Lily caminhava em passos apressados pelos corredores de Hogwarts. Suas mãos suavam e um bilhão de coisas passava por sua cabeça. Restavam apenas duas semanas de aula, a ruiva já havia concluído as provas finais e as N.I.E.M’s conseguindo ótimos resultados em ambas, - graças a Rose que a ajudara com os estudos durante as férias. - então as possibilidades de que a professora Minerva concordasse emdeixá-laescapar por um fim de semana, na melhor das hipóteses eram de 50%. A ruiva parou diante a estátua de uma águia e desdobrou um pequeno pedaço de pergaminho no qual Teddy havia anotado a senha que daria passagem até a sala da diretora.
-Couro de dragão. -Pronunciou em alto e bom som enquanto corria os olhos pelas palavras no pergaminho e, assim que a estátua girou em volta de si mesma, revelando uma escada em espiral, Lily se apressou e subiu no segundo degrau, deixando que a escada se elevasse sozinha.
Ao alcançar o topo da escada, encarou a porta por alguns segundos e, livrando-se de suas aflições deu três toques na mesma e antes de receber alguma resposta, empurrou-a para dentro do aposento.
-Professora Minerva? -Disse entrando em passos de formiga na sala. -A senhora esta ai?
Um gato apareceu por trás da ruiva e enquanto o animal caminhava em direção a mesa no centro da sala, ele foi tomando forma humana e assim que alcançou o móvel, Minerva McGonagall a encarava por trás dos óculos arredondados.
-Sim senhorita Potter, possoajudá-la? -Lily hesitou por um instante lembrando-se do discurso que havia decorado a poucos minutos.
-Professora, eu gostaria de saber se você pode permitir que eu, só por este fim de semana, saia do castelo para resolver alguns assuntos...hm, pessoais. -Não percebendo nenhuma mudança na expressão da diretora a ruiva continuou. -É algo de extrema importância que eu preferia não adiar e como o ano letivo já está quase terminando, eu pensei que..
-Senhorita Potter. -Minerva disse com serenidade e Lily já conseguia ouvir um longo e sonoro não. -Sinto em dizer que por um final de semana inteiro não possodeixá-lafora do castelo, principalmente sem o consentimento de seus pais. - ao ouvir suas palavras Lily murchou. -Porém, hoje a tarde teremos uma visita à Hogsmeade e bem, não se é possível controlar todos os alunos e alguns sempre dão uma escapada, principalmente os que já são maiores de idade. -Minerva olhou para a ruiva e Lily sorriu, animando-se novamente ao decifrar o olhar da professora.
-Obrigada professora. -Lily acenou com a cabeça se despedindo e caminhou o mais depressa possível para seu dormitório, afinal, que pessoa em sã consciência compareceria à casa dos Malfoydeuniforme?

Lily conhecia Scorpius desde que entrara na escola. Quando não estava por aí com HugoouMellody, estava grudada comaprima e o irmão e, consequentemente, com Scorpius.
Começara a gostar do loiro mais do que deveria no 4º ano, porém nunca disse nada pois tinha medo de estragar aamizade entre eles. Então acho que não é preciso descrever a felicidade da ruiva quando, há mais ou menos um ano e meio durante uma visita de Scorp à Alvo, o loiro a pediu em namoro. Mesmo que o pedido tivesse sido feito na casa de Lily, os únicos familiares da garota que sabiam sobre o romance eram Alvo, Rose e Hugo. Lily e Scorpius achavam bem mais divertido desta maneira.
Durante o tempo que Lily estava na escola,a única maneira de se encontrar com o loiro, era durante as visitas ao povoado de Hogsmeade, então na semana que antecedia à visita, Lily enviava uma coruja à Scorp e ambos se encontravam na casa dos gritos para matar as saudades.
Ao que tudo indicava, o ultimo encontro dos pombinhos não tinha saído como planejado. Não que Lily estivesse triste com isso, antes pelo contrário, Scorp sempre dizia que queria ter filhos e ela amava crianças então, não poderia estar mais feliz.
Após um bom tempo em frente ao espelho analisando peça por peça do guarda-roupa, Lily optou por um short jeans, uma bata laranja e sapatilhas da mesma cor da blusa.
Já estava prestes a sair quando o quarto fora invadido por uma loira que fazia uma encenação dramática da música “Because of You”. Lily a observou rindo e quando ela se jogou na cama encerrando o espetáculo a ruiva bateu palmas.
-Acho que vou seguir carreira de atriz, tenho talento para isso. O que acha Lils? -Apoiando-se nas mãos a loira ergueu o tronco para encarar a ruiva e antes que esta respondesse formulou outra pergunta. -Está indo anunciar uma gravidez ou tentar outra? -Lily riu junto a amiga.
-Acho que tem talento de sobra Mell. -Afirmou enquanto tornava a se olhar no espelho. -Está tão ruim assim?
-Está lindo Lily. -Ela disse pegando uma caixa de feijõezinhos de todos os sabores e pescando um com o dedo. -Não precisa se preocupar com a reação de Scorp quando der a grande noticia, aposto todas as minhas figurinhas dos sapos de chocolate que ele ficará com cara de babão. -Encarou Lily antes de colocar a bala na boca. -Só irá prestar atenção em suas pernas. -Disse rindo
-Ok, vou trocar de roupa. -Lily se virou para o armário mas fora impedida por Mellody.
-Argh, sangue. -A loira fez uma careta e puxou Lily para fora do quarto. -Já disse que está linda assim e o professor Longbottom já está de saída e meus doces estão acabando então nada de se trocar. Vão se encontrar na casa dos gritos?
-Não, com as provas me esqueci de enviar a coruja avisando. Vou aparecer de surpresa na casa dele, se não me engano hoje é seu dia de folga.
-Duas surpresas no mesmo dia, será que o escorpião aguenta tantas emoções? -Mellody riu e recebeu um tapa de Lily.
-Espero que sim. -Lily sussurrou mais para si mesma do que para Mell assim que ambas alcançaram o grupo de alunos e em poucos minutos já estavam indo em direção à Hogsmeade.

Rose não parava quieta por nenhum minuto. Se não estava revirando os pergaminhos, estava prendendo e desprendendo os cabelos. Ou então tomando um pouco de água ou um longo gole de firewhisky. Trabalhar com Scorp era algo que ela até havia aprendido levar numa boa, mas estar ali, na casa dele, em seu quarto, sem mais ninguém...era abusar de mais do seu autocontrole.
Scorpius voltou da cozinha com um pequeno lanche para eles e reparou no nervosismo da ruiva.
-O que foi Rose? Está assim desde que chegou, estou ficando sinceramente preocupado.
-Não tem com o que se preocupar, eu estou bem ,só estou...só estou meio...mexida, com o caso.
Scorpius sorriu, conhecia Rose Weasley o bastante para afirmar que um simples caso de duendes rebeldes na Irlanda não a afetaria desse jeito.
-Rose, sabe que eu não vou te morder não é?
Ela o encarou apreensiva, como se o loiro soubesse de algo que não deveria saber. Após avaliar a expressão do garoto e garantir que seu segredo estava a salvo, ela voltou a revirar os pergaminhos.
-Não seja tolo Scorpius, eu só quero acabar logo com isso.
-Sinto lhe decepcionar. -Ele disse puxando a papelada das mãos da garota. -Mas faremos uma parada obrigatória para o lanche. Você está aqui a quase cinco horas e só bebeu firewhisky ou água.
-Do que é que você está falando? - Inconscientemente a ruiva estendeu a mão para o copo de firewhisky e deu um longo e demorado gole. -Eu nem bebo. -Scorpius riu.
-Então eu vou fingir que a garrafa que meu pai comprou ontem e estava lacrada até hoje de manhã se esvaziou quase toda sozinha. Agora larga de birra e vem comer alguma coisa antes que você passe mal.
Rose se deu por vencida e largou os vários pergaminhos se aproximando do loiro.
-Rose, porque você me odeia? -Scorpius perguntou casualmente enquanto partia um pedaço de torta de abóbora para a ruiva.
-Que ideia é essa? - Ela perguntou tentando conter a surpresa.
-Você sabe, sempre nos demos bem na escola, mas de uns tempos para cá, mais especificamente depois que começamos a trabalhar juntos, você ficou distante, está sempre mal-humorada e qualquer coisa que eu diga te deixa com os nervos a flor da pele. Eu simplesmente não entendo.
-Eu não te odeio. - Foi a única coisa que ela falou antes de se ocupar com um bolinho enfeitado.
-Só isso que você vai falar? Eu não mereço uma boa explicação por ser tratado por você desse jeito ? -Ele a encarou suplicante como se sua vida dependesse daquilo.
Rose largou o bolinho e suspirou derrotada. A bebida começava a fazer efeito e tinha algo em sua garganta que queria a obrigar a falar. Por quase dois anos a ruiva havia reprimido tudo aquilo, palavras e sentimentos, que agora pareciam querer escapar como um vulcão em erupção. Ela sabia que se não falasse iria conviver com aquela dor o resto da vida. Talvez fosse mais fácil, ela falava tudo ali agora e no dia seguinte iria pedir uma mudança de dupla, inventaria uma desculpa qualquer no meio da noite mas agora ela precisa dizer. Antes que aquilo a matasse.
-Eu não te odeio Scorpius, eu...eu – ela suspirou tomando coragem – eu o amo. E me odeio por sentir isso por você porque você é o namorado da minha prima, da minha irmã. Eu fico distante porque é a única maneira de não me machucar com isso. É o único jeito de eu não me afetar por você. - A ruiva encarou o teto em busca de ar e concentração. - É, isso é tudo. Se me dá licença eu já vou embora, acho que falei de mais.
Rose se levantou e apanhou sua bolsa no chão, não iria organizar os pergaminhos, o resto de sua consciência a mandava ir embora naquele minuto. Sua garganta não doía mais, como se ela tivesse se libertado. Não, agora seu peito doía devido ao amor que não lhe era correspondido, Rose amaldiçoou a bebida e sua fraqueza internamente enquanto caminhava em direção a porta do quarto e quando estava quase alcançando a mesma, sentiu seus pulsos serem agarrados por mãos fortes e se virou rapidamente para encará-lo.
-Você realmente acha que eu vou te deixar escapar de mim tão fácil? - Ele soltou seu braço e a agarrou pela cintura a puxando para perto, colocou os cabelos da ruiva delicadamente para trás e a encarou nos olhos. -Eu te amo Rose Weasley.

~flashback on~
Scorpius e Alvo voltavam do treino de quadribol rindo e trocando leves socos entre si. Eles conversavam algo como “esse jogo já está ganho” e “a taça de quadribol é nossa” quando uma cena em especial chamou a atenção de Scorpius fazendo com que ele parasse com as brincadeiras e prestasse atenção na ruiva que estava encostada na árvores na companhia de outro loiro.
-Alvo...desde quando a Rose tá saindo com um dos Scamander?
-Ela tá o que? - Alvo olhou na mesma direção de Scorpius mas desviou o olhar rapidamente ao ver que o casal se beijava. -Eu nem sabia disso.
-Hum. -Socrpius ainda encarava a cena e Alvo olhou para o amigo rindo
-Ta com ciumes é Malfoy? - Alvo empurrou o loiro pelo ombro tirando a concentração de Scorpius e retomando as brincadeiras e lutinhas de volta.
-Que mané ciumes. - Disse olhando a cena uma ultima vez antes de ir embora. - Rose é linda e solteira, tem todo o direito de ser feliz com quem ela bem entender.
~flashback off~

As palavras de Scorpius ainda ecoavam em sua mente, seu coração batia tão depressa que era como se ele pudesse saltar de seu peito rasgando sua pele, tudo deixou de ter importância quando o rosto do loiro se aproximou perigosamente do seu. Os olhos de Rose se fecharam automaticamente enquanto seus lábios encontravam o de Scorpius. Deixou-se relaxar nos braços do garoto enquanto tinha cada centímetro de sua boca explorada, e estava gostando daquilo. Sua língua dançava em perfeita harmonia com a do loiro, o par perfeito, sentia como fossem feitos um para o outro, ninguém mais existia, eram apenas eles. As mãos de Rose trilharam caminho até alcançarem os cabelos de Scorp e se afundaram por lá enquanto bagunçavam os fios loiros, as mãos dele ergueram Rose no colo a obrigando enlaçar suas pernas em sua cintura enquanto caminhava em direção a cama. A ruiva abriu os olhos por um momento quando fora deitada na cama e recobrou a consciência.
-Scorpius, eu e você, nós...nós não devemos, isso é...extremamente errado.
O loiro a encarou com um sorriso enorme nos lábios e depositou um beijo demorado no pescoço da ruiva.
-Se soubesse que ser errado fosse me fazer tão feliz eu nunca teria agido corretamente. -Scorpius ainda sorria e voltou a beijar Rose porém, por mais que quisesse aquilo, a garota se sentiu na obrigação de afastá-lo e mesmo relutante, empurrou o garoto para cima fazendo com que seus olhos azuis encarassem os dela.
-Eu falarei com Lily amanhã. Sei que agora não parece certo mas é você quem eu amo. Lily é como uma irmã mais nova para mim e eu sinceramente só comecei a namorá-la para tentar te esquecer pois sabia que com você nunca teria chances. -Rose ainda o encarava. -Não que eu não goste dela, não sou um monstro e tão pouco comecei a namorá-la com intenção de usá-la para te esquecer. Eu gosto de Lily mas amo você, eu prometo que não farei nada para magoá-la mas agora que eu descobri que você sente o mesmo por mim, não posso deixá-la fugir por um detalhe.
-Lily é como uma irmã para MIM Scorp.
-Já disse que resolverei isso. Amanhã mesmo vou para Hogwarts e converso com ela. Agora pare de fugir de mim.
Rose sorriu. Não porque estivesse feliz com o rompimento da prima, mas porque sempre tivera fortes sentimentos em relação ao loiro e vê-lo ali, a querendo da mesma maneira que ela sempre o quis, bem era um de seus maiores desejos. Então simplesmente deixou-se hipnotizar novamente e no mesmo momento que a boca de Scorpius encontrou a sua, tudo a sua volta sumiu e eles voltaram a se tornar duas partes de um todo, nascidos um para um outro.
Um barulho de metal caindo tilintou o chão junto com um vidro que se quebrara, Rose se sentou assustada na cama enquanto Scorpius fazia o mesmo ao seu lado encarando a porta.
-Ro-Rose? - a voz fraca de Lily soava incrédula enquanto ela os encarava. Rose não sabia o que fazer. Queria que alguém a acordasse do sonho que havia virado pesadelo.

Lily aparatou dentro da cozinha na mansão dos Malfoy fazendo com que o elfo Tommy desse um pulo para trás assustado.
-Senhorita Potter? - o elfo se aproximou um passo, curioso, Lily riu.
-Desculpe-me pelo susto Tommy, não fora minha intenção.
-Tudo, tudo bem senhora mas, o que faz aqui? Não deveria estar em Hogwarts?
-Deveria. -Lily disse pensativa. -Mas estava com saudades de Scorpius e resolvi fazer uma visita. -Ela sorriu.
-Mas senhorita, o senhor Malfoy está trabalhando.
-Hoje não é o dia de folga dele? - Lily pareceu apreensiva
-Na verdade é sim senhora, mas ele está trabalhando no quarto e pediu para ninguém incomodar. - O elfo parecia nervoso como se tivesse escondendo algo, Lily pensou por um minuto.
-O que iria fazer com essa bandeja então?
-O senhor Malfoy pediu para que eu levasse esse suco de abóbora senhora. - Assim que falou o elfo se arrependeu, havia caído na armadilha da ruiva.
-Pois deixe que eu levo. -Lily tirou a bandeja das mãos do elfo e se pôs a subir as escadas, Tommy foi correndo atrás dela.
-Senhora não precisa, eu mesmo levo, sou pago para isso. Quer que o senhor Malfoy me demita senhora? -Lily parou e encarou o elfo.
-Ora vamos, Scorpius não é tão ruim. Conversarei com ele e vou assumir toda a responsabilidade por isso, pode voltar para a cozinha, eu sei o caminho do quarto.
O elfo tentou protestar mas já era tarde, Lily já havia alcançado o segundo andar e já caminhava em direção ao quarto do namorado. Assim que o alcançou, não se preocupou em bater na porta pois esta estava aberta. Pergaminhos e pergaminhos espalhados por todo o chão, doispuffscolocados em locais diferentes e uma bandeja com torta e bolinhos esperava em uma mesa improvisada. Scorpius? Bem ele estava deitado sobre a cama, na realidade ele estava deitado sobre alguém. A surpresa atingiu Lily de repente e a garota sem perceber soltou a bandeja das mãos fazendo com que esta caísse no chão causando a quebra da jarra de suco e um grande barulho. Achava que estava surpresa o suficiente porém foi pega completamente sem chão quando avistou Rose se erguendo na cama.
-Ro-Rose? - Lily olhava perplexa para a cena sem conseguir acreditar. Esperava que se olhasse melhor um pouco perceberia que aquela ruiva não era a prima e sim alguém parecido. Mas nada aconteceu. Lily pigarreou retomando a força na voz e encarou o casal. -Rose? -perguntou com firmeza enquanto esperava por uma resposta.
-Lily, Lily eu.. -Rose se apressou e já se levantava indo em direção a Lily quando foi interrompida pela mesma.
-Francamente Malfoy. -Lily ainda encarava o loiro. -Eu venho aqui lhe fazer uma surpresa e sou surpreendida. -Ela riu desgostosa e encarou Rose. -E você?
-Lily eu posso explicar. -Rose se aproximou da ruiva suplicante
-Ah pode? Então me diga, o que você e Scorpius estavam fazendo naquela cama? Ele estava te ensinando respiração boca a boca? Ora francamente! -Disse se exaltando mais do que queria. -Não sou idiota como pensam. -Scorpius havia se levantado e agora se encontrava ao lado de Lily segurando seu braço.
-Por favor, nos deixe explicar Lily.
Lily olhou com repugnância para a mão de Malfoy que encostava em seu braço o que fez com que o loiro a soltasse. Quase que inconscientemente a mão da ruiva se ergueu depositando um belo tapa no rosto de Malfoy.
-Explicar o que? -Lily cuspiu as palavras e se virou para ir embora porém foi seguida por ambos.
-Certo eu mereci isso. -Scorpius disse enquanto corria atrás dela. -Mas também mereço dar uma explicação e você merece ouvi-la. -Lily parou na metade da escada e encarou Rose e Scorpius que se encontravam no topo desta.
-O que eu quero e o que eu mereço são coisas diferentes. -Ela ergueu a cabeça provando seu orgulho e disse. -Eu tenho nojo de vocês. -Após estas palavras, sumiu em um borrão preto bem ali onde estava. A ruiva havia aparatado para sabe Merlim aonde.

Mellody saia do três vassouras acompanhada de Hugo e ambos iam em direção à casa dos gritos, um dos lugares mais desertos do vilarejo.
-Sabe Hugo, talvez essa aposta que eu fiz com Lily não foi deveras ruim. -Ela sorriu enquanto se acomodava em uma pedra.
-Então eu sou o prêmio de uma aposta? - Hugo a encarou com uma sobrancelha erguida
-Mais ou menos isso. - Mell disse pensativa antes de cair na risada. -Na verdade eu perdi a aposta, se tivesse ganhado Lily me pagaria doces até completarmos 20 anos.
-Então eu sou o prêmio de consolação?
-Não Hugo! - a loira deu um leve tapa no ombro do garoto. -Você é meu castigo por ter perdido. -Eles se olharam por um momento e Hugo estava prestes a rir quando ela completou. -O melhor castigo que eu já tive.
Os olhos de ambos se encontraram e Mellody não reparou que havia parado de respirar, seus rostos de aproximavam,o coração da garota estava muito mais acelerado que o normal. Quando seus lábios se tocaram um barulho estranho os fez desviar rapidamente.
-Lily?! - Mell se levantou surpresa e assustada ao ver os olhos da amiga marejados de água. -O que aconteceu? O que aquele canalha fez com você? Eu mato ele, eu..eu juro que mato, ele disse que não irá...-
Mell...-Lily a encarou como se pedisse que parasse e discretamente apontou para Hugo. -Eu não estou me sentindo muito bem, vou voltar para o castelo tudo bem?! Lá a gente conversa. Desculpe atrapalhar o encontro de vocês, acho que estavam se dando bem. -Ela deu um sorriso fraco para a amiga e apesar de tudo se sentia feliz por ela. -Com licença. -Lily passou as costas da mão no rosto secando uma lágrima que ousara cair e começou a andar deixando Mellody plantada a encarando e Hugo sem entender nada.
-Hugo eu, eu vou atrás dela tudo bem? Se quiser podemos marcar outro dia, eu adorei, mesmo. Me diverti bastante, até mais. -Mell sorriu e depositou um beijo na bochecha do ruivo antes de sair correndo atrás de Lily.

Lily havia acabado de entrar no quarto, conseguiu tempo apenas de jogar a bolsa na cama quando Mellody entrou correndo e trancou a porta antes de se virar e encarar a ruiva.
-Ora venha cá. -Mellody esticou os braços e chamou a ruiva com as mãos, assim que Lily foi, ela a confortou em um abraço forte enquanto a escutava soluçar. -O que houve hein?
Lily saiu do abraço e enxugou o rosto apenas para começar a chorar de novo. Tirou os sapatos e se sentou na cama com 'perna de índio'. Mellody a seguiu e se sentou na outra ponta da cama enquanto encarava a ruiva.
-Ele, ele me traiu Mell. -Lily disse olhando para baixo assim que parou de chorar. -Ele me traiu com a minha prima.
-Roxanne? -Mell perguntou visando raiva. -Sabe que eu nunca confiei nela. Aqueles cabelos pretos, pele perfeitamente bronzeada. Sei que ela é sua prima mas nunca caí nas conversas de miss simpatia dela. Mas eu mato. Ah se mato. Mato os dois. Lentamente. -Mellody sorriu com um brilho assassino nos olhos.-Primeiro ela, ele ficará sentado em uma cadeira assistindo apenas para ver o que acontecerá. E depois ele, só que será pior, bem pior. Um tortura de dias..
-Mell! -Lily sorria fraco, gostava do jeito superprotetor da amiga mas ainda não tinha terminado de contar. -Roxi não fez nada. -Mellody murchou, estava prestes a chutar Dominique ou Lucy mas Lily fora mais rápida. -Rose. Scorpius me traiu com Rose. -Mellody a encarou de olhos arregalados.
-Rose? Rose sua prima preferida? Rose sua irmã mais velha? Rose, Rose?
-É, Rose.
-PELAS BARBAS DE MERLIM! - Mellody gritou jogando as mãos para o alto. -Não posso acreditar em uma coisa dessas, será um trabalho de meses , farei jogos mortais com esses dois e gravarei vídeos para colocar no Youtube. -Lily a encarou com uma cara de quem não entendeu bulhufas. -Coisa de trouxa. Mas, o que você fez?
-Eu dei um tapa na cara dele. -Lily suspirou. -Eu só queria sair o mais rápido possível dali, não sabia o que fazer, como agir.
-Eu vou arrancar o brinquedinho dele. É, quero ver se Rose vai o querer sem aquilo. Como você está se sentindo?
-Mell, nós namorávamos por quase dois anos, estou esperando um filho dele, eu o amava. -Lily a encarou triste. -Como você acha que eu estou? Rose era minha irmã, minha melhor amiga, minha conselheira. Eu quero desaparecer no mundo, não voltar nunca mais. Fugir para bem longe.
-Oh Lily. -Mellody a abraçou novamente. -Se você sumir de mim, eu vou até o inferno te procurar. -Lily riu.
-Você é a pior melhor amiga do mundo.
-Amo você também ruiva.

-Você acredita nisso? Consegue acreditar nisso? Eu não acredito nisso! -Mellody embarcava no trem exaltada e Lily ria logo atrás dela. -Nós estamos fora. É isso. Nos formamos. Acabou. Somos gente grande agora. Sem mais professores chatos, sem mais pirraça nos atazanando. Agora nós trilhamos nosso caminho. Isso não é demais?
-Sim Mell. -Lily ainda ria. -Isso é incrível agora faça o favor de se sentar aí.
-Mas isso é muito legal Lily. -Mell se sentou mesmo sem querer. -Vamos comemorar!
-E o que a senhorita tem em mente?
-Vamos fugir! Uma semana no triângulo das bermudas ou na babilônia. Vamos nos arriscar! -A loira pulou batendo palmas e nesse momento o trem começou a andar.
-Suicídio? É isso que você está tentando?
-Lily minha mãe quer que eu vire médica ou advogada. Ela está me chamando de doutora Wood desde o ano passado e eu nem fiz o segundo grau. Eu tenho que fugir dela.
-Vá lá para casa. Papai e mamãe te adoram,por que não?
-Não posso viver na sua casa para sempre. Mas aceito o convite. -Mellody riu. -Em relação aquela coisa...já decidiu o que vai fazer?
-Vou pôr as cartas na mesa hoje ainda se conseguir. Te envio uma carta quando a poeira abaixar e vamos ver o que acontece.
-Ou podemos desembarcar na Kings Cross e correr pro aeroporto mais próximo o mais rápido possível.
-Tentador. -Lily encarou a amiga com uma sobrancelha arqueada. -Mas quer mesmo fugir com uma adolescente grávida para um dos lugares mais perigosos do mundo? -Lily entortou a boca e ao perceber a falta de reação de Mellody concluiu. -Hm, acho que não. Boa escolha. -Sorriu e em seguida Hugo entrou na cabine sorrindo timidamente para Mellody que pela primeira vez desde que Lily a conhecia, a loira pareceu corar.

-Eu vou sentir sua falta. -Mell e Lily se abraçavam na plataforma enquanto as famílias de ambas as esperavam.
-Eu também Mell, muita.
-Promete que assim que estiver tudo bem você vai me escrever?
-Prometo.
-Eu vou sentir tanto a sua falta. -Lily riu.
-Vai ser só o tempo de você se inscrever no The Voice ou no The X factor e de eu arrumar as coisas lá em casa. Nos veremos em breve. -Mellody sorriu
-Boa sorte ruiva.
-Boa sorte loira.
As duas sorriram e se afastaram. Um olhar cheio de significados foi trocado entre Hugo e Mell e em seguida ela partiu. Lily se sentia aliviada pois Rose estava trabalhando e não pode ir buscar o irmão. Lily sabia bem como Rose trabalhava. Se despediu de Hugo e dos tios e depois seguiu com o pai para Godric's Hallow. Assim que chegou em casa o cheiro de sua comida favorita tomou conta de todos os sentidos de Lily e ela fora recebida pela mãe na cozinha e pelos irmãos logo em seguida. O jantar não demorou a sair e logo estava toda a família reunida envolta da mesa.
-Tenho uma notícia para dar. -Alvo disse durante o jantar e recebeu os olhares curiosos de todos na família. -Eu consegui aquela viagem para o vilarejo em Manhattan.. Viajo amanhã a tarde.
-Vilarejo? Que vilarejo? -Lily perguntou confusa enquanto os outros comemoravam.
-É uma vila antiga Lily, com vários hábitos e costumes diferentes dos nossos. Eles fazem magia com as mãos para você ter uma ideia, mas o mais incrível de tudo isso,é que eles vivem como os trouxas. Trabalham no meio de trouxas vivem perto deles e eles nem desconfiam. -Alvo disse animado.
-Por Merlim isso é incrível!
-É! E eu vou morar lá por quanto tempo eu quiser para poder pesquisar os costumes deles. Posso até aprender a viver como eles.
-Você não vai viver mais de um ano lá escutou mocinho? -Ginny interrompeu mesmo sabendo que essa ordem não seria cumprida e ergueu o olhar para a filha mais nova. -E você Lily? Tem algo para nos contar? -Tentou desviar o assunto para não se chatear mais do que devia com a partida do filho.
-Na verdade sim mamãe. -Lily empurrou um pouco seu prato e baixou um pouco a cabeça. -Mas não chega nem perto de ser animado ou legal como a de Alvo, e é uma longa, longa história.

Garfo e faca haviam 'caído' das mãos de Harry enquanto ele olhava Lily boquiaberto.
-Você namorava o filho do Malfoy? Há quase dois anos? Debaixo no meu nariz? E eu não sabia de nada?
-Foi só isso que você assimilou pai? - A garota o olhou para ele com uma careta. O único detalhe que ela fazia questão de esquecer foi o que ele mais deu destaque.
-Não. Eu só estou indo por partes para ver se entendo. - Ele a encarou por um momento e depois desviou o olhar para Ginny.
-Você está grávida? - Ginny a encarava com uma expressão nada amigável fazendo Lily abaixar a cabeça.
-Jurava que eu tinha falado mais coisas.
-Lily.. -Alvo a olhou e tinha a voz um pouco falha – Tem certeza de que era a Rose? - Lily olhou para ele e assentiu.
-Ela falou comigo Al. - disse suspirando. - Era ela com certeza, no momento eu só queria… sumir.
-Eu devia ter previsto que isso um dia iria acontecer. - Alvo bufou e deu um pequeno soco na mesa. -Lily você disse que queria sumir...ainda quer? -O moreno encarou a irmã esperando uma resposta.
-Eu não sei...nunca mais ter que olhar para Rose me parece uma boa ideia mas não sei se é o certo. -Lily parecia um pouco confusa como se estivesse prevendo a próxima fala do irmão. Todos apenas os encaravam, observando.
-Você pode vir comigo se quiser. Eu tenho permissão de levar uma pessoa comigo e você é minha irmã. Não vejo porque não.
Lily o encarou perplexa sem acreditar muito no que estava ouvindo, será que daria certo? Ela conseguiria fugir e deixar tudo aquilo para trás? Devido a dor que sentia desde o dia em que vira Rose e Scorpius juntos a proposta passou a ser tentadora.
-Mas você estaria levando duas pessoas. - Lily resmungou e Alvo riu pelo nariz.
-Detalhes, detalhes.
-Estão ficando loucos? Acham que vou deixar os dois fugirem de mim assim? Se estão pensando que isso vai acontecer estão redondamente enganados. -Ginny exclamou visivelmente incomodada com a futura perda dos filhos.
-Mãe por favor. -Lily a olhou triste, iria aceitar o convite de Alvo mas pelo jeito que a mãe disse ela duvidava que isso viria a acontecer.
-Não, sem chances.Lily você está esperando um bebê! Como acha que vai cuidar de uma criança sem a minha ajuda? Não, não não e não!
-É um velho vilarejo mãe. Eu posso me virar, vou arrumar um emprego e … e Alvo pode me ajudar! Mãe eu não quero nunca mais ter que olhar na cara de Rose ou de Scorpius, ficando aqui eu teria que fazer isso quase todos os dias, por favor. -Lily agora tinha uma súplica no olhar e os olhos de Ginny se enchiam d'água, ela estava prestes a ceder.
-Vou perder meus dois bebês assim? Da noite pro dia?
-Você ainda terá a mim mãe. -James exclamou em uma tentativa de deixar o momento mais descontraído.
-Ora você não é mais um bebê James. -Ginny bateu o pano de prato no ombro do filho que resmungou como uma criança. -Vive viajando e só se importa com o quadribol, nenhum de vocês se importam com essa velha mãe, carreguei todos nove meses na barriga, criei com amor e carinho, fiz de tudo por vocês e vão me abandonar assim? Sem ao menos pensar duas vezes?
-Ginny. -Harry a encarava sério mas sentia vontade de rir. -Se lembra que foram exatamente essas palavras que sua mãe usou quando você e Ronald anunciaram o casamento? -Ginny olhou furiosa para Harry como se soubesse exatamente o que estava fazendo mas se viu em um beco sem saída e se deu por vencida.
-Prometam, os dois, que me escreverão todo santo dia e vão me mandar fotos, principalmente da criança! Se em um único dia, eu não receber uma carta, eu largo todos os meus afazeres e vou atrás de vocês e lhes trago de volta para cá pela orelha! Estão me entendendo?!

-Sim mamãe. -Alvo e Lily disseram juntos antes de cair na gargalhada.
-Eu te amo muito mãe. -Lily se levantou e caminhou até a mãe lhe dando um abraço apertado e ao perceber o olhar de ciúmes de Harry foi até ele abraçá-lo também. -Também te amo muito pai.

As malas de Lily nem tinham sido desfeitas. Alvo que viajaria via aparatação acabou decidindo ir de avião, disse que era porque queria se sentir como um pássaro e que assim poderia aproveitar um pouco mais a viagem, mas Lily sabia que ele só estava fazendo aquilo porque era mais seguro para ela. Assim que o dia clareou Alvo foi para a'Toca se despedir dos tios e primos e Lily seguiu para o aeroporto internacional de Londres com os pais e James.
-Acho que isso é tudo. -Lily suspirou enquanto segurava seu passaporte e o de Alvo em mãos.
-Que horas o voo sai? -Perguntou James olhando para o relógio
-Daqui 30 minutos, é bom Alvo chegar logo senão...
-Eu já estou aqui Lily, não precisa se preocupar. -O moreno surgiu atrás da irmã lhe pregando um grande susto.
-Você disse alguma coisa para tio Ron ou tia Mione? -Lily se virou para Alvo preocupada.
-Nadinha, a única coisa que eles sabem é exatamente o que eles sabiam antes de você voltar de Hogwarts.
-E vocês..- Lily se virou para James, Harry e Ginny. -Lembram do que combinamos?
-Na mesma noite em que você chegou da escola deixou um bilhete em cima de sua cama dizendo que não conseguiria mais viver lá pois aquele lugar lhe trazia muitas lembranças que você precisava esquecer. Não sei que vou ter um sobrinho em breve, continuamos sem saber do seu romance com o Malfoy, você faz Rose se sentir culpada e foge para bem longe. Quanto drama. -James disse repassando tudo que Lily o obrigara a gravar e acrescentando sua opinião. Lily olhou para ele sorrindo e bateu palmas.
-Estou orgulhosa de você Jayjay, agora sei que tem um cérebro. -Ela riu e o abraçou.
-Primeira chamada para o voo 972, Estados Unidos, Nova York. -Uma voz feminina soou por todo o aeroporto e Lily libertou James do abraço.
-É a hora. -Ela disse baixo e caminhou até o pai. -Eu vou sentir muito a sua falta.
-Eu também minha princesa, muito. -Harry a beijou na testa e a deixou ir se despedir da mãe.
-Eu quero uma carta todos os dias certo? -Ginny chorava enquanto apertava Lily e Alvo contra o peito. -Um relatório completo do dia de vocês e já sabem o que vai acontecer caso não receba a carta.
Lily riu e assentiu prometendo a mãe pela ultima vez que escreveria. A segunda chama para o embarque foi feita e Ginny não teve outra escolha a não ser deixá-los partir, Alvo e Lily embarcaram e assim que o avião começou a decolar Lily se virou para a Alvo e sussurrou “Obrigada.”