Bia chegara a casa e colocara a bolsa em cima de um dos sofás, ela foi até a cozinha e viu Teresa preparando o almoço.

 

- Oi Teresa. - disse ela.

- Ah... Oi querida. - falou Teresa se aproximando da garota. - E como foi o passeio?

- Foi bom. - respondeu Bia. - Lá é muito lindo, sabe?

 

As duas se sentaram e Bia contou tudo que havia acontecido no passeio, inclusive o rato em sua cama e desaparecimento de Fred na mata. Depois ela parou de contar por que o almoço havia ficado pronto, porém, Bia só comera um pouco e subiu para o seu quarto para tomar banho e tirar um cochilo, logo em seguida, acordou com umas vozes no corredor, ela se levantou e percebeu que sua tia havia chegado. Bia saiu do seu quarto e se dirigiu até o do frente, sua tia estava trocando de roupa e quando a viu disse:

 

- Bia, que bom que você chegou.

Bia não respondera e ficou séria.

- O que foi Bia? - perguntou a mulher.

 

Bia novamente não respondera e foi até o banheiro, quando voltou apareceu com dois frascos de perfume na mão.

 

- Eu não sabia que além de se embebedar, você também usava o álcool como perfume... Como é que você me explica isso Sabrina?

Ela ficara pálida e então, respondeu a sua sobrinha:

- Isso faz muito tempo.

- Então você admite que esconde isso há muito tempo?!

- Não, não é isso, é que eu nem me lembrava mais. - falou Sabrina olhando Bia. - Quer saber? Eu não devo satisfações a você.

- Deve, deve sim. - falou Bia de esgoela para sua tia. - Por que eu me preocupo com você...

- Me deixa em paz Bia. - falou a mulher caminhando até o banheiro e Bia a acompanhou.

- Você quer acabar com a sua vida de vez? - perguntou Bia, mas sua tia não respondeu. - Você é médica... de plantão ainda por cima. Imagina se você beber em um dia de trabalho... Você já pensou nisso? Pode colocar várias vidas em risco...

 

Sabrina novamente não responder e Bia chorara.

 

- Eu não agüento mais... Meu avô pediu antes de morrer pra que você cuidasse de mim, mas está sendo completamente ao contrário e eu... Eu sou muito nova pra assumir essa responsabilidade...

- Bia... É... - interropeu Sabrina chegando mais próximo de sua sobrinha.

- SAI. - gritou Bia. - NÃO ME TOCA.

- Bia...

- Eu tenho vergonha de você. - continuou Bia chorando. - Você é uma fraca. Tem uma vida perfeita e eu não sei o porquê de você não largar esse vício...

- É que... Eu... - tentou Sabrina quase chorando.

- Não sabe nem responder. - continuou Bia. - Sua vida é tão perfeita que você tem que trazer problemas a ela, pra ver...

- Você acha que a minha vida é perfeita? - perguntou Sabrina em tom de sarcasmo. - Se é tão perfeita por que você acha que eu estou assim?

 

Bia já ia dizer algo, mas sua tia lhe interrompeu:

 

- Eu fui largada pelo meu marido, minha mãe morreu e dois meses depois meu pai, eu tive que me virar pra colocar aquele hospital pra frente e pra cuidar de uma adolescente de dezesseis anos. E você me diz que eu não tinha motivos pra entra nesse vício?!

 

As duas ficaram caladas por um instante chorando e Bia disse:

 

- E a minha? Eu não pude conhecer meus pais, por que quando eles morreram era muito pequena e eu fique morando com os meus avôs e... E aí eles também morreram e tive morar com uma tia alcoólatra e todo dia ela traz problemas pra minha vida, agora eu te pergunto se algum dia eu me transtornei e te dei trabalho? Se eu me viciei em alguma coisa pra acabar com a minha e com a sua vida?

 

Sabrina não respondeu e Bia continuou:

 

- Não, porque eu não sou fraca igual a você... Porque em quatro anos que eu moro aqui, eu nunca te tirei como um exemplo. Eu não quero ser igual a você, por que eu tenho nojo e vergonha de você...  

 

Bia se afastou, depois saiu chorando e foi se trancar no seu quarto. E lá ficou a tarde toda trancada sem falar e sem comer nada. Chorou tanto que acabou dormindo cedo. E no outro dia quando acordou quis até faltar à universidade, mas, pensou melhor e resolveu ir pra esquecer os problemas. Ela desceu e foi até a cozinha, comeu pouca coisa, por que Teresa fizera um monte de perguntas sobre a briga dela com sua tia e a mesma não estava com a mínima paciência de responder. Bia pegou o carro que estava na garagem para ir à universidade e quando chegou lá, atravessou um pouco do gramado e foi se sentar em um banco junto à Fernanda.

 

- Que cara é essa?

- Eu briguei com a minha tia. - falou Bia ofegante. - Como sempre.

- Quê que foi dessa vez? - perguntou Fernanda.

- Eu não quero conversar sobre isso! - exclamou Bia.

- Tá bom. - concordou Fernanda olhando para o lado e viu uma garota se aproximar delas. - Bia eu queria te apresentar uma pessoa.

 

Bia olhou para o lado e viu um a garota morena ao lado das duas.

 

- Essa é Sheron Lopes. - continuou Fernanda. - Sheron essa é Beatriz Santos.

 

Bia se levantou e cumprimentou Sheron.

 

- Eu não me lembro de ter te visto antes. - falou Bia.

- Eu sou novata. - disse Sheron.

- A Sheron veio do Rio de Janeiro! - exclamou Fernanda.

- Está gostando daqui? - perguntou Bia se entrosando.

- Eu estou amando. - respondeu Sheron sorrindo. - Essa cidade é muito linda, inclusive os garotos...

- É por que você ainda não viu meu namorado... - supôs Bia.

- Ela já conhece Fred. - interrompeu Fernanda.

- Conhece?!

- O Rafa me apresentou. - disse Sheron. - E falando nele...

 

As três olharam em uma mesma direção e viram Fred se aproximar.

- Oi meninas. - cumprimentou ele.

- Oi. - disseram Fernanda e Sheron juntas.

- Bia, será que eu posso falar com você rapidinho?

 

A garota concordou e se afastou junto com ele das suas amigas.

 

- Que foi? - perguntou ela.

- Você vai trabalhar hoje?

- Vou. - respondeu Bia.

- E que horas você sai?

- Ás dezesseis horas. - falou Bia. - Mas por quê?

- Eu preciso ter uma conversa séria com você.

 

Bia ficou um pouco assustada e perguntou:

 

- O que foi que eu fiz?

- Nada. - respondeu Fred sério. - Depois agente conversa, ta?

 

Ele deu um beijo na testa dela e saiu rapidamente, Bia voltou a se reunir com Fernanda e Sheron.

 

- Quê que foi? - questionou Fernanda.

- O Fred veio com uma conversa estranha. - disse Bia. - Mas, deixa pra lá.

 

Ela saiu dali acompanhada pelas duas meninas, depois entraram no prédio e subiram as escadas, Sheron ficou no terceiro andar por que ia assistir aula de marketing. Bia e Fernanda subiram até o quarto andar, mas se separaram por que Fernanda fazia Ecologia e Bia fazia Medicina. Beatriz entrou em um laboratório para assistir aula de Bioquímica, as cadeiras aos redores das grandes mesas de granito, estavam todas ocupadas, exceto uma, porém, Bia tentou ver se achava outra, mas não teve jeito. Ela caminhou um pouco mal-humorada e se sentou ao lado de Pedro.

 

- O dia já começou mal. - sussurrou ele e ficou abismado por Bia não ter feito nenhuma ofensa contra ele. - Você ouviu o que eu disse?

 

Ela afirmou com a cabeça.

 

- E não vai me agredir?! - questionou ele.

- Não. - respondeu Bia.

 

Pedro levantara as sobrancelhas e achou tudo aquilo muito estranho, mas depois resolveu prestar atenção na aula. De vez em quando ele olhava para Bia esperando que ela o agredisse com uma das pinças sobre o balcão, mas nada aconteceu, ela estava quietinha com a mão esquerda sob o queixo olhando para o quadro onde a professora anotava alguns cálculos de soluções químicas, porém, Pedro notou que ela não estava atenta por que nem piscava os olhos direito.  Demorou duas horas até que eles saíssem do laboratório.

 

- Você está bem? - perguntou Pedro quando eles já estavam no térreo.

- E desde quando se preocupa comigo?! - questionou Bia ainda andando e sem olhar para ele.

- Eu só estou sendo gentil sua grossa. - retorquiu Pedro.

 

Bia parou e olhou para ele que também fez o mesmo.

 

- Você? Gentil? - caçoou ela. - Por acaso o inferno congelou?

- Não sei. - disse Pedro. - Mas se quiser eu te mato para ir visitá-lo.

- Não antes de você. - falou Bia.

 

Ela voltou a andar, mas, Pedro não dera um passo se quer. Bia andou em passos largos até a rua e entrou em seu carro, mexeu em sua bolsa e depois dirigiu até a livraria, quando chegou lá um senhor de idade se aproximou dela.

 

- Bom dia, seu Teófilo. - disse Bia.

- Bom dia. - cumprimentou o dono da livraria. - E como foi a viagem?

- Foi mais ou menos. - respondeu Bia. - Ao menos deu pra relaxar...

- Que bom, por que a livraria está lotada.

 

Bia riu e foi atender alguns clientes, os mesmo demoraram muito a escolher quatro livros e depois Bia os embrulhou para presente. Ela atendeu outras pessoas que estavam entrando na livraria e quando as mesmas saíram, percebeu que já estava na hora do almoço. Bia resolvera não voltar pra casa, então, foi comer em um restaurante que ficava perto dali. Depois voltou à livraria, onde ficou a tarde inteira. Passadas algumas horas o movimento ficou um pouco fraco e Beatriz resolveu estudar para um teste que haveria amanhã na aula de Anatomia, seis ou sete clientes compraram umas coisas nesse meio tempo e quando Bia notou já estava no fim do expediente. Fred não demorou muito a aparecer e esperou Bia fechar a loja com o Sr.Teófilo.

 

- Você veio de carro? - perguntou Fred.

- Foi. - respondeu Bia. - Depois nós voltamos para pegá-lo.

- Então ta. - concordou Fred.

 

Bia entrou no carro dele e Fred a levou até uma praça muito bonita e iluminada ao lado de um rio não tão largo.

- Isso é uma noite romântica? - indagou Bia.

 

Fred respondeu nervoso:

 

- Acho que não.

 

Bia que estava andando ao lado dele parou.

 

- Como assim não é? - questionou ela. - Você não tinha que me dizer uma coisa importante?

- Não é tão importante assim, tanto que eu queria esquecer.

- Eu não estou te entendendo! - falou Bia.

 

Fred pediu a ela que se sentasse no banco com ele, e Bia assim fez.

 

- Eu vou direto ao assunto. - falou ele olhando para a garota, antes que desistisse. - Você sempre me pediu sinceridade...

 

Bia não disse nada, só queria escutar o que Fred tinha a dizer.

 

- Eu omiti uma coisa a você. - disse Fred e ficou mais nervoso por Bia não ter tido nenhuma reação. Ele não conseguiu falar, era muito difícil dizer isso.

- Fala logo, Fred. - mandou Beatriz séria com medo da resposta.

- Eu e a Sophie...

 

Fred não continuou por que Bia ofegou e se levantou.

 

- Bia! - exclamou Fred também se levantando.

- O que vocês fizeram naquela floresta? - perguntou Bia começando a ter raiva e quando viu Fred abaixando a cabeça sem responder, as lágrimas vieram rapidamente em seus olhos. - Você não podia ter feito isso... Fred.

- Eu... - tentou Fred, mas não tinha o que dizer por que sabia que estava errado.

- Eu nunca te dei motivos pra isso. - falou ela.

- Eu sei Bia. - disse Fred.

- Então, por que você fez isso comigo? - perguntou ela um pouco alto e algumas pessoas que passavam por ali olharam.

- Eu não vou saber te explicar. - respondeu Fred agora olhando para ela. - Porque não tem explicação.

 

Bia ofegou e negou com a cabeça olhando para o lado.

 

- Quantas vezes você me traiu Fred?

- Só essa. - falou Fred rapidamente.

- Sei. - retorquiu Bia.

- É sério Bia, se não fosse por que acha que eu estou te contando só agora?

- Arrependimento. - falou Bia.

- De uma coisa você não pode duvidar, da minha honestidade com você durante esse dois anos...

- Do quê que adiantou essa honestidade? - interrompeu Bia. - Se agora você me traiu... E logo com a Sophie.

 

As lágrimas voltaram ao rosto dela.

 

- Se eu pudesse, eu faria tudo diferente...

- Mas não pode. - falou Bia enxugando as lágrimas. - No fundo você é igual a todos os outros homens... Fica se fazendo de santinho mais é pior que o David...

- Isso não é verdade. - retorquiu Fred.

- Eu nunca pensei que ia me decepcionar tanto em toda minha vida. - retrucou Bia.

- Eu não quis te magoar.

- Mas, magoou muito. - falou ela. - E logo hoje que eu precisava do seu apoio...

- O que foi que aconteceu?

- Não te interessa. - disse Bia sendo um pouco fria. - O que você quer? Que eu sente aqui e te conte tudo como se fosse ainda sua namorada?

- E você ainda não é?

- Não. - respondeu Bia tentando segurar o choro. - E pra falar verdade eu não quero te ver por um bom tempo.

 

Ela saiu de perto dele. E Fred a acompanhou.

 

- Deixa ao menos eu te levar até o seu carro.

- Eu vou andando. - falou Bia dando passos largos e Fred não conseguiu mais acompanhá-la.

 

Bia continuou a andar pela praça contornando o rio, aquele tinha sido o pior dia da sua vida e nada ia fazer com que piorasse, até que ela resolveu atravessar a rua sem olhar direito e um carro veio em sua direção, ela não entendeu nada só sentiu uma pessoa puxá-la rapidamente. Um homem saiu do mesmo carro e retorquiu:

 

- Por que não presta atenção por onde anda menina?

- Não vê que ela não está nada bem? - indagou Pedro ajudando a levantá-la.

 

Ele ajudou Bia a andar até a praça novamente, e os dois sentaram em um banquinho.

 

- Obrigada. - agradeceu Bia, e a mesma já ia perguntar o que ele fazia ali, mas depois lembrou que o pai dele trabalhava naquela área.

- Você está bem? - perguntou ele.

 

Bia afirmou com a cabeça, mas deixou cair uma lágrima.

- Conta. - pediu Pedro.

- Eu não vou contar pra você. - falou Bia olhando um pouco torto para Pedro.

- Desculpa, se eu te atrapalhei. - disse o garoto se levantando do banco.

 

Bia percebeu a burrada que tinha feito e então tentou ajeitar.

 

- Não vai Pedro.

 

Ele parou e olhou para ela ainda chorando.

 

- Eu sou uma idiota mesmo, você acabou de salvar a minha vida...

- Esquece isso.

 

Ele voltou a se sentar no banco.

 

- Eu estou assim, por que eu terminei com o Fred...

- Que bom. - interromepeu Pedro.

- Como?

- Eu quis dizer... Que foi bom você ter me contado isso.

 

Pedro ficou todo errado.

 

- Ah... Claro. - indagou Bia.

 

Eles ficaram calados por algum segundo e Pedro perguntou:

 

- Por que vocês terminaram?

- Por que... - começou Bia. - Aliás, te diz respeito também, por causa da sua namorada.

- Que namorada? - questionou ele.

 

Bia que agora não chorava mais disse:

 

- A Sophie.

 

Pedro riu.

 

- A Sophie nunca foi minha namorada.

- Sério?

- Serio! - exclamou Pedro. - Mas o quê a Sophie tem haver com essa história?

- Quando eles se perderam naquela mata... Bem... Você pode imaginar o que aconteceu...

- A Sophie e Fred? - questionou Pedro. - Ela estava comigo...

- Então, somos dois traídos. - retrucou Beatriz.

 

Eles novamente entraram em silêncio, porém, Pedro perguntou:

 

- E você não o perdoou por isso?

- Eu detesto traição. - respondeu Bia.

- Bia, qualquer homem que ficasse a sós com Sophie naquela...

- Não termina essa frase, ta bom? - pediu Bia. - Até pra dar conselhos você consegue me detonar.

- Desculpa.

 

Os dois se olharam por algum tempo, depois resolveram sair caminhando. Pedro a ofereceu carona e ela aceitou.

Quando ele parou o carro à frente da casa de Bia a mesma disse:

 

- Obrigada por tudo.

 

Ele negou com a cabeça como se dissesse que não havia sido nada.

 

- Como é que eu poderia imaginar que você é uma pessoa civilizada?! - exclamou Bia.

- E como é que eu poderia imaginar que tiraria a dor de cotovelo da garota mais autoritária da universidade?!

 

Bia fez uma expressão nada boa e retrucou:

- Primeiro, eu não estou com dor de cotovelo, por que fui eu que terminei o namoro, não ao contrário. E segundo, eu não sou autoritária, só com você por que vive em seu mundinho reservado e dá um de galã e gostosão.

 

Pedro deu uma risada falsa.

 

- Sou bem eu que vivo em mundinho que se acredita em contos de fadas e unicórnios cor de rosa.

- Melhor do que acreditar nesse mundo capitalista, egoísta e mesquinho.

- Você realmente não bate bem da cabeça. - disse Pedro.

- É... Eu realmente não bato bem da cabeça por ficar perdendo meu tempo com você.

 

Bia fez que ia sair do carro, mas, não fez isso e trocou olhares com Pedro, depois do nada eles começaram a rir.

 

- Acho que agente nunca vai se entender.

- É. - concordou Bia. - Obrigada por me fazer rir.

- Se me agradecer mais uma vez eu vou pensar que você está querendo outra coisa comigo.

- Ah Pedro... Enxerga-se. - disse ela saindo do carro.