Cadente escrita por Sah


Capítulo 8
Estranheza




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— Você está com uma torção no tornozelo. Não é nada grave. – Fala a enfermeira.— Mas como isso aconteceu?

— Eu não sei, acho que acabei tropeçando nos meus próprios pés.

— Você tem que tomar mais cuidado, principalmente depois do que aconteceu.

— Eu vou tomar cuidado.

Ao sair da enfermaria notei que Bryan e Annie estavam me esperando.

— O que a enfermeira disse? Foi grave? – Bryan perguntou.

— Foi só uma torção.

—Eu preciso agradecer você dois. Nós nem somos amigos nem nada, mas mesmo assim vocês me ajudaram.

Os dois sorriram.

— Silas ainda não veio nos procurar?

— Sim, mas ao ser informado do que aconteceu ele nos liberou para ir para casa. – Disse Annie se soltando mais.

— Humm, minha mãe só vem me buscar às 15h30min.

— Eu até te daria uma carona, mas o meu carro está na oficina. Estamos os dois a pé. A não ser que você queira que eu te carregue. – Ele fala como se contasse uma piada.

— Não mesmo. – Falo debochando.

— Olha se você esperar posso chamar meu moto... , quer dizer meu pai, e ele nos leva. – Fala Annie.

— Se não for incomodar.

— De maneira nenhuma.

— Certo, já que você tem carona, eu já vou indo. – Fala Bryan

— Você não precisa de uma carona?—Fala Annie timidamente.

— Não eu estou bem.

Ele disse já indo embora.

Annie estava toda de preto, mas não estava usando capuz. Seu cabelo vermelho ficava em destaque.

— Tem alguma coisa no meu dente?

— Não, me desculpa, eu estava admirando o seu cabelo.

— Ah, isso. Ele tem uma cor estranha.

— Acho lindo esse tom de vermelho.

Annie parece envergonhada. Nunca tinha visto esse seu lado.

— Então, vou ligar para o meu pai.

Annie foi até o corredor. E telefonou para o pai. Eu me sentei em um dos bancos do corredor.

Como tudo isso pode estar acontecendo. Meus amigos não levantaram um dedo para me ajudar, e pessoas com que eu nem falava direito foram tão gentis. Não era como se eu não precisasse de ajuda. Eu cai e fiquei em choque. Mas como eu cai. Eu senti um empurrão, mas não tinha ninguém atrás de mim.

— Pronto ele já está vindo. – Fala Annie me tirando do meu transe.

— Ah, quero te agradecer de novo por estar fazendo isso.

— De nada – Ela fala de novo sem jeito.

Depois de poucos minutos o telefone dela toca novamente.

— Ele já está aqui.

Nossa que rápido. Nem deu tempo de perguntar mais sobre ela.

Annie me ajuda a andar. Ela me leva até um daqueles carros de executivos, como motorista e tudo. Ela não tinha dito que o pai dela viria nos pegar?

— Esse é meu pai. – Ela diz apontando para o homem de aspecto bondoso que não se parecia nada com ela.

Então ele é motorista, isso explica algumas coisas.

Annie me ajudou a entrar.

— Você pode me informar o endereço senho... digo filha.

— Monte Ravenna, 221 . – Falo para ele.

— Onde você mora Annie? Claro se não for problema responder.

— Ah, eu moro na Alameda Silver.—Diz Annie despreocupada.

Alameda Silver não fica naquela região onde só tem mansões? Vou ficar quieta, nem a conheço direito e faço um monte de perguntas.

Eles me deixaram na porta de casa. Olhei para os dois lados para ver se Aaron não tinha me seguido.

Entrei em casa, estava sozinha de novo, hoje foi um dia terrível. Quero apenas dormir para tentar esquecer tudo.

A semana demorou a passar. O tempo em que eu ficava na escola era uma eternidade, mas apesar disso eu e a Annie estávamos conversando mais, e não era tão torturante ficar na escola. Acabei descobrindo que a mãe da Annie morreu em um acidente de carro a 3 anos atrás. E esse foi um dos motivos dela ter mudado de escola. Bryan apesar de tentar disfarçar estava cada vez mais interessado nas nossas conversas, até que na sexta feira , quando começamos a falar sobre carros, ele se empolgou. Nunca tinha visto esse lado dele.

Essa semana não teve nenhuma aula. Serio, eles nos deixavam trancados, e só saiamos na hora do intervalo. E eu nunca mais comi nada lá, apenas me sentava em um canto com a Annie e retomávamos nossa conversa. E olha que eu ficava com fome. Assim decidimos que na semana que vem levaríamos lanches para comer na sala, já que ninguém se importava com o que fizéssemos.

Por causa da torção, minha mãe me buscou todos os demais dias. Mas na sexta Annie me ofereceu carona de novo. E eu aceitei prontamente. Quem diria que aquela menina estranha podia ser tão legal? Ela e Bryan me fizeram sentir que eu ainda tinha amigos.

Cheguei em casa na sexta. Minha mãe já estava em casa.

— Amanhã você vai sair com o Aaron né? – Ela me perguntou.

— Não sei. Ele nunca mais falou comigo.

Ela me olhou pensativa.

— Mark me disse que ele está ficando até tarde na escola, todos os dias.

— É mesmo? – Falei desanimada.

— O que está acontecendo com você?

— Comigo?

— Sim, antes você e o Aaron eram inseparáveis.

— E o problema disso é comigo?

— Não sei Olivia, desde que você acordou...

Saio andando sem ouvir o que ela diz. O problema de tudo sou eu?

Bato a porta do meu quarto com força.

— Olivia! — Ouço ela batendo.

Acho que nunca fiz isso com ela. Sempre a obedeci em tudo. Será que realmente tem alguma coisa errada comigo.

— Quero ficar sozinha!!—Grito para ela.

E ela me deixa em paz.

Antes minhas sextas feiras eram divertidas. Eu saia com Aaron e as meninas e voltávamos bem tarde. Mas eu acho que essas coisas não vão acontecer nunca mais. Adormeço enquanto algumas lágrimas caem.

Acordo no meio da madrugada, meu estômago está roncando. Acho que não como nada desde o café da manhã.

Vou até a geladeira e pego alguns restos do que imagino ser o jantar.

— Purê de batata e filé frios, meu preferido. – Falo sozinha.

Ouço um barulho.

Será que minha mãe ainda está acordada?

Olho em direção ao quarto dela, e o que eu vejo é Mark saindo nas pontas do pé. Automaticamente eu fico vermelha. Em que nível está o relacionamento deles?

— Ah, oi Olivia. – Ele fala para mim aparentemente constrangido.

— Oi. – Digo mastigando.

— Já vou indo então.

O clima está tenso. Fico o encarando até ele chegar à porta.

—Por que você não vai lá em casa amanhã e faz companhia para o Aaron. Ele está morrendo de saudades.

— Ok, pode deixar.

E ele foi embora, parecendo um adolescente pego no flagra.

Quero só ver o que minha mãe vai falar sobre isso.

Vou para cama de novo e adormeço.

De manhã eu decido que vou falar com o Aaron, preciso saber o que está acontecendo, o que eu fiz para as coisas estarem dessa maneira. Visto um vestido azul não muito simples que o Aaron me deu de aniversário.

Pego um ônibus e sou deixada em frente a casa dele.

A gigante casa de três andares no estilo europeu. Hesitei em continuar, mas eu sabia que eu tinha que colocar as coisas em pratos limpos.

Ouvi uma movimentação na casa. Muitas vozes, consegui identificar a voz do Aaron e da Michele.

Toquei a campainha.

Meu coração saltou com a expectativa.

— Pode deixar que eu atendo. – Ouvi uma voz desconhecida falar.

Quem atendeu a porta foi a Samantha, pelo menos se parecia com a Samantha.

— Ah, acho que temos um problema. – ela disse.

Dei um passo para trás, isso não fazia sentido. Samantha não podia falar, e era irreversível, não era? Ela não tinha cordas vocais. Mas o que está acontecendo?

— Liv? – Aaron veio ao socorro dela.

— Me desculpa por ter vindo sem avisar. – Falei indo embora.

— Não, Liv. Temos que conversar.

Ele tentou agarrar meu braço.

— Não toque em mim – Gritei

Não sei da onde veio isso.

Fui descendo a ladeira rapidamente, Aaron estava vindo atrás de mim.

— Olivia, escuta. Eu preciso conversar com você, antes que eles saibam!

Olhei furiosa para ele.

— Saibam o que?

Eu estava confusa, nada mais fazia sentido.

— Não podemos conversar no meio da rua. Volte comigo para casa. Lá poderemos conversar melhor.

O obedeço, mas sinto que eu não deveria ter feito isso.


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