–Vamos logo,Kat!!! - gritou Pedro, que corria em minha direção. Logo enfiei o pingente no meu bolso e corremos até o portão para passarmos pelo portão quase fechado e corremos o mais rápido possível para a classe.

Chegamos e pedimos licença para o professor e nos sentamos nos mesmos lugares do ano passado. Pelo menos tinha Pedro e Clara perto o suficiente para mandar um bilhete ou conversar na troca de aulas.

– Será que vocês podem explicar o atraso dos "pombinhos"? - tinha sido a professora de história que perguntou. Nunca gostei muito dela é não fazia questão de agradá-la.

– A senhora está aqui para nos ensinar a matéria ou para julgar nossas vidas?- perguntei. Todos sabiam entre as rixas entre mim e a senhora Westner. Desde o sétimo ano tive aulas com ela e sempre foi assim.

– Se a senhorita acha tão engraçado responder sua professora, vou ter que mandar você para a diretoria.

– Precisa não, acho que a cota de hoje foi boa e vou ficar um pouco mais quieta aqui dentro, se a senhora me permite. - Fiz essa ironia só para não ter que cumprimentar a diretora no primeiro dia de aula. Já tinha encontrado-a muitas vezes durante as férias com seu marido, que são meus vizinhos. Inclusive, ele ficava me observando muito desde que nos mudamos depois do falecimento de meu pai. Sempre achei isso bem estranho mas nunca comentei nada com a minha mãe, como sempre.

– Espero mesmo que continue quieta Katherine Graves, espero.

O resto da aula foi aquela chatice de primeiro dia de aula, passando bilhetes para lá, para cá, para frente, para trás. E em um deles, o que a Clara me entregou, ela tinha escrito que estava apaixonada pelo Max é que precisava da minha ajuda para ele a pedir em namoro o mais rápido possível. Como ela sempre foi uma amiga tão leal, e a única que eu tive nessa escola, escrevi que faria tudo que estivesse ao meu alcance.

Acabei até dormindo um pouco, sonhando que um monstro estava me atacando mas eu me defendia com super poderes que derrotaram-no e consegui resgatar minha mãe, muita loucura e jogos de RPG causam isso mas tudo bem, não foi nada real.

No final da aula, eu e Pedro fomos tomar sorvete pois fazíamos isso toda terça-feira. Segurei em seu braço e inventei uma desculpa por ficar paralisada na calçada de manhã e tudo se endireitou. Menos o caso da minha mãe, mas veria isso depois de tomar sorvete. No meio do caminho à sorveteria, Pedro me disse meio envergonhado:

– Kat, vamos fazer alguma coisa hoje tipo, sei lá, um cinema talvez, assim...

– Agradeço a gentileza Pedro mas eu provavelmente vou estar meio ocupada jogando aquele RPG novo mas depois a gente combina de sair pro cinema, ok?

– Claro, claro. Mas Kat, lembra sobre aquilo que eu queria te contar sobre uma coisa muito importante e seu celular tocou, fez você desmaiar?

– Sim, lógico, mas o que você queria me dizer?

– Faz muito tempo que eu estou esperando para te contar mas eu não sabia como você reagiria então fui adiando, adiando, e agora eu tenho que contar que eu...

– Kaaaaaaaah-chaaaaaaaaaaan!!! - ouvi do outro lado da rua e era a Clara e o Max indo pra sorveteria também.

– Oi Clara, oi Max, vocês vão tomar sorvete com a gente?

– Sim!! Adoro tomar sorvete de flocos!! - disse Clara

– Então vamos lá.

Fomos conversando até chegarmos lá e sentamos em uma das mesinhas para comermos nossos sorvetes. Lá era como as sorveterias de filmes, com aquelas espirais azuis e vermelhas entre o branco. Realmente me sentia confortável naquele lugar. Quando a Clara foi ao banheiro, perguntei para o Max:

–Hey Max, você gostaria de ter a Clara como sua namorada?

O garoto ficou vermelho como um tomate e respondeu meio desajeitado.

– E-eu... Você não t-tem nada a ver com i-isso!!! Mas eu bem que g-gostaria...

– Sabia que ela gosta de você né? Sempre achei que vocês fossem o casal mais bonito da escola toda e se vocês namorassem seria perfeito!

– V-você acha mesmo que vai d-dar certo? - perguntou o rapaz mais envergonhado que um menino perto da garotinha que gosta, o que não fugia muito da realidade.

– Vai por mim, você consegue! Quando ela voltar, pergunta se ela quer ficar contigo e vai ficar tudo ótimo!!

Quando Clara saiu do banheiro, Pedro e eu saímos para casa e os dois ficaram sozinhos para ver se ia dar certo. Eu estava toda ansiosa querendo saber o que eles iriam falar e fazer, até que meu celular tocou e quando atendi, vi que era novamente o número da minha mãe e atendi rapidamente. Tinha uns sons de monstros berrando em diferentes tons de voz misturados com o da minha mãe.

– Filha. Vem. Casa.

Fui correndo para chegar o mais rápido possível em casa, o mais rápido que pude. Queria muito encontrar minha mãe de novo. Cheguei, joguei minha mochila no sofá, e fui procurar minha mãe desesperadamente. Corri as escadas e quando abri as portas pro quarto da minha mãe percebi o que tinha escutado no telefone.

– Katherine!!! Atrás de você!!!

E quando virei, lá estava o mostro do meu sonho. Nascido do piche mais negro do subsolo, duas cabeças de cada lado do corpo, parecendo uma centopeia pré histórica. Ele me atacou e tudo ficou preto outra vez mas quando eu abri os olhos, tinha uma barreira azul que brilhava em formato de redoma sobre eu e minha mãe, e o bicho tinha se transformado em uma centopeia normal.

– Katherine, eu...

Senti meus pés ficarem moles, minha cabeça latejar, e senti no meu bolso algo muito quente mas antes de cair ao chão, sorri pra minha mãe.

– Agora está tudo bem, mãe.

E mais uma vez senti a escuridão e o frio.