–Vocês tem certeza que não preferem deixar suas coisas primeiro no hotel?-indagou Bou-san olhando Naru e Lin pelo retrovisor-Podemos fazer a rotatória lá na frente e ir para o hotel.

–Obrigada pela preocupação Takigawa-san.-respondeu Lin, percebendo que o rapaz inglês não diria nada-Mas nós preferimos ir direto para o prédio da SPR.

–Entendido!-exclamou o monge.

Ayako que até o momento estava quieta resolveu se manifestar.

–Mas porque toda essa pressa?-perguntou a ruiva-Madoka tem tudo sobre controle na SPR, nada com que Naru precise vir até o Japão.

O chinês ficou surpreso por alguns segundos, aparentemente Madoka não havia dito nada sobre os motivos deles estarem retornando ao Japão depois de dois anos.

–Luella nos mandou aqui.-respondeu Lin sem qualquer expressão no rosto.

Ele pode sentir os olhos safira de Noll fuzilando-o.

–Luella-san?-falou Ayako como se quisesse confirmar o que havia ouvido.

–Madoka nos disse que Martim-san havia mandado Naru voltar por causa de um relatório.-disse Houshou parando o carro quando o semáforo ficou vermelho, ele virou-se para trás-Então era mentira?

Não...Madoka havia dito algo sim.–pensou Koujo se arrependendo de suas palavras assim que sentiu o olhar de Naru sobre si se intensificar. O chinês queria muito suspirar. Ele havia falado demais.

–Sim, precisamos rever um relatório, já que aparentemente há alguma coisa faltando nele.-começou Lin com sua face estoica de sempre-Mas Luella nos mandou dizendo que seria bom rever as pessoas com quem trabalhamos.

Sorrisos surgiram nos rostos do casal, mas ambos pareciam esconder um pouco de nervosismo, algo que foi captado pelos dois passageiros. A miko e o monge estavam escondendo alguma coisa.

...

–Chegamos.-anunciou Takigawa.

Naru e Lin desceram do carro e encararam o prédio no qual haviam trabalhado há dois anos. Nada havia mudado, pelo menos do lado exterior do prédio. As paredes continuavam em tons de amarelo e branco, a lanchonete permanecia no andar de baixo da SPR.

–Eu vou leva-los ao hotel depois, então vou deixar as suas bagagens dentro do carro.-disse o loiro, que apenas recebeu acenos de cabeça.

Os quatro subiram os degraus para o segundo andar e percorreram um curto corredor, deparando-se com a porta de madeira clara. Na porta, a placa “SPR” continuava, mas agora grafada em prata e em alto relevo.

Oliver girou a maçaneta a adentrou ao seu antigo local de trabalho.

Nada havia mudado drasticamente, as paredes continuavam em tons claros, apenas os sofás haviam sido trocados de lugar, dando um ar mais espaçoso na sala em que atendiam aos clientes. A pequena cozinha continuava igual, mas Naru pode perceber que alguns aparelhos como o fogão e a geladeira haviam sido substituídos por novos.

Apenas uma coisa incomodou o rapaz inglês, o cômodo que há dois anos havia servido de sala para Mai agora parecia mais como uma biblioteca e uma sala de arquivos, enquanto a sala que Lin costumava usar parecia intacta.

Será que Mai estaria dividindo a antiga sala de Lin, com Yasuhara?

–Noll!!! Lin!!!

O grito agudo e feminino ecoou pelo cômodo, tirando Oliver se seus pensamentos. Parada a frente dos recém chegados estava uma mulher de cabelos castanhos meio rosados que tinha na face um enorme sorriso.

–Trouxemos nossos convidados Madoka!-disse Ayako indo se sentar em um dos sofás com Takigawa logo atrás.

–Eles preferiram vir para a SPR direto, tanto que as bagagens deles ainda estão no carro.-comentou o monge budista.

–Estava tão desesperado assim para ver os relatórios, Noll?-perguntou Madoka com um sorriso malicioso dançando nos lábios.

Naru rolou os olhos, o que sua ex-professora estava querendo insinuar?

–Sim Madoka.-ele disse sem qualquer emoção na voz-Quero esses relatórios logo para eu poder voltar o mais rápido possível para Londres.

A mulher o encarou chocada por alguns instantes, seu ex-aluno tinha dito aquilo mesmo? Seria possível ele não ter sentido falta de nenhuma das pessoas com quem trabalhou? Ele não sentia falta de Mai?

Madoka suspirou pesadamente, Naru era definitivamente uma caso perdido. Se Gene estivesse ali ela tinha certeza que o gêmeo mais velho pensaria a mesma coisa.

–Bem...-voltou a falar a morena-...porque vocês não se sentam um pouco? Vou servir chá e vocês podem contar como foi a viagem de vocês.

–Madoka...-iniciou Noll contrariado.

–Vamos nos sentar um pouco Oliver.-interviu Lin-Assim podemos conversar um pouco sobre os casos que a SPR tem pego ultimamente.

O rapaz suspirou levemente e andou em direção dos sofás, sentando-se em uma das duas poltronas, que ficavam perpendiculares ao dois sofás de três acentos.

Koujo sentou-se na outra poltrona e fitou o cômodo. Por algum motivo ele estava se sentido bem de ter voltado naquele local.

–E então, como foi a viagem de vocês?-perguntou a médica e miko da SPR.

–Foi como qualquer outra viagem de avião, Matsuzaki-san.-respondeu Naru secamente-Ou já devo chama-la de Takigawa-san?

O rosto de Ayako ficou vermelho instantaneamente, não só pela raiva por causa da resposta do adolescente, mas também por ter usado o sobrenome de seu noivo para referir-se a ela.

–Co...como...como você sabia?!-exclamou a mulher mais corada, enquanto ao seu lado, Houshou apenas ria das reações de sua noiva, era como se ele pudesse voltar a ver a reação da ruiva quando ele a pediu em casamento.

–Posso ver claramente uma aliança no seu dedo, Matsuzaki-san.-disse o adolescente ocultando a parte em que Mai havia lhe contando sobre o noivado da miko com o monge em um dos e-mails.

–E como estão os outros?-indagou o chinês com sua voz monótona.

–Bem...-iniciou Takigawa-...Masako ainda nos ajuda em alguns casos que a SPR, mas sabe como é, né? Ela ainda é uma estrela da televisão então anda meio ocupada. John foi para a Austrália pouco tempo depois de vocês voltarem para Londres, mas ele ficou pouco tempo por lá, já que ele só queria a permissão para permanecer aqui no Japão.

O loiro fez uma pausa e a mulher ao seu lado continuou.

–E Yasuhara está no terceiro ano da faculdade de psicologia, ele acha que estudar psicologia pode ajudar nos casos.-disse a Matsuzaki esboçando um sorriso caloroso.

Um leve sorriso apareceu no canto da boca de Lin, era bom saber que todos continuavam iguais há dois anos, mas algo estava o incomodando. Por que nem Takigawa ou Matsuzaki haviam falado sobre Mai?

O homem olhou para Naru, o rapaz inglês também parecia incomodado por não ter recebido nenhuma informação sobre a ex-secretária.

–E quanto a Mai?-perguntou Naru estoico como sempre, mas sua voz havia demostrado um pouco de curiosidade quanto ao “paradeiro” da garota.

A pergunta pegou o casal de surpresa, eles não esperavam que Oliver fosse realmente perguntar da garota com quem trabalhou há dois anos. Eles se entreolharam por alguns segundos, o nervosismo era evidente no rosto do homem e da mulher, era como se nenhum dos dois quisesse responder àquela pergunta.

–O que vocês estão escondendo?-perguntou Naru sem alterar sua voz, mas ao contrário de sua voz, seus olhos demostravam o quão irritado ele estava ficando por estarem lhe escondendo algo aparentemente importante-Aconteceu alguma coisa com Mai que eu devia ficar sabendo?

Foi nesse instante que Madoka entrou na sala sorrindo, com uma bandeja contendo o bule de chá e cinco xicaras, mas o sorriso que tinha no rosto desapareceu assim que percebeu a atmosfera pesada que havia se formado há pouco tempo.

–O...o que aconteceu...?-indagou a Mori preocupada.

Noll a fitou perigosamente, e por algum motivo a pesquisadora paranormal já podia ter uma ideia do motivo. Ela suspirou pesadamente e direcionou-se até os sofás.

Madoka ajoelhou-se de frente a mesa onde colocou a bandeja e começou a servir os chás, era melhor a verdade ser contada antes que essa verdade fosse revelada da pior maneira possível.

A mulher de cabelos castanhos levemente rosados estendeu as xícaras de chá para as outras quatro pessoas da sala, e em seguida com uma xícara em mãos, Madoka sentou-se no outro sofá vazio.

–Noll...-iniciou Madoka com um ar mais sério, mas ao mesmo tempo...preocupado-...tem uma coisa que você precisa saber sobre a Mai-chan...

–Madoka...-falou Ayako com o tom de voz demostrando receio.

A nova dona da SPR estendeu a mão para a ruiva em sinal para que Ayako não interferisse.

–Uma hora ou outra Noll iria descobrir, só estou adiantando as coisas.-falou a proprietária encarando seu reflexo no chá, enquanto inconscientemente, por causa do nervosismo, ela apertava levemente a xícara branca de porcelana.

–Entendo.-disse a Matsuzaki se mexendo de maneira desconfortável no sofá; Takigawa apenas segurou a mão livre da noiva.

–Continue Madoka.-incentivou Lin estoico como sempre.

A mulher assentiu levantando o olhar para Naru.

–Mai-chan...a Mai-chan...

Entretanto antes que a Mori pudesse terminar sua frase a porta da SPR se abriu revelando uma garota de 18 anos, cabelos longos e castanhos. O vestido rosa claro tomara que caia que ia até pouco acima dos joelhos possuía uma faixa branca abaixo dos seios formava um pequeno laço do lado direito do corpo.

Os olhos castanhos e inocentes fitaram as cinco pessoas com surpresa.

A mente de Naru parou de trabalhar por alguns instantes, depois de dois anos ele estava a revendo. Ele queria dizer tantas coisas, mas apenas uma escapou por seus lábios:

–Mai...

Continua