Véspera de Natal, 10 horas da noite, Mansão dos Khoury. Félix desperta de suas recordações enquanto observa sua família. Lembra de seu pai. A convivência ainda não era das melhores, mas os insultos diminuíram. César havia apresentado algum progresso quanto à visão, fala e coordenação motora, mas seu espírito ainda continuava depressivo. Passava a maior parte do tempo no quarto, sendo assistido diariamente por uma técnica de enfermagem, além de receber assistência de um fisioterapeuta e uma fonoaudióloga.

Após muita insistência, e depois de vários conselhos dos especialistas envolvidos, Félix conseguiu convencer Papy Soberano a sair de casa uma vez ao dia para um passeio. Na maior parte do tempo ambos ficavam em silêncio contemplando o pôr-do-sol.

Félix vai ao quarto improvisado do pai:

– Pai, tem certeza de que não quer ficar conosco?

– Não, tá bom aqui, já comi, não preciso de mais nada. Me deixe sozinho.

– Mas, pai...

– Me deixe aqui, vá!

Uma ponta de melancolia atravessa o peito de Félix. Mesmo com toda a dedicação, ainda não fora capaz de se aproximar verdadeiramente de seu pai. E tinha certeza que sem seu Carneirinho por perto jamais seria capaz de suportar tal situação.

Seus pensamentos são cortados por Jaiminho que, na ânsia de pegar um aperitivo antes da ceia da meia-noite, entra na sala de jantar todo molhado:

– Jaiminho, mas será que engarrafei as águas do Rio Nilo pra ver você trazendo o dilúvio pra essa casa?! Vem se secar, meu filho.

– Tô com fome, pai.

Eles retornam para a beira da piscina, onde Félix o enxuga e o leva para sua antiga suíte. Niko também se preparava com Fabrício para tomarem banho e se arrumarem para a Ceia.

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Poucos tempo depois após decidirem se mudar para a casa de praia, Niko reúne sua família. Félix chega mais cedo que o de costume para conversar com Jaiminho. Niko explica a situação:

– Jaiminho, meu querido, queria te contar que a gente em breve vai se mudar daqui.

– Mas, pai, e meus amigos, vou ficar longe do Felipe e do Thiago?

– A gente pode visitar eles de vez em quando. Além disso, você pode conversar com eles pelo telefone, internet...

– Jaiminho, você não gosta de piscina? Pois lá tem uma piscina enorme, e nem é muito funda. E tem o mar bem em frente à casa. Eu sei que você um peixinho, você vai A-DO-RAR – explica Félix.

– Você vai morar lá também, tio Félix?

– É o apocalipse! Tio não né, Jaiminho. Mas sim, vamos morar todos juntos.

– Então você também vai ser meu pai?

Félix se surpreende mais uma vez ao ouvir a palavra Pai. Olha espantado para Niko, que já se encontrava radiante diante desse ideia:

– É o que você quer, Jaiminho, que eu seja seu pai?

– Ah, você tá sempre com meu pai, e você é engraçado – Jaiminho fica pensativo por um tempo e por fim decide – Acho que sim, PAI Félix.

Ele se aproxima e dá um longo abraço em Félix e depois em Niko.

– Eu lembro que tinha um pai e uma mãe, mas eles não cuidavam de mim. A tia do abrigo disse que eles ficaram doentes e morreram. E hoje tenho dois pais, papai Niko e papai Félix e meu irmãozinho, Fabrício. Gostei! – Jaiminho então sai correndo para seu quarto animado para jogar mais uma partida no videogame, deixando os dois para trás, que sorriam e se olhavam emocionados.

Alguns minutos depois, Niko chama insistentemente Jaiminho para jantar, o qual não queria desgrudar de jeito nenhum do console:

– Vai se preparando, Félix, porque ele é viciado em videogame.

– Carneirinho, aposto que quando ele vir aquele jardim fabuloso e aquele mar vai ficar menos tempo em frente à TV.

Os quatro sentam-se à mesa. Félix faz questão de dar a papinha a Fabrício. Niko aprecia a cena à sua frente e suspira pleno de felicidade. Finalmente havia construído a família com que tanto sonhou.