Bee my valentine escrita por Oceanus


Capítulo 1
Capítulo Único




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“50% de desconto no dia dos namorados!” Diz a placa em forma de coração, fazendo Dean revirar os olhos. É uma placa grande e vermelha, com uma letra cheia de curvas. Mais um motivo para ele não gostar do dia dos namorados, além dos casais se agarrando e as lojas lotadas. Para ele, a única coisa boa dos dias dos namorados é a oportunidade de encontrar mulheres que estão desesperadas por um encontro. Mas como ele provavelmente estaria caçando um fantasma que queria vingar-se do antigo amor, esse dia dos namorados seria particularmente ruim. Resumindo, era um dia bem ridículo.

Tentando não esbarrar nas pessoas, Dean coloca na cesta vermelha pães, leite e cerveja, o suficiente para alguns dias. Enquanto espera no caixa, observa de modo mais sutil possível a banca de revistas, procurando as das mulheres asiáticas. Só tem uma, que ele tinha comprado semanas atrás e que deveria estar perdida em algum lugar do seu quarto. Dando um longo suspiro, seus olhos são atraídos pela bancada de flores, algumas falsas e outras não. No resto do ano, a bancada está sempre cheia, mas hoje só havia algumas. Um homem olhava o preço de um buquê de rosas vermelhas e por fim o pegou, um pequeno sorriso no rosto.

Dean lembrou-se instantaneamente de Lisa. Ele não a via há muito tempo, mas vez ou outra ele se via pensando nela. Era melhor desse jeito. Ela estava feliz com Ben e ele já não sentia mais sua falta. Ele era um caçador. Não tinha como ficar brincando de casinha. Sempre que ele comprava flores para alguma garota, ele as pagava com aquele mesmo sorriso no rosto. Exceto para Robin. Com Robin, ele sempre sentia suas mãos geladas e se sentia extremamente nervoso. Quando comprara flores para ela, mil perguntas apareciam em sua cabeça. Ela ia gostar? Deveria mesmo comprar flores para ela?

Dando uma rápida olhada na fila, voltou a perder-se em pensamentos com aquelas flores. Havia um grande buquê de cravos azuis, que lembravam os olhos de Robin. Robin, com aqueles olhos azuis e o cabelo negro. Mas este pensamento fez com que sua mente fosse instantaneamente para Cas. Dando um longo suspiro, olhou para os dois lados e deixou a cesta no chão para marcar o seu lugar, dando largos passos até os cravos. Ele espiou a etiqueta em forma de coração, vendo que custavam trinta dólares. Havia escrito em uma letra cheia de floreios algo que fez com que ele se afastasse instantaneamente.

O cravo representa o amor puro e latente, a entrega e também a liberdade.

Dean balançou a cabeça. Às vezes ele se pegava pensando em Cas. Castiel não passava pela sua cabeça, ele meio que morava nela. Só que certas coisas faziam com que a imagem do anjo aparecesse logo em sua cabeça. Como ele era fraco com bebidas, e acabava sempre rindo e flertando. Como ele acordava e se tinha aquele olhar meio perdido, até perceber onde ele estava, ou quando ele ficava prestando atenção a um seriado. Um cara que ele tinha visto no parque na semana passada meio que sorria como ele e ontem tinha conhecido uma garota que tinha o nome começado com C. E desde o que aconteceu no purgatório, Dean não mudava de canal no rádio quando começava a tocar Air Supply. Ele até cantarolava “Lonely is the night” as vezes.

Sim, tudo meio poético. E ele não achava que amigos pensavam assim um dos outros. Mas era isso que ele era de Cas. Amigo. E ele não ia comprar flores para Cas. Principalmente no dia dos namorados. Sim, Castiel estava interessado em jardinagem e tal, mas dar flores era um sinal de amor, não era? E isso seria inapropriado, então ele se afasta novamente. Mas no meio do caminho, ele para. Algo havia chamado a sua atenção. Havia um par de caixas brancas, com “Honey bee farm” escrito em amarelo. Com certeza deixada de lado por causa do dia dos namorados.

– Senhor? Está na sua vez da fila. – diz uma senhora, que esperava pacientemente atrás de sua cesta, enquanto a mulher do caixa o encarava de forma nem um pouco paciente.

– Ah sim. – disse ele, pegando a caixa sem pensar duas vezes. Atrapalhando-se com o dinheiro, ele saiu da loja alguns minutos depois, indo direto para o carro. No rádio só havia músicas pop sobre amor, o caçador revirando os olhos verdes e mudando para o CD. Sem paciência para ouvir uma música de onze minutos de The Doors, passou para a próxima música.

Batucando os dedos no ritmo de TNT, pensou no pequeno presente que comprara para Castiel. Não eram flores, mas não continuava sendo inapropriado comprar algo para um amigo nos dias dos namorados? Sabia que mulheres fazem isso, para consolar uma amiga que não tem namorado. Mas eles não eram duas garotas assistindo “O amor pode dar certo” e reclamando que todo mundo estava mudando o status do Facebook para namorando.

Claro, Cas merecia. Morando no bunker, ele estava apaziguando o clima entre Sam e Dean. Dean se sentia sozinho com aquela barreira recém-construída entre Sam e ele. Eles eram irmãos, sempre havia coisas que eles não iriam concordar e é claro, sempre haveria as brigas. Mas caçar seres sobrenaturais com aquela tensão não era nada bom. Sempre acordado até tarde, com o computador e uma garrafa de whisky na sua frente, Cas o visitava com um prato de comida. Sam tinha percebido que a quantidade de comida de Dean tinha diminuído, enquanto a de álcool tinha aumentado.

Mas o que ele não sabia, é que Castiel de noite, depois de Sam ir para cama, saia de casa para comprar comida para Dean. Quando aconteceu pela primeira vez, Castiel aparecendo com um saco de McDonald’s, Dean ficou tão surpreso e agradecido que nada disse. Era bom saber que alguém se importava com ele, pensou, sem prestar muita atenção na música, Poison Heart. Mas acabou se tornando um hábito. Cas chegava com uma comida diferente a cada dia, junto com um copo de água. Depois de duas semanas, Dean disse que não era necessário. Que ele não precisava sair para comprar comida e ficar sentado, observando Dean terminar de comer e ir dormir.

– É necessário sim. Eu quero você vivo. – dissera Cas, não falando nada pelo resto da noite. Mas depois da pequena conversa, vez ou outra o anjo aparecia com torradas ou coisas do tipo.

Cas também sugeria coisas para eles fazerem enquanto não estavam caçando monstros, como andar ou dirigir pela cidade. Cas já sabia as ordens das músicas, balançava a cabeça quando Holidays in the sun começava a tocar e até cantava Immigrant Song e Whola Lotta Love. Mas aparentemente a banda favorita de Cas era Kiss. Ele cantava I was made for loving you de forma particularmente animada e só não gostava de Heaven’s on fire (“O título da música, Dean...”), como também não gostava de Mr. Crowley, de Ozzy Osbourne.

Às vezes, Dean e Cas ficavam simplesmente sentados no sofá, assistindo vídeos de jogos comentados por um sueco. Castiel pulava do sofá sempre que um monstro aparecia de surpresa, e Dean dava risada, dando uma olhada para Cas e pensando que agora ele entendia como Dean se sentia, mas nada comentando, por que sempre que a garrafa de bebida ficava mais vazia, Castiel se levantava sem falar nada, para pegar um copo de água.

– No one knows what its like, to feel these feelings like I do, and I blame you. – cantou. O mais surpreendente disso tudo, é que Cas parecia gostar. Ele não agia como se estivesse sendo obrigado a ser babá de Dean. Então se alguém merecia um presente no dia quatorze de fevereiro, seria Cas.

Mas o problema, é que Dean não sabia se ia conseguir. Ele provavelmente ficaria com um bolo na garganta, não saberia o que dizer, ia sentir as mãos frias e o coração batendo forte no peito. No final das contas, ia dar uma risada e falar algo grosseiro. Ele sempre falava o oposto do que ele queria dizer. Ele sempre tentava fazer um pequeno roteiro em sua cabeça, mas tudo sempre saia do controle. Respirou fundo e saiu do carro, colocando a sacola plástica no braço e pegando a caixa com as duas mãos. Apoiando-a na perna por um momento para abrir a porta, entrou no bunker, se surpreendendo.

Uma música tocava, vindo da cozinha. Ele a reconheceu como “Touch me”, e havia também o cheiro de comida no ar. Jogando a chave em cima da mesa, tentou controlar sua respiração enquanto olhava para a caixa.

– Olá, Dean. – disse Cas, aparecendo da porta da cozinha.

– Hey. Eu te comprei algo. – disse, dando uma checada em Cas. Castiel balançou a cabeça e foi até a mesa, olhando a caixa. Dean sorriu, cruzando os braços. – Bee my valentine.

Cas levantou a cabeça e um sorriso largo apareceu em seu rosto. Tinha feito piadas nesse estilo tantas vezes que não conseguiria contar se fosse necessário.

– É pra mim? – perguntou ele, sem ter certeza.

– Sim, é pra você, cara. – disse ele, meio envergonhado. – Só pra... você sabe. Agradecer. Eu achei que você iria gostar.

– Bem, obrigado. – disse Cas, acariciando a caixa. – Vou ter que cuidar de criaturas vivas. Isso é muita pressão. A vida das abelhas estão nas minhas mãos.

– Cas, vai dar tudo certo...

– Não somente isso. É um presente seu. Se elas morrerem, eu vou ter errado com você.

– Cas, calma, Cas. Eu vou te ajudar.

– Quando uma abelha descobre uma nova fonte de alimento ela enche seu saco de mel com o néctar, retorna ao ninho e realiza uma dança. Se a fonte de alimento está dentro de noventa metros...

– Cas.

– ... a abelha realiza uma dança circular. O primeiro movimento de cerca de dois centímetros e em seguida, circulando no sentido oposto...

– CAS. – disse Dean, acabando com o transe de Castiel.

– Oh. Oh, sim. Desculpe-me, Dean. Mas isso é estranho. Eu também tenho algo para você.

Dean ficou surpreso, e por alguns segundos ficou em silêncio, boquiaberto. Cas o encarava, esperando algo, então ele simplesmente disse:

– Você tem?

– Eu sei que eu não cozinho muito bem, mas eu segui as instruções e Sam disse que estava bom.

– Você cozinhou para mim?

– Sim. Uma torta.

– E Sammy sabe? – perguntou surpreso.

– Sim, ele me ajudou a cozinhar.

Uma mistura de emoções invadiu Dean, o deixando sem palavras. Cas tinha feito uma torta para ele, no dia dos namorados. Sam, que estava distante e meio chateado, ajudou. Provou.

– Você... me cozinhou uma torta. – foi a única coisa que Dean conseguiu pensar.

– Você não gostou? – perguntou Cas, arregalando os olhos.

– Não, Cas... – disse, dando um suspiro. Sentia-se estranhamente leve, mais feliz do que estivera em anos. – É perfeito, Cas. Sério. Obrigado. Muito obrigado.

Castiel sem dizer nada, entrou na cozinha e Dean o seguiu. Sentando-se na mesa, Cas colocou dois pratos nela, e a torta. Dean tirou um grande pedaço para si, enquanto Castiel se sentava. Levou a primeira garfada até a boca. Delicioso. Depois disso, começou a rir, enquanto Cas o observava com curiosidade.

– Cara, trocamos presentes no dia dos namorados.

– Parece que sim. Acredito que isso faz de você o meu älskling este ano.

Dean engasgou-se com a torta, seus olhos ficando cheio de água e ele tendo um ataque de tosse. Quando voltou ao normal, disse entre risadas:

– Você não poderia ter escolhido um candidato pior, Cas.

– Eu não concordo, Dean. – disse Cas, os olhos azuis fixados no outro. – Realmente não concordo.


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Notas finais do capítulo

* Em sueco você se refere a seu namorado/namorada dizendo "älskling", que se traduz como "o meu amado"