Quando acordei estava na cama do Pedro. Já tinha ido na casa dele muitas vezes mas essa era a primeira que tinha dormido lá. Dava para sentir o cheiro de mel com desodorante nas cobertas. Lembrei de minha mãe dizendo para eu ficar longe de casa. Me levantei depressa mas acabei caindo no chão pois estava muito fraca pra conseguir ficar de pé e ouvi o barulho das escadas. Vi Pedro correr na minha direção.

–Sua idiota, por que não me chamou antes de se levantar?- disse ele me colocando de volta na sua cama extremamente grande pra ser de solteiro. Afinal, ele era quase 40 centímetros maior que eu.

–O que aconteceu comigo?

–Sua pressão caiu quando você estava conversando com a sua mãe e te trouxe pra cá. Se precisar de alguma coisa me chama. Aliás, como amanhã é o primeiro dia de aula, vou avisar que você está doente e pode ficar aqui o tempo que quiser.

–Ok então. Você sempre pensa em tudo, não é?- dei aquele abraço de urso bem apertado. Afinal, desde que éramos pequenos, ele sempre me ajudou e cuidou de mim. Eu sempre achei que ele era um irmão pra mim mas naqueles dias eu pensei que ele podia ser mais que um amigo.

–Quando se trata de você, pequena.

–Nem vem com essa, gigante. - eu disse, com sarcasmo, enquanto apertei as bochechas dele. - Acho que vou dormir até amanhã. Você poderia preparar meu café bem cedinho? Até lá já vou ficar melhor.

–Claro que faço. Mas ainda acho melhor você ficar aqui amanhã ou ir pra sua casa, se quiser.

Queria contar o que minha mãe me disse mas ele não iria entender, não queria preocupá-lo com meus problemas, mesmo porque já o colocaria em muitos mais para a frente.

–Amanhã teremos certeza. Vou dormir lá no sofá e me acorda cedo, tá?

–De jeito nenhum. Eu vou lá no sofá e você continua aqui na cama. - depois disso ele sibilou algo que não consegui entender o que era.

–"Se é para a felicidade geral na nação, diga a eles que fico" - Sempre que podia, usava essa frase referente a Dom Pedro. Sim, tive alguns problemas de idiotice.

–Boa noite então, pequena "cenourita". - disse ele apagando a luz, deixando a porta para o corredor aberta pois ele sabia que eu não conseguia dormir no escuro total. Pedro também tinha seu jeito engraçado de trocar "senhorita" por "cenourita". Horrível, sempre soube.

–Boa noite, coelhinho.

No dia seguinte, fomos juntos para o primeiro dia de aula e como não precisava de material nem uniforme, fui com a roupa do outro dia mas pelo menos tinha tomado banho na casa do Pedro.

–Ka-chaan! - olhei para frente antes de passar do portão e vi minha amiga Clara e o Max, melhor amigo dela e que pareciam namorados, indo para a classe.

–Oi Clara! O sinal vai tocar, então a gente se fala na classe! - A Clara era realmente muito bonita. Ela tinha 7 centímetros a mais que eu, cabelos azuis e uma pele mais branca e lisa que a minha. Quase um anjo. Max era alto e loiro, tinha um porte atlético e sempre andava com a Clara.

Do outro lado do portão vi que um homem de altura média, jaqueta de couro, chapéu de caubói, jeans e barba me olhava sorridente mas quando o ônibus passou... Ele desapareceu.

–Vamos logo, Kat! - senti Pedro me puxar pelo braço até a classe mas, por algum motivo, eu me soltei e fui correndo até onde o homem estava e olhei para o que havia ficado no chão em seu lugar. Era o pingente que minha mãe sempre levava e um bilhete escrito: "Passe em casa depois da aula, estará segura com esse amuleto. Preciso te contar a verdade. Te amo, filha."