Capitulo Um

Recapitulando

Eu tinha acabado de me despedir do Ed com um beijo caloroso que seguiu caminho a pé me deixando frente a porta de casar, eu só conseguia pensar na sorte que eu tive, finalmente minha vida estava tendo um bom rumo depois da morte do meu pai. Mamãe estava superando á seu jeito e Su provavelmente se confortaria no violino enquanto eu...Eu já tinha idade para aprender a passar por cima das desavenças da vida....

Ao menos foi isso que pensei naquela noite.

A luz forte do branco refletido no quarto quase me cegou, minhas veias doíam junto a uma dor de cabeça imensa que me fez querer gemer arduamente...Quando ouvi o próprio som da minha voz coloquei a mão sobre meu olhos notando aquela agulha enfiada na testa da minha mão... Algo com certeza não estava certo. Levantei o corpo e notei que estava em um hospital....Dormi na cama de casa e acordei em um hospital? Como? Por quê? O que aconteceu?

As flores perto da janela com faixas desejando melhoras sugeriam que pessoas conhecidas haviam comparecido e eu deveria ter um tempo que estava aqui. Apertei o botão para chamar a enfermeira que não demorou muito a aparecer e ficar surpresa ao me ver desperta.

Mas a dor foi tanta que acabei sendo sedada e dormi novamente.

Da próxima vez que despertei o quarto já estava cheio de pessoas que me pareciam familiar, porém não reconheci a primeiro momento.

-Abby! Minha nossa, Deus seja louvado, que bom que você acordou!-Disse uma senhora que analisando melhor percebi que era minha mãe vestindo uma roupa de grife e cabelos bem arrumados, coisa que eu não esperava nunca ver nela.

-Mãe?! Por que está vestida como uma pirua rica?-Perguntei colocando a mão na cabeça me forçando a sentar, notando uma mulher perto de mim se segurando para não rir, seus cabelos negros estavam amarrados e ela usava uma maquiagem tão forte que acreditei ser um pouco demais já que estava no hospital.

-Que isso Abby? Eu sempre me vestia assim!-Engoli seco não dando importância a suas palavras.

-O que aconteceu?-Perguntei com a garganta seca.

-Ohh querida, não se lembra um caminhão bateu no seu carro?-É o que?

-Meu carro mamãe?! A senhora bebeu?! Aonde eu iria arrumar um carro? Não tenho dinheiro nem pra comprar uma bicicleta!-Revidei, o que tinha dado nesse povo? Carro, mamãe vestida daquele jeito, eu estando em um hospital.

-Mamãe alguma coisa está errada...-Murmurou a mulher vestida de preto no canto um tanto assustada, espera! Ela disse mamãe?

-Mamãe?!-A mirei com atenção e Santo Deus....Aquela era minha irmãzinha Susy?!-Su?! O que merda você fez... E....Você...O que... Quando foi que cresceu tanto?-As duas se entreolharam espantadas.

-Abby quantos anos você tem?-Perguntou minha mãe, agora eu fiquei assustada.

-Vinte e três?!

-Eu vou chamar o médico!-Disse a possível Su saindo do quarto inquieta.

-Eu não tenho vinte e três?-Sem graça minha mãe abaixou a cabeça.

-Vinte e sete.-Agora sim eu comecei a ficar assustada.

As conversas a seguir foram tão confusas que não conseguir acompanhar nem gravar, o médico tentava me explicar que eu tinha perdido uma parte da minha memoria, porém a verdade era que houve um acidente a duas semanas e eu havia ficado uma semana em coma. Aparentemente a ultima memoria que eu tinha era de quatro anos atrás... Por quê?! Bom acho que ninguém sabe explicar isso ainda.

Estática por longas duas horas olhando através da janela eu me sentia estranha, como se estivesse sonhando, eu forcei meu cérebro a acordar, quando não surtiu efeito o obriguei a se lembrar e ainda sim não deu certo. Mamãe e Su haviam saído enquanto eu tentava engolir a ideia que quatro anos de memoria haviam se perdido em algum lugar na minha cabeça sem nunca talvez ter a chance de encontra-las de novo.

Levantei da cama atordoada em passos lentos, minhas pernas estavam um pouco machucadas, mas o médico disse que o mais danificado mesmo foi minha cabeça que agora víamos as consequências. Segurando o suporte pro soro me arrastei até a porta me sentindo tonta... Eu queria sair dali, queria voltar de alguma forma onde havia parado... Mas o máximo que consegui foi chegar até um banco e me sentar desolada... Isso não poderia estar acontecendo comigo...

-É como viajar pro futuro e acabar ficando presa nele...-Murmurei pra mim mesma colocando as mãos na cabeça.

-Viagens no tempo são perigosas demais, se você volta pra impedir os erros que cometeu logo entra em um paradoxo...Quem será seu novo eu sem ter cometido erros? Você deixaria de existir? Teria viajado no tempo? Estaria se preocupando com que era?-Virei o rosto vendo o estranho sentado ao meu lado usando óculos e cabelos tão negros que pareciam brilhar com o reflexo da luz.

-Poderia impedir coisas ruins de acontecerem...?!-Disse suspirando.

-Ruim pra quem?-Girei os olhos pensando sem resposta, os olhos dele pareciam vermelhos.

-Você perdeu alguém?

-Provavelmente...Perdi, e voc...-Não deu tempo dele terminar, eu já tinha perdido a consciência, sair da cama foi uma péssima decisão.

Uma coisa me incomodava bastante nos dias que se seguiram, eu tinha uma aliança enorme no dedo, mas meu noivo idiota nem se quer para aparecer...Talvez marido nos dias de hoje.

-Vamos pelo começo, sou casada não sou?-Minha mãe sorriu largo confirmando.

-Sim! Há um ano e meio, se lembra do casamento?-Neguei mostrando o dedo.

-Nada! Só uma dedução por causa da aliança! Então cadê o Ed que não veio me ver nem em um momento?-Minha irmã que cortava uma fruta pra mim me sorriu sarcástica, ainda não me acostumei a esse estilo dela.

-Ed? Seu ex-noivo Edgar?-Depois que confirmei caiu a gargalhada.

-Querida você e Edgar terminaram tem quase três anos!-Han?!

-Como?! Éramos apaixonados um pelo outro!-Su gargalhou mais ainda.-Qual é a graça?

-Pare com isso Susy! Ela está confusa! Abby é o seguinte, você e Ed terminaram por que...-Ela segurou minha mão me olhando nos meus olhos pigarreando.-...Ele assumiu o que verdadeiramente é...-Han?!

-O que?! Como assim?

-Ele é gay mana, daqueles bem assumidos!-Eu fiquei boquiaberta, Gay!?! Meu lindo noivo de madeixas loiras era GAY?!

-Desde quando!?!?

-Desde sempre, você ficou puta com ele por que ele estava usando você pra enganar os pais, mas antes você meio que traiu ele com seu marido atual e encurralado ele te contou tudo..... Não se lembra nem disso? Dele pedindo sua ajuda pra continuar fingindo, o Vincent surtando, foi o maior barraco, não se lembra nem disso?

-Quem é Vincent?-As duas se entreolharam assustadas.

-Não se lembra do Vincent?-Fiz que não esperando elas me responderem.

-Vincent é o biruta do seu marido!-Aquilo já estava se tornando cada vez mais complexo.

-Então nesses quatro anos eu terminei com o Ed e casei com alguém chamado Vincent? Okay... Certo, por que ele não veio me ver até hoje?

-Como eu disse, ele é biruta!-Retrucou minha irmã, eu acho que eu jamais me casaria com alguém doido.

-Su! Ele não é doido querida, Vincent é só....Diferente! E ele veio só que não se sentiu bem e resolveu ir embora...Mas logo você o verá e tenho certeza que o reconhecerá!-Otimismo era algo que eu não conseguia ter, me virei pra minha irmã engolindo seco.

-Se você diz que ele é doido, por que eu me casei com ele?-Ela sorriu maliciosa.

-Tai uma coisa que nunca entendi!-Revidou e eu já fiquei preocupada.

-Mãe seja sincera.... Ele é diferente ou é doido?

-Bom...Érrr...Como é aquela palavra que a família dele usa Susy?-Ela sorriu largo.

-Sociofóbico.-Arregalei os olhos, como diabos eu me casei com alguém que tem medo de gente? Agora sei por que ele não estava aqui, tinha medo das pessoas do hospital provavelmente.

-Tão brincando, não é?! Quatro anos e eu só faço merda...

Apertei meu rosto com as mãos, na verdade eu não estava muito preocupada com o fato de meu novo marido ser um idiota medroso com problemas, estava mesmo era com a nova realidade de que quanto eu voltar pra casa vou ter que me deitar com um estranho e eu não saberia como agir... Fingiria?! Seria sincera?

Onde está o botãozinho que faz com que a gente volte aonde parou?!

Preciso dele urgente.