A Bruxa de Neiphrite escrita por Citrino


Capítulo 8
Masoquistas


Notas iniciais do capítulo

Se eu fumasse enquanto faço esses capítulos a coisa não seria tão doida.
Esse é só mais um capítulo sobre o que o Haydan faz mesmo.
AVISO: ESSE NÃO É UM CAPÍTULO BOM PARA HOMOFÓBICOS!
O CONTEÚDO DESTE CAPÍTULO DEIXA A ENTENDER RELAÇÃO HOMOSSEXUAL.



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Cabelos desgrenhados, olhar centrado escondido pelos óculos, a cascata de cachos escondia os olhos. Alto, magro, levemente curvado, atraente. Era a perdição de Kane, ou pelo menos o que mais o afetou. Estava sozinho, eram os primeiros dias de aula ele estava surpreso por ele já ter amigos e ao mesmo tempo não, como alguém como ele poderia ficar sozinho? Ele era inteligente Kane tinha certeza.

Seus óculos escorriam pelo nariz fino e com cuidado ele o levantava com a ponta dos dedos, ele fazia tudo mais rápido, parecia se atrapalhar com a pressa. Kane havia se interessado por um garoto com rosto levemente feminino, ele não se sentia péssimo, mas parecia distraído, aquilo só havia acontecido uma vez antes, e ele nem mesmo havia levado em consideração, seu próprio melhor amigo havia sido vítima de seus olhares despercebidos, olhares apaixonados, possessivos e libidinosos. " O que eu estou fazendo?" por diversas vezes pensou. Estava repetindo o mesmo erro, mas dessa vez era mais forte, os olhares seguiam aquele estranho como um imã. Kane o procurava sempre entre as pessoas, entre o pátio e corredores, nunca inconscientemente, Kane não era o tipo de pessoa que divagava facilmente isso era apenas uma desculpa para observar as pessoas sem se parecer estranho.

Kane observou aquele garoto durante semanas, Kane era um aluno normal durante as aulas, ninguém nunca o seguia com o olhar, nunca pareciam estar realmente interessados no que ele fazia e ele secretamente queria alguém que ficasse interessado por ele, como ele ficava por aquele estranho.

Era uma aula fácil, rápida, mas ele não queria ver contas, cálculos naquele dia... Kane bufou se jogando dramaticamente na mesa em frente a porta, sentando-se vagarosamente no lugar escolhido.

– Que foi? - Perguntou a garota baixinha de permanente rebelde que sentava a seu lado. Era o meio do ano e aquela era a única pessoa que ele havia decorado o nome. Cloe. Ela o olhava curiosa, se aproximava demais, seus atos eram sem medidas. A única que havia reparado os constantes olhares de Kane para , o estranho.

– Eu não quero ter matemática hoje. - Choramingou afastando o rosto redondo da menina, suas bochechas gordas eram macias e rosadas. Ele as apertou com vigor. Ela não reclamou. Ele estava entediado e Cloe era a pessoa certa para diverti-lo, ela fazia palhaçadas o tempo todo e tinha a mania te coçar a cabeça com um lápis, Kane gostava de observar aquele lápis sumir entre a cabeleira da menina. Ela parecia um filhote de macaco fofo.

– Hm... Professora. - Ele ouviu a sua frente, escapando pela brecha da porta, os olhos centrados um tanto incomodado, tentava se concentrar apenas na professora e não na turma enorme a sua esquerda. Kane levantou seu olhar curioso, parecia surreal que pudesse invoca-lo com o pensamento. O cabelo cacheado escondia suas orelhas, os olhos protegidos pelo aro metálico tinham cílios compridos. - Esses papéis... - Kane não conseguia ouvir o que ele falava, era surreal apenas o fato de ele estar ali. Ele queria falar alguma coisa, interromper aquela conversa, mas sua voz não saía.

A professora se aproximou do garoto de óculos e pegou os papéis de suas mãos, trocaram poucas palavras que Kane não dava a mínima, e logo ele se foi escondendo seu rosto atrás da porta.

– Eu queria falar com ele. - Disse e bateu de leve a cabeça contra a mesa.

– É aquele garoto? - Perguntou Cloe intrigada. - Ele é bonitinho... - Ela parecia levemente envergonhada por falar algo assim. - Por que você não falou com ele? - Ela encarou confusa. Era fácil para alguém sem vergonha como ela fazer as coisas por impulso, ele ainda estava aprendendo isso com ela, aos poucos ia ganhando coragem, ou burrice.

– Tá. - Respondeu obstinado. E como um teste o mesmo entrou novamente pela sala, com novos papéis nas mãos. Kane estava perplexo e sentia seu rosto queimar sem ao menos abrir a boca.

– Fala com ele. - Cloe sussurrou cutucando-o e também observando o garoto, que parecia alheio a seus olhares. Kane balançou a cabeça afirmativamente, levantou levemente o braço e abriu a boca. As palavras não lhe saiam e os movimentos era rígidos. Ele o viu sair do mesmo modo. A professora pegou-lhe os papéis e agradeceu.

– Obrigada Noah. - Sorriu gentilmente. O nome foi gravado automaticamente, Kane não queria ser um stalker, mas se sentia um naquele momento. A professora voltou ao quadro com seus cabelos cor de mel presos a nuca, estava alheia a frustração de Kane.

– Você não falou com ele. - Cloe sussurrou. Kane estava cansado, entediado novamente, era um pouco triste deixar oportunidades passarem. Ele assistiu calmamente, ou desinteressadamente o resto da aula de matemática, quando ouviu a porta a sua frente se abrir. Uma brecha do corredor era tampada por um rosto calmo, e um tanto curioso.

– Se ele vier de novo, eu falo com ele. - Disse esperançoso. Cruzava os dedos para um novo chamado mítico.

– A professora ainda tá aí? - Ele ouviu surgindo pela brecha da porta, ali estava, o encarando Noah, Kane se sentiu explodir por dentro, estava feliz, feliz demais por um desconhecido.

– Sim. - Kane se controlou e sorriu agradavelmente. Noah entrou na sala com os novos papéis. Kane se perguntava até quando isso iria durar, e agradecia pela quantidade ridícula. Noah e a professora trocaram poucas palavras e logo ele estava se retirando novamente.

– Ei! Espera! - Chamou agarrando a ponta do casaco de Juan, ele pareceu confuso, o olhou intrigado. - Você... É otaku, né? - Perguntou se esticando sobre a mesa. A professora o olhava confusa, perplexa.

– Sim, eu sou. - Ele disse contente. Kane soltou seu casaco relaxando e sorrindo, ele não ligava para as reclamações da professora. - Uhn, depois a gente se fala. - Ele sorriu e deu dois leves socos no ombro de Kane.

A aula demorou a passar, mas Kane estava feliz, para ele parecia uma grande conquista. Ele pode vê-lo no intervalo, de perto, sentir seu braço, seu calor. E isso não era estranho, nada surreal. O garoto falava coisas que escapavam pela mente de Kane as vezes, mas ele não ligava, queria estar alegre sempre que ele estivesse alegre. O recreio passou rápido demais, e depois disso Kane apenas o viu pelos corredores novamente, um adeus distante. Eles poderiam se falar agora quando quiserem? Ele não sabia. Foi para casa normalmente, o ônibus parecia vazio, andava devagar, mas não havia engarrafamento. Kane realmente não estava se importando com nada, estava distraído, seus pensamentos vagavam de lado a lado, mas sempre voltavam ao mesmo assunto, Noah. Ele não tinha cara de Noah. E isso era só mais um dos motivos para ele pensar naquele garoto, sem querer ele pensava em todas as possibilidades, em todos os futuros. Kane não acreditava em amor a primeira vista, muito menos amor normal. Para ele aquilo era apenas um atração.

– Vai passar. - Ele disse em voz alta. Sua voz ecoou no ônibus vazio, as janelas estavam fechadas, chuviscava e ele ao menos trouxera um casaco. Ele olhou pela janela, mas o vidro estava embaçado, e ele não conseguia enxergar direito. Algumas pessoas desciam de seus carros, o trânsito estava um caos, as luzes refletiam em todas as janelas. Havia barulho de buzinas, batidas, e gritos. Formavam uma melodia medonha e isso o petrificou.

Kane se levantou e foi até a frontal do ônibus, não havia motorista ou cobrador. Ele estava preso. Estava assustado, então respirando fundo ele pulou a roleta e acionou o botão de abrir a porta. A porta não abriu, então ele tentou de novo. Deveria estar clicando o botão como um louco quando ouviu.

– Você quer mesmo sair Kane? - Ouviu uma voz masculina perguntar. Kane virou-se rapidamente e viu ao fundo do ônibus, um homem de cachos castanhos, olhos cinzas e pele de mesmo tom. Parecia uma versão morta de sua "atração". Ele tinha uma cauda escamosa e chifres que escapavam pelos cachos. Ele se sentiu incomodado.

– Você quer? Quer sair? - Perguntou levantando-se e arrastando a calda.
Kane pulou até a porta da frente e a empurrou com o máximo de sua força, nada. A porta ao menos se mexeu, ele se sentia tremer e enfraquecer.

– Me deixe ir. - Ele implorou, o homem apenas o ignorou.

– Pobre menino, pobre menino... - Sentiu os lábios gélidos em seu ouvido. As mãos escamosas exploravam-lhe o rosto. - Eu nunca me interessei por garotos antes, mas você parece uma menina, e tão angelical... - Kane não conseguia distinguir seu sussurro de seu sibilar. Parecia uma cobra. Sua própria voz poderia ser confundida com o chocalho de uma cascavel.

Aquele sopro gélido e venenoso parecia atrair Kane, ele não tinha escolha, ele não queria lutar contra aquilo. Seu próprio corpo o traía, e aquela criatura com calda parecia saber disso, pois ria sarcasticamente de seus tremores. Kane se rendeu, mordendo o lábio inferior, virando-se para o homem morto. Os olhos vazios pareciam cegos, a pele fria e dura, era com certeza a de um morto. Ele não lutou nem nada, ele queria imaginar que aquele fosse Noah. Seria um pouco melhor, mas era impossível imaginar aquela criatura como Noah. O homem se aproximou devagar, começou por seu pescoço, ele lambia devagar. A língua fria e áspera não era tão ruim, parecia aumentar as sensações de Kane. Lentamente, só para provocá-lo, ele desceu as mãos devagar até que chegasse em seu ponto sensível. Kane gemeu, aquela sensação era ótima, mas ele estava indo rápido demais.

– Você geme alto demais. - A criatura disse calando-lhe com a língua. Kane estava estasiado, aquilo era bom. Bom demais, apenas aqueles toques deixavam suas pernas bambas, ele queria mais, muito mais.

– Mais... - Kane gemeu e puxou a camisa fina daquele homem rasgando-a. Seu peito desnudo era largo, sem escamas, apenas uma leve cicatriz do que pareciam ser unhas. Ele grunhiu.

– Eu não gosto, de garotos. - Sibilou. Suas escamas eriçaram e ele imprensou Kane na porta do ônibus. Kane sentia cada escama como um caco de vidro, ela lhe cortavam, perfuravam, mas ainda sim era bom, ele se sentia irritado por "gostar" daquilo. - Almas precisam de corpos, e eu odeio, masoquistas. Por isso eles só servem como comida, e eu acabo com dois estorvos ao mesmo tempo - Sussurrou no ouvido de Kane, largando nas escadas do ônibus. Assim como ele veio, ele sumiu. O garoto ficou ali parado, os ferimentos começavam a arder aos poucos, não parecia nada, mas então começaram a queimar.

Era como se o houvesse jogado água fervendo. Kane começou a se desesperar, o ar parecia sumir dentro do ônibus. Era o verdadeiro inferno. A chuva do lado de fora aumentava, seu corpo queimava, e não havia uma gota de água ali dentro. Ele chorou, o que mais lhe restava? Ele chorou até que suas lágrimas se esgotassem, elas ardiam assim como seu corpo e queimavam seus olhos. Não havia dor maior. Então ele os viu. O que ele havia pensado serem pessoas, aquelas sombras negras que se amontoavam ao redor do ônibus, a camada negra que cobria carros e piso não parecia ter fim. Eram criaturas estranhas deformadas, nunca com uma forma exata. Eles pularam em cima do ônibus, quebravam os vidros e arranhavam o metal. Kanee tentou se esconder em baixo de um banco, mas isso nunca adiantaria e até mesmo ele sabia disso. Ele estava rezando fervorosamente quando ouviu um deles dizer com a mesma voz que seu pai dizia:

– Sua raça vai para o inferno. - E então gritou. Cada membros de seu corpo estava sendo puxado por mãos negras, eles estavam famintos, bebiam até mesmo suas lágrimas. - Está tudo bem... - Um deles sussurrou.
As lágrimas de Kane afogavam-se junto com suas lamúrias. Não havia mais esperança.

– Só prometa que não vai doer. - Ele disse segurando as lágrimas.

– Vamos ser gentis. - Eles sibilaram em uníssono, aquelas vozes arrepiaram Kane e quebraram-lhe a alma. Eles o puxaram estraçalhando-lhe. - Foi bom não foi? - Um deles perguntou sobre os restos ensaguentados.


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Notas finais do capítulo

To lerdona, 24hrs que não durmo de novo. .-.
Se tiver erros por favor me avisem que eu não revisei.



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