Além dos Mortais escrita por Ádrila Agnes, victor hugo


Capítulo 11
Reflexão


Notas iniciais do capítulo

Oi! (Sim, eu estou meio empolgado pra escrever e-e)
~Ryan



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Aquelas palavras ainda martelavam nos meus pensamentos.

Sabedoria. Mudança. Uma nova chance. Pode parecer algo estranho, mas o símbolo estampado em meu amuleto era igual e, como Sierra disse, os alienígenas não precisavam mais daqueles símbolos para canalizar ou evocar os seus poderes. De forma positiva ou negativa, eu me sentia ligado ao desenho.

Decidi procurar Loki, o que fora mais difícil do que achei que seria.

Savanna havia dito que ele tinha habilidades natas para a magia, era um feiticeiro, e, mesmo que possuísse dons mais fortes que os de vários alienígenas, ele não gostava muito de ser notado, mesmo que seu olhar fosse observador.

Loki já conheceu muita coisa do mundo”, dissera Luki.

Ele estava sentado nos degraus de uma sala de treinamento, já em Netuno, lendo algum livro sobre feitiços ou qualquer outra coisa,dois amuletos estavam ao seu lado - os reconheci como os amuletos que Savanna e Luki haviam usado no cassino -. Assim como o planeta-natal de Sierra, aquilo não era importante para mim. Mas saber mais sobre aquele símbolo era. Talvez pudesse até mesmo guardar o segredo para a salvação do universo.

Ao pensar nisso, deixei uma risada escapar por meus lábios, e Loki levantou os olhos e fechou o livro, que desapareceu.

— Eu queria saber o que eu tenho a ver com aquele símbolo. Da sala da nave. A constelação.

Ele arqueou a sobrancelha e pigarreou, já sabendo do que eu estava falando. Seu olhar era distante, mas ele falou assim mesmo.

— Você sabe o que significa e o que tem a ver com você, mesmo que, neste momento, possa parecer um pouco confuso.

— Estratégia? – franzi a testa e ele esboçou um sorriso descontraído, relaxando os ombros.

— É o que os outros imaginam que você está tramando. Mas é o que você está fazendo?

— Não faça enigmas. Dê uma resposta concreta, cara.

Ele trincou os dentes e se virou.

— Há muitos séculos, com a colonização da Lua, os primeiros sacerdotes iniciaram o culto a Pandora, sem saber dos riscos. Com a colonização dos outros planetas, como Marte, aquilo se propagou.

— E o que isso tem a ver?

— Isso? – ele deu de ombros – Não sei. As maiores bibliotecas da Lua foram incendiadas antes de eu nascer, sem que eu tivesse a possibilidade de folheá-los. Foi uma grande perda para nós.

 Houve silêncio por alguns segundos. Ele não parecia disposto a continuar falando sobre aquilo.

 – O que eu quero dizer é que Pandora é ardilosa. Muitas vezes, pode estar tramando algo para nós, mesmo quando estivermos achando que possuímos livre-arbítrio.

— Loki... Como é essa tal Pandora? Se ela é tipo uma deusa-criadora alienígena, por que deseja o, ahn, o nosso mau? Se ela tem tanto poder, por que só não nos faz desaparecer com um estalar de dedos? Por que vocês não fazem logo esta revolução?

Ele pareceu espantado com as perguntas, mas deixou seu rosto voltou a expressão normal e ele bocejou, entediado.

— Bem... Eu acredito que nós ainda não possuímos essas respostas, Drake – quando ele disse aquelas palavras, aquilo me pareceu terrivelmente óbvio, tenho que admitir.

 – Além disso, - ele continuou – se quiser encontrar respostas, você mesmo terá que procurá-las, Drake. Aparentemente, isso não é importante para os outros, é importante para você. Somente você.

Ele recitou algumas palavras rápidas e sua imagem se desfez em uma névoa negra, me deixando sozinho ali.

Ele estava certo. Eu mesmo precisaria procurar as respostas.

Voltei para onde os outros estavam. Savanna e Luki não estavam lá. Sierra e a irmã também não. O garoto louro e musculoso também não – o que era estranho, afinal, desde que eles haviam chegado, eles sempre andavam juntos (não que fosse muito tempo, embora eu já soubesse que estava escurecendo). O garoto, Dean, estava sentado em um canto, aparentemente absorto em seus próprios pensamentos.

— Obrigado – disse, ao perceber que ele olhava para mim.

— Como? – ele perguntou. Seus cabelos loiros lhe caíam sobre a testa.

— Pelas flechas. Você nos salvou, sério.

Ele exibiu um sorriso forçado, embaraçoso.

— É o que nós temos que fazer.

 Mais uma vez, houve silêncio.

 É, eu sei. Eles não estavam muito dispostos a conversar, parece.

 Ainda assim, eu precisava passar o tempo.

— De que planeta você veio? – indaguei, seu olhar era entediado e melancólico.

— Vênus – ele disse simplesmente, e, enquanto dedilhava a parede, pequenos flocos de neve surgiram na parede. Estava demonstrando os seus poderes – Controlo o gelo.

 Ele disse aquelas palavras como se aquela tivesse sido a minha dúvida.

 Preciso admitir que, de certa forma, era sim.

— Certo... Mas.... Fisicamente falando, Vênus é um planeta cheio de vulcões e o calor é tão grande que deveria ser impossível criar gelo... Quero dizer, chega a existir água liquida por lá?

Ele negou com a cabeça

— Bem, fisicamente falando deveria ser impossível criar fogo no espaço, mas tenho certeza que Savanna pode fazer isso... - Ele rebateu, sorrindo sarcasticamente, e por um momento, imaginei que aquilo fosse uma piada. - Drake, entenda, Vênus nem sempre foi um planeta seco e incandescente como vocês humanos imaginam. A muitos anos, era um planeta confortavelmente frio e agradável, com cabanas e montanhas sempre cobertas por um monte de neve, na medida certa. Mas por causa de um deslize de um de nossos habitantes, todos fomos condenados.

— Quer dizer que Pandora... - Ele assentiu, entendendo aonde eu queria chegar.

— Ela aqueceu o planeta até se tornar insuportável para o meu povo. Alguns morriam de sede e outros de fome por não haverem condições propicias para o plantio. Apenas as pessoas mais ricas e crianças inocentes sobreviveram, procurando abrigo em Plutão, um planeta rebaixado, foi onde eu conheci Jake, que me protegeu e cuidou de mim, enquanto crescíamos juntos. - Ele parecia frio, não demonstrava nenhuma emoção enquanto falava.

— Eu sinto muito, cara... - Pensei em fazer algo, mas não sabia como reagir a tudo aquilo. Um abraço? Tapas amigáveis nas costas? A verdade é que não havia nada que eu podia fazer por ele. Pandora não era apenas uma tirana, era cruel e insensível - Afinal, o que esse venusiano fez de tão ruim, para todos vocês serem castigados?

Ele hesitou, antes de responder.

 - Ele descobriu o verdadeiro envolvimento de Pandora com os humanos. Uma informação tão importante, que ele teve de ser eliminado, antes que espalhasse para outros alienígenas.

Franzi as sobrancelhas.

 – Onde estão os outros?

— Sierra e Brianna estão em seu novo alojamento... Jake está tocando violão por aí, acho – havia algo em seu tom de voz, algo como irritação, mas eu não sabia direito – É o que ele sempre está fazendo, quero dizer.

— Ahn... E Savanna?

 Por alguns instantes, ele ficou em silêncio, como se não tivesse compreendido minhas palavras, como se tivesse se esquecendo de que estava ali. Em seguida, exibiu uma espécie de sorriso amistoso, mas astuto – ele não parecia acostumado a sorrir.

— Então... Boatos por aí dizem que você e Savanna, hum...

Não pude evitar que meus olhos revirassem com aquele comentário. Era bastante claro que ele não iria terminar aquela frase, considerando que já era possível entender o seu sentido.

 – Por favor, alguém me diga que toda essa tecnologia fez com que vocês se tornassem tão primitivos quanto os humanos em questão de relações interpessoais...

 Sério, ele pareceu ponderar sobre aquelas palavras.

 – Alguns planetas, talvez.

 – Vênus? – bem, eu tive que perguntar.

 Um tanto que constrangido, ele exibiu um sorriso discreto.

 – Ah, Drake... Vocês ainda vão enfrentar muita coisa...

 – Nós dois não estamos...

 Ele arqueou uma das sobrancelhas, mas não parecia duvidar das minhas palavras.

 Claro que não.

 – Bem... Eu estou torcendo por vocês, de qualquer forma.

 Para minha surpresa, havia um sorriso em seus lábios.

...

Netuno era um lugar bonito, com dunas de neve e lagos de gelo, delicados e terrivelmente perigosos. Tentei imaginar como seria morar em algum lugar como aquele, onde era inverno o ano todo - e quantas seriam as horas de um dia em Netuno? E no Sol? Acho que essas coisas não foram ensinadas na escola -, mas parecia aquilo ainda parecia uma realidade distante da Terra, com edifícios grandiosos, contrastes que podiam ser notados em menos de um segundo, todo aquele ar meio avarento, meio despreocupado - lembro-me do meu pai ter usado estas palavras certa vez para explicar o porquê de tantos cassinos terem surgido nos últimos anos, na Segunda Idade do Ouro.

Mas não se engane. É claro que a Terra mudou muita coisa além disso nos últimos anos. Para falar a verdade, tinham até mesmo boatos sobre grupos de homens e mulheres completamente humanos que viviam para sempre. Não imagino como isso pode ser verdade, mas, por outro lado, também não acreditaria em alienígenas até um tempo atrás.

 É, eu sei, isso também parece loucura para mim ás vezes.

— Tá tudo bem, Brianna... - ouvi um murmúrio vindo mais a frente do corredor. Era a voz de Jake.

— Acha mesmo que aqui é seguro? - ela respondeu quase no mesmo instante. Pude notar certa desconfiança na voz dela. Não a culpei, afinal, nem eu mesmo me sentia completamente seguro ali, mesmo tendo trocado alguns beijos com Savanna.

— Prefere voltar pra Terra? - ele retrucou.

— Do jeito que você fala, parece que você gosta deles.

Não entendi muito bem o que ela quis dizer.

— Dean os salvou, eles não vão matar a gente!

— Ah, Jake... - ela apareceu na minha frente antes de terminar a frase, depois do instante de surpresa passar, ela cruzou os braços. Jake parecia embaraçado - Oi, humano.

Tentei pensar em algo para dizer, mas não imaginei nada que pudesse surtir o mesmo efeito.

— Estão gostando daqui? - tentou soar o mais hospitaleiro possível, mesmo que fosse provável que eu conhecesse o lugar bem menos que ele.

— Aqui é mais frio que em Plutão... Eu nunca entendi isso - Jake riu, como se tivesse feito uma piada. Certamente era.

— Enquanto isso, no deserto de Mojave... - eu disse, sem pensar muito antes. Os dois alienígenas me observaram, com a cara de alguém que acabou de se lembrar de um terrível segredo de algum amigo. Droga.

Brianna suspirou.

— Então... Você e a Savanna... - foi Jake quem disse. Ele parecia fazer mais esforço para socializar do que a garota ao seu lado. Me perguntei se eles seriam namorados ou qualquer coisa do tipo.

— Não, é claro que não! - refutei a ideia imediatamente, mesmo que não fosse bem assim.

— Então... O que é que você faz aqui? - que tipo de pergunta era essa, Sierra?

— O que vocês fazem aqui? - eu perguntei, soando um tanto... brusco.

— Revolução - a garota respondeu imediatamente. Os olhos dela brilharam ao dizer aquela palavra, notei. Aparentemente, alguns alienígenas realmente acreditavam que estavam prestes a fazer uma revolução, com sucesso. Não me sentia tão esperançoso assim, mas não disse isso.

— Era... Era isso que vocês faziam na Terra? Revolução?

— Coisas assim - Jake respondeu com um meio-sorriso. Pensando bem, ele parecia estar sempre sorrindo.

Eles voltaram a andar. Os acompanhei por mais alguns passos, eles um tanto afastados de mim. Ninguém disse nada. Fingi não me importar.

— Loki disse que você estava tocando violão, Jake... - tentei puxar assunto. O rapaz, plutoniano talvez, pareceu feliz com aquilo.

— Ah, sim. É um dos meus hobbies - ele gesticulava, animado, enquanto falava - Eu costumava viajar por aí pra tocar antes de tudo isso, sabe? Eu conheci o Dean num desses shows...

— Conheceu, é?

— Ele tinha acabado de sair de Vênus - havia certa angústia em seu tom - Estava mal. Você devia ver a cara dele, parecia um cãozinho sem dono.

 Houve mais uma riso, mas ele parecia... diferente.

 Sierra pigarreou. Ela e Jake trocaram alguns olhares, como se conversassem entre si, sem precisar usar as palavras. Há quanto tempo será que eles se conheciam? Poderia perguntar para Sierra, ou mesmo para Jake depois. Por fim, ela pareceu ganhar aquela discussão silenciosa.

— Bem... É isso - Jake estendeu o braço para mim. Apertei sua mão - A gente se vê por aí, cara.

E então, eles voltaram a andar, deixando para trás, sozinho.

Droga!


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Sugestões? :)