Caramba! Pensei. Ainda por cima tinha uma voz maravilhosa e... Espera aí, o que foi que ele disse?!

–Como é que é? – perguntei indignada.

–Bom – ele falou como se estivesse tratando de negócios – se você precisa de mais uns minutinhos eu...

–Eu não preciso de nada – eu o interrompi, sem conseguir disfarçar o meu tom de voz afiado – só quero o meu celular de volta. Pode ser?

Ele olhou para o meu celular em suas mãos e me entregou o objeto. Tentei ao máximo evitar qualquer contato físico, porém, não obtive muita sorte e as pontas dos seus longos dedos roçaram de leve na minha pele, causando-me um arrepio instantâneo. Franzi o cenho, estranhando aquela sensação pouco confortável.

–Obrigada – foi tudo o que eu disse, voltando minha atenção para meu celular para verificar se ele havia sido danificado. Quando constatei que ele estava intacto, levantei os olhos e o loiro esquisito ainda estava em pé, na minha frente me observando atentamente, de um modo que me fez lembrar alguém que eu havia deixado em casa mais cedo. Arqueei minhas sobrancelhas e perguntei, imitando seu tom pretensioso.

–“Precisa de uns minutinhos”?

Ele ampliou ainda mais o sorriso e falou:

–Foi você quem começou. E a propósito, posso saber o nome senhorita?

–Eu não sei se quero que você saiba o meu nome – respondi cruzando os braços.

–Seria o mínimo que você poderia fazer depois de passar por mim feito um tanque, e não pedir desculpa.

–Eu não tinha visto com que eu havia esbarrado! – me defendi.

–Claro – ele retrucou – vai me dizer seu nome ou não?

Mas que cara mandão! Pensei. Mas no fim respondi:

–É Susan.

–Susan... – disse ele com se tivesse saboreando as palavras – é um belo nome, sem dúvida.

–Obrigada. E você, tem nome?

–Vincent - respondeu ele.

Eu ia responder algo, mas a chegada da irmã de Kate me interrompeu:

Nikki Richards era a irmã mais velha da Kate. Uma menina de cabelos loiros platinados e um arzinho arrogante que gostava de se sentir o centro do universo. Nós nunca nos demos bem afinal, eu sempre fui totalmente incompatível com esse tipo de pessoa e procurava evitá-la ao máximo. Apesar disso sempre nos encontrávamos “casualmente” e ela aproveitava a situação para tentar me humilhar publicamente.

–Oi Susan – disse ela com aquela voz fina e chata – está perdida? Não deveria estar em casa escondida sob aqueles seus livros?

–E você Nikki? – retruquei com desdém - não deveria estar no jardim zoológico junto com as outras antas?

Ela ficou vermelha feito um tomate. Por um momento pensei que fosse sair fumaça do seu cabelo tingido. Mas ela pareceu me esquecer completamente quando olhou para a figura que estava de pé ao meu lado observando a situação. Ela estava olhando para ele com a mesma expressão estúpida que eu estava há minutos atrás. Imagino que todas as garotas tenham a mesma reação ao vê-lo e por isso o comportamento tão confiante da parte dele.

–Nossa – ela disse sem nem tentar disfarçar olhar descarado que tinha - não vai me apresentar o seu amigo?

–Não - foi a minha resposta categórica.

–Não precisa – ela disse virando-se para ele e estendendo a mão – Sou Nikki Richards, e você é?

Vincent lançou um olhar curioso para mim e depois para Nikki. Pegando na mão que ela o oferecia ele disse.

–É um prazer Nikki. Vincent Darin.

Era só o que faltava. Será que ele não estava percebendo as intenções dela?

–Bom – eu disse interrompendo sem um pingo de remorso - não quero atrapalhar vocês, então já estou indo.

Nikki fez algum comentário sobre eu estar indo tarde. Ignorando-a despedi-me do Vincent que parecia esperar que eu fizesse isso.

–Adeus, Vincent.

Ele ergueu uma sobrancelha:

–Adeus? É uma palavra muito... digamos, definitiva. Não acha?

–Nesse caso se aplica perfeitamente – retruquei.

–Pois eu tenho a mais absoluta certeza que nós nos veremos muito em breve – disse ele me lançando um olhar que me desafiava a discordar dele.

Não respondi nada e me afastei deixando-o com a senhorita “loira de farmácia” e resolvi continuar a procurar minhas amigas. Encontrei as duas na cozinha discutindo alguma coisa. Curiosa, perguntei:

–O que vocês estão falando aí?

–A July que não para de me encher o saco, como sempre – disse Kate exasperada.

–Eu? –disse July – estou tentando abrir os seus olhos isso sim.

–Me deixa adivinhar – falei – estão falando sobre o único assunto capaz tirar a paz de nosso unido grupo. Mike.

–Só tira a nossa paz porque vocês só sabem falar mal dele.

–Queria que eu falasse bem? – retrucou July.

–Queria que não falasse nada, como sempre. Que tal?

–Você que sabe – disse July desistindo de discutir – vamos mudar de assunto.

–Onde você estava? – indagou July.

–Eu conheci uns amigos do Danny e depois disso trombei acidentalmente com um cara agora a pouco.

–Um cara? – disse Kate – que cara? Ele é bonito?

–Primeiro: sim é um cara Segundo: o nome dele é Vincent. Terceiro É ele é bonitinho (tudo bem, nesta última pergunta eu menti um pouquinho, mas de jeito nenhum eu vou contar para elas que eu vi o maior gato do planeta e me arriscar a ouvir conselhos amorosos das duas)

–Como ele é? Precisamos de mais informações Sue.- disse July.

–Loiro, olhos azuis, alto esse tipo de coisa não prestei muita atenção

–Um momento. – disse July levantando as mãos – Kate, por acaso ela está falando daquele deus grego que nós vimos mais cedo?

Kate segurou o meu braço.

–Como assim não prestou atenção? Não tem como não prestar atenção.

–Eu só troquei duas palavras com ele – expliquei – além disso, se vocês querem mesmo saber ele é bastante arrogante.

–Sei – disse July.

–Eu o deixei agora a pouco conversando com a sua irmã Kate – eu disse.

– O que?! – ela gritou – porque você fez isso?

–Hum?? – foi tudo que eu pude dizer.

–Deixar o cara com a chata da minha irmã!

–Porque eu não tinha nada para falar com ele? – respondi sem disfarçar o meu sarcasmo – ele sobrevive afinal sua irmã é uma “ótima” companhia.

July riu.

–Eu duvido.

–Você devia voltar lá – sugeriu Kate.

–O único lugar para onde eu vou voltar é para a minha casa – falei.

–Mas já?- disse Kate.

–Eu também já vou - disse July – estou cansada.

–Ai está bem, vamos então. – disse Kate. – não vai se despedir do Danny e do seu novo “amigo”?

–Falo com o Danny outro dia – respondi. A verdade é que eu não queria voltar a ver aquele Eric - e quanto ao meu “amigo” espero não vê-lo tão cedo.

Saímos da festa conversando alegremente. Ao chegar em casa tomei um bom banho, coloquei comida para o Azarado que dormia próximo a cozinha e subi as escadas, tratando de trancar a porta do quarto para que não tivesse um certo visitante felino indesejado. Enquanto aguardava a chagada do sonho pensava nas palavras de Vincent:

–“Pois eu tenho a mais absoluta certeza que nós nos veremos muito em breve”.