Fate/Legends - Ashe escrita por Lanko


Capítulo 2
Ashe - Amigos e Inimigos


Notas iniciais do capítulo

Ashe está em uma batalha decisiva nos Campos da Justiça. Será que ela vencerá? E se vencer, o que a espera depois disso? Por que ela luta? O que realmente deseja?



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Ashe corria para a selva do lado da Bottom Lane.

Twisted Fate era perseguido por Varus e Thresh, entrando na selva para despistá-los, mas se sua movimentação fosse atrapalhada ou outro membro do time inimigo aparecesse, seria a morte certa do mestre das cartas. E o time de Ashe não poderia se dar ao luxo de ficar com um a menos a essa altura da batalha.

Sona vinha logo atrás dela, mas o resto de seu time estava espalhado. Sejuani vinha pela Mid Lane, mas Gangplank ainda estava descendo da Top Lane. Seus invocadores não tinham visão do restante do time inimigo. Twisted Fate já tinha usado Destino e só podia correr.

Ashe olhou pra trás e viu Sona com uma expressão de preocupação. Ela sabia o que a garota estava pensando. Que ao irem ajudar Twisted Fate poderiam cair em uma armadilha e serem pegos pelo time inimigo um por um. Mas Ashe sabia o que realmente estava acontecendo.

Ela e Sona dominaram a Bot Lane contra Varus e Thresh, inclusive os matando algumas vezes. Conseguiu muito mais ouro e estava muito melhor equipada. Eles estavam atrás de Twisted Fate porque estavam desesperados para compensar a derrota na Bot Lane. Então aquilo não era uma armadilha.

O mais provável era que o time de Varus e Thresh também estivesse separado e correndo em auxílio de seus companheiros da mesma maneira que o seu time, pra evitar que ELES caíssem numa armadilha e morressem num momento em que os tempos de ressurreição estavam altíssimos e a próxima batalha definiria o vencedor.

O problema do outro time era Kha’Zix. O predador do Vazio fez um banquete de Gangplank na Top Lane e era disparado o mais mortal de todos os Campeões ali. Seu invocador também não era ignorante. Ao ver que Ashe era a mais perigosa no outro time, deu a Kha’Zix um Presságio de Randuim, tornando-o ainda mais perigoso, pois agora tinha mais resistência aos ataques de Ashe. Ela,porém, estava sem nada defensivo.

Twisted Fate realizou um duelo equilibrado com Lux na Mid Lane e nenhum estava mais poderoso que os demais. Sejuani e Jarvan estavam totalmente equipados para defesa. Ela e Kha’Zix decidiriam a batalha.

Sejuani fez sua montaria gigantesca dar um salto e arremessou sua maça, contendo sua habilidade mais poderosa.

Impetuosa como sempre. Foi cedo demais.

Ashe estava certa. Varus pulou fora do alcance e apenas Thresh foi congelado. Mas agora a luta tinha sido iniciada e só a morte de um time a terminaria. Twisted Fate arremessava suas cartas em Thresh. Varus puxou seu arco até o limite da tensão e disparou uma de suas flechas amaldiçoadas. Twisted Fate foi acertado no peito, recuando. Ashe chegou ao local e disparou uma rajada de flechas em direção a Varus, que desviou. Sona curava os ferimentos de Twisted Fate.

A batalha já tinha demorado certo tempo, e Ashe soltou seu falcão para patrulhar ao redor. Jarvan e Lux estavam próximos.

Nem sinal de Kha’Zix. Isso é ruim.

Não saber o paradeiro do mais perigoso no campo de batalha era péssimo. Tinham que acabar logo com aquilo.

Thresh descongelou e jogou sua lanterna para trás. Jarvan a agarrou.

– DEMACIA!

O solo tremeu e depois se quebrou, formando uma muralha de pedra, prendendo Sejuani, Ashe, Sona e Twisted Fate. Thresh não deixou por menos e também soltou sua muralha de almas. Sejuani fazia o melhor que podia pra afastar Jarvan, mas ainda havia Thresh e as flechas de Varus. Ashe atacava o único que estava em mira: o aprisionador de almas.

Então Sona tocou Crescendo e os inimigos começaram a dançar.

– Sua…vagabunda… - Disse Thresh.

Em seguida uma barragem de canhões começou a disparar no local, destruindo ainda mais a selva que Jarvan e Sejuani já tinham castigado. A muralha de Jarvan cedeu diante dos disparos do navio pirata e Sejuani se atirou em uma das paredes de Thresh, abrindo caminho para seu time se posicionar melhor.

Uma flecha de Varus passou pelo grupo e atingiu Twisted Fate na nuca, matando o mestre das cartas. Ashe acertou duas flechas na cabeça de Thresh e o matou em compensação. Então um feixe de luz vermelho apareceu em sua direção.

Sem dizer nada, Ashe simplesmente agarrou Sona e se jogou no chão com a melodista, quando um raio de luz evaporou aquela área da selva. Ashe se levantou e disparou contra Varus, que fez o mesmo. A arqueira grunhiu de dor ao ser atingida no ombro, mas o amaldiçoado levou a pior, sendo atingido no pescoço. Lux apareceu soltando suas esferas de luz, que atingiram Ashe e Sona. Sejuani viu e decidiu atacar a feiticeira. Jarvan seguiu-a, embora fosse mais lento sem uma montaria.

Ashe e Sona estavam prontas para seguirem, quando ouviram o anunciamento que Gangplank estava morto.

Kha’Zix.

O predador apanhou Gangplank de surpresa, perfurando seu abdômen e depois cortando sua garganta com uma de suas presas. Agora ele estava descendo. Sejuani estava longe, e se elas decidissem segui-la, corriam o risco de se verem presas com Kha’Zix atrás e Jarvan e Lux pela frente.

– Sona, prepare-se.

A melodista assentiu. Então Sona foi atingida por algo negro e pegajoso. Era Varus. Com a última de suas forças ele lançou sua maldição e prendeu Sona antes de morrer. Ashe se afastou antes que os tentáculos a prendessem também.

Mas isso deu a abertura que Kha’Zix precisava. O predador sorriu e começou a babar, correndo em direção a melodista. A expressão de Sona era de terror puro. O predador sentiu o gosto do medo da melodista e começou a correr ainda mais rápido.

Ashe correu pra atacar, mas era tarde. O alien pulou, derrubando Sona no chão, dilacerando-a com suas presas com seguidos ataques. Sangue e carne se espalhavam pelo local, e Sona tentava em vão gritar e afastar seu agressor. O torso da melodista estava totalmente destruído. A jovem melodista estava morta, ainda de olhos abertos. Seu vestido azul estava mergulhado em vermelho de seu próprio sangue.

Ashe estava estupefata. Ela já tinha visto, infligido e sofrido mortes terríveis nos Campos da Justiça, mas Kha’Zix estava em outro nível. Ainda mais se tratando de Sona. Ele não a matou por uma questão tática, de nível de perigo, nada disso. Simplesmente viu o medo nela e a dilacerou por puro prazer.

Mesmo sabendo que nada do que estava acontecendo ali fosse real, o sangue de Ashe ferveu de ódio. Ela amava Sona como uma irmã menor. A garota era extremamente frágil, detestava violência e ainda assim aceitou participar da brutalidade da League não para ganho pessoal, mas para com aqueles que ela julgava que poderiam fazer o mundo um lugar um pouco melhor.

Por isso ela daria uma morte lenta e dolorosa para a criatura a sua frente.

Kha’Zix percebeu. Ele puxou Sona para perto com uma das presas, e sorrindo, lambeu o rosto da melodista.

Aquilo foi demais. Ashe empunhou seu arco e mirou furiosamente em Kha’Zix. O predador sorriu de antecipação. Porém, no último momento, fechou os olhos e acalmou sua respiração.

Ele está me provocando. Quer que eu dispare minha flecha encantada para desviar.

Ashe então disparou uma flecha normal em direção à criatura. Kha’Zix bufou e ficou invisível. Agora seria o momento de definição. Ashe sabia que ele usaria a invisibilidade para pular nela de um ângulo favorável. Só restava se posicionar bem e esperar o salto. Teria que utilizar sua flecha encantada nesse momento. Mas Kha’Zix também sabia disso.

Uma rajada de projéteis surgiu da sua direita e Ashe pulou para a esquerda para desviar. Kha’Zix apareceu brevemente antes de desaparecer de novo, reaparecendo diretamente na frente de Ashe, pronto para cortá-la em pedaços.

Merda. Ele previu isso.

Se Ashe fosse atingida pelos projéteis da coluna de Kha’Zix, ela teria sido ferida pelo impacto e isso daria a chance de Kha’Zix alcançá-la sem precisar saltar. Se ela desviasse, ele poderia simplesmente correr diretamente naquela direção, já que Ashe estaria preocupada demais em desviar para mirar e atirar.

Mas Kha’Zix se enganou. Ashe era experiente demais enfrentando oponentes de combate corpo a corpo, e enquanto ele avançava com suas presas levantadas, ela mirou e atirou em sua cabeça enquanto andava para trás. O predador teve que desistir do ataque e desviar.

Mais uma vez ficou invisível. Ashe se movimentou para uma área aberta, onde poderia correr para qualquer direção em resposta. Kha’Zix então veio, saltando pela diagonal direita. Ashe deu um rápido passo para trás e disparou sua flecha encantada de cristal.

Kha’Zix foi congelado. Ashe rapidamente ganhou distância e começou a disparar. Mirou primeiro nas pernas, acertando ambos os joelhos da criatura, que urrou de dor. Em seguida, mirou nos cotovelos, para neutralizar a potência de seus ataques. A criatura estava furiosa e quebrou o gelo.

Não congelou muito por estar tão perto.

Gelo precisava de um certo tempo para se solidificar. Ao conjurar a flecha de cristal, a refrigeração do ar em volta tornava a flecha mais sólida, o que refletia no impacto do ataque. Usado de tão perto só havia tempo para uma solidificação incompleta, enquanto ao atravessar o campo de batalha por alguns segundos a deixava totalmente sólida.

Ashe continuava disparando flechas, enquanto a criatura tentava avançar. Sua armadura o salvava, mas isso não duraria para sempre. A criatura correu para a selva, entrando nos arbustos para tirar a linha de visão de Ashe.

Era arriscado demais entrar as cegas numa moita contra um predador como Kha’Zix. Mas se ela esperasse muito ele logo poderia disparar seus projéteis pela coluna novamente e as pernas voltariam a ter força para saltar em cima dela. E a flecha de cristal já tinha sido utilizada.

Soltou uma rajada de flechas no arbusto e não atingiu nada. Ela entrou no mato e viu Kha’Zix se movendo para o rio, entrando em outro arbusto.

Ashe sorriu. Kha’Zix dessa vez não iria escapar. O predador fitava Ashe, pronto para atacar. Então recebeu uma flecha no olho esquerdo e urrou de dor e surpresa por estar sendo atingido de dentro do arbusto.

– Como….

– Sona colocou uma sentinela aí, miserável.

O alien então ignorou qualquer discrição e partiu pra cima da arqueira como um animal selvagem atrás de uma presa, e não um assassino em busca de uma vítima desatenta.

Mais flechas foram atingindo seu corpo enquanto Ashe recuava e atirava. Sangue jorrava dos buracos em seu corpo e o alien começou a reduzir o ritmo, até cair de vez.

– Espero que isso doa muito.

Atirou em seu outro olho e a criatura se contorceu. Depois disparou três flechas na boca da criatura e uma última bem entre os olhos de Kha’Zix, finalizando-o.

Mesmo com Kha’Zix morto, ainda restavam Lux e Jarvan. Sejuani, impetuosa como sempre, perseguia os dois. Mas se ela morresse, Ashe não teria chance contra os dois demacianos na própria base deles e teria que recuar, levando a decisão da batalha para mais um combate em equipe. Que ela não queria.

Seu invocador concordou e a direcionou para perto da torre do inibidor central. Quando Ashe chegou só haviam Sejuani e Jarvan lutando. Lux estava caída perto das escadas, com a cabeça esmagada. Sejuani conseguira matá-la, mas se ferido muito, e agora estava sendo derrotada por Jarvan.

Ashe se aproximou com uma rajada de flechas, atingindo Jarvan. Flanqueado por Ashe, ele decidiu correr, mas sabia que estava perdido. Com as flechas de Ashe e os golpes de Sejuani tirando sua movimentação e resistência, ele logo sucumbiu e Ashe ganhou o crédito pela morte, a quarta dessa batalha.

Ashe e Sejuani se olharam. Ela sabia que Sejuani a desprezava profundamente, embora no fundo ela não sentisse o mesmo pela cavaleira. Sejuani era forte, uma líder e também uma guerreira nata de Freljord. Ela ajudava a criar nome em torno da nação, embora Ashe discordasse totalmente de seus métodos tolos e irracionais, que simplesmente levariam Freljord à ruína.

Mas agora estavam no mesmo time, e eram as duas sobreviventes da batalha. Sejuani protegeu o time muito bem no início e depois sozinha tirou Lux e Jarvan da luta, o que a permitiu lutar um contra um com Kha’Zix. Com Lux e Jarvan no meio seria impossível.

Isso é o que poderíamos fazer juntas. Freljord seria tão forte…

Eram estranhos os momentos em que algum inimigo ou alguém odiado fazia parte do seu time e ambos dependiam do outro. Mas o feitiço da Liga fazia até mesmo os mais poderosos ódios, como Malzahar e Kassadin e Jarvan e Swain, serem reprimidos nos Campos da Justiça.

– Jarvan era meu. – Disse Sejuani furiosa.

Ashe revirou os olhos e ignorou o comentário. As duas silenciosamente destruíram as torres e o inibidor no caminho, assim com o Nexus, dando a vitória para o Time Azul.

Em segundos os dez campeões estavam na sala de Invocação. Gritos e fogos eram ouvidos do lado de fora. Aquela era a primeira partida do Torneio Mundial de Valoran, e estava sendo transmitida para toda Runeterra.

– Hehe, todos caíram na minha armadilha. Tudo como planejado. – Se gabava Twisted Fate.

– Ah claro… - Retrucava Lux.

Os invocadores se cumprimentavam do lado de fora pelo combate. Isso não era obrigatório para os campeões, o que era um alívio para Ashe.

Varus e Thresh se retiraram sem dizer nada. Lux esbravejava com Twisted Fate, que retrucava fazendo piadas, o que deixava a demaciana ainda mais nervosa. Gangplank bebia alguma coisa. Sona estava a sua direita. As duas se olharam e sorriram.

Nós vencemos.

Jarvan se aproximou.

– Boa luta, Ashe. Você também, Sona.

Ashe acenou com a cabeça e Sona sorriu abertamente.

– Bem, melhor eu tirar a irmã do Garen dali antes que o Twisted a convença a jogar cartas pra resolver a disputa. – Gargalhou Jarvan, se afastando.

Kha’Zix se aproximou.

– Boa partida…

Ashe não disse nem fez expressão nenhuma. O predador então encarou Sona longamente e gargalhou.

–Heh….heh….

Instintivamente Sona se escondeu atrás de Ashe, uma mão em suas costas e a outra segurando seu braço direito, enquanto olhava pra criatura por trás do ombro de Ashe.

– Ah...esse medo… - Dizia Kha’Zix deliciado.

Sona apertou o braço de Ashe e se retraiu ainda mais.

– Não se preocupe, Sona. Eu estou aqui e ele não pode fazer nada com você. – Disse Ashe calmamente.

Kha’Zix desviou o olhar para Ashe, curioso, como se ela o estivesse desafiando a atacar. A arqueira simplesmente encarava a criatura de volta, sem expressão no rosto.

Mas por dentro Ashe estava furiosa. Mesmo não sendo reais, as mortes nos Campos da Justiça eram sentidas a fundo pelos campeões. E a última morte de Sona foi horrorosa. Ela não era uma guerreira, um soldado, uma feiticeira, nada disso, apenas uma criança. Claro que estava apavorada.

A maioria dos campeões normalmente a matavam com certa dose de compaixão. Até Swain restringia enormemente sua força quando podia. Não que isso fosse um consolo ao matar alguém como Sona, mesmo que virtualmente.

Por longos segundos Ashe e Kha’Zix se encararam, mas nada aconteceu. A mão de Sona que segurava seu braço relaxou. Jarvan e Lux viram o que estava acontecendo.

– Sai daqui, sua barata tonta! – Lux se pôs a frente de Ashe. Jarvan estava próximo de braços cruzados.

Foi a vez de Sejuani se aproximar, com desdém.

– Olha isso…Uma garotinha frágil, que não consegue sequer defender a si mesma, sem armas, força e inteligência, se escondendo atrás dos outros pra se proteger. Vai fazer isso pra sempre, menininha?

Sona baixou a cabeça e estremeceu levemente. Estava prestes a chorar. Ashe se virou para Sejuani. Sona participara de inúmeras batalhas nos Campos da Justiça, mas ainda era extremamente sensível a elogios e críticas. Algo que oponentes maliciosos exploravam.

– Sona não é uma guerreira, é verdade. Não tem força, e a arma dela é um instrumento, mas ela tem inteligência, Sejuani. Aliás mais do que você e seu porco. Enquanto você fracassava em ajudar qualquer lane, Gangplank que o diga, eu e ela fomos criando oportunidades, me deixando extremamente forte, o que foi o que nos permitiu ganhar a batalha, não é mesmo?

Sona sorriu orgulhosamente e Sejuani ficou vermelha de raiva.

– Não esqueçam de mim! – Disse Twisted Fate do fundo, gerando gargalhadas.

– VOCÊ ganhou a batalha? Quem estava na frente, aguentando tudo pra fracotes como VOCÊS DUAS ficarem vivas por mais de um segundo? EU os bloqueei, e depois EU fiz Lux e Jarvan recuarem da batalha. Você só matou o Kha’Zix por causa disso.

– Você está nervosa por eu ter omitido seus feitos? – Disse Ashe sorrindo.

– CLARO, idiota, ainda mais quando tive participação decisiva. – Sejuani respondeu rangendo os dentes.

– Nós não teríamos vencido sem você, Sejuani, e nem você sem nós. Mas que bom que você se sente assim. Agora sabe como Sona deve estar se sentindo. – Disse Ashe friamente.

Sejuani abriu a boca pra responder, mas se calou. Suspirando, a cavaleira se virou pra Sona:

– Desculpe, garotinha.

Sona sorriu e estendeu a mão para Sejuani, que ficou perplexa.

– Tá de brincadeira, né?

Sona continuou sorrindo com a mão estendida.

Sejuani suspirou, balançou a cabeça e moveu sua montaria pro fundo da sala. Ashe ficou surpresa por Sona não ter ficado desapontada pela recusa de Sejuani. Ela se virou e percebeu a expressão de Ashe e fez um gesto. A arqueira compreendeu: o que importava pra Sona era Sejuani ter reconhecido o mérito dela.

Kha’Zix encarou Sona novamente:

– Eu vou indo…mas a arqueira não vai ficar na sua frente pra sempre…posso vir atrás de você algum dia…quando estiver sozinha…você se lembra como foi sentir minhas presas e garras entrando e rasgando você? Uma pena você não poder gritar, mas acho que sua falta de voz fez suas expressões ainda melhores…

– SAIA DAQUI! – Gritou Lux.

– Fora. – Concordou Jarvan.

– Foi muito dolorido não? Você vai se lembrar por um bom tempo, mas aquilo não foi nada…eu posso fazer pior. – E rindo, saiu da sala.

Aquilo foi demais para Sona. Ela levou a mão à boca, e reprimiu as lágrimas o máximo que pôde, mas lentamente elas vieram.

– Essa barata NOJENTA! – Lux estava furiosa. Ashe a conteve, pra surpresa da demaciana, e disse calmamente:

– Tudo bem, Sona, ele não vai fazer nada. Não enquanto se passa a maior parte do tempo sendo o brinquedinho do Rengar.

Kha’Zix parou. Todos estavam pasmos. Até Sejuani estava boquiaberta. O ódio dos dois predadores era conhecido, e agora todos na sala temiam que Ashe tivesse cruzado uma linha invisível de não retorno. Kha’Zix era totalmente imprevisível, uma fera que vivia pela matança.

Twisted Fate levou uma carta a ponta dos dedos. Gangplank largou a bebida e preparou sua pistola. Jarvan estava pronto para pegar sua lança. Lux estava tensa. Sejuani pegou sua maça. Até Sona percebeu a tensão e saiu de trás de Ashe e pegou seu instrumento, para surpresa da cavaleira. Só Ashe permanecia calma e relaxada, sem intenção alguma de pegar seu arco.

Kha’Zix apenas se virou, deu um olhar de relance a Ashe e saiu pela porta que levava à passarela dos campeões. Todos relaxaram.

– Bem, eu também vou por ali. Afinal, por tudo que fiz hoje eu mereço. – Riu Sejuani . – E quem diria, você tem espírito quando é preciso, garota! – Sorriu pra Sona, gargalhou novamente e saiu para a passarela.

Sona sorriu timidamente e acenou para Sejuani.

– Já nós não temos a menor intenção de ir pra passarela, afinal perdemos. E ao contrário do Kha’Zix não ficamos com o maior número de abates da batalha. Vamos pela saída mesmo. Você vem, Sona? – Perguntou Jarvan.

Sona fez um sinal que não.

– Claro, afinal você estava no time vencedor! – Riu Lux. - Ok, esperamos você na saída!

– Eu também vou vazar, afinal meu invocador resolveu me dar de bandeja pra aquela barata, har har! – Gangplank já havia bebido uma garrafa inteira de rum.

– Como autor da armadilha que nos deu a vitória, é claro que mereço os aplausos da platéia! – Twisted Fate passou a mão no cabelo e ajeitou o chapéu.

Gangplank se aproximou.

– Ei, Ashe, mas como você é fria, mulher! Na batalha e agora em toda a zona que aconteceu aqui, har har! Mas grato por ter me carregado nas costas! Como agradecimento, pode dar uma volta por toda a costa de Valoran no meu navio, beber um bom rum pra te esquentar, har har har!

Ashe ignorou o pirata.

– Por que ela iria num navio pirata imundo beber rum, quando pode vir comigo se divertir no cassino e tomar os melhores drinques? Podemos até jogar cartas como um time, e comigo a vitória é certa. Parceiros no crime! – Se divertia Twisted Fate.

Ashe simplesmente andou em direção à passarela, ignorando Gangplank e Twisted Fate.

Escória.

Percebeu que Sona estava andando do lado dela. Ela fez um sinal de agradecimento e Ashe apenas sorriu.

– Não foi nada. Vamos.

Ambas entraram na passarela, e foram ovacionadas pelo público. Kha’Zix estava quase no fim da travessia e Sejuani na metade. A cavaleira ficou de pé sob sua montaria, cerrou o punho e o levantou alto:

– GARRA DO INVERNO!

– GARRA DO INVERNO! GARRA DO INVERNO! – Replicaram milhares de vozes da platéia, para deleite de Sejuani e irritação de Ashe.

Era por isso que Ashe estava fazendo a travessia também. Não podia deixar os holofotes para Sejuani. Era preciso fazer média com as massas do povo também. Conforme foram avançando, os gritos mudaram.

– ASHE! ASHE!

– AVAROSA! AVAROSA!

Ashe sorriu satisfeita. Vários apoiadores e fãs gritavam o nome de sua tribo, sem que ela precisasse fazer nada. Quando ela acenou para a platéia, gerou um estrondo de aplausos e gritos, que fizeram até Sejuani olhar para trás, em desaprovação.

Além de ser mais popular e de trabalhar diplomaticamente por anos, hoje ela também havia sido a protagonista da batalha. O telão de cristal mostrava que havia sido eleita a melhor em combate. O público estava todo ao seu lado.

Conforme foram passando, Ashe ouviu mais e mais gritos de apoio, faixas e até as ocasionais mensagens de amor. Dessas haviam muitas para Sona.

A jovem melodista estava totalmente ruborizada. Sona era orfã, e também nasceu muda, o que a tornou solitária entre as outras crianças. Os possíveis pais adotivos passavam reto por ela, até que uma mulher chamada Buvelle a adotou e a trouxe pra Demacia, isso já na adolescência. Ashe não iria mencionar isso, mas a incomodava saber que Buvelle somente adotara Sona pelo seu estranho instrumento místico e sua habilidade musical. Depois de anos de solidão, agora milhares de pessoas gritavam seu nome e a aplaudiam. Ela jamais se acostumara.

Ashe e Sona chegaram a metade do percurso, e a arqueira não deixou de reparar nas pessoas que antes gritavam “Garra do Inverno” agora gritavam “Avarosa”. Ela acenou de volta pra fazer a média necessária, mas por dentro se corroía.

Pra eles é apenas um jogo. Não sabem nada sobre Freljord, nosso sofrimento e nossas lutas. Gritarão por mim ou por Sejuani conforme a música tocar. Gritariam até mesmo pela Bruxa de Gelo se ela estivesse aqui hoje.

Ashe cerrou o punho e olhou pra frente. Kha’Zix terminou suas entrevistas e agora se exibia para a platéia, que o ovacionava, entre fãs, pessoas casuais, invocadores e até simpatizantes do Vazio.

Por que clamam por esse monstro?

Em seguida olhou para Sejuani, que dava as entrevistas.

Ela não é um monstro, apenas impulsiva e iludida. Pensa estar fazendo o melhor.

Olhou pra trás e viu Twisted Fate recebendo sua cota de adoração do público.

Ladrão e golpista. Possivelmente assassino.

Enquanto caminhava, Ashe estava imersa em pensamentos.

A League foi criada pra fins políticos. Não demorou para virar um esporte das massas, sedentas por entretenimento. Logo todo tipo de escória também entrou. Assassinos, psicopatas, loucos, monstros…contanto que chamasse a atenção e tivesse um certo nível de poder, qualquer um passou a ser aceito.

Os últimos campeões aceitos deixaram Ashe perplexa. Já havia assassinos e outros loucos no elenco, mas ultimamente estava sendo demais.

Aatrox. Assassinou a tribo inteira de Tryndamere. Fomentou guerras através das eras. Por que alguém assim foi escolhido para representar as causas das pessoas?

Jinx. Louca, psicopata, outra assassina. E ainda era procurada pela Caitlyn, Vi, Jayce e toda Piltover, mas a League lhe dera anistia…

Zed. Mais um assassino. Do pior tipo, o que mata discretamente e sem deixar pistas.

Thresh. Tortura e mata suas vítimas. Depois aprisiona suas almas para atormentá-las pela eternidade.

Yasuo. Matou o mestre, o próprio irmão e todos que foram atrás dele buscando vingança. Se juntou a League pela anistia. Como chegamos a esse ponto?

Sentiu um puxão. Ashe se virou e viu Sona apontando pra algum lugar. Então viu onde ela apontava. Era um camarote especial, reservado a campeões, chefes de Estado e outras pessoas desses níveis. E lá estava ele: Tryndamere.

Ele sorriu, levantando um copo imenso de cerveja, brindando-a. A seu lado estavam Gragas, Nunu, Anivia e alguns membros de sua tribo e da do bárbaro. Pela primeira vez no dia, Ashe sorriu genuinamente.

Meu amor. Não foi assim que começou, mas foi assim que terminou.

Inicialmente o casamento foi por interesses políticos, uma união de forças contra Noxus e Sejuani. Recentemente, contra a Bruxa de Gelo e Aatrox. Mas o convívio e as lutas diárias lentamente mudaram esse quadro.

Não posso imaginar viver sem você.

Ashe encarou o bárbaro fixamente, com um sorriso enorme no rosto. Ele sorriu de volta, mas não demorou para que ficasse sem graça diante do olhar fixo de Ashe. Gragas riu alto, botou a mão no ombro de Tryndamere e lhe disse algo que fez as pessoas ao redor rirem e o deixou ainda mais sem graça.

Finalmente terminaram a travessia, e agora só precisavam dar algumas entrevistas. Sona era obviamente poupada disso. Os repórteres lhe entregavam folhas com perguntas as quais ela respondia e entregava depois.

– Rainha Ashe! O que você tem a dizer sobre essa fantástica batalha?

– Foi uma batalha extremamente dificil. Alguns de nossos companheiros estavam em sérias dificuldades, mas com trabalho em equipe e habilidade conseguimos superar tudo, e graças a Avarosa, sair vitoriosos.

Uma declaração típica, cheia de generalidades, superação e humildade, o que as massas adoram.

– O que houve na sala de invocação depois da batalha? O ambiente ficou tenso com o Kha’Zix…

Ashe não estava surpresa. Assim como os cristais registravam a sala dos invocadores quando eles se cumprimentavam depois das partidas, também gravavam a sala dos campeões. Felizmente, gravar o áudio era proibido. Ashe tinha que ser política e cumprir o regulamento da League, que não permitia causar problemas entre os campeões. Mas ela sabia driblar isso usando uma certa dose de ironia:

– Kha’Zix se diz o maior dos predadores, mas nessa batalha foi apenas minha presa. Ele não gostou da mudança de papéis e foi tentar descontar na Sona, porque em mim não conseguiria. Como devem ter visto, todos o repreenderam e ele deixou a sala sozinho.

Isso os satisfez. Sem dúvida perguntarão à Sona também. Foi bom ela ter vindo comigo, assim ela pode responder sem se constranger.

Outro repórter se aproximou, da “Caras da League”. Era uma publicação de comédia e fofocas, que Ashe desprezava, mas seria descortês ignorá-lo.

– Srta.Ashe, é verdade que você e Sona tem um caso?

Ashe não acreditou no que ouviu.

– Não, não é. Com licença.

Furiosa, Ashe abriu caminho, ignorando os repórteres que queriam perguntar mais coisas. Ela viu que Sona também estava chocada. Ashe fez um sinal, e a melodista entendeu, indo para a saída onde Jarvan e Lux a esperavam para levá-la de volta a Demacia.

Ashe subiu as escadas e entrou em seu camarote particular. Iria se acalmar antes de ir ao encontro de Tryndamere. Ela sabia que a pergunta era só brincadeira, mas eles também não sabiam o que tinha acontecido.

Se aproveitam até disso. Abutres.

Por fim, saiu e foi em direção ao camarote especial onde estava Tryndamere e seus conhecidos de Freljord.

Meu país unido e seguro.Uma família em minha casa. A pessoa que amo a meu lado. Não importa o quanto demore, vou agüentar tudo e continuar lutando, e de alguma maneira vou conseguir tudo isso…


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Notas finais do capítulo

A seguir, a confraternização!