Fate/Legends - Ashe escrita por Lanko


Capítulo 12
Francesca - Interlúdio I: Como Líder e Mãe


Notas iniciais do capítulo

Francesca confronta Krahäer, o líder inimigo que pretende subjugar os Arqueiros de Gelo. E ainda vislumbres de sua vida em Freljord e em relação à Ashe.

Como eu disse anteriormente, acho importante descobrir mais sobre as pessoas que tanto influenciaram Ashe. A mãe dela teve um enorme impacto nisso. E a Riot nem sequer nos disse o nome dela! Afinal, sabemos o nome de um tio do Ezreal, o pai da Orianna, quem criou o Blitzcrank, entre vários outros nomes inúteis, mas não sabemos o nome da mãe da Ashe, mesmo ela sendo mencionada no Lore dela como alguém importantíssima!

Enfim, aqui vai um capítulo com o ponto de vista dela. Espero que gostem!



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Pela primeira vez na vida, Francesca sentia medo. Durante seus trinta e dois invernos sobre Freljord, ela viu e participou de inúmeras batalhas, mas nunca um exército tão grande fora alguma vez reunido. Nem quando duas ou três tribos combatiam ao mesmo tempo.

Mais de mil homens! Tribos inteiras raramente passavam das centenas de pessoas. E formavam menos guerreiros ainda.

Ela dispunha de trezentos e onze. Cento e cinquenta e nove soldados e cento e cinquenta e dois aldeões e jovens que mal chegaram à adolescência. Muitos não estavam equipados e com armas improvisadas. Tudo para defender suas famílias do massacre que as ameçavam.

Sua própria filha participaria da batalha. Com treze invernos! Vendo agora o exército ao seus portões, que loucura a convencera a deixá-la lutar?

Lembrar de Ashe curiosamente lhe trouxe à mente as histórias de Avarosa que a filha tanto adorava. Imaginou se a lendária rainha realmente comandou dezenas de milhares ao unificar Freljord.

Já ouvira falar que Demacia e Noxus conseguiam mobilizar dezenas de milhares, mas achava isso ridículo e fantasioso demais. Como alimentariam esses números absurdos num campo de batalha? E como diabos Avarosa teria feito isso em Freljord, onde mal era possível alimentar tribos com quinhentas pessoas?

E isso porque de acordo com a lenda, a antiga Freljord botaria essas duas nações pra fugirem com o rabo entre as pernas.

Francesca suspirou. Por que agora, de todos os momentos, ela estava pensando nessas historinhas?

Uma legião de armaduras negras contrastava com a tundra, até uma fileira delas se abrir e um homem a cavalo se dirigir para perto da aldeia, portando uma bandeira branca.

Krahäer. Ele quer conversar.

– Senhora Francesca… - Disse um dos homens.

– Já vi. Tragam-me um cavalo e abram os portões.

Krahäer era o líder dos Auroques Boreais, uma tribo à noroeste dos Arqueiros de Gelo. Ambicioso, tentou sem sucesso conquistar diversas tribos próximas. De alguma maneira, ele conseguiu mil soldados, capturou Arëndal e agora queria os Arqueiros de Gelo.

Krahäer parou quando estavam próximos e desmontou, andando alguns passos à frente. Francesca fez o mesmo.

Ele era loiro, de um tom mais escuro que o dela. Tinha cabelos curtos, olhos castanhos claros, alto, sobrevivera de trinta a quarenta invernos, embrutecido por anos de combate, com uma cicatriz no queixo. Vestia armadura de aço e uma capa de pele de urso branca. Parecia mesmo um rei.

Em contraste com a aparência intimidante do líder inimigo, Francesca vestia um colete de couro fervido, botas de pele de lobo e proteções de metal nos braços.Não usava elmo, o cabelo loiro claro amarrado em uma trança que descia até metade de suas costas.

As armas de ambos ficaram no cavalos, para demonstrarem intenções pacíficas. Os dois estavam ao alcance dos arqueiros dos exércitos inimigos.

– Senhora Francesca. – Fez uma saudação.

– Senhor Krahäer. – Retribuiu a arqueira.

– Bem, vamos direto ao ponto. Lago Arëndal é meu, assim como duas tribos que foram incorporadas aos Auroques Boreais. Lutou bravamente, mas como pode ver, tenho mais homens e força do que você. Mas não precisamos derramar sangue hoje.

– O que você propõe?

– Primeiro, deixe-me explicar minha situação. – Disse o guerreiro.

– Pensei que você queria ir direto ao ponto. – Interrompeu Francesca.

– Calma, senhora Francesca. – Disse Krahäer, sorrindo. – Tudo ficará claro quando eu explicar. Você não está curiosa pra saber como consegui tantos homens tão rápido?

Ela estava. Ele continuou:

– Os nortenhos estão fugindo de algum conquistador que está pegando território atrás de território por lá. Alguns dizem até que é uma mulher, que monta um urso, um javali e um lobo. Bem, não importa. Quando esses nortenhos entraram em meu território, vi uma grande oportunidade. Estavam sujos, famintos e desesperados. Ofereci então abrigo e comida em troca de suas espadas e lealdade. Eles aceitaram imediatamente. Como sabe, comida é algo escasso por aqui, mas soldados, ferreiros, caçadores e pessoas habilidosas são valiosas. Então fizemos uma…seleção, digamos assim, para garantir comida a todos. Os inúteis e velhos demais foram deixados para trás para que os outros sobrevivessem.

Francesca disfarçou seu nojo o melhor que pôde.

– Mas eles são muito…tradicionais, digamos assim. Estavam gratos pela comida e abrigo, mas não era o suficiente. Eles queriam um acordo, um acordo de sangue, mas não havia nenhuma herdeira do antigo líder ou uma liderança feminina para concretizar isso. Eles diziam que não se importavam com essas coisas no Norte, mas expliquei que as regras aqui eram diferentes, tanto pra alianças desse tipo e pra comida. Isso os calou, mas ainda assim precisei forçar minha irmã a se casar com um dos guerreiros deles. Fizeram até um torneio pra decidir o noivo! Então a aliança estava selada. Não que isso me impedisse de levar algumas nortenhas pra cama! – Gargalhou Krahäer.

Francesca não achou a menor graça.

– Agora eu tinha um grande exército. Marchei pra uma tribo próxima e os conquistei. Nem lembro como se chamavam. Eles se renderam rapidamente, mas precisei matar o líder em um duelo. Ele tinha uma mulher e dois filhos. Ela nunca me aceitaria e obviamente os pimpolhos iriam um dia querer vingança. Então matei os três também.

Francesca cerrou os punhos.

– Claro, isso gerou revolta entre os aldeões. Mas prometi que ninguém mais seria molestado, o que cumpri, e que melhor ainda, ao se juntarem a mim, teriam comida e fartura, pois agora finalmente poderíamos tomar Arëndal de vocês, o que fizemos com relativa facilidade. Ah, “comida e fartura”…palavras mágicas, que compram a lealdade de qualquer homem. – Krahäer sorriu para Francesca, que permaneceu impassível.

– No caso dos nortenhos, não havia uma liderança feminina pra selar a aliança, pra minha sorte. Elas são horríveis, tirando uma meia dúzia. No caso da outra tribo, tive que me livrar dos herdeiros. Mas aqui eu não matei ninguém. Pode até existir algum rancor pelos bravos homens que morreram em Arëndal, mas vocês fizeram o mesmo quando tomaram o lago de outra tribo alguns anos atrás. Ou seja, não foi nada pessoal, apenas…Freljord sendo Freljord.

Francesca entendeu aonde Krahäer queria chegar.

– Agora aqui estamos nós, senhora Francesca. Desculpe pela indelicadeza, mas por quantos invernos você passou mesmo?

Não era a primeira vez que Francesca recebia uma proposta desse tipo. Apesar dos trinta e dois invernos, ela aparentava ser mais jovem, pois continuava treinando arco e flecha e participando de caçadas e batalhas, mesmo depois que dera luz à Ashe, em seu décimo nono inverno. Muitas mulheres perdiam a forma no trabalho rotineiro, que mesmo duro, não ajudava a atrasar a velhice. Não que as pessoas tivessem uma vida longa em Freljord.

Ela tinha, claro, sinais de velhice, embora fossem poucos. Rugas e olheiras eram imperceptíveis, disfarçadas pelo seu olhar afiado e feroz, que lhe dava um ar de elegância e dignidade, natural após anos de batalhas e intrigas. Os poucos fios brancos eram bem disfarçados no contraste com seu loiro claro. A contínua movimentação evitava varizes e outros males. Mas óbvio que suas feições eram de uma mulher madura.

Dois invernos depois do nascimento de Ashe, Karl, seu marido, morrera em combate. No inverno seguinte, os pais dele, que eram os líderes da tribo, sucumbiriam por doenças. Com apenas vinte e um invernos, ela assumiu o comando da tribo, e pelos próximos onze invernos a lideraria enquanto cuidava de Ashe.

Também contou com a imensa ajuda de pessoas experientes e confiáveis, como Emrik e Bjorn, que quase casara com ela antes de Karl. Muitas outras pessoas ajudaram-na, muitas já falecidas.

E ela não os desapontara. Nesses onze invernos a tribo nunca perdeu alguém por causa da fome. Estabelecera um controle rígido de estoques, que no começo desagradou a vários, mas que provara sua eficiência nos tempos árduos.

Saqueava outras tribos se necessário, chegando até mesmo a saquear uma caravana perdida de Demacia. Ela deixou os mercadores vivos, mas pegou toda a comida e mercadorias que transportavam. Demacia nunca retribuiu. Eram preocupados demais com Noxus pra se importarem com uma pequena caravana que decidiu sair da estrada e acabou assaltada pelos “bárbaros do gelo”, como eram conhecidos pela Cidade-Estado. Seu maior feito foi a conquista do lago Arëndal, que manteve por três anos, só o perdendo para o exército gigantesco de Krahäer ontem.

Depois que Karl morreu, ela recebeu algumas propostas de casamento de tribos vizinhas, mas recusara todas. A dor da perda ainda era recente e Ashe muito pequena.

Os anos passaram, Ashe crescia e a experiência também lhe deu uma melhor percepção das coisas. Ashe era sua filha e viraria a filha adotiva do novo marido. Até aí tudo bem. Mas eventualmente o novo marido iria desejar um filho de sangue, não uma adotiva. E quem herdaria a união das duas tribos? O filho de sangue ou o mais velho, conforme a tradição? Ashe então se tornaria um obstáculo para o “filho legítimo”.

Ela iria ser oferecida como moeda de troca pra sair do caminho, ou pior, acabaria tendo um confronto com o irmão ou irmã. E ambas as situações, Francesca jamais permitiria. Não podia imaginar o pesadelo que deveria ser ter que escolher um filho em detrimento do outro. Pior, podiam até matar Ashe.

Mesmo que Ashe acabasse tendo um bom relacionamento com o novo pai e irmão, e aceitasse abrir mão de qualquer pretensão, Francesca não aceitaria que Ashe fosse renegada à uma mera sombra.

Além de tudo isso, ela teria que ter muito cuidado também em quem colocar dentro de casa. Algumas histórias em Freljord arrepiavam seus ossos.

Ou seja, o bem-estar de Ashe dependeria demais da vontade alheia e da sorte, duas incógnitas que Francesca não estava disposta a confiar. Ashe não era apenas sua filha, mas o símbolo dos laços que tivera com Karl, o homem que amara e acabara perdendo, a memória e herança de ambos para o mundo. Por isso, nunca mais chegou a considerar qualquer proposta do tipo.

Até agora.

Francesca cerrou os punhos, cravando as unhas na pele. Ela sabia onde essa conversa acabaria chegando.

– Passei por trinta e dois invernos. – Respondeu Francesca à pergunta de Krahäer.

– Nunca adivinharia. Eu não me incomodaria de fazer uma aliança com você, Francesca. Ainda está linda e cativante. Mas muitos se importariam em relação a um herdeiro para manter nossas alianças para o futuro. E não digo impossível, mas acredito que seria difícil você cumprir isso.

Não, é somente você que se importa, pensou Francesca. Ela já havia jogado esse jogo e conhecia as regras. Um herdeiro era o fim das pretensões de qualquer um que almejasse assumir a liderança ou estabelecer uma aliança com um líder de uma tribo. Os “muitos” que Krahäer mencionara estavam nesse exato momento torcendo para que a aliança não acontecesse, que houvesse guerra, para usarem isso para obterem glória e influência para que eles mesmos pudessem estabelecer acordos com Krahäer em outra oportunidade.

Afinal, ele mesmo dissera que estabelecera a aliança com os nortenhos casando a irmã com um dos guerreiros deles. E que eliminara a chance de vingança da tribo que subjugara eliminando os herdeiros. A conquista de Arëndal lhe dera respeito, mas muitos viam agora uma oportunidade de adquirir grande poder, já que Krahäer não tinha filhos. Não havia ninguém no caminho, exceto ela, para que alguém ainda pudesse fazer tal acordo com ele.

– Sei que você tem uma filha. Por quantos invernos ela passou?

E chegou o momento que ele queria.

– Treze.

Isso pareceu surpreender Krahäer. – Mais nova do que eu esperava, mas não muito mais do que quando normalmente garotas casam. Podemos realizar o casamento, mas consumá-lo apenas quando ela estiver um pouco mais velha. Se isso for do seu agrado, é claro. Qual o nome dela?

– Não é do meu agrado e o nome dela não lhe interessa.

Krahäer se virou, estendendo a mão na direção de seu exército.

– Francesca, tenho oitocentos e cinquenta e três homens de armas, centro e trinta e seis arqueiros e quarenta e oito homens a cavalo. Um total de mil e trinta oito homens, me incluindo.

Ele se virou para Francesca e apontou para as barreiras de madeira.

– Devem ter quantos aí? Uns quinhentos homens?

Muito menos, pensou Francesca.

– Tenho uma proporção de dois homens para cada um seu.

Muito mais.

– Uma parte de suas defesas são apenas aldeões desesperados.

Metade das defesas.

– Estimo uns cem arqueiros nas suas passarelas. Que você não tinha em Arëndal. Curioso você ter tão poucos arqueiros, quando sua tribo se chama “os Arqueiros de Gelo”. – Zombou Krahäer.

– É uma homenagem à Avarosa.

Krahäer franzeu o cenho pela resposta. Nem Francesca sabia porque respondera isso.

– Quem diria que você ligava pra essas histórias. Não vá me dizer que seus arqueiros também atiram flechas de gelo!

Francesca ignorou a nova zombaria. Como ele dissera, haviam aldeões. E também crianças e velhos. Mas o que importava é que Krahäer não sabia que eram metade das defesas.

– Não se preocupe, as flechas normais bastarão. E quanto aos aldeões desesperados, você primeiro terá que passar pelos muros e depois pelos guerreiros pra chegar a eles. Estou no meu território, Krahäer.

Isso fez o homem pensar um pouco. Por fim, ele disse.

– Francesca, um líder tem que fazer o que é necessário pelo bem de sua tribo. Ganhei muitos homens dos nortenhos e aumentei meu poder, mas também prometi a eles e à tribo que conquistei, abrigo, comida e segurança, o que cumpri. Dei-lhes Arëndal. Agora ofereço à você e sua tribo o mesmo tratamento. Sele a aliança comigo e nada acontecerá com vocês. O fato que forcei minha irmã a se casar, ou ter eliminado os herdeiros de outra tribo, isso são tragédias que somos forçados a realizar para manter as pessoas que dependem de nós unidas e satisfeitas.

Francesca refletiu. É verdade que ela saqueara outras tribos e também causara morte e destruição. Era necessário para a sobrevivência da tribo. O mesmo motivo levava outros tribos a atacarem os Arqueiros de Gelo também. Lago Arëndal foi tomado de outra tribo, que provavelmente sofreu com a perda o mesmo que sua tribo sofrera ontem. Como o próprio Krahäer dissera, as coisas funcionavam assim. Era Freljord sendo Freljord, a maneira de viver nessa terra gélida.

Mas nunca cogitou abandonar os idosos da tribo, forçar alguém a se casar contra sua vontade, ainda mais sua filha, ou assassinar crianças por medo de vingança futura.

– Então sele a aliança casando comigo. – Respondeu Francesca. Ela não se importaria, caso isso evitasse um provável massacre da tribo que ela fora responsável por toda sua vida. Ela até entregaria e garantiria a herança da tribo para um filho gerado com Krahäer. Mas Ashe ele não teria. Nunca.

– Francesca, as chances de você gerar um herdeiro…

– São mínimas, é verdade, mas não são zero.

– E se não conseguir? Sua filha então poderia fazer isso?

– Não. Ela nunca será moeda de troca, Krahäer. Diga a verdade, o que você realmente quer não é um herdeiro, não é mesmo?

– O que você quer dizer com isso?

– Você poderia ter um herdeiro com alguém de uma das três tribos que você controla. Você conseguiu mil guerreiros, mas a verdade é que também ganhou muito mais bocas pra alimentar. Afinal, você mesmo disse que os nortenhos vieram fugindo, portanto trouxeram poucos pertences e quase nenhuma comida. Você até teve que abandonar “inúteis” e idosos para garantir comida para todos. Esse súbito aumento da população e de maior necessidade por comida não deve ter deixado sua própria tribo muito satisfeita.

Apesar dos mil homens atrás de si, pela primeira vez Krahäer se assustou.

– Então você conquistou outra tribo para conseguir suprimentos, não é mesmo? Mas se decepcionou quando descobriu que tinham bem pouco. Restaram duas opções: matar todos e dar a comida para seus homens ou subjugar essa tribo, conseguindo mais homens, porém ainda mais gente para alimentar. Então poderia tentar algo mais ousado. Como lago Arëndal.

Krahäer permaneceu em silêncio. Isso confirmava as suspeitas de Francesca:

– Estamos a poucas semanas do inverno. Você capturou Arëndal, mas sabe que estávamos trabalhando arduamente para conseguir o maior número possível de estoques de comida e lenha. Ou seja, mesma com a conquista, sobraram muito poucos recursos lá. Quando o inverno chegar, o lago congelará e ficará pior ainda. Você tem mil guerreiros? E as esposas, filhos e aldeões que vieram com eles? Agora sua tribo tem quantas pessoas? Duas mil? Três mil? O que você quer aqui são somente os estoques que coletamos para nos sustentar com conforto no inverno. E que você necessita pra não enfrentar uma revolta quando a comida faltar, e vai faltar, pra alimentar e aquecer tanta gente.

Krahäer engoliu em seco.

– É por isso que você quer essa aliança. Mas diga-me, Krahäer, por que deveríamos simplesmente dividir a comida e lenha que trabalhamos por tanto tempo com você e seus selvagens do norte? Você realmente iria cumprir a promessa? Ou simplesmente acabaria matando todos aqui?

– Eu cumpriria a promessa, como já disse. Sua filha seria tratada com todo o respeito e dignidade que merece. O casamento seria realizado ainda essa semana, mas eu esperaria o tempo necessário para consumá-lo. E você também ficaria a meu lado nas questões políticas. Lago Arëndal e quatro tribos unidas. Eu teria os recursos para mantê-las alimentadas, aquecidas e seguras. Ambos somos líderes. Se não temos nossa palavra como garantia, o que mais nos resta? – Respondeu Krahäer calmamente, em claro contraste com a arrogância em que ele começara a conversa.

Essa mudança de tom deixou bem claro à Francesca que ele estava dizendo a verdade. Ela passara por muitas intrigas pra perceber isso. Ainda assim, ela não entregaria Ashe a ele.

– Mesmo assim não tenho como aceitar essa proposta.

Krahäer se aproximou.

– Francesca, ambos sabemos que eu vou perder muitos homens nesse ataque. Isso pode até ser algo bom, pra diminuir o número de bocas pra alimentar, como você mesma disse. Mas também sabemos que eu VOU entrar aí. E quando isso acontecer, é melhor você cortar a garganta da sua filha e depois se matar. Porque as perdas vão ser pagas em sangue. O sangue de vocês duas.

– Se é sangue que você tanto quer, Krahäer, então terá. Mas não será o nosso. Será o dos seus mil homens. Um mar de sangue pra você se afogar.

Os dois líderes se encararam e deram as costas ao outro, montando e voltando à suas linhas.

Francesca dissera bravas palavras, mas no fundo estava apavorada. Estava cercada, com muito menos homens, numa proporção de três pra um. Ainda estavam mal equipados e armados. Ela estava numa ótima posição defensiva, mas ainda assim…

Pensamentos percorriam sua mente, até que um deles ficou fixo, tão vivo que ela riu.

Não sabia por que estava pensando novamente nisso justo hoje, mas uma coisa era certa: se as histórias eram verdadeiras, com certeza foi assim que Avarosa se sentiu ao enfrentar Serylda, Lissandra e os Observadores.


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Notas finais do capítulo

A seguir: Guerra e suas conseqüências...