Sophie descia as escadas quando seu tio que estava no hall perguntou:

 

- Eu estou bonito?

 

Ela o examinou completamente e ajeitou a gravata.

 

- Você ‘ta muito charmoso. - respondeu Sophie bagunçando o cabelo do tio.

- Sophie não faz isso. - pediu ele.

- O seu cabelo fica mais bonito assim. - retrucou a garota. - E eu? Como estou?

 

Ela deu uma virada mostrando o seu vestido uva bem justo e depois pegou em seu cabelo arrumando o penteado.

 

- Parece mais uma princesa. - elogiou o tio e na mesma hora a campainha tocou.

- Deve ser o Fred. - supôs Sophie.

 

Ela caminhou até a porta e a abriu. Sheron entrou logo em seguida.

 

- Boa noite. - cumprimentou Sheron.

- Boa noite. - disseram Sophie e Eduardo.

 

Não demorou muito para que Rafael descesse todo arrumado.

 

- Se ele não fosse meu irmão, roubaria de você. - brincou Sophie com Sheron enquanto Rafael se aproximava.

- Deixa de ser bajuladora, Sophie. - rebateu Rafael.

 

E minutos depois a campainha tocara de novo, dessa vez era Fred. Quando o mesmo entrou cumprimentou todos, e logo em seguida, Sophie o convidou para ir até a área da piscina.

 

Assim que chegaram, Fred perguntou à Sophie:

 

- Você está gostando de ter a Sabrina como tia?

- Claro. - respondeu Sophie. - E por que não gostaria?

- Por causa da sobrinha dela.

- E quê que tem? - questionou Sophie.

- Não, nada. - disse Fred distraído e demorou um pouco até que voltasse a falar. - E o meu pai... Não te importunou mais?

- Ah Fred... Esquece isso. - pediu ela enquanto parava de andar.

- Eu não consigo. - retrucou Fred olhando para Sophie.

- Antes eu te achava sortudo por ter um pai presente, ao contrário do meu. - indagou Sophie. - Mas agora eu entendo por que você não gosta dele.

- Meu pai não era assim... - falou Fred cabisbaixo.

- Não? - questionou Sophie.

- Não. - confirmou Fred. - Nós nos dávamos muito bem... só que, o tempo foi passando e ele foi se tornando esse egoísta...tão egoísta ao ponto de querer me afastar de você... Que é a pessoa que eu mais amo.

- Eu sou?! - questionou Sophie dando um sorriso meigo.

- Claro que é. - confirmou Fred também sorrindo. - Você é tudo que eu tenho de mais importante.

 

Sophie se aproximou dele e lhe deu um beijou.

 

- Mas, o seu pai não vai conseguir separar a gente.  - falou Sophie. - Nem ele, nem ninguém.

 

Fred acariciou o rosto dela e em seguida a abraçou.

 

- É que eu estou com um pressentimento ruim, como se fosse te perder.

 

Sophie riu.

 

- Fred, isso não existe.                

- É... - concordou ele pensativo. - Deve ser bobagem minha mesmo!

 

Sophie o beijou demoradamente e após alguns minutos disse:

 

- É melhor nós entrarmos.

 

Ela se adiantou em sair, porém, Fred a puxou e a olhou dos pés a cabeça.

 

- Você ‘ta ficando cada vez mais linda.

- Eu pensei que isso não fosse possível. - retorquiu Sophie.

- Nossa, mas como você é humilde. - ironizou Fred.

- A minha auto-estima que é elevada. - brincou Sophie.

 

Os dois riram e entraram na casa indo em direção a sala,onde parecia que as convidadas haviam chegado. Sophie que estava de mãos dadas com o namorado largou-as rapidamente, pois vira quem mais detestava parada no hall de sua casa.

 

- O que é que essa garota está fazendo aqui? - perguntou ela com muita raiva enquanto olhava Beatriz.     

 

Eduardo não entendeu muito, então respondeu:

 

- A Bia é sobrinha da...

 

Mas ele não terminara, por que Sophie fez em um gesto de negação. Então, Fred a puxou delicadamente para um canto.

 

- Tenta ser um pouco mais agradável, só hoje. - sussurrou ele.

- Por que você não me contou? - perguntou Sophie baixinho.

- Pra que você estragasse o jantar antes que começasse?! - indagou Fred. - Sophie, presta bem atenção no que você vai fazer.

 

Ela olhou para Bia, que também a olhava e então disse:

 

- Eu não vou fazer nada; mas, tentar ser agradável é outra história.

 

Fred não olhou mais para ela e depois saiu de perto. Após alguns segundos a comida ficara pronta e todos se dirigiram à sala de jantar, onde a mesa estava decorada com pratos de porcelana, talheres de prata e alguns jarros de orquídeas roxas e brancas. Para a raiva de Sophie, Bia sentara na cadeira à frente de Fred, então, ela sentou do lado esquerdo dele fingindo não estar preocupada e ficou pensando no que iria fazer, só aí que ela percebeu que as suas amigas já tinham falado alguma coisa em relação à tia de Bia, pena que não lembrava muito. Depois de uns cinco minutos, várias funcionárias da casa apareceram no local e começaram a servir a comida; todos estavam alegres, Fred conversava com Rafael, Bia com Sheron e Eduardo com Sabrina, menos Sophie que fazia questão de mostrar seu mau-humor e a sua súbita falta de apetite.

 

- Sophie pára com isso. - pediu Fred delicadamente e bem baixinho para que ninguém ouvisse.

 

Mas Sophie não respondera e nem se quer olhara para o namorado. Fred fez uma expressão de negação e voltou a comer.

 

- Eu fico muito feliz por a nossa família estar junta! - exclamou Sabrina segurando a mão de Eduardo e olhando para todos, na mesma hora Sophie resmungou baixinho mostrando sua impaciência.

- Temos que agradecer ao Rafa. - disse Eduardo. - Aliás, foi ele quem nos apresentou.

- É verdade. - concordou Sabrina.

- Imagina. - falou Rafael sendo modesto.

 

Já estava no fim do jantar, quando a sobrimesa chegou e era mousse de morango, o preferido de Sophie, porém, nem assim ela comeu direito. Depois que todos já haviam acabado exceto Sophie; Eduardo trouxe um champanhe e o abriu caindo um pouco de espuma pela mesa.

 

- Pra quê isso? - perguntou Rafael ao tio.

- Ora... Para nós brindarmos. - respondeu ele se aproximando de Sabrina. - Você quer um pouco?

- Se eu fosse você não faria isso. - interrompeu Sophie.

 

O clima ficou pesado e todos trocaram olhares, menos Eduardo que parecia não entender nada, então o mesmo questionou:

 

- Por quê?

- Porque é bom que o senhor tenha um ótimo estoque de bebidas alcoólicas, só pra prevenir. - respondeu Sophie friamente.

 

Bia fechou a mão com tanta força que parecia que ia pular em cima da sua arquiinimiga para enchê-la de bofetadas, mas, Sabrina se adiantou a dizer:

 

- É... Eu acho melhor não tomar mais nada, e além do mais, eu e a Bia já estamos de saída. 

- É verdade. - concordou Bia olhando friamente para Sophie.

- Mas já?!- questionou Eduardo.

   Sabrina confirmou se levantando e todos fizeram o mesmo em seguida, menos Sophie. Bia se aproximou da tia e as duas foram até o hall acompanhadas por Eduardo.

- Bia, será que eu poderia falar rapidinho com a sua tia, antes de ir embora? - pediu Eduardo discretamente.

- Claro. - aceitou Beatriz.

 

Então, Eduardo saiu da casa, logo após a namorada e se encaminhou para o centro do jardim onde ela estava.

 

- O que foi que aconteceu?

- Não, nada... É só que, amanhã eu tenho que acorda muito cedo pra ir ao hospital.

- Você está mentindo. - discordou Eduardo. - Só se apressou em sair, depois que a Sophie falou aquilo.

 

Sabrina olhou um pouco para os lados nervosa.

 

- Você está me escondendo alguma coisa. - afirmou Eduardo. - Por que não me conta?

- Não é fácil. - interrompeu Sabrina olhando para ele.

- Eu vou entender.

- Eu sou alcoólatra. - confessou a mulher rapidamente e depois percebeu que Eduardo ficara sem reação. - E eu não sei como a sua sobrinha ficou sabendo disso.

 

Eduardo ficou calado durante mais um tempo, então, resolveu dizer.

 

- Mas, por que você entrou nisso?

- Foi por que... - começou ela cabisbaixa. - Eu tava passando por um monte de dificuldades na família, meu pai e a minha mãe ficaram doentes na mesma época... Eu só sei que eu tava fragilizada.

 

Eduardo continuava a observando e Sabrina continuou:

 

- Eu nunca tinha me metido com isso antes, mas foi acontecendo e a gente pensa que vai esquecer depois, mas quando vi estava completamente viciada e até com drogas acabei me envolvendo...

Depois, eu fui afastada do meu trabalho, entrei em uma clínica de reabilitação... E só agora, que eu estou ganhando a confiança novamente da Bia e de todos no hospital.

 

Eduardo percebera que ela terminara e perguntou:

 

- E você já parou?

- Já. - respondeu Sabrina. - Aos poucos eu estou me acostumando e principalmente agora que te conheci.

- Que bom! - exclamou ele enquanto Sabrina o olhava.

- Se você quiser terminar o nosso relacionamento, eu vou entender.

- Porque eu terminaria?

- Porque foi o que a maioria fez. - disse Sabrina.

- Um bando de idiotas de te largarem por conta de preconceito. - retorquiu Eduardo. - Eu não vou fazer isso...

- Eu também não quero que fique com pena de mim. - interrompeu Sabrina.

- Não é pena. - discordou Eduardo. - Eu quero ficar com você por que te amo e, aliás, você não pode ser cem por cento perfeita.

 

Sabrina sorriu.

 

- Seria bom que todos os homens fossem igual a você, Eduardo. - disse ela.

 

Os dois se beijaram, e só pararam por que Bia interrompeu.

 

- Vamos.

- Ah claro. - concordou Sabrina. - Eu tenho que ir, Edu.

- Tá bom. - falou ele.

 

Bia foi até a pista e entrou no carro para que os dois pudessem ficar mais se despedindo, depois de muito se beijarem é que Sabrina foi até o carro. Eduardo acenou e logo em seguida, entrou em sua casa. Rafael, Fred e Sheron conversavam no hall próximo à escada e Sophie estava sozinha na sala. Fred se adiantou e foi até o Eduardo.

 

- E aí?

- Eu não sabia que ela era alcoólatra. - respondeu ele ajeitando a manga do terno. - Mas não tem importância, por que eu a amo muito.

- Tomou a atitude certa. - apoiou Fred. - A Bia já me contou que muitos homens a largaram por causa disso, o que só piorava o vício dela.

- Pois, eu estou disposto a ajudá-la. - afirmou Eduardo. - É disso que ela precisa.

 

Fred concordou e em seguida os dois olharam para o lado e viram Sophie um pouco cabisbaixa.

 

- Já falou com ela? - perguntou Eduardo a Fred.

- Não. - falou Fred sério. - E eu não estou com muita paciência.

- Eu só não falo com ela, por conta da vergonha que me fez passar. - retrucou Eduardo. - Mas, se você for brigar com ela, toma cuidado pra não fazer uma besteira... A Sophie precisa muito de você.

- Eu posso aconselhar só que ela nunca melhora. - reclamou Fred.

- Eu vi essa garota nascer, eu a conheço. - disse Eduardo. - Ela só ficou assim por que vivia largada nos Estados Unidos, ninguém dava muito carinho pra ela. Mas, eu sei que no fundo não é má pessoa...

- E você não ‘ta muito zangado com ela?

- Um pouco. - respondeu Eduardo e logo em seguida saiu dali, pois, o telefone de seu escritório tocara.

 

Fred caminhou até a sala e sentou na mesinha de centro à frente de Sophie.

 

- Já veio reclamar?

- É. - concordou Fred. - Mas adianta?

- Não vai adiantar enquanto ficar me pressionando. - retorquiu a garota.

- Só espero que algum dia você entenda que as pessoas que mais reclamam e que mais pegam no seu pé são as que mais te amam.

- Nada haver. - discordou ela.

- Tudo haver. - rebateu Fred. - Por que se eu não gostasse realmente de você, não perderia meu tempo tentando te melhorar.

- Então, nós concordamos que isso é perca de tempo.

 

Fred fez uma expressão de negação, como se estivesse perdendo a paciência.

 

- Tudo bem, então vamos fazer do seu jeito. - falou Fred. - Eu não vou mais reclamar, não vou mais me preocupar com você, nem perguntar como você se sente. A partir de hoje, nossa relação vai ser do jeito que você quer; puramente carnal. Nós só vamos nos beijar, dizer que nos amamos e ir pra cama; só isso... Satisfeita? Não é assim que você quer?!

- Também não é assim. - reclamou ela.

- E é como? - questionou Fred.

 

Ela não respondeu, então questionou:

 

- Por que você insiste tanto em me mudar? Eu só quero ser eu, a Sophie.

- Eu concordo plenamente em você ser do jeito que é, eu não estou querendo te mudar. - defendeu-se Fred. - Eu só quero que você leve em prioridade as suas qualidades e não seus defeitos...

 

Sophie olhou para os lados e depois abaixou a cabeça.

 

- Você tem razão eu estou errada, na verdade eu não sei como você consegue me aturar. - admitiu Sophie erguendo a cabeça. - Bem que eu queria que sentisse orgulho de mim.

 

Fred se levantou e sentou no sofá ao lado dela.

 

- Só em você admitir que ‘ta errada, já faz com que eu sinta muito orgulho de você. - disse Fred carinhosamente. - Sophie entende uma coisa, eu não quero que você mude em nada, por que eu adoro quando fala que eu sou careta, seu jeito de olhar penetrante... Quando me enche de beijos pra fazer com que eu mude de idéia, e sem falar no seu sorriso que é perfeito... Disso você não precisa mudar em nada, eu só queria que você tentasse não magoar as pessoas sem motivo.

- Eu estou tratando a Sheron melhor. - afirmou Sophie.

- Mas não é só a Sheron, é todo mundo. - falou Fred. - A Sabrina, por exemplo, você foi muito preconceituosa com ela. Só por que não gosta da Bia, não quer dizer que ela que tenha que pagar por isso...

- Eu vou pedir desculpas a ela. - concordou Sophie com a voz bem calminha. - Eu vou tenta melhorar, eu prometo.

- Aí... Eu vou ficar extremamente orgulhoso de você.

 

Os dois deram um leve sorriso e depois se abraçaram.