– Yarhh... Cara, que sono. – Bocejava Eryk ainda com sono antes de se sentar na cadeia de seu colégio para estudar.

– É... Eryk. – Chama Junior um pouco preocupado.

– Poxa! Minha mãe me disse que eu tinha que ir dormi sedo ontem, mas eu fiquei acordado até tarde jogando.

– E-eryk! – Junior tenta chama-lo novamente.

– E Junior? Me dá uma ideia? Como eu faço para ficar acordado até tarde sem que eu fique com sono no dia seguinte?

– Que tal você tomar mais café do que o norma? – A pessoa que sugeriu isso foi uma garota um pouco mais nova que ele. Sua pele era morena, cabelo escuro e usava o uniforme da escola do garoto.

– Nossa! É mesmo! A minha mãe toma isso para ficar acordada de manhã. Valeu! Mas quem foi que... JESSY?!

Eryk se espanta ao ver sua prima do seu lado, usando um uniforme da sua própria escola e dando um “olá” com a mão.

– Eu tentei te avisar. – Lembrou Junior.

– O que você tá fazendo aqui? – Pergunta Eryk para sua prima bem confuso.

– Hmm... Não sei... – Jessy finge que não sabe – Vamos ver; estou com uma mochila, estou fardada, tenho um caderno em cima da mesa, o que isso quer dizer para você Eryk?

– Não faço a mínima ideia!

Jessy e Junior capotam ao vir Eryk estar confuso. Quando Jessy se recupera ela suspira cansada pelo primo não entender de fato.

– Eu vou estudar aqui. – Esclareceu, fazendo Eryk abrir um enorme sorriso.

– SÉRIO?!

– Sério!

– AH QUE MARAVILHA!!! – Grita Eryk indo abraçar sua prima. A sala inteira se incomoda, mas Eryk parecia não ligar, diferente de Jessy.

– P-p-peraí Eryk! – Exclamou Jessy tentando se despregar do abraço do primo.

Quando a professora chega na sala Junior vai embora para sua. Eryk estava ansioso. Essa era a primeira vez que estuda na mesma escola e na mesma sala que sua prima. Como ela era um ou dois anos mais nova que ele, e também devido aos pais de cada um os terem matriculado em escolas deferentes, nunca puderam estar juntos, até agora.

Quando o intervalo chegou Eryk levou a prima para se encontrarem com Junior e Jeová para colocarem o papo em dia.

– Você não ia estudar lá pra banda do Ícui? – Pergunta Jeová.

– Oras?! Você não viu o estado que a minha “escola” ficou depois daquela onda? Ela tinha acabado de ter uma boa reforma. E ainda acontece isso? Não tinha condições de ficar matriculada lá. Então eu convenci os meus pais para eu ficar na casa do Eryk e estudar aqui.

– Hihihihi ah moleque...! Vai ser um máximo! Vamos brincar de montão aqui! Certo? – Falou Eryk empolgado.

Algum tempo depois...

Depois que o recreio acabou, a professora pediu para Eryk ir até a diretoria para pegar uma caneta nova para usa o quadro, já que a dela tinha falhado.

Eryk educadamente foi ate lá. Mas quando o garoto chega no local ele logo escuta uma gritaria.

– Por favor senhor. Me dê uma oportunidade. – Tentava pedir gentilmente uma pessoa de cabelo curto da cor ruivo claro, quase rosa, pele branca, usava uma camiseta cinza, uma calça marrom e tênis brancos.

– Eu já falei que não é bem assim! – Falava o vice-diretor da escola quase berrando, cansado da conversa que tomava.

– Eu imploro. Deixa eu trabalhar aqui. – Insistiu melancolicamente o ruivo.

– E-e-eu não sei se temos espaço para você aqui.

– Hã? Mas a placa estava escrito “Precisa-se de ajudante!”

O vice quase tem um treco. Queria se livrar dele a todo o custo, mas não sabia como.

– Ah... Com licença? – Pede Eryk querendo entrar no local.

– Você não deveria estar na aula garoto? – O vise da escola tenta mudar de assunto.

– Escuta? Por que o senhor não deixa ele trabalhar aqui? – Eryk o ignora com outra pergunta.

– Isso não é assunto para crianças! E trate de voltar para sua sala de aula!

Eryk ficou aborrecido por dentro. Ele tinha que ser muito forte para não demonstrar ódio por fora. Ele odeia quando qualquer adulto, seja da família ou não, fala “não é assunto para crianças” ou “isso é coisa de adultos”. Toda vez que Eryk quer saber de algum desses assuntos ele só quer ajudar. Só isso, e nada mais. As vezes, Eryk não sabe, mas sempre tem uma resposta para o problema dos adultos na ponta da língua, mas como eles não dão oportunidade para ouvi-lo, o problema permanece, sem Eryk poder se intrometer.

– Hã... Mas-

– Poderoso?

Quando Eryk já ia dizer algo, Zero entra no local e chama o rapaz ruivo.

– Zero? – Disseram Eryk e o homem que parecia se chamar de poderoso.

– Eu... Eu não acredito!? – Falou Zero indo abraçar o homem, alegre. – Há quanto tempo cara! Que saudades...!

– Eu também sentir saudades de você amigo. – Falou Poderoso emocionado.

– Ah então é ele que o Jeová falou que cuidou do Zero. – Falou Eryk ao se lembrar que Jeová tinha dito para ele que Zero estava sendo cuidado por uma pessoa chamada Poderoso.

– Mas... O que está fazendo aqui? Não tinha sido preso no ano passado? – Pergunta Zero após ter desfeito o abraço.

– Graças ao bom pai lá de cima eu sair por bom co

– Que... Que legal!

– É. Agora eu estou tentando recomeçar e trabalhar aqui nessa escola.

– Recomeçar? Trabalhar aqui?

– Não se depender de mim! – O vice-diretor se intromete, com um tom todo mal humorado.

– Mas por que não? – Pergunta Eryk confuso.

– Por quê? Oras por que. É porque ele é um ex-presidiário.

– Mas... Ele não disse que foi liberado por bom comportamento? Se ele não está preso mais é porque já não pagou por todos os seus crimes?

– Ei sei garoto. Mas também não é assim.

– Ah é? Então é como?

Quando o vice-diretor ia dizer algo ele logo repara na presença dos dois, que os olhava atentamente. Para que eles não escutassem, o vice explica discretamente para Eryk.

– Só porque ele foi solto não quer dizer que ele agora é bonzinho.

– Como assim? Se ele foi solto então ele é bonzinho. Não é?

– Nem sempre pivete. Entenda uma coisa: Os presos fazem de tudo para sair da cadeia. Até fingir que ficou do bem, que é o caso dele.

– Mas... Você sabe se ele tá do bem ou não?

– Eu não quero que ele fique para descobrir.

– Mas... Mas...

– Entenda garoto. Não podemos dar uma chance a ele. Ele pode estar armando para roubar algo de valor da nossa escola. Eu não posso deixa-lo aqui pelas redondezas.

– COMO É QUE É?! – Gritou Zero ao escutar essa ultima parte.

– Ele estar certo Zero. Entendo que ele não me deixe aqui. Tem todo o direito de estar desconfiado senhor. Mas eu mudei! Garanto que não irei fazer nada.

– É isso aí! Se ele falou tá falado! – Falou Zero.

– Eu sinto muito meu caro, mas não vai dar. – Respondeu o vice-diretor por fim.

– Isso... Isso é errado. – Falou Eryk deprimido.

– O quê que é errado seu pivete?!

– Isso. O que o senhor está fazendo. É por causa desse tipo de coisa que o mundo está desse jeito. Se as pessoas não derem uma chance para outras só porque fez coisas ruins em seu passado, aí que elas não mudam mesmo. E se ele disse que não é mais ladrão então nós devemos dar uma chance a ele. – Finalizou Eryk destemido. Poderoso estava comovido com as palavras do garoto. Zero estava sorrindo como se estivesse vencido algo, mas o vice-diretor estava se aborrecendo, querendo encerrar aquele assunto de uma vez por todas.

– ORAS JÁ CHEGA! GAROTO VOC-

– Está com a inteira razão.

– D-DIRETOR?!

O vise-diretor se espanta ao ser interrompido pelo diretor do colégio. O vice engoliu em seco nervoso por estar dando mais autoridade do que ele.

– É hehehehehe como vai chefinho?

– Não vem com falsidade para cima de mim Alberto. – Falou o diretor sério.

– Sim senhor.

– Garoto qual é o seu nome? – O diretor da escola agora pergunta para Eryk.

– Meu nome é Antônio Eryk. Mas pode me chamar de Eryk por favor! – Se apresentou sorridente.

– Quantos anos você tem?

– Eu fiz... Oito semana passada. – O respondeu após ter contado nos dedos. O diretor ri impressionado com o garoto.

– É incrível. Alguém da sua idade saber diferenciar do justo e do que não é. Você é um garoto muito esperto, Eryk.

– Hehe valeu! – Eryk agradece o diretor um pouco sem jeito.

– Agora me diz. Onde você aprendeu isso?

– Nya. É que de vez em quando eu ouço falar sobre isso por aí. Na TV, no jornal e no ônibus também.

– Isso sim é um garoto esperto! Enquanto a você! – Falou o diretor com autoridade para o vice, fazendo o homem se estremecer de medo.

– S... Sim?

– Você não te manca de dizer que não temos vaga aqui na escola quando tem uma placa dizendo ao contrario não?

– B-bom... Sabe o que é-

– Não me interessa se este homem é ex-prisioneiro ou não. Todos são bem-vindos no meu colégio. Será que fui claro?

– S-sim senhor! Claríssimo! Claro como a água. Não, claro como o branco. Não, claro como-

– Já chega... – Falou o diretor revirando os olhos.

– Tá, mas e quanto a ele? – Pergunta Eryk se referindo ao Poderoso.

– Você... Pode começar amanhã? – Pergunta o diretor para o rapaz. Poderoso sorrir alegre com a notícia.

–S... Sim senhor!

– Ótimo! Infelizmente terei uma reunião agora. Assim que eu acabar nós falaremos sobre isso melhor. Poderia me esperar?

– C-claro com certeza.

– Ah e agradeça a esse garoto. O que ele disse não deixa de ser verdade. E por isso... Eu vou dar as oportunidades para aqueles que quiserem mudar de verdade. – Finalizou o diretor antes de deixar o local.

– Obrigado Eryk. – Agradeceu o homem.

– Heheh de nada. Eu só fiz o que era certo.

Depois que Eryk faz o que tinha que fazer ele retorna para sua sala de aula. Porém, Poderoso e Zero ainda aguardavam no lado de fora da diretoria serem chamados.

– Heheh mas são um bando de trouxas mesmo. Ainda acreditaram naquele papo. Então? Qual é o esquema dessa vez? – Pergunta Zero com um sorriso.

– Esquema?

–É. Você não quer trabalhar aqui para assaltar a escola? Seja o que for me pedir já saiba que eu topo tudo!

– V-você acha que eu vim aqui para assaltar esse colégio? – Pergunta poderoso confuso.

– Ué? E não? – Pergunta Zero mais confuso ainda. Poderoso se abaixa até ficaram na altura dos olhos para explica-lo.

– Tudo o que falei lá dentro foi verdade. Eu não sou aquele Poderoso ladrão que você conhecia. Eu estou disposto realmente a mudar.

– S-sério?

Poderoso apenas balança a cabeça dizendo que sim como resposta.

– Mas... O que aconteceu com o resto do bando?

– Se eles não foram para um reformatório eles foram para um orfanato.

– Ah... Então... Tá né.

No dia seguinte...

Antes da aula começar, Eryk, Jessy, Junior e Jeová estavam na sala dos primos batendo um papo animados.

– A época de provas está chegando. – Lembrou Jessy.

– NÃO me lembra Jessy! – Reclamou Junior fazendo drama.

– Não podemos fazer nada. – Falou Eryk.

Na porta da sala, uma menina nova aparece. Seus cabelos curtos e negros, com detalhes ruivos, pele clara e usava o uniforme da escola.

– Epa! Que é ela? – Jeová é o primeiro a vê-la. Eryk e seus amigos acabam fazendo o mesmo, mas não a reconhecem.

A garota se dirige na sala até sentar ao lado de Eryk.

– Ela é aluna nova Eryk? – Pergunta Jessy após ter deduzido.

– Eu acho que é. Não me lembro dela estar aqui na sala. – Eryk a respondeu baixinho para que a garota nova não escutasse.

Continua...