Hereafter escrita por DimitriRoltz


Capítulo 7
Capítulo Seis


Notas iniciais do capítulo

Hoje é meu aniversário. ahaha
E como prometido, tenho um presentão para VOCÊS, sim, VOCÊS. O tão esperado (pelo menos eu acho), capítulo 6. Uhuul!
Caprichei nele. Então, espero que gostem. Boa leitura!



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Capítulo 6

— Adeus — disse eu em voz alta para água.

Eu sabia. Sabia que a tênue estrada que eu percorreria a partir de agora seria mais turbulenta. Só não sabia… que os problemas pelos quais eu passaria, iriam colocar em risco alguém importante para mim. Alguém que fez com que eu me sinta… viva.



~*~



Cheguei ao parque quase em cima da hora. Um relógio instalado no alto de uma enorme plataforma de madeira em frente a entrada do lugar marcava 11h50.

Desacelerei o passo e segui em frente quase que só caminhando pela trilha cercada de cedros que levava até a área de piquenique. Apesar deter acabado de correr por vários quilômetros, não estava sem fôlego, nem mesmo despenteada. Ainda assim, comecei a ficar inquieta, passando as mãos pelos meus cabelos à todo momento. Eu estava… tensa. Parece que até os mortos podem ter ataques de nervos.

Quase dei meia-volta, sentindo minha determinação de antes se esvair. Meu futuro estava ligado a Sasuke e ao resultado da nossa conversa. Podia sentir isso dentro de mim e agora já não entendia mais como consegui decidir enfrentá-lo com tanta ousadia.

Mas meus pés me traíram. Ou me foram mais fiéis. Dependendo do ponto de vista. Eles continuaram me levando pela trilha, cruzando um estacionamento e um bosque de pinheiros, alguns bancos vazios, até por fim chegaram ao único que estava ocupado.

Sasuke estava sentado, não no banco em si, mas na mesa de concreto à sua frente. Ele estava olhando para a esquerda, na direção das árvores que cercavam a clareira da área de piquenique. Seu rosto e sua expressão neutra me deixaram arrepiada, me senti inundada por uma onda de desejo e medo ao mesmo tempo. Vi suas sobrancelhas escuras e se juntarem enquanto ele continuava analisando o bosque. Talvez ele estivesse achando que eu não iria aparecer mesmo.

— Oi, Sasuke.

Por mais que estivesse sussurrando essas palavras, sua cabeça se virou para mim. Em seguida, sorriu de canto e pulou de cima da mesa e veio em minha direção com um braço erguido como se quisesse tocar em mim.

Por instinto, dei um rápido passo para trás.

Ele parou e franziu a testa.

— Ah… desculpe. Me empolguei demais?

É claro que não, meu Deus. Eu só não queria que tudo acabasse antes mesmo de começar.

— Não — disse eu em voz alta. — Só… fiquei surpresa.

Ele deu risada.

— Desculpe. Acho que acabei parecendo um labrador empolgado, todo grande e bobo. Mas é que eu também fiquei meio surpreso, sabe?

— Por quê?

— Porque você apareceu assim, de surpresa. — ele abriu um leve sorriso.

Acabei sorrindo de volta um pouco também.

— Bom, eu sempre tento agradar.

— Então missão cumprida.

— Ah.

Boa, Sakura!, gritei dentro da minha cabeça. A morte claramente não tinha aprimorado meu vocabulário. O sorriso tímido de Sasuke cresceu um pouco mais, talvez como um sinal de que ele estava se divertindo com a confusão estampada no meu rosto.

Infelizmente, essa nossa brincadeira não tinha como durar para sempre. Ele apontou para a mesa com uma das mãos como um garçom de um restaurante chique.

— Um banco tranquilo no parque, como prometido.

Soltei um suspiro. Pelo visto, eu não tinha mais como evitar aquele momento.

— Sim, acho que já é hora.

As sobrancelhas de Sasuke se juntaram enquanto eu passava por ele para me sentar no banco.

— Olha, não quero fazer isso como se fosse a inquisição espanhola, nem nada.

— Eu sei.

Eu me sentei, sentido a pressão do banco, mas não o banco em si e cruzei minhas mãos em cima do colo. Sasuke se virou para mim, mas não se sentou. Abaixei a cabeça, tentando me preparar para o inevitável desfecho daquela conversa. Mas tinha uma coisa que eu precisava saber primeiro.

— Antes de começar com as explicações, posso fazer uma pergunta?

— Claro.

Ergui a cabeça e o vi pondo as mãos no bolso do jeans e inclinando a cabeça para o lado. A julgar pela sua postura, ele já parecia bastante perplexo com meu comportamento, então fiz minha pergunta com cuidado.


— Você… se jogou para fora daquela ponte de propósito?


— Hah! — exclamou, como se fosse uma risada.— Não exatamente.

Foi estranho, mas ele me pareceu quase envergonhado. Inclinei minha cabeça de lado também e ergui uma sobrancelha para encorajá-lo a continuar. Ele riu de novo, e com um lindo rubor corando suas bochechas.

— A única coisa que eu fiz de propósito foi pegar um atalho imbecil.

Como não abaixei a sobrancelha, Sasuke continuou falando.

— Eu estava seguindo uns amigos até uma festa. Por algum motivo idiota, decidi cortar caminho pela Estrada Ponte Alta. Não tenho a menor ideia de por que eu fiz isso. Minha família já tinha praticamente me proibido de passar por aquela ponte, porque ela é muito perigosa mesmo. Mas enfim, quando eu estava chegando perto da Ponte Alta, achei que tinha visto sei lá o que no rio. Eu me distraí, e quando olhei de volta para a estrada, vi alguma coisa vindo na minha direção… um cervo, ou um lince, não sei bem, era um bicho tão preto que eu não tinha como saber. Eu desviei para não atropelar seja lá o que fosse aquilo e aí meu carro rodou para fora da ponte. Devo ter batido a cabeça no volante, porque não me lembro de mais nada depois disso. Graças a Deus, estava com a janela do carro aberta. Acho que foi assim que saí do carro antes de afundar junto com ele.

— E seus amigos chegaram tão rápido lá por quê…?

Ele encolheu os ombros com um ar envergonhado.

— Porque… hã… porque a cerveja estava no meu carro.

Quando ele terminou, soltei o ar bem devagar. Fiquei contente por estar errada quanto a pelo menos uma das minhas teorias por trás da nossa interação: não era suicídio o que nós tínhamos em comum, mas apenas o fato de termos morrido naquele mesmo lugar, por mais que ele tivesse passado alguns instantes morto.

— Seria estanho, Sasuke, se eu dissesse que fico feliz por isso?

— Por quê? Por eu gostar de cerveja?

Abri um leve sorriso.

— Não, por você não ter se jogado daquela ponte de propósito.

Ele deu risada.

— Então não é nem um pouco estranho. Eu dificilmente escolheria a Ponte Alta para fazer uma coisa dessas, sabe? — brincou. Engasguei ao ouviu isso. Vendo minha reação estranha, ele voltou a falar rápido, com um ar quase culpado. — Desculpe. Eu… olha, não sei nem por que disse isso. Não estou querendo irritar você, nem nada. Eu acho que… enfim, você não tem por que aguentar isso. Você não tem por que me falar nada, digo.

— Na verdade, tenho sim. — disse eu, sem conseguir esconder a tristeza na minha voz. — Acho que não tenho outra escolha, se quiser falar com você. Isso se é que você vai querer continuar falando comigo depois.

— Por que eu não iria querer mais falar com você?

Seu tom gentil, e a mensagem em suas palavras, me fizeram encará-lo de frente. Ao ver seus olhos de ébano fixos nos meu, senti aquela dorzinha se reacender no meu peito.


— Você não vai mais querer falar comigo porque vou te contar a verdade.

— E a verdade vai fazer… o quê? Eu decidir me afastar de você? — Ele sorriu, erguendo uma sobrancelha, claramente incrédulo.

— Mais ou menos isso — murmurei.

— Acho difícil de acreditar. — disse ele, enquanto desviava os olhos de mim por um instante para vir até o banco e finalmente se sentar ao meu lado.


— Na verdade, você provavelmente vai achar o que eu estou prestes a dizer bem mais difícil de acreditar. Mas é a verdade.

Ele juntou as mãos e chegou mais perto de mim, apoiando os cotovelos nos joelhos antes de voltar a erguer seus olhos até os meus.

— Ótimo. Eu quero ouvir a verdade, Sakura.

Inexplicavelmente, minha respiração disparou. Um pulso, coisa que eu sabia que não tinha, começou a fluir pelos meus braços e pelo meu pescoço. Poderia jurar que até senti um calor pela proximidade de seu corpo (um calor que ameaçou corar as minhas bochechas irremediavelmente pálidas até então). Era o tipo de calor que poderia me levar a fazer ou falar qualquer coisa. Palavras começaram a escapar da minha boca sem que eu conseguisse pensar em nada direito.

— Você disse que me viu embaixo d’água, certo?

— Sim.

— E você foi a única pessoa que me viu?

— Sim. — disse ele, todo paciente e calmo. Minha voz, no entanto, não parava de vacilar enquanto continuava.

— Bom, acho que você me viu porque… enfim, porque você morreu.

Ele voltou a franzir a testa.

— Eu sei que estive morto mesmo, pelo menos por alguns segundos. Mas não sei bem aonde você quer chegar.

— Você não conseguiu me ver antes, certo? Não antes de você morrer…

Quanto mais eu falava, menos eu conseguia respirar. Sasuke também parecia estar confuso com o que eu estava dizendo. Ele respondia devagar, metodicamente, como se precisasse se agarrar à sua racionalidade para continuar aquela conversa.

— Sakura, não consegui ver você porque estava desmaiado antes do meu coração parar.

— Não. Bom, sim, você estava desmaiado. Mas não foi por isso que você não conseguiu me ver. Mesmo se você estivesse consciente, não teria conseguido me ver. Ainda não, pelo menos.

— Hã? — as rugas em sua testa se intensificaram enquanto ele se aproximava de mim.

De repente, percebi que eu já não conseguia mais controlar o fluxo das minhas palavras. Foi como se eu tivesse arrancado uma fita adesiva que estava cobrindo minha boca. Queria me livrar daquilo e explicar tudo de uma vez só para poder respirar de novo.

— Eu tenho uma teoria, ou quase isso. Não tem como ter certeza, mas acho que ninguém pode me ver, a não ser que esse alguém seja… bom, como eu. É por isso que as pessoas da margem do rio não conseguiram me ver, e é por isso que o Deidara consegue me ver. Porque ele é como eu.

Eu estava com tanta pressa para pôr a verdade para fora que quase perdi o controle das coisas que escapavam da minha boca.

— Desculpe — grunhi. Abaixei a cabeça e pus as mãos no rosto, fechando os olhos com força. — Isso não está fazendo sentido nenhum, não é?

— Sakura, estou me esforçando muito para entender tudo isso. Sei que alguma coisa… estranha aconteceu. E está acontecendo. Acredito na sua explicação. Só vá mais devagar, tudo bem?

Ergui meu rosto para encará-lo. Seus olhos estavam lindo, e sérios, eles me lembram o céu à noite. Tentei expulsar essa distração da minha cabeça para conseguir me concentrar naquela conversa bizarra.

— Sasuke, não tenho a menos ideia de como dizer isso…

— Tudo bem. Vai dar tudo certo.

Desviei meu rosto para o chão de terra vermelha à nossa frente com um olhar vazio. Quando voltei a falar, as palavras saíram devagar. Dolorosas.

— Acho que você me viu, e ainda pode me ver, porque nós temos um tipo de… sei lá… conexão mágica ou espiritual. Você é como eu. Ou pelo menos foi por alguns instantes.

Os olhos de Sasuke se estreitaram.

— O que esse “como você” quer dizer?

— Que você morreu. — A palavra “morreu” pairou densa no ar entre nós, como uma faca só esperando para cair.

A testa de Sasuke se enrugou enquanto tentava entender o que eu tinha dito, enquanto tentava seguir o confuso raciocínio que eu havia construído. Ele podia não ter juntado todas as peças do quebra-cabeça ainda, mas logo conseguiria. A cada segundo que passava, podia vê-lo ligando tudo, peça por peça. Ele iria surtar a qualquer momento e me chamar de maluca ou… pior ainda… acreditar em mim.

— Tudo bem — arriscou ele, hesitante. — Então você e eu, nós morremos? Eu no rio naquela noite, e você em algum lugar o passado?

— Sim. Naquele mesmo rio, na verdade.

— Nossa. — Ele pareceu surpreso, mas depois se recompôs. — Então você está dizendo que essa “conexão” explica por que eu fui o único que conseguiu ver você? Isso é algum tipo de mágica, ou coisa assim? — hesitou para dizer essas últimas palavras, como se estivesse arriscando uma nova língua.

— Acho que sim. — Voltei a olhar para meu colo.

— E essa conexão existe porque você morreu? — perguntou ele. Apenas acenei com a cabeça. — E você voltou á vida, como eu?

Um instante ou dois se passaram, e então…

— Não, Sasuke. Isso, não. — Por um instantes, ficamos em silêncio. Em seguida, eu o ouvi puxando o ar com um fôlego tenso. Era agora… o grande momento. O desfecho. Terminei com um mero sussurro. — O que acontece, Sasuke… é que eu nunca voltei à vida.

No pior momento possível, fui cometida por uma daquelas novas sensações imprevisíveis. De repente, senti uma brisa morna conta a pele das minhas pernas e dos meus braços. O ar parecia carregado, elétrico, como se o céu cinzento estivesse para se abrir em meio a raios e trovões e uma tempestade fosse desabar à nossa volta. Arrepios pelos meus braços. Arrepios de verdade, como os que Deidara haviam causado em mim.

Eu não consegui erguer o rosto para olhar nos olhos de Sasuke, mas pude ouvi-lo gaguejar, soltando grunhidor de incredulidade. Em seguida, ele ficou muito quieto e imóvel. Esse hiato durou talvez um minuto inteiro até que ele voltou a falar com uma calma inexplicável.

— Sakura, você está tentando me dizer que você está…?

— Morta — disse eu na mesma hora, porque em pareceu inútil tentar adiar o inevitável.

— Morta — repetiu ele, sem nenhuma emoção na voz.

Outro instante passou e então, de repente, Sasuke pulou para fora do banco. Ele se virou para mim. Fiquei olhando para ele, com certeza de olhos arregalados e com cara de assustada. Seu rosto, no entanto, estava sem expressão alguma. Era como se ele estive usando uma máscara, que escondia seus sentimentos.

Eu não tinha como aguentar. Não tinha como aguentar aquele olhar vazio em seu rosto, um olhar que tinha causado com a verdade. Ele agora achava que eu era louca, ou acreditava que eu estava morta. Seja lá qual fosse sua conclusão, eu com certeza perderia o pouco contato que havia conseguido com ele.

Naquele instante, me senti mais sozinha do que nunca. Sozinha pelo resto da eternidade talvez, e agora com a mais dolorosa consciência de tudo o que eu jamais poderia ter.

— Sinto muito — murmurei, pedindo desculpas para ele, para mim mesma, para sabe-se lá quem, e então tapei minha boca com a mão.

Eu estava tão distraída sentindo pena de mim mesma que quase nem percebi uma coisa na minha bochecha. Uma coisa quente e úmida que escorreu até o canto da minha boca. Sem desviar minha atenção de seu rosto vazio, encostei o dedo na borda do meu olho e então o levei até meus lábios. Senti um gosto salgado.

Uma lágrima. Meus olhos mortos haviam derramado uma lágrima.

Alguma coisa naquela lágrima solitária deve ter reanimado Sasuke, porque sua expressão vazia de repente se dissolveu. Seus olhos e sua boca relaxaram.

— Sakura… —sua voz saiu rouca e se esvaiu. Meu nome nunca soou tão lindo.

Sasuke esticou o braço, erguendo sua mão como se fosse acariciar minha bochecha. Sem dar atenção a nada além daquela dor que ardia dentro de mim, eu me inclinei para mais perto dele.

Nada poderia ter nos preparado para o momento em que sua pele voltou a tocar a minha.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Fiz com muito carinho!
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