Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 15
Sobre Livros e Tigres


Notas iniciais do capítulo

Olá gente!
Obrigada pelos comentários e favoritos, estou muito contente!!



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Uma brisa quente entrava pelo quarto, o que me fez jogar aquele quente edredom para longe. Tudo o que eu mais queria era poder ficar o resto da minha vida deitada naquela cama macia dormindo, mas o Sol não estava ajudando muito, pois não importava para que lado eu rolasse, a luz forte continuava incomodando meus olhos.

Passei minhas mãos pelos lençóis finos, procurando pelo meu tigre, mas só encontrei alguns travesseiros espalhados, então, com um resmungo, fiz meus olhos se abrirem enquanto eu me sentava.

Olhei em volta, ainda não acostumada com o novo quarto que tinha ganhado, mas mesmo assim, me arrastei até o gigante banheiro, onde fiquei um bom tempo até conseguir domar meu cabelo.

Era evidente que fazia um dia extremamente quente, então vesti apenas um shorts jeans vinho e uma blusa soltinha meio transparente, sem deixar de lado meus velhos coturnos.

Toda a casa parecia vazia, eu me sentia um tanto deslocada naquele novo lugar, então comecei a procurar desesperadamente pelo senhor Kadam, mas tanto a sala quanto a biblioteca estavam em total silêncio.

– Kishan! Esse café da manhã não é para você! – A voz de Nilima vinha da cozinha, lugar que eu ainda não tinha conhecido, então usei os barulhos vindos de lá para conseguir chegar no amplo cômodo onde portas de vidro levavam para o jardim da casa.

Nilima vestia um avental vermelho com bolinhas, perto das bancadas de mármore que reluziam, ela mexia em alguma coisa que cozinhava no fogão. Senhor Kadam também se encontrava ali, sentado em uma comprida mesa cheia de pães e frutas, lendo um livro de capa grossa.

Ninguém ali tinha percebido minha entrada no recinto e tudo o que eu fazia era procurar por uma bola gigante de pelos negros. Foi quando senti alguma coisa peluda passando pelas minhas pernas e automaticamente, dei um pulo e soltei um gritinho, o que fez com que o senhor Kadam levantasse seus olhos do livro e me encarasse.

Olhei para baixo, já pronta para encontrar o olhar brincalhão de Kishan que andava em volta das minhas pernas.

– Ótimo jeito de dar “bom dia”, tigre. – Bufei, tentando parecer brava.

Passei direto por Kishan, tentando fazer um joguinho com meu tigre. Acenei para Nilima, que enchia um prato com ovos mexidos e um pouco de bacon, e me direcionei para mesa, onde o senhor Kadam me recebeu com um sorriso caloroso.

– Bom dia, Mia. – Ele pousou o livro em cima da mesa. – Dormiu bem?

– Bom dia, senhor Kadam. E sim, dormi muito bem, nunca vi um colchão tão confortável. – Kadam deu risada, enquanto Nilima colocava o prato, que antes ela preparava, na minha frente.

– Espero que goste, Mia. – Ela se sentou de frente para mim. – Tentei seguir a receita da internet, mas não levo jeito para a cozinha americana.

– Oh, não precisava se incomodar, Nilima. – Tirei os talheres que estavam enrolados no guardanapo de pano e levei uma porção generosa de ovos mexidos até a boca. – Estão maravilhosas!

– Quero que se sinta bem aqui, Mia, então qualquer coisa que precisar é só chamar a mim ou a Nilima. – Senhor Kadam disse, com ternura.

– Agraço a tudo que estão fazendo por mim, mesmo. – Sem saber o que fazer, voltei meu olhos para o copo com suco de laranja em minha frente e tomei um gole, antes de sentir algo molhado em minha perna esquerda.

Kishan me encarava com um olhar tristonho nos olhos dourados e ouvi um ronrono baixo quando ele esfregou sua cabeça em minha perna. Ele parecia um gatinho e eu não consegui segurar o riso.

– Ei, não precisa ficar assim, não estou brava com você. – Sussurrei, levando minha mão livre até sua cabeça, deixando um longo carinho entre suas orelhas. – Bom dia para você, Kishan.

Enquanto eu me deliciava com os ovos com bacon fiquei conversando com Nilima e Kadam sobre algumas curiosidades que eu tinha sobre a Índia e ouvi tudo com Kishan esparramado ao meu lado.

– Senhor Kadam... E a maldição? - Senti Kishan se agitar. – Quando vamos começar com... Bem, tudo isso?

Eu não fazia ideia de como se quebrar um maldição. Provavelmente não se encontraria a solução no Google. Mas se acha cada coisa na internet que eu não duvidaria muito.

– Gostaria muito que a senhorita me ajudasse nas pesquisas. – Ele cruza as mãos e me encara. – Venho buscando alguma coisa que nos ajude na busca, e mesmo depois de fazer várias viagens e ler alguns milhares de livros, ainda não achei nada, mas não perdi as esperanças ainda e penso que a senhorita poderia me ajudar.

– Claro! – Disse, um pouco animada demais. – Podemos começar agora mesmo.

– Aprecio a sua determinação, senhorita Campbell. – Kadam deu uma pequena risada. – Mas hoje é o seu primeiro dia aqui e quero que a senhorita vá aproveitar um pouco antes de se trancar na biblioteca comigo. Você poderia levar Mia para nadar, Kishan.

Assim que ouviu a sugestão do senhor Kadam, o tigre negro que cochilava perto dos meus pés, se animou e deu um rugido baixinho que me fez rir.

– Tudo bem. – Levanto-me e começo a seguir Kishan que já estava perto das escadas e pulava alegremente, me esperando. – Obrigada por tudo, mais uma vez, acho que nunca vou conseguir parar de agradecer.

– Vá se divertir, Mia. – Sorri para Kadam e corri até onde meu tigre negro estava.

Kishan se encontrava deitado em minha cama enquanto eu desbravava o meu novo closet em busca de alguma roupa de banho que não me deixasse envergonhada, já que o meu corpo não ajudava muito no quesito beleza.

– O que você acha, Kishan? O biquíni ou o maiô? – Perguntei, levantando minhas duas mãos que seguravam dois cabides. Em um deles se encontrava um biquíni de frente única listrado de branco e preto com alguns enfeites dourados e no outro se encontravam um maiô simples cor de terra.

O tigre mexeu a calda e balançou a cabeça para o lado em que o biquíni estava. Revirei os olhos com a empolgação de Kishan.

– Claro que você ia escolher o biquíni, não sei porque perguntei. – Me virei, pronta para devolver o biquíni. – Mas acho que vou ficar com o maiô.

Quando percebi, o cabide que segurava o maiô já não estava em minhas mãos, me virei, olhando para os lados, quando finalmente encontrei o pedaço de tecido marrom. E ele estava na boca de Kishan.

– Devolva isso! – Gritei, tentando arrancar o que restava da roupa de seu enorme boca, mas Kishan me encarou brincalhão e saiu correndo.

Tentei alcançar o tigre, mas tudo o que consegui foi ficar suada, afinal, ele era um felino que conseguiria correr pro horas sem se cansar e eu era apenas uma garota sem nenhuma coordenação motora.

– Ok! Eu coloco o maldito biquíni! – Berrei, frustrada, indo em direção ao banheiro e ouvindo Kishan rugir animado.

Depois de vestir o maior vestido que encontrei, que conseguisse cobrir aquela roupa de banho que não fazia muito bem seu papel de cobrir meu corpo, peguei um protetor solar de fator alto e fui para os fundos da grande casa, já que Kishan não se encontrava mais em meu quarto.

Atravessei todos os cômodos até finalmente passar pelas grandes portas de correr, sendo cegada pela forte luz do sol. A área da piscina era rodeada de cadeiras e mesas e ao lado se encontrava o ofurô.

Corri os olhos pelo local, procurando pelo meu tigre jogado em algumas das espreguiçadeiras, mas alguma coisa se movimentando perto da piscina me chamou a atenção.

Eu ainda não conseguia acreditar no que estava vendo, aquilo parecia uma cena de filme e eu já devia estar babando. Dentro da piscina, se encontrava Kishan, na sua forma humana; seus cabelos negros estavam molhados e agora caiam sobre o rosto. Ele levou os braços para a borda da piscina e eu vi quando os músculos molhados se tencionaram quando ele se impulsionou para sair da água. Ele vestia um shorts cinza que estava colado nas pernas musculosas e, todo o seu corpo pingava.

Para melhorar a minha situação, que já devia estar a ponto de ter um infarto, Kishan levou as mãos até os cabelos e os jogou para trás, antes de pousar seus olhos dourados em mim. Eu devia estar corada dos pés as cabeças, então desviei meu olhar para um dos vasos que se encontravam ali.

– Espero que tenha vestido o que eu escolhi, bilauta. – Kishan disse, com um sorriso de lado enquanto balançava a cabeça, fazendo a água respingar em meu rosto.

– Não tive outra escolha, já que você praticamente mastigou todo o maiô. – Ironizei, voltando meu olhos para o seu peito definido.

– Ótimo. – Ele sussurrou, aproximando seu rosto do meu, o que fez meu coração acelerar. – Vamos entrar na água. - Kishan pegou minha mão e começou a me arrastar em direção a piscina.

– O que? - Perguntei assustada, tentando me soltar dele. – Não quero entrar na piscina!

Claro que eu não queria ter de tirar aquele vestido que me cobria e acabar ofuscando a beleza do corpo moreno e musculoso de Kishan com a minha palidez nada atraente. Nesse momento, Kishan para de me puxar e se vira, me encarando com a mesma expressão pidona que ele usava na forma de tigre.

– Vamos lá, Mia. Não tenho muito tempo.

Mas é claro que eu não consegui resistir, pois minha capacidade mental tinha ido para o zero enquanto eu encarava descaradamente o abdômen do homem que estava ali na minha frente. E depois de quase explodir de vergonha por ter que receber o olhar malicioso de Kishan, que não desgrudava do meu corpo descoberto, acabei entrando na água gelada.

Descobri que nunca se começa uma guerra de água com Kishan, pois você pode acabar afogada, ou no meu caso, engasgada com água de piscina.

– O que vai acontecer agora, Kishan? - Estava sentada na beirada da piscina, balançando minhas pernas e deixando meus pés baterem na lateral do corpo dele, que se encontrava parado na minha frente.

– Não sei, bilauta, essa coisa de maldição é tão complicada para mim como é para você. – Ele suspirou pesadamente e eu vi uma careta de dor aparecer em seu rosto. Seus minutos como humano já estavam acabando. – Só não queria ter envolvido você nisso tudo.

– Mas eu quero ajudar, quero que você volte a ser humano, quero que você possa ser livre... – Sussurrei, enquanto olhava para minhas mãos enrugadas.

– Você já me ajudou tanto, Mia... – Kishan ia falar mais alguma coisa e eu estava curiosa para saber o que era, mas com um gemido de dor, ele voltou para a sua forma de tigre.

Agora, um tigre enorme estava boiando dentro da piscina, com o pelo negro todo escorrido pelo corpo, o que foi engraçado de se ver. Me levantei e fui buscar uma toalha enquanto via Kishan sair da piscina e se chacoalhar todo, fazendo água espirrar para todos os lados.

– Pensei que gatos não gostassem de se molhar. – Disse, ouvindo ele rugir em protesto.

A tarde tinha se passado bem rápido e quando percebi, já era de noite e eu me encontrava jogada no sofá da grande sala, com Kishan cochilando em meu colo enquanto eu procurava por algum filme no meio aos milhões de canais que aquela televisão tinha.

– Olha, Kishan! Está passando As Aventuras de Pi! Irônico, não? – Dei risada, enquanto meu tigre bufava para o tigre da televisão.

Infelizmente, Kishan acabou pegando no sono quando o filme ainda estava na metade, me deixando sozinha naquela sala escura. Eu estava sem sono, então resolvi me aventurar pela casa, a procura do senhor Kadam.

Eu sabia que provavelmente o encontraria na biblioteca, então quando vi uma luz vinda daquele cômodo, simplesmente entrei, encontrando o velho homem rodeado por um muro de livros.

– Senhor Kadam? - Chamei-o, vendo sua cabeça sobressair a pilha de livros.

– Senhorita Mia, pensei que estivesse vendo filmes com Kishan. – Ele se levantou da poltrona de couro preto e levou alguns livros de volta para as estantes que cobriam todas as paredes da biblioteca.

– Kishan resolveu tirar um cochilo no sofá e eu resolvi fazer companhia para o senhor.... Se o senhor quiser, claro. – Digo, enquanto tentava calcular quantos livros tinham ali, mas cheguei à conclusão de que eram muitos.

– Adoraria que ficasse aqui comigo, Mia. – Me sentei em uma poltrona vermelha de frente para ele. – Gostaria de me ajudar?

– Claro, mas o que exatamente está fazendo? - Pergunto confusa, vendo Kadam sorrir.

– Apenas o de sempre... Procurando alguma referência sobre a maldição em alguns desses velhos livros. – Consegui ver os bolsões roxos em seus olhos.

– O senhor não vai descansar até encontra-la, não é?

– Não, preciso ajudar os príncipes. – Kadam soltou um longo suspiro antes de me entregar um livro de capa verde. – Esse livro fala sobre a influência dos tigres na cultura chinesa, me avise se encontrar algo interessante.

Não sei quanto tempo ficamos ali, só sei que passei por vários livros, que falavam desde os demônios em formas de tigre da mitologia japonesa até os espíritos caçadores da América do Sul, mas nada que se referisse a maldições.

Nilima tinha nos trazido café, que eu acabei engolindo de uma vez só, pois meus olhos já não conseguiam focar as palavras nas páginas amareladas. Senhor Kadam insistiu várias vezes para eu fosse dormir, mas eu tinha esperanças de que talvez eu achasse alguma coisa naqueles livros, e quando vi, eu também já estava rodeada por uma muralha.

Mas acho que não consegui resistir muito ao sono e acabei dormindo debruçada em cima de um livro sobre mitologia nórdica.

– Ela ficou aqui comigo por longas horas e não largou esses livros. – Não conseguia distinguir de quem era aquela voz.

– Vou leva-la para cima.

Senti meu corpo sendo tirado da cadeira e eu tentei forçar meus olhos à abrirem, mas já não tinha controle do meu corpo. Braços fortes me seguravam, e um perfume familiar me atingiu, fazendo com que eu me aconchegasse no peito forte da pessoa.

Fui deitada em cima de algo macio e logo em seguida coberta; uma mão afagou meus cabelos e logo em seguida senti a pessoa depositando um beijo demorado em minha testa.

– Tenho muita sorte de tê-la aqui comigo, bilauta.

Não consegui responder Kishan, pois logo em seguida caí em um sono profundo.

Continua....


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