– Mãe, isso não vai dar certo. – Samanta disse. Ela ajeitou os cabelos loiros no rabo de cavalo. Uma única mecha rebelde se recusava a ficar atrás da orelha.

– É só uma orientação Samanta – disse Annabeth, se ajoelhando na frente da filha e arrumando o cabelo dela. Annabeth era linda, Samanta sempre desejou ser tão inteligente, como sua mãe, ou ser tão bonita, ou quem sabe, tão boa lutadora. Mas não. Samanta não era nem tão bonita, nem tão jeitosa, e nem tão inteligente quando a mãe. Pelo menos era assim que ela se sentia.

–Se você não quiser – continuou Annabeth, interrompendo os pensamentos de Samanta. – Acharemos outra escola.

– Ou podemos esperar mais um ano – disse Percy do sofá da sala. – Sam ainda é muito nova para ir para uma escola comum.

– Percy, por favor, cale a boca – Annabeth disse.

– Se você não quiser, não precisa ir princesinha. – Percy disse.

– É claro que precisa! – Annabeth exclamou. – Ela precisa sair do acampamento Percy! Já esperamos treze anos!

– Eu não posso discutir com você – ele disse passando o braço pela cintura de Annabeth e lhe dando um selinho. Samanta já estava acostumada. Os pais dela eram muito apaixonados um pelo outro.

Sam estava colocando os livros em uma mochila quando ouviu um grito vindo da cozinha.

– JACE! – Percy gritou. – VOCÊ COMEU TODO O CUPCAKE AZUL?

Jace, o filho mais novo, de onze, desceu as escadas correndo, a boca suja de farelo azul. Ele gargalhava. Percy apareceu na porta, e Jace assim que o viu, correu até ele. Jace se jogou no sofá, tentando se esconder atrás de Annabeth, mas Percy foi mais rápido, pegou o garoto pela cintura e começou a fazer cócegas nele.

– Garotos! – Annabeth exclamou. – Garotos! – ela disse uma segunda vez, um pouco mais alto. E eles a olharam. – Chega disso. Jace, você precisa arrumar suas coisas para ir para a escola.

Jace se levantou, alisando a camiseta cinza. Ele era a copia do pai. Os mesmos cabelos negros rebeldes, a pele morena, o sorriso malandro, menos os olhos. Ele tinha os olhos perturbadores de Annabeth. Acinzentados, questionadores.

– Vamos, cabecinha de Alga – Samanta disse, passando o braço pelo ombro do irmão.

Jace olhou feio para ela e empurrou ela para o lado. Samanta riu.

– Estamos indo – Samanta disse, fechando a porta. – Não se atrasem para pegar a gente, mal posso esperar para voltar ao acampamento.

– Tenha um bom dia na escola querida – disse Annabeth.

Assim que Samanta bateu a porta, seus ombros caíram, sua animação sumiu.

– Podiamos passar o dia na vovó. Ela não ia contar que ficamos lá, e comeríamos doces.

– Vamos Sam – Jace disse - Vai ser divertido!

– Uhul. – Sam disse em falsa animação – Treze anos vivendo em um acampamento de semideuses, e agora vou ter que misturar com um monte de crianças mortais de quem tanto tiramos sarro.

– Exatamente! – ele exclamou – Vai ser divertido! E Bianca estará lá!

– De onde você tira toda essa animação? – Samanta perguntou. – Ah, esqueça. Vamos logo.

A escola estava cheia de alunos. Muito mais crianças da idade se Sam do que ela já tinha visto. Havia um grupo de garotas vestindo rosa e roxo que conversavam e davam risadinhas quando algum menino bonito passava. Elas lembravam muito as filhas de Afrodite aos olhos de Sam. Haviam alguns meninos, provavelmente esportistas, exibindo o físico para as garotas. Sam não se impressionava com bons físicos. Ela crescera em um lugar onde TODOS, menos os filhos de Hipnos, tinham bom físico. Por conta de um rígido treinamento em esgrima e outras diversas atividades físicas.

Sentada em um dos degraus estava uma garota de cabelos negros, lisos. A pele pálida, e olhos negros profundos. Ela tinha um olhar mortífero a todos que passavam, até avistar Samanta e Jace, então seu rosto se iluminou. Ela correu até eles, e abraçou Samanta.

– Sam! – ela disse. – Finalmente! A quanto tempo.

– Bianca! – Samanta disse. – Seu cabelo cresceu!, olha, está enorme!

– Aheem – Jace pigarreou. – Oi? Eu estou aqui.

– Ah, desculpe Jace – Bianca deu um beijo na bochecha do garoto, e ele ficou vermelho como uma pimenta.

– Bom – disse Sam. – Prontos para um dia torturante na escola?

– Nunca – disse Bianca – Não sei porque nossos pais insistem em nos colocar nesse lugar.

O sinal tocou. Os três se entreolharam antes de passar pela porta.

– Bom dia futuros Alunos! – disse uma das patricinhas. – Eu sou Hylari, e eu e minhas amigas – ela apontou para as copias atrás dela. – vamos ser suas guias por hoje.

Os novos alunos foram divididos em três grupos, cada um com duas das lideres de torcida. Sam, Bianca e Jace ficaram no grupo de Hylari e uma outra garota, chamada Kelly.

– Esse aqui é o laboratório! – ela disse, com a voz um pouco mais animada do que deveria. – Não toquem em nada, mas fiquem a vontade para olhar!

Sam e Bianca estávamos examinando um pote com uma cobre morta dentro quando Jace puxou a irmã pela manga. Ele colocou o dedo em frente da boca, pedindo silêncio. Ela assentiu e o seguiu.

Eles se aproximaram discretamente das guias, fingindo olhar para alguns tubos de ensaio.

– “... vai ser nossa chance Kelly! “- disse Hylari – Finalmente vamos conseguir nossa vingança!

– Não sei não – disse Kelly – Você se lembra da ultima vez, na guerra dos Titãs... eu demorei quase vinte anos para voltar a vida.... se não fosse aquele maldito Jackson...

Sam olhou alarmada pra Jace, ele assentiu, cutucou Bianca e apontou até a porta. Ela entendeu de imediato, eles caminharam em direção a porta, tentando ser discretos. Claro que não conseguiram.

– Onde vocês pensam que vão? – disse Hylari. – A excursão ainda não acabou.

– Sabe o que é... nossos pais ligaram, temos que voltar para casa, mas foi ótimo conhecer a escola –Samanta disse.

– Ahhh que pena – disse Kelly com uma voz muito forçada. – Então me deixe acompanhar vocês ate a saída. Sim?

– Não precisa – Jace disse.

– Oh não, eu insisto – Kelli disse abrindo a porta para eles. Samanta se virou, ela podia jurar ter ouvido um sibilar.

Os corredores estavam vários, tudo o que ecoava eram os passos deles. E um tipo de antar muito esquisito atrás. Um passo mais pesado que o outro, um baque metálico. Sam girou o anel em seu dedão. Jace fez o mesmo com o dele. Eles tinham armas gêmeas, tinham ganho quando Sam tinha oito, e Jace seis.

A líder de torcida sibilou, dessa vez Samanta tinha certeza. Quando eles se viraram, não havia mais uma líder de torcida, mas sim um monstro bem feio. Ela ainda usava o uniforme muito curto de líder de torcida, mas agora sua pele era branca como papel, ela tinha olhos vermelhos e presas. Uma de suas pernas ela muito peluda, e a outra, feita de metal.

– É deselegante ficar encarando sabia? – Kelly fez biquinho.

– Me desculpe, mas eu não estou acostumada a monstros tão feios. - Disse Bianca

– Realmente, você não parece surpresa comigo.. e nem seus amiguinhos. Muito novos para saber tanto sobre monstros.... muito novos para já terem ido para aquele detestável acampamento.

– Para crianças comuns, somos novos sim – Jace disse, ele tirou o anel do dedão e ele se transformou em uma longa espada. – Mas não somos comuns. Somos os tipo “ filhos de semideuses, nascidos e criados no acampamento meio-sangue” Sabemos o que você é, sua Empousa fedorenta.

Kelli sibilou – Eu vou destruir vocês!

– Não vai – Bianca sorriu triunfante. – Vocês são servas de Hécate não é? Tem que obedecer a ela.

– Sim, - ela sibilou. – Mas o que você, mestiça, pode fazer?

– Por um acaso, minha mãe é filha de Hécate, e meu pai, filho de Hades. Eu posso destruir você com um estalar de dedos se não me obedecer.

– Criança maldida! – ela sibilou. Bianca estalou os dedos uma fumaça azul circulou pela sala e aEmpousa começou a se dissolver – Ops, meus dedos escorregaram.

– Hyyyyylari – Kelli gritou antes de sumir em cinzas.

– Ah cara! Eu adoro esse poder! – Exclamou Bianca.

– É, incrível, mas é melhor irmos, parece que a líder de torcida tem reforços – Sam disse apontando para o fim do corredor, onde outras três criaturas surgiam. – E eu não quero ficar aqui para descobrir se aqueles ali respondem a sua magia ou não!

Samanta, Jace e Bianca saltaram pela janela da escola, com os monstros em seu encalço. O carro de Annabeth estava parado na porta, Sam abriu a porta e assim que todos entraram, ela gritou.

– Acelera! Acelera! Acelera!

Percy ligou o carro sem questionar e começou a dirigir como louco pelo transito de Nova York. O carro estava carregado com malas, para a “ mudança” de volta para o acampamento. A família Jackson passava alguns meses em Nova York, para uma dose de normalidade anual. O resto do ano eles ficavam no acampamento.

Quando eles ganharam distancia, Annabeth se virou para o banco de trás.

– Pelo visto eu vou ter que continuar a dar aulas particulares para vocês dois, não é?

Jace assentiu.

– Eu não sei do que essas crianças tem mais medo, se são de monstros na escola ou você como professora. – Percy disse.

– Cale a boca Percy – ela disse.