamas da lareira, ele se preparou para o que ela iria dizer. _Na verdade não, não estou muito bem. É que aconteceu uma coisa quando eu estava, você sabe, lá em cima. – Sam se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, tanto para ouvi-la melhor, tanto para ficar mais perto. E ele percebeu que o movimentou talvez tenha sido um erro, ele a viu recuar um pouco, o olhar parecia petrificado nele, como se decidisse se deveria ou não contar e essa indecisão a assustava. Sam ficou mais preocupado e não se conteve ao dizer:

_O que aconteceu? Você pode contar para mim. Pode confiar em mim. – Isabel usou segundos inteiros para pensar e repensar, e Sam acabou por assistir desapontado ela recuar ainda mais, ficando distante. Ainda que tentado a insistir ele deixou que ela tomasse a palavra, e ali se via a diferença entre Sam e Dean, Dean teria insistido até que Isabel se desse por vencida e despejasse o que quer que fosse enfurecida e irritada. Mas eles era tão diferentes.

Então Sam não disse nada, se ela quisesse que ele soubesse falaria.

_Desculpe, não queria preocupar você, não é nada demais, é que... eu só não consigo deixar de me sentir envergonhada com o que o anjo fez comigo. Ele... ele me bateu com o cinto, tantas e tantas vezes e que eu não aguentei, eu cheguei a implorar para que ele parasse. Não deveria ter feito isso, deveria ser mais forte, deveria conseguir me defender sem ter sido tão... humilhada. – por mais que Isabel estivesse sendo sincera quanta aquilo Sam sabia que não era o que a incomodava de verdade.

_Não tem do que se envergonhar, não foi uma briga justa e mesmo assim você acabou com ele, deveria se sentir orgulhosa. – Isabel quase riu e foi melhor não ter feito, Sam tinha certeza que seria uma risada cínica. Ela não acreditava nele e nada que dissesse ia conforta-la.

_Diz isso por que não viu no que me transformei. Se tivesse visto não estaria aqui comigo me oferecendo café e dizendo que sou bela. – disse amarga e fria.

Nenhum dos dois viu os demônios enjaulado que ambos guardavam dentro de si. Sam tinha a mesma opinião que ela sobre como Isabel reagiria se visse no que ele se transformou quando estava possuído pelo poder que o sangue de demônios o proporcionava. Se ouvisse seus berros vindo do quarto de ferro abaixo deles. Se visse como ele foi contra o próprio irmão seguindo um demônio.

_Eu amo essa música. – a música era "There Is a Light That Never Goes Out" Sam ainda era capaz de se surpreender com Isabel. Ela o fitava com um sorriso brincalhão no rosto, nem sinal da aspereza anterior. Isabel tinha empurrado de volta o que quer que iria contar a ele. _Vem, dança comigo.

_Não, eu não danço... Isabel...– mesmo com seus protestos Isabel já tinha se levantado e puxado ele pelo braço, deixando as canecas vazias na mesinha. Antes mesmo de começar Isabel já estava rindo dele.

_Tudo bem, coloca essa mão aqui. – ela guiou a mão dele para sua cintura, fazendo os músculos de Sam tencionarem. Isabel deu mais um passo a frente encostando seu corpo no dele, guiando as mãos de Sam no seu corpo. A ponta de seus dedos passaram de leve por cima das cicatrizes que ele tinha no ante braço por ter salvado ela de ser retalhada, o toque tão leve enviou uma onde de arrepio pelo corpo de Sam. Até que começaram a se movimentar lentamente e desajeitadamente.


"Me leve para sair esta noite

Onde exista música e pessoas

que sejam jovens e vivas

Sendo levado no seu carro

Eu nunca mais quero ir para casa

Porque eu não tenho mais uma casa

Me leve para sair esta noite

Porque quero ver gente, quero ver luzes

Sendo levado no seu carro

Oh por favor, não me abandone em casa

Porque esta não é minha casa, é a casa deles

E eu não sou mais bem-vindo..."



Ele nunca tinha ficado tão perto dela assim. O que está fazendo? perguntou a si mesmo. Distraído ele quase pisou no pé dela, Isabel riu e ele pediu desculpa, ela se afastou dele tomando suas mãos na dela, se movimentando mais rápido.



"E se um ônibus de dois andares colidisse contra nós

Morrer ao seu lado, que jeito divino de morrer

E se um caminhão de dez toneladas matasse nós dois

Morrer ao seu lado

Bem, o prazer e o privilégio é meu

Me leve para sair esta noite

Oh me leve para qualquer lugar, eu não ligo

E numa passagem subterrânea escurecida, eu pensei

"Oh Deus, Minha chance finalmente chegou"

Mas então um estranho medo me tomou

e eu não pude pedir..."



Isabel cantava baixinho entre um sorriso, Sam não fazia muita coisa enquanto ela dançava e girava com ele, e era isso mesmo ele estava dançando, se sentindo jovem outra vez. Sentindo como se o mundo fizesse uma pausa só para aquele momento onde ele não conseguia pensar em mais nada e nem queria.



"Me leve para sair esta noite

Oh, me leve para qualquer lugar, eu não ligo, não ligo, não

Apenas indo no seu carro

Eu nunca mais quero ir para casa

Porque não tenho mais uma casa

Eu não tenho mais..."



Isabel girou uma vez e outra se chocando contra ele. O coração de Sam batia forte, ele também sentia o coração dela, a respiração dela junto a dele. Ele aperava contra si aquele corpo pequeno e parecendo frágil ao toque com cuidado e com firmeza medida. Ela se equilibrava na ponta dos pés, a cabeça erguida para conseguir olhar para ele. Ele a segurava firme para mantê-la assim. Seus dedos em contato com sua pele nua abaixo da camiseta. Ele sentiu o corpo se eletrizar e ficar quente, e não tinha nada a ver com a lareira.

_Está errada, eu faria café para você mesmo que tivesse visto. Não precisa acreditar em mim, mas eu entendo.



"E se um ônibus de dois andares colidisse contra nós

Morrer ao seu lado, que jeito divino de morrer

E se um caminhão de dez toneladas matasse nós dois

Morrer ao seu lado

Bem, o prazer e o privilégio é meu..."



Isabel olhava para ele, estava sorrindo, seus olhos como duas joias raras capturando os de Sam o fazendo não olhar para mais nada além. Uma mecha do cabelo dela estava preso no canto do lábio inferior. Sam mal percebeu quando seus dedos tocaram gentilmente seus lábios para afastar os fios indesejados, um toque tão leve e que lhe pareceu tão intimo.




Oh, there is a light that never goes out

There is a light that never goes out

There is a light that never goes out

Há uma luz que nunca se apaga...



O sorriso de Isabel tinha se amenizado aos poucos até que ela não sorria mais, uma pequena fenda entre os lábios fazendo ar passar. Sam arfou, eles estavam tão perto, tanto que ele podia sentir o hálito do café vindo dela e o cheiro adocicado do cabelo. Tão perto que se ela falasse alguma coisa ele poderia sentir as palavras sendo sopradas para sua boca.

_Sam? – três letras que ele gostava de ouvi-la dizer.

_Sim?

_Eu não gosto disso. – sussurrou Isabel. Sam sentiu alguma coisa nele se apagar.

_Disso o quê?

_Isso, me faz questionar. – ele podia contar os milímetros entre suas bocas. Isabel afastou um pouco do cabelo de Sam e cobria a têmpora.

_Questionar o quê?

_tudo.

_Por quê? – tão perto.

_Por que... Por que eu quero... – um barulho vindo de perto fez com que os dois se afastassem tão rápido como se uma corrente elétrica passasse por eles. Eles olharam para direção da porta e segundos depois Bobby ficou visível para eles.

Sam quase riu com o quanto ridiculamente ficou aliviado, por um momento ele pensou que tivesse sido Dean. Ele sentiu que Isabel também tinha pensado o mesmo, ela estava com os olhos arregalados e a respiração um pouco irregular. Bobby olhou de um para o outro e depois se fixou em Sam levantando as sobrancelhas.

_Foi mal, Bobby se eu acordei você, eu só desci aqui para tomar um pouco de café e encontrei Isabel, não conseguimos dormir então... – Sam se calou desistindo de tentar se explicar. Isabel pareceu despertar de um transe e começou a se apressar a pegar a fita do rádio se atrapalhando um pouco no processo, Sam viu que ela estava muito vermelha e se perguntou se estaria também.

Ele se sentia mal por ela, era com certeza uma situação embaraçosa. Isabel passou por ele sem nem olha-lo, ela desacelerou um pouco quando chegou perto da porta, pareceu que ia falar alguma coisa para Bobby, mas ao invés disso passou por ele também e sumiu de vista.

Sam olhou para Bobby e afundou numa cadeira com as mãos enterradas no cabelo.

_Filho...

_Eu sei Bobby, eu estou ferrado. – disse Sam para o chão. Bobby levou a cadeira para mais perto de Sam.

_Tome cuidado garoto. – Sam levantou o olhar para o velho que considerava como pai.

_E o que eu deveria fazer? Eu gosto dela e não posso desconhecê-la. Então que droga eu deveria fazer? – disse Sam resignado.

_Acho que sabe o que deveria fazer. – Bobby deu alguns tapinhas em seu joelho e se afastou para a cozinha.

A verdade é que Sam não fazia ideia do que deveria fazer, ou pelo mesmo gostava de se deixar cego para o que achava certo fazer


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Notas finais do capítulo

Entãooo, o que acharam??? O que estão achando desse Samel? Isam? Nossa impossível fazer nome combinado desses dois hahaha Deixem reviews!!

Beijos anjos, até a próxima ;)



XOXO



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