“Bem, creio que agora, você, caro leitor, consegue sentir essa amabilidade e carinho que emanam desse lugar que um dia já teve marcas do sofrimento e ódio. Esse, é o renascimento do glorioso clã Uchiha, um renascimento ainda vai ter muito mais coisas boas do que ruins para se contar.”

Sakura preparava o café da manhã rapidamente, o cheiro de sua alquimia culinária se espalhava pela casa, drogando todos os residentes dela. A rosada estava sozinha na cozinha, já que Miku fora trocar de roupa, preparando-se para o empolgante primeiro dia de aula da academia ninja. Sasuke surgiu antes da menininha e se aproveitou da situação para tirar uma casquinha da esposa, a abraçando por trás e afundando o rosto no pescoço dela, sentindo o delicioso perfume que seu corpo exalava.

Antes que a Uchiha tivesse tempo de ralhar com o marido para que ele a soltasse antes que a garotinha chegasse, a própria surgiu saltitando na cozinha e tomando seu lugar a mesa e mesmo contra a vontade, o homem se desgrudou da esposa. A menininha estava mesmo empolgada, não agüentando ficar parada, ora batia os pezinhos que nem alcançavam o chão direito ou brincava com os talheres, até o moreno ver e tirar os objetos cortantes das mãos da filha dele, evitando algum possível acidente.

—Pelo visto você está bem empolgada, hein.— Disse o homem, sorrindo para a moreninha.

—Sim, eu estou papai!—Exclamou Miku, sorridente, apoiando a cabeça nas mãozinhas, em um gesto genuinamente fofo.—Mas eu também estou com fome...— Murmurou a menina, fazendo uma careta infantil e engraçada que fez com que Sasuke risse alto.

—Pronto, Miku, aqui está o seu café da manhã.—Disse Sakura colocando a omelete fumegante na frente da garotinha que sentiu água na boca e não hesitou a começar a comer.

—Coma mais devagar senão vai acabar queimando a língua ou vai ficar com dor de barriga.—Avisou a rosada enquanto se sentava a mesa também, trazendo o prato de Sasuke e o próprio prato.

—Mas nós temos que nos apressar senão vamos nos atrasar, mamãe!—Insistiu a moreninha, após engolir a comida.

—Sua mãe tem razão, Miku.—Concordou o homem, gesticulando com o garfo.—Nós ainda temos bastante tempo, filha. Fique tranqüila.—Assegurou o moreno, olhando no relógio da parede da cozinha.

Depois de ouvir seus pais falando aquilo, Miku teve que segurar a sua ansiedade, e mesmo se contendo, não desviava o olhar do relógio, rezando para que saíssem logo de casa. Poucos segundos depois, a casa foi invadida por Itachi, que já chegou sorrindo e cumprimentando a sobrinha, a pegando no colo sem se importar em interromper seu café da manhã.

—Tio!—Exclamou a garotinha, agarrando-se ao pescoço do moreno, derretendo ainda mais o coração do tio coruja.

Depois de colocá-la no chão, o homem se abaixou, ficando na mesma altura que a menininha e estreitou o olhar no rosto redondo da criança, como se estivesse vendo algo de errado na face dela.

—O que foi, tio?—Perguntou, passando a mãozinha pela bochecha, achando que havia se sujado com a omelete que Sakura preparara há poucos instantes.

—Nada não, é que eu estou vendo algo aqui na sua orelha...—Murmurou passando a mão pela orelha de Miku, e tirou de trás, um mediano e colorido pirulito que fez com que a mesma quase caísse para trás de tanta surpresa.

—Como o senhor fez isso?!—Exclamou a garotinha, encantada com aquele “truque de mágica” do moreno, que riu diante da surpresa da menininha.

—Não posso contar senão vai perder toda graça.— Falou Itachi, se levantando e ajeitando o cabelo com um leve movimento de cabeça.

—Um dia você ensina a fazer mágica?—Indagou a criança, fazendo com as mãos, um sinal de súplica, uma cena genuinamente engraçada.

—Quando você estiver assim do meu tamanho, eu te ensino a arte da magia.— Concordou o moreno, para o deleite da pequena, que nem sabia que nada daqueles truques que o seu tio vivia fazendo era magia, e sim algo mais puxado para o ninjtsu, já que a velocidade do homem somada com a ingenuidade da garotinha, rendia em todo esse “espetáculo.”.— Tome, é para você.

Rapidamente, a menininha sorriu, pegou o pirulito e olhou para o doce como se fosse seu maior tesouro e estava tentando tirar a embalagem, sem muito sucesso, tendo que apelar pela ajuda da mãe, que ao invés de abrir, segurou e disse:

—Só depois de terminar seu café da manhã.

Mesmo contra vontade, a moreninha se sentou a mesa para acabar de comer a omelete que a mãe prepara.

—Você não deveria mimá-la com tantos doces, Itachi.— Disse Sasuke, mas Itachi apenas deu de ombros, sem se importar.

Para a felicidade de Miku, a refeição se passou rapidamente e logo, os quatro estavam saindo do Complexo Uchiha, com a moreninha saltitando na frente, com uma mochila azul nas costas, não contendo a animação. A Academia Ninja estava lotada, todos os pais civis e ninjas estavam ali com seus respectivos filhos e filhas, ouvindo atentamente, o discurso do diretor Iruka, que apesar de começar a ficar com os cabelos grisalhos, sua paixão por lecionar ainda continuava intacta.

O discurso terminou em poucos minutos e todos ovacionaram o diretor da escola, principalmente um loiro, que estava se empolgando, chegando a assobiar para o homem. Sasuke revirou os olhos ao ver que se tratava de Naruto e antes que pudesse se esconder do loiro, ele o achou e foi até eles, acenando e atravessando a multidão. Quando chegou, abraçou o moreno com força, estalando alguns ossos do Uchiha.

—Há quanto tempo, Teme!—Berrou o Uzumaki, atraindo a atenção de algumas pessoas ao redor.

Hinata estendeu a mão para tocar-lhe o ombro com um gesto delicado, tentando conter a gritaria do esposo para não irritar os outros, mas não foi preciso, ninguém estava incomodado. Na verdade, a presença dele era quase magnética e positiva, como se tudo ficasse bem com ele por perto, e contribuía também, o fato das pessoas o admirarem profundamente. Afinal, ele era o Hokage, mesmo que Naruto gritasse a noite toda, as pessoas não estariam incomodadas.

Não por serem puxa-sacos e sim por realmente reconhecerem a coragem e nobreza do loiro por baixo de toda aquela alegria infantil e contagiante.

—Miku-chan, como você está grande!—Exclamou o Uzumaki, pegando a menininha no colo, e Itachi não pode deixar de sentir um leve ciúme de sua amada sobrinha.

—Naruto-san!—Exclamou a criança abraçando-o com carinho, sorrindo.

—Nhá, não precisa de tanta formalidade Miku-chan, já disse que você pode me chamar de “Naruto-chan”...—Disse o Hokage, colocando-a novamente no chão.

—Ok, Naruto-chan!—Falou Miku, olhando ao redor, se abaixando, procurando uma pessoa em especial, o que não saiu despercebido por Hinata, que sorriu maternalmente e disse:

—Querida, Arata já entrou na Academia e acho que é melhor você também entrar, senão vai acabar se atrasando para as aulas...

A moreninha corou ao ver que haviam notado quem ela estava procurando e morrendo de vergonha aproveitou a oportunidade para sair dali e para encontrar seu amiguinho dentro da Academia. Vendo que a menininha havia entrado em segurança na Academia, Sakura se viu livre para colocar o papo em dia com a Uzumaki sem se preocupar com a filha.

—Como está indo com o Arata-kun?—Perguntou a rosada, feliz ao ver que a morena sorriu de volta.

—Está sendo maravilhoso!—Falou a morena, colocando o cabelo por detrás da orelha.— Confesso que no começo eu estava temerosa pela adaptação dele conosco, sabe como é né, adotar uma criança não é como criar um cachorrinho...— A Uchiha assentiu, já havia passado por sentimento semelhante, a hesitação e o medo por Miku não conseguir se adaptar a eles.—Mas o Naruto é o Naruto né, ele simplesmente se apaixonou por essa criança e é visivelmente recíproco. Ás vezes, acho que ele é a criança, já que consegue ser tão ou mais infantil que o próprio Arata, o que chega a ser engraçado já que meu filho é bem tranqüilo, bem mais que o pai na verdade...

As duas riram casualmente, fazia muito tempo que não se viam. Na verdade, a vida dos Uzumaki havia mudado muito nos últimos meses, e os problemas os deixaram um pouco excluídos de todos os compromissos sociais. Para começar, o namoro de Hinata e Naruto nunca foi bem aceito por Hiashi, mas o mesmo quase a excomungou do clã quando soube que sua filha estava grávida do garoto-raposa. Ainda não sabemos se tal ataque de fúria do líder do clã dos Hyuuga foi por que a filha estava grávida do garoto que tanto odiava ou pelo fato dela estar grávida antes de algum casório já que a família é tão tradicionalista.

Talvez, seja um pouco dos dois... Mas o que importa é que depois de toda polêmica que rodou em cima disso, tanto para com loiro, por ele ser Hokage, como para a morena, por ela ser a princesa dos Hyuuga, os dois se casaram o mais rápido possível e quem quer que fizesse qualquer fofoquinha maldosa, teria que se ver com o Uzumaki. Quando os dois conseguiram se estabilizar financeiramente, os dois se encantaram com um tímido órfão chamado Arata, que realmente parecia ser filhos dos dois, tendo os mesmos cabelos loiros e desgrenhados do homem e o temperamento tranqüilo da mulher.

—Pelo menos sei que Arata é um garoto responsável para cuidar do irmãozinho caçula...—Brincou Hinata, acariciando o ventre volumoso, já aparente mesmo no vestido largo que a morena usava.

Sakura olhou para a barriga da amiga, encantada com a maternidade e não deixou de falar o quanto ela estava linda grávida, o que fez com que a Uzumaki corasse um pouco com o elogio repentino e tão sincero. Vendo que já estavam ali tagarelando por muito tempo, Naruto, como Hokage, deveria voltar para seus compromissos e responsabilidades, para desanimo de todos, até de Sasuke, que por mais que não deixasse transparecer, gostava de conversar com o loiro.

—Ah, faz assim, eu e a Hinata ainda temos muito que conversar. Venha lá em casa no Sábado, podemos fazer um churrasco.—Propôs a rosada e o loiro sorriu, animado com a ideia de poder passar a tarde de Sábado comendo, bebendo e se divertindo com os amigos.—Concorda, Sasuke?

O moreno suspirou profundamente, fechando os olhos e contendo a vontade de chamar a esposa de irritante, ele odiava quando a Uchiha falava “Concorda, Uchiha?” com um sorrisinho malicioso, do tipo que desmontava qualquer contra-argumento ou mau-humor. E no fundo, o homem até não achava má ideia estrear a churrasqueira no Sábado, principalmente com amigos tão queridos.

—Leve a bebida, Dobe.—Disse ele por fim, dando o seu típico sorrisinho de lado para logo depois ser abraçado fortemente pelo Hokage.

—Bem, então até Sábado.—Disse Hinata depois de se despedir de todos, indo embora com Naruto.

Quando já era tardezinha, os dois Uchihas foram buscar a empolgada garotinha que parecia estar ligada no 220 volts. Ela tagarelava muito, mais até que o Naruto, e o homem teve que se esforçar para prestar atenção em tudo, tentando não se perder no meio de tanta informação, enquanto a mulher ria e a incentivava a falar sobre o primeiro dia da academia.

—Eu vou me tornar uma ninja bem mais forte que a mamãe e bem mais habilidosa do que o papai!—Exclamou a menininha ao chegar em casa, toda pomposa, arrancando um sorriso orgulhoso do pai e a fala encorajadora da mãe:

—É, eu sei que vai.