Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 20
Casa da Rainha


Notas iniciais do capítulo

Olá, tigers!
Aqui está mais um capítulo de Caçada, espero que gostem!
Boa Leitura.



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Meus braços doíam.

Doíam pelo simples motivo de eu estar tensa e apavorada, agarrada ao meu livrinho de desenhos, enquanto o Jeep de trilha do senhor Kadam cortava a paisagem tropical da floresta que nunca parecia mudar.

Houve uma mudança tão brusca de ontem à noite com Kishan para hoje de manhã abraçada com Nilima, enquanto nos despedíamos. Talvez o fato de sempre ficar perdida ao encarar aqueles olhos dourados de pirata, não me fez pensar direito na real situação em que eu me encontrava.

Mas agora, sentada no banco da frente do Jeep, enquanto ao meu lado, senhor Kadam dirigia como um velocista e um enorme tigre negro cochilava esparramado nos bancos traseiros foi que eu realmente comecei a pensar aonde eu havia me metido.

Não que eu quisesse desistir, pois isso nunca passaria em meus pensamentos, afinal eu havia prometido ajudar Kishan e eu queria ajuda-lo. Mas eu não tinha total certeza de que eu era corajosa o suficiente para tudo aquilo.

Conhecer pessoas com mais de três séculos de idade e um príncipe amaldiçoado em forma de tigre? Tudo bem!

Vagar por florestas indianas à procura de uma mago ancião, enquanto um outro mago do mal procurava por nós? Não tinha tanta certeza...

Naquele momento, tudo o que eu queria era nunca ter saído de baixo das minhas cobertas aquela manhã.

− Mia? – A voz bondosa de Kadam me fez sair de meus devaneios, percebendo que nós tínhamos finalmente saído da floresta e entrado na rodovia. – A senhorita parece assusta, o que tanto lhe aflige?

Já se tornando uma mania constante, mordi meu lábio inferior, olhando brevemente para a paisagem esverdeada em nossa volta.

− Só estou um pouco confusa com tudo. – Murmurei para o velho homem ao meu lado, suspirando baixinho.

− Sua posição é compreensível, Mia. – Kadam tirou os olhos da estrada rapidamente, apenas para me encarar com seu olhar bondoso. – Confesso que admiro muito a senhorita por não ter enlouquecido com tudo isso.

Talvez eu já fosse problemática o suficiente para enlouquecer com o que acontecia ao meu redor.

− Eu só preciso não pensar muito sobre as coisas. – Disse, finalmente soltando meu caderninho, colocando-o junto com minhas mãos em cima do meu colo. – O senhor não poderia me contar alguma história interessante?

Olhei pelo espelho retrovisor do carro, apenas para enxergar uma grande mancha preta atrás de mim. Kishan ainda dormia pesadamente, e seu peito se mexia com o ritmo lento de sua respiração, e tudo o que eu queria fazer naquele momento era abraçar meu tigre e cochilar contra seu dorso.

− Sobre o que quer ouvir, Mia? – Um sorriso brotou nos lábios de Kadam, e era evidente o prazer que o velho homem sentia por compartilhar suas experiências de vida comigo, em forma de histórias.

− Conte-me alguma história sobre algum momento que passou com os príncipes. – Pedi, ajeitando-me no banco enquanto sentia o vento quente batendo em meu rosto.

− Bem, deixe-me pensar em algo... – Uma de suas mãos voaram do volante para o queixo coberto pela barba branca, e ele parecia buscar fundo na memória por alguma história.

−Por que não me conta sobre alguma das tradições do reino Mujulaain? – Tentei dar uma ajudinha para o senhor Kadam, e novamente o seu rosto se iluminou em um sorriso.

− Esse é um assunto muito interessante, senhorita Mia. – Kadam passou a mão pelos cabelos grisalhos, e parecia empolgado. – O reino Mujulaain era bem rico em tradições.

− Me conte de alguma tradição das mulheres. – Perguntei, também me empolgando.

− As mulheres naquela época não tinham muitos direitos, muito menos tradições. Nosso reino valorizava as mulheres por serem ótimas tecelãs e costureiras, criando uma ótima reputação para nosso povo, mas elas eram subordinadas aos maridos e ainda jovens, deveriam se casar mesmo contra a vontade.

− Isso é um tanto triste. – Ponderei, imaginando todas as belas mulheres que acabaram se casando com homens que mal conheciam ou amavam. – O senhor também teve um casamente arranjado?

− Tive sim, mas aprendi a amar minha esposa, e fui muito feliz ao seu lado. – Senti a melancolia na voz do homem, e pensei o quão difícil seria viver sem a pessoa amada por séculos.

Pelos segundos que se passaram, deixei que o silêncio nos consumisse, observando enquanto Kadam parecia perdido em pensamentos e lembranças, e instantaneamente pensei em meus pais e no quantos eles eram felizes junto e contra minha vontade, meus olhos pousaram em Kishan, fazendo com que meu rosto corasse sem motivo algum.

“Eu também queria um final feliz.” Aquele pensamento me perseguia desde a morte de meus pais.

− Senhor Kadam, os príncipes eram muito arteiros? – A pergunta saiu quase que sozinha, e ele me olhou espantado, como se não lembrasse da minha presença ao seu lado, mas rapidamente balançou a cabeça e abriu mais um de seus sorrisos bondosos.

− Ah! Com toda certeza eles deixavam a rainha Deschen muito ocupada. – Ele soltou uma risada rouca e longa, como se a memória o divertisse.

− Qual deles era o pior? – Perguntei, fazendo com que os pensamentos do assunto passado se esvaíssem.

− Os dois eram muito parecidos nesse quesito, mas pelo fato de Ren ser o príncipe herdeiro, ele tinha mais obrigações e o rei Rajaram exigia mais responsabilidades de sua parte, então Kishan ficava mais livre para aprontar e vivia atiçando o irmão.

− Eles pareciam muito unidos. – Ponderei, imaginando como Kishan era antes da maldição. – Qual foi a pior coisa que eles fizeram?

− Provavelmente foi quando se “graduaram” nos estudos militares junto com os outros soldados. – Ele riu novamente. – Era uma tradição do reino todos os soldados que se formarem passarem pelo teste e Kishan e Ren estavam empolgados.

− Qual era o teste? – Perguntei, imaginando que seria alguma missão em que eles deveriam matar alguma besta para provar algum valor, como nos filmes de ação que eu assistia com Matt.

− Havia um lugar no reino feito apenas para a rainha e as mulheres da corte, chamado Casa da Rainha. As mulheres passavam os dias e noites na casa, apenas se banhando com as águas termais que saiam pelas pedras brilhantes do local. Nenhum homem além do rei era permitido no local, o que fazia a imaginação de alguns jovens aflorar.

− Oh. – Foi tudo o que conseguir dizer, percebendo que não importasse quantos séculos se passasse, os homens continuariam iguais.

− Acompanhei os príncipes até a Casa da Rainha na noite da graduação, Ren não foi muito longe e conseguiu ser pego pelos guardas, mas depois de algumas horas, Kishan não retornou como o combinado. No outro dia, quando fui comunicar ao rei o que acontecera, encontrei Kishan levando uma bronca do pai.

− Ele passou a noite na Casa da Rainha? – Perguntei, engasgando-me com minha própria saliva.

− Sim, e pela postura que ele tinha, parecia muito orgulhoso por aquilo, passando o resto da semana provocando o irmão que falhara. – Kadam balançou a cabeça, rindo sozinho com as lembranças dos dois príncipes, enquanto eu sentia um pequeno incomodo dentro de mim, olhando para o reflexo de Kishan no retrovisor com a cara fechada e em silêncio.

E permaneci em silencio até que a rodovia em que nos encontrávamos acabasse em uma estrada de terra, cercada pela floresta densa. Senhor Kadam parou o Jeep e olhou ao redor, como se quisesse conferir se aquele era o lugar certo.

− Nós chegamos? – Perguntei, confusa olhando para os lados.

− Aqui é onde eu deixarei vocês para seguir o caminho até a casa do velho mago. – Ele respondeu, pulando para fora do carro.

Abaixei-me para pegar minha enorme mochila lotada de bolsos que estava pousada em cima dos meus velhos coturnos. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo alto e arrumei a larga blusa xadrez e desfiada que vestia, saindo do carro logo em seguida.

Percebi que o enorme tigre negro que dormia a pouco, já se encontrava fora do Jeep, parado ao lado de senhor Kadam, totalmente concentrado no que o homem falava. Não queria ficar ao lado de Kishan, pois tinha que confessar que havia ficado com um pouco de ciúmes depois de ouvir a história da Casa da Rainha.

− Senhorita Mia? – Senhor Kadam me chamou, fazendo com que o tigre balançasse a cauda e se voltasse para mim. – Dentro da sua mochila você encontrará tudo o que vocês irão precisar para o acampamento, também coloquei um celular com rastreador para caso de vocês precisaram de minha ajuda. Já instrui Kishan sobre o caminho que vocês devem fazer, mas aconselho que façam pausas a noite para descansar.

− Tudo bem. – Assenti para o homem, tentando ignorar Kishan, que se esfregava contra minhas pernas e rugia baixinho, como um gatinho pedindo por carinho.

− Tomem cuidado e não deixe que nada aconteça com Mia, Kishan. – Kadam olhou para o tigre que rugiu alto e bateu com as patas no chão de terra vermelha.

Senti braços me puxando para um abraço, e me surpreendi quando percebi que Kadam me apertava de modo afetuoso e protetor, fazendo com que eu deixasse meu corpo relaxar contra o do homem que eu considerava como um pai.

− Vou sentir falta das suas histórias, senhor Kadam. – Murmurei, quando nos soltamos.

− Também irei sentir falta de sua companhia na biblioteca. – Ele riu baixinho, ajeitando as alças da minha mochila em meus ombros, como se eu fosse uma menininha pronta para o primeiro dia de aula. – Mas vocês precisam ir, pois será uma longa caminhada de três dias até a casa do velho mago.

Fui para o lado de Kishan, que me olhava com a cabeça tombada para o lado, como se perguntasse o que havia comigo, mas eu apenas ignorei o ronronar do tigre e acenei para Kadam uma última vez, antes de seguir com passos confiantes para dentro da floresta densa e perigosa.

Se passaram horas de total silencio vindo de minha parte, onde tudo o que eu me limitava a fazer era seguir Kishan e me envolver com meus próprios pensamentos. Naquele momento, o tigre já tinha percebi minha atitude fria, e a todo momento tentava chamar minha atenção.

Ele pulava em minha frente inúmeras vezes, rugia baixinho, desequilibrava-me com seu enorme corpo e até rolava no chão, mas tudo o que eu fazia era continuar olhando para frente, seguindo o caminho interminável entre as árvores.

Tudo o que eu conseguia pensar era em quantas mulheres ele já havia seduzido com aqueles belos olhos dourados, quantas ele já havia chamado de “Bilauta” e quantos corações ele já havia brincado e quebrado.

“O seu é um”, aquele pensamento maldoso fez com que eu tivesse que morder os lábios para não chorar de raiva.

− Droga, Mia! – O voz alta e grossa atrás de mim fez com que eu pulasse com o susto. – O que houve com você?

Sabia que assim que me virasse, ia dar de cara com o belo homem moreno que me encararia com seus olhos de pirata e faria meu coração derreter, mas assim que pensei na Casa da Rainha, tive uma enorme vontade de socar a cara de Kishan.

− O que você quer? – Perguntei fria, colando as mãos na cintura e tentando não olhar em seus olhos, focando em algumas árvores atrás dele. – Kadam disse para não pararmos até de noite.

− Eu sei o que Kadam disse. – Ele resmungou, revirando os olhos e vindo em minha direção, fazendo com que eu desse alguns passos para trás. – O que você tem?

− Eu? – Não consegui não gaguejar, mas continuei me afastando de Kishan, que parecia me encurralar contra seu corpo. – Estou normal, muito obrigada. Agora podemos parar com essa conversa sem sentido e continuar andando?

Virei-me de costas para Kishan, percebendo pela primeira vez que nós nos encontrávamos em uma enorme clareira, e um pequeno rio corria apressadamente ao longe. Não tinha dado muitos passos quando senti uma mão forte envolvendo meu braço, fazendo-me virar para frente e bater contra seu corpo.

− Por que você está assim, bilauta? Eu fiz algo errado? – Ele sussurrou perto do meu rosto, acariciando meu braço com os dedos e quase fazendo com que minha raiva fosse embora.

Quase.

− Não me chame assim! – Explodi, soltando-me dele. – Não quero ser um brinquedinho seu também. Por acaso, quando tudo isso acabar, você vai correr para o seu irmão e se vangloriar por isso?

− O que? – Ele me olhava perplexo, como se eu tivesse sido possuída por alguma coisa muito estranha, mas eu não me importava de estar parecendo uma maluca.

− Homens! Sempre acham que são santos. – Gritei frustrada, fazendo com que alguns pássaros voassem.

Andei até o meio da clareira e joguei minha mochila no chão, sendo seguida pelos olhos de Kishan. Passei minhas mãos pelos cabelos e bufei, olhando em volta e pensando em algo que pudesse me aliviar de toda aquela raiva e ciúmes.

Percebi uma pequena trilha ao lado oposto em que Kishan se encontrava, e antes de segui-la, fui até ele e bati minhas mãos contra seu peito.

− Não me chame por apelidos fofos, não me olhe com esses olhos sedutores, não me toque desse jeito viciante e pare de me fazer sentir tão atraída por você! Pois eu não irei me entregar tão fácil assim. – Estourei completamente, virando-me e indo na direção oposta, com passos pesados, sem me importar de ter acabado de me declarar à ele.

− Onde você está indo, Mia? – Ouvi a voz confusa e preocupada de Kishan, mas não me dei ao trabalho de virar.

− Vou dar uma volta, e é melhor você não me seguir ou vou descontar toda minha raiva no seu belo rosto, Vossa Alteza. – Ironizei, pulando um grande tronco que impedia meu caminho, aumentando meu passo para me afastar de Kishan, que ainda me olhava perplexo.

Não fui muito longe, apenas andei alguns metros para dentro da floresta densa, o suficiente para que Kishan não conseguisse me encontrar, mas o não o suficiente para eu me perder no caminho de volta.

Chutava alguns galhos que apareciam em meu caminho enquanto xingava mentalmente o tigre negro, reclamando comigo mesmo por ser tão mole.

− Tigre idiota! – Bufei, chutando com força as raízes expostas de uma grande árvore ao meu lado. – Com tantos príncipes amaldiçoados por ai, por que eu fui me apaixonar logo por ele?

Dei mais alguns passos, pisando em algo duro no chão que se quebrou com um “creck”, mas eu não dei muita importância para o suposto galho pisoteado, pois tudo o que se passava na minha cabeça eram os dias que eu teria que passar à sós com Kishan naquela floresta.

Senti uma picada em minha coxa, que parecia muito com um pernilongo, mas instantaneamente senti uma dor repuxando em minha perna, fazendo com que eu ofegasse e olhasse para o chão, deixando de lado o batalha interna do meu coração e do meu cérebro. Um desespero me invadiu assim que percebi aonde meu pé se encontrava e vi que o que tinha quebrado não era um galho, mas sim uma colmeia cheia de abelhas furiosas que começavam a rodear meu corpo.

A dor em minha perna aumentou, fazendo com eu soltasse um gemido mais alto, e levando à mão até onde a picada começava a se tornar um bola, comecei a me balançar na tentativa de afastar as abelhas, mas elas pareceram se enfurecer mais ainda.

E como uma louca, comecei a correr de volta para a clareira, gritando e me debatendo, enquanto ouvia aquele zunido assustador atrás de mim.

Minha perna dolorida não ajudava na minha tentativa de fuga, e tive muita dificuldade para pular alguns troncos caídos, fazendo com que algumas abelhas nervosas me alcançassem e deixassem seus ferrões em outras partes do meu corpo.

Parecia que a clareira nunca chegava, e quando eu finalmente ouvi o barulho da água corrente do rio, mal me importei de olhar a barraca que fora armada e a fogueira que queimava perto dela, muito menos tive tempo de olhar para o tigre negro que andava em círculos e parecia nervoso.

Outro grito de dor me escapou quando senti uma picada em minha nuca, fazendo com que Kishan voltasse seus olhos assustados em minha direção. Não me importei com nada aquele momento, apenas fiz a primeira coisa que me lembrei do documentário sobre ataques de abelhas no Animal Planet.

Me joguei na água gelada do rio.

Fiquei submersa por alguns segundos, sentindo a água aliviar a dor que se instalara em todo o meu corpo, mas assim que fui me impulsionar para voltar para a superfície, percebi o quanto o rio era fundo, pois não conseguia tocar meus pés em seu leito.

Eu não era uma boa nadadora, e naquele momento, me desesperei novamente, batendo as mãos e os pés freneticamente, tentando ao máximo não morrer afogada.

Meu pulmões já gritavam por ar, devido à minha gritaria em baixo d’água, quando senti braços fortes envolvendo minha cintura firmemente, puxando-me para cima até que rompêssemos na superfície, fazendo com que tomasse uma grande lufada de ar.

Pisquei meus olhos freneticamente e me debati mais algumas vezes, ainda tentando recuperar todo o fôlego que havia perdido, quando ouvi uma voz rouca sussurrar coisas em híndi ao pé do meu ouvido.

Foquei meus olhos até conseguir enxergar duas grandes bolas douradas, e apoiei-me nos ombros de Kishan, vendo seu rosto clarear em meus olhos. E seu rosto estava cheio de preocupação e ele parecia estar assustado, e ainda meio zonza, senti-me sendo pressionada contra seu peito, em um abraço desesperado.

− Não me assuste assim de novo, ouviu, Mia? – Ele murmurou, enquanto acariciava minhas costas freneticamente, fazendo minhas roupas colarem mais em meu corpo.

− Kishan... eu... – Tentei falar alguma coisa coerente, enquanto me afastava de Kishan, mas deixando que me segurasse pela cintura.

− O que aconteceu, bilauta? – Ele perguntou, olhando para meu rosto como se procurasse por algum machucado.

− Eu pisei em uma colmeia cheia de abelhas mal humoradas, e elas acharam interessante me seguir. – Ironizei, tentando controlar meu coração descompassado.

Eu não poderia mais dizer que eu estava com raiva de Kishan, não depois dele ter me salvado e agora estar me segurando tão ternamente contra seu corpo.

− Sabia que deveria ter ido atrás de você. – Ele bufou, deixando um longo beijo em minha testa molhada.

− Você só sairia picado assim como eu. – Murmurei, tentando controlar a vermelhidão do meu rosto.

− Você me deixou preocupado, Mia. – Ele disse sério. – E o que você estava falando sobre eu brincar com você? Da onde você tirou isso?

Pensando mais claramente depois daquele ataque de abelhas assassinas, percebi o quão infantil eu fui por brigar com Kishan sobre uma coisa que acontecera há trezentos anos, simplesmente por eu estar com ciúmes.

− É que... – Desviei meus olhos dos dele. – Kadam me contou sobre a Casa da Rainha, e sobre o teste que você e seu irmão fizeram quando eram militares...

− A Casa da Rainha? – Ele riu, balançando a cabeça e fazendo com que seu cabelo preto respingasse água por todos os lados. – Você achou que eu tinha conseguido entrar lá?

− Kadam disse que... – Abaixei minha cabeça, sentindo-me a pessoa mais tola naquele momento.

− Eu queria apenas provocar Ren, mas nunca consegui entrar na Casa da Rainha, fui pego pelos guardas, mas me escondi próximo ao prédio e passei a noite ali, apenas para ser levado para o castelo no outro dia e levar uma bronca do meu pai. – Ele riu baixinho, antes de levar a mãos até meu queixo, fazendo com eu olhasse seus olhos. – Não sou esse cara que você está pensando.

− Eu sei, Kishan. – Disse afobada, balançando a cabeça. – Me perdoe.

− Só te perdoo quando você explicar o que foi aquilo que você me disse. – Ele abriu um sorriso travesso, acariciando minhas bochechas com os dedos.

− O que? – Aquilo saiu quase como um sussurro.

− Sobre você ser atraída por mim... – A voz de Kishan era inocente, mas eu via a malícia correr por seus olhos de pirata.

− Kishan... – Murmurei, sentindo que agora todo o meu corpo se encontrava quente, olhava para seu rosto apenas porque ele me forçava, pois naquele momento tudo o que eu queria era me afogar.

− Gostei muito de saber disso, bilauta. – Ele sussurrou em meu ouvido, deixando que seus lábios esbarrassem no mesmo. – Muito mesmo.

Suas mãos voaram para meu rosto e eu apertei meus braços contra seu pescoço, fazendo com eu nossas roupas molhadas colassem. A pouca luz do sol agora refletia na água, deixando tudo em um tom alaranjando, deixando a paisagem maravilhosa e naquele momento eu rezava para que nada nos interrompesse.

Nossas respirações estavam misturadas, e eu encarava com intensidade os olhos dourados de Kishan, que estavam um pouco cobertos pelos cabelos negros. Levei meus dedos até sua nuca, e acariciei aquela região, fazendo com que ele abrisse um sorriso, puxando-me para cada vez mais perto.

− Só estava dizendo a verdade, tigre. – Sussurrei, quando tudo o que separava nossos rosto era um fio de ar, e sem mais esperar colei nossos lábios com força, tornando aquele momento tão esperado por mim, realidade.

Eu estava beijando Kishan, eu estava meu príncipe, eu estava beijando meu tigre, e eu queria que aquilo nunca acabasse.

Nunca.

Continua...


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