The number 20. escrita por Lana


Capítulo 13
Capítulo treze.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Ao final da noite, sobravam poucas pessoas. Elas se dissiparam aos poucos e por fim só a família estava em casa. Rosalie passou por seu quarto para pegar sua bolsa – mandara uma mensagem a Emmett concordando em encontra-lo e estava no caminho para o bar onde se veriam.

— Rosalie! – ela ouviu a mãe chamar quando se preparava para descer as escadas. Ela estava dentro de seu quarto, a porta aberta revelando a figura esbelta na beirada da cama.

— Mãe. – a loura disse indo até a porta.

— Nós nem pudemos conversar hoje. – ela falou lentamente, a voz um pouco grogue, uma taça grande de vinho na mão. – Você nem me contou como está em Los Angeles. – Rosalie franziu os olhos, observando a mãe com cuidado.

— Você está bêbada? – perguntou, um pouco de incredulidade escapulindo para a voz.

— Não. – ela respondeu de forma austera. Rosalie reprimiu um sorriso.

— Sei. Por que não se deita?

— Como está o seu trabalho? – Esme insistiu, bebendo outro gole.

— Está ótimo. Amanhã te conto todos os detalhes. – ela prometeu.

— E seu pai? – perguntou de forma vacilante enquanto brincava com a borda da taça.

Os olhos da mulher mais velha estavam muito grandes e Rosalie hesitou, lembrando-se da conversa que havia tido com o pai e observando a mãe sob uma perspectiva totalmente nova.

— Ele também está bem. – respondeu por fim, entrando no quarto e indo para o lado da mãe.

— E a... aquela menina com quem ele mora? – a voz saiu mal humorada e relutante. Rosalie franziu os lábios. A mãe claramente não aprovava o relacionamento de Carlisle com uma mulher mais jovem.

— Julia está ótima. – murmurou enquanto puxava o edredom estendido sobre a cama da mãe. – Por que não se deita aqui um pouco?

Esme pareceu relutante, mas se enfiou sob o cobertor depois de colocar a taça sobre a mesinha ao lado da cama. Rosalie a observou com uma recém-descoberta simpatia pela situação da mãe, especialmente porque Esme estava embriagada e só Deus sabia quantos momentos constrangedores ela mesma já havia tido embriagada.

— E parece que ele a ama? – perguntou em voz baixa enquanto Rosalie a cobria. Rosalie hesitou, um incômodo no estômago. De repente, sentiu muito pesar pela mãe.

— Eu não sei, mamãe. – mentiu com um sorriso curto, sentando-se ao lado dela.

— Você é a cara do seu pai, sabia? – Esme se lamentou, a voz triste.

Rosalie se encolheu, sem saber o que falar. Ela realmente era a filha mais parecida com Carlisle. Enquanto Edward puxara o cabelo meio avermelhado da mãe, Rosalie tinha o mesmo tom dourado brilhante do pai. Tinha os mesmos olhos do pai e já ouvira muito que até seus jeitos se pareciam.

— Eu sinto a falta do seu pai. – ela suspirou, parecendo muito longe dali.

— Não sabia que se sentia assim. – a mais jovem comentou, colocando uma das mãos sobre a mão da mãe. Esme olhou a mão da filha e virou sua palma para cima, para apertá-la.

— Ele sente a minha? – ela murmurou, sem encarar Rosalie nos olhos. A loura sentiu a garganta se apertar. Jamais sentira tanta pena da mãe. Entrou debaixo do cobertor com ela e a abraçou.

— Eu não sei mamãe, imagino que sim? – não queria afirmar, mas não queria dizer que não. – Ele me contou que vocês eram melhores amigos. Eu nunca soube disso. – Esme deu um sorriso triste.

— Éramos mesmo. Seu pai era a melhor pessoa que já conheci. – ela fungou.

— Imagino que isso tenha tornado tudo mais difícil para você depois do divórcio. – a mãe assentiu.

— É.

— Se eram tão amigos, por que se separaram, mamãe? – Rosalie perguntou. Ela sabia a versão geral de que eles estavam brigando muito e não pareciam se dar bem mais ou se amar, mas aquela versão não parecia mais tão clara quando via a mãe naquele estado.

— Pessoas mudam. – foi toda a resposta que teve e Esme deu de ombros levemente. Seus olhos estavam pesados e Rosalie acariciou a cabeça da mãe.

— Mas memórias ficam. – Rosalie murmurou de volta, com o coração apertado. Teve a impressão de ouvir a mãe suspirar.

— É. – ela repetiu.

Rosalie esperou até que Esme dormisse, o que não demorou muito para acontecer. Então saiu silenciosamente e seguiu até o bar que encontraria Emmett. Ela ainda usava a roupa que escolhera para o aniversário, um vestido azul escuro de costas nuas e saia longa, então quando chegou ao bar Emmett a recebeu com um olhar surpreso.

— Uau, você está linda. Se soubesse que você viria tão arrumada teria trocado de roupa antes de sair de casa. – disse coçando a cabeça e Rosalie revirou os olhos.

— Não tive paciência para me trocar. – deu de ombros e eles seguiram para o balcão, onde se sentaram em banquetas e pediram duas cervejas.

— Então. – ele começou quando as bebidas chegaram. – Como foi a festa da dona Esme?

— Foi boa. Comida invocada, open bar, família inconveniente, toda aquela porcaria que você já conhece. – ela sorriu. – Mas acabei tendo uma revelação meio inesperada.

— O que?

— Cruzei com a minha mãe bêbada e acho que ela ainda ama o meu pai. Quer dizer, ama mesmo, ativamente, no presente. – ela comentou bebendo um longo gole da cerveja.

— Eles se divorciaram há muito tempo? – Emmett perguntou.

— Bastante. – assentiu, tentando se lembrar com exatidão. – Mais de dez anos. Eu tinha uns doze anos, acho.

— Puxa. – ele ergueu as sobrancelhas.

— Pode imaginar amar alguém tanto tempo depois que acabou? E ainda sofrer por aquilo? – ela murmurou, quase horrorizada.

— Você acha que ele a ama?

— Não da mesma forma. – negou, brincando com a garrafa nas mãos. – Acho que ele a ama, mas não desse jeito. Ele a conhece bem demais para não amá-la. – expirou um riso. – Mas ele ama a Julia, é muito feliz com ela.

— Sua mãe deve estar sofrendo há muito tempo. – Emmett observou dando um gole e Rosalie assentiu.

— Acho que essa pode ter sido a razão dela sempre ter sido tão ríspida comigo. Eu sou a cara do meu pai. – comentou arrancando o rótulo agora.

— Talvez fosse difícil para ela. – ele concordou e Rosalie assentiu, terminando o conteúdo da garrafa em sua mão.

Um silêncio calmo se instalou enquanto Rosalie contemplava sua relação familiar desde que os pais se separaram. Nunca gastara muito tempo pensando sobre a separação dos pais ou como aquilo os fizera se sentir, especialmente porque quando se separaram ela estava apenas feliz que as brigas e a tensão tivesse acabado. Jamais imaginara que a separação os tivesse deixado tão mal ou que ainda houvesse amor depois que partiram para lados diferentes.

Mas claramente estava enganada. Eles ainda tinham sentimentos em relação ao outro e a mãe parecia ainda apaixonada pelo ex-marido. Perguntou-se se aquela era a razão pela falta de namorados da mãe desde o divórcio. Sua ponderação foi interrompida quando Emmett falou novamente.

— Eu recebi uma proposta. – ela virou-se para ele, o cara atrás do bar chegando no exato momento com duas novas garrafas para eles. Rosalie agradeceu e voltou-se para Emmett novamente.

— É mesmo? Parabéns, Emm! – sorriu em genuína felicidade por ele. Sabia o quanto ele queria aquilo, o quanto tentara desde que o conhecera. Ele deu um sorriso pequeno.

— Não é exatamente no que eu esperava. – ele encolheu um pouco os ombros. – Eu recebi um convite para ser repórter em Chicago.

— Uau. Eu não sabia que você tinha se candidatado a algo assim. – ela ergueu um pouco as sobrancelhas.

— Não me inscrevi exatamente. Eu não sei direito como eles chegaram a me conhecer. – ele deu de ombros. – Mas o caso é: eu não estou conseguindo papéis. Não posso me enganar e falar que é uma fase ruim, porque toda minha carreira é uma fase ruim.

— Emm, não é assim. – ela o contradisse.

— É sim. Estou tentando isso há muito tempo e só consegui umas pontas em uns quatro filmes. Acho que ninguém espera ser um fracasso naquilo que se almeja, mas ás vezes nós somos. – ele suspirou. – Sou um fracasso como ator. – sorriu com resignação. – Mas acho que posso não ser um fracasso como repórter. Talvez.

— Você não é um fracasso. – ela negou, balançando a cabeça. – Mas se você tem se sentido assim, talvez seja bom investir em outra direção e ver o que te espera, espairecer um pouco.

— Acho... Acho que pode ser bom. – disse por fim, suspirando. – É estranho fechar um capítulo da sua vida que sequer começou direito. – sussurrou e Rosalie assentiu, levando a frase mais a fundo do que pretendia.

— Alguns capítulos apenas foram feitos para ser curtos. – respondeu por fim, a voz baixa e o olhar sobre o homem grande a seu lado.

Ele parecia muito casual, com um jeans e uma camiseta de um time da NBA, e ainda assim Rosalie podia jurar que era o homem mais atraente que já vira. Era ridículo e ela pressionou as mãos com força na garrafa quando uma vontade incontrolável de acariciar o rosto de olhar triste dele a atacou.

Ele continuou a olhar para ela, sentindo-se mais arrependido do que qualquer coisa. Estava apaixonado por ela e quando tivera a chance de começar algo, realmente começar algo com ela... tudo que conseguira sentir era o medo e a dor que a mulher que o levara a mudar de país o causara.

É claro que ela não realmente o fizera sair do país, ele já planejava aquilo por algum tempo, mas as coisas que fizera realmente haviam sido o maior incentivo para ele encher suas malas e correr de lá. Não conseguia contar aquilo para Rosalie, e não achava que faria qualquer diferença. Não parecia haver desculpas suficientes no mundo para que ela esquecesse o desastroso episódio e o perdoasse.

Mas enquanto ambos estavam ali, numa calma familiar e agradável, tudo que ele queria fazer era se desculpar novamente e implorar a ela que lhe desse uma chance. Eles estavam sentados lado a lado, muito próximos, e os olhos não se desviavam. Emmett se sentiu quase impelido quando abaixou o rosto um pouco, movendo-se lentamente na direção da mulher à sua frente.

Ela entreabriu os lábios, a respiração acelerada, mas não se moveu. Aquilo serviu como incentivo para Emmett, levando-o a levar o rosto para ainda mais perto do dela. Já podia sentir a respiração dela contra seu rosto, ansiando de novo ter aqueles lábios nos seus quando a ouviu inspirar com força.

— Eu não posso. – ela sussurrou, virando o rosto para o lado. Ele colocou uma das grandes mãos ao redor do rosto dela, se afastando um pouco para dar um espaço entre eles, mas fazendo-a olhar para ele novamente.

Cariño, claro que pode. – murmurou com veemência e ela negou com a cabeça.

— Me desculpe. Mas não estou disposta a magoar o Nate e jogar meu relacionamento fora. – Emmett se afastou, levando a mão consigo como se tivesse recebido uma bofetada. Observou-a por alguns momentos, o coração se retorcendo de forma peculiar e ele suspirou, dando um sorriso pequeno e triste.

— Eu te desculpo por ser tão maravilhosa que um homem prefere passar a vida no inferno só para ficar um pouco ao seu lado. – murmurou por fim. – Vou respeitar isso e ser apenas seu amigo, se é o que realmente quer. Não quero uma vida sem você nela, mesmo que não seja nos termos que eu gostaria.

Rosalie umedeceu os lábios, tentando controlar o corpo e a mente e colocar-se em ordem novamente. Deu um sorriso para Emmett e então se voltou para a cerveja na sua frente.

Passaram o resto da noite conversando enquanto Rosalie contava o que fizera nos últimos meses, sobre os lugares preferidos, o emprego e a casa do pai, sobre as aulas de yoga e os restaurantes que aprendera a gostar. Não falara sobre Nate e Emmett não perguntou, o que foi agradável. Ele contou sobre seus meses recentes também, embora não houvesse nada de muito novo.

Rosalie o incentivou a seguir a nova empreitada em Chicago, afinal que mal poderia fazer? Ele sempre poderia voltar para Nova York e tentar novamente se sentisse que era o que queria, mas enquanto se sentia exaurido pelos nãos, por que não tentar um sim diferente? Afinal, ela tentara aquilo em LA e estava se saindo muito bem.

Durante aquela noite, Rosalie se sentiu como nos velhos tempos, como se na verdade estivesse no chão de seu apartamento bebendo cervejas baratas com Emmett ao seu lado enquanto viam alguma bobagem na televisão. O sentimento aconchegou seu coração e ela ficou feliz por ter Emmett a seu lado.

Depois de algumas horas, decidiram-se por ir, já que não havia mais ninguém no bar e o homem que os atendia parecia bastante ansioso para encontrar uma cama e dormir.

— Então, vejo você de novo antes de você ir? – ele perguntou.

— Acho que não. Amanhã sou toda da família e parto no domingo ao meio dia. – se encolheu. – A viagem é enorme e eu trabalho na segunda. – ele assentiu.

— Tudo bem. Bom, tenha uma boa viagem então. – ele disse solenemente e ela sorriu, dando um abraço nele.

— Obrigada, Emm. – disse enquanto apertava os braços em volta do pescoço dele. Emmett a envolveu com os braços largos e por um segundo ela se sentiu se perder dentro do abraço, mas ele a soltou, afastando-se rápido demais. – Muita sorte em Chicago. Me deixe por dentro de todos os detalhes e me avise quando for.

— Claro. Você também. – ele pediu com um sorriso. – Eu me diverti muito hoje.

— Eu também. Não sabia quanta falta estava sentindo disso. – ele expirou uma risada.

— Certo? – concordou e ela sorriu.

— Então, até qualquer hora. Sério, me mande mensagens. Estou sempre perto do celular. – avisou enquanto chamava um táxi e Emmett sorriu novamente.

— Pode deixar. – disse enquanto o táxi parava.

Rosalie voltou o olhar para ele e então, hesitante, lançou-se em seus braços novamente, dando um abraço rápido e um beijo em sua bochecha antes de entrar no táxi e acenar. Ele observou o táxi se afastar e só depois de alguns segundo começou a caminhar em direção ao seu apartamento.

Rosalie entrou muito silenciosamente na casa da mãe e tirou os sapatos para subir até seu quarto. Sentiu-se com dezesseis anos, quando entrava escondida depois de festas que prometera chegar em um horário e realmente chegava em outro – muito, muito mais tarde. Ao passar pelo quarto da mãe deu uma olhada pela fresta da porta e a encontrou num sono profundo.

Quando acordou na manhã seguinte tinha uma leve dor de cabeça e gemeu encolhendo-se quando o ouviu o barulho alto soar em volta de si. Alguém estava ouvindo um rock irritante numa altura muito inconveniente da manhã. Levantou-se lentamente, pronta para reclamar, quando descobriu que na verdade já quase não era manhã e apressou-se ao banheiro, pronta para virar uma adulta apresentável e descer para encontrar a família.

O rock vinha do quarto de Edward, que também estava ficando ali enquanto estava na cidade, e ele estava estirado na cama com o celular na mão quando Rosalie o encontrou.

— Você não perde péssimos hábitos de me acordar de maneira indelicada quando estou de ressaca. – ela resmungou entrando no quarto e sentando-se na cadeira antiga que ficava de frente para a escrivaninha. – Parece que tenho dezesseis anos outra vez. – o irmão mais velho sorriu.

— De que vale voltar para casa se não te incomodar nem um pouquinho? – a loura revirou os olhos e gemeu em desagrado antes de diminuir o volume da música. – Para onde você fugiu ontem à noite?

— Fui me encontrar com o Emmett em um bar. – Edward levantou-se, sentando na cama para olhar para a irmã mais nova.

— Você tem certeza sobre essa coisa do Emmett? – perguntou de forma cautelosa.

— Tenho. – ela respondeu de forma hesitante. – Não quero ele fora da minha vida, Ed. Ele se tornou um dos meus amigos mais próximos e não consigo visualizar uma rotina onde não sei nada sobre ele. – ela se encolheu minimamente. – Sei que fiz isso desde que fui para LA e odiei. Não quero continuar assim.

— E você vai saber ter ele na sua vida todo esse tempo apenas como amigo?

— Talvez nem dê certo e talvez a gente apenas se afaste. – deu de ombros, sem de fato responder o que o irmão perguntara. – Mas agora, por enquanto, não quero perde-lo. Preciso tentar.

— Certo. Isso é tão estranho. Nunca vi ninguém curar um coração partido mantendo a pessoa por perto. – ele avisou e Rosalie revirou os olhos.

— Emmett não partiu meu coração. – Edward a encarou com uma expressão cética. – ... Tanto assim. Eu nunca tinha me apaixonado por um melhor amigo. É horrível.

— Realmente. Mas e o Nate, qual é a dele?

— Eu gosto muito do Nate e ele é incrível. Acho que pode dar certo. – ela confessou. – Acho que ele realmente pode gostar de mim e eu dele e isso ir para frente.

— Acho que você vai se arrepender disso. – Edward disse por fim.

— Por quê? – ela perguntou indignada. – Você nem conhece o Nate hoje em dia!

— Não do Nate, o Nate parece saudável. – ele deu de ombros. – O que é raro se tratando de você.  E se ele era legal o suficiente para ser meu amigo quando eu era criança, ainda deve ser legal agora. – Rosalie contara a Edward sobre a história primitiva que eles dividiam, é claro, e ele se divertiu com a perspectiva.

— Claro, porque você era tão legal quando era criança. – ela revirou os olhos e o irmão sorriu.

— O garoto mais legal de todos. – inferiu confiante. – Mas estou falando sobre o Emmett. Acho que vai se arrepender, e manter contato com ele só fará as coisas mais difíceis para você.

— Não vai ser tanto contato assim, afinal, ele vai se mudar pro Illinois. – ela revirou os olhos, antes de brevemente o informar sobre a mudança de Emmett. – Nem mesmo vou vê-lo mais quando vier aqui visitar.

— Então por que está insistindo nessa coisa de amizade? – Edward perguntou, genuinamente confuso. Rosalie suspirou, procurando uma maneira de atrasar a resposta.

— Eu me acostumei demais à presença dele, a conversar com ele e a tê-lo por perto e eu adoro o Emmett. – falou rapidamente. – Foi muito ruim me mudar e simplesmente não ter notícia dele, por mais que fosse exatamente o que eu achei que precisasse. Talvez essa necessidade passe com o tempo, provavelmente vai. – murmurou, a voz insegura. – Mas por enquanto... Não quero deixar de ter o Emmett ao meu lado.

Edward ainda não entendia, o que Rosalie achou que poderia ser compreensível, porque até ela tinha certa dificuldade em entender aquele sentimento, mas não importava. Já estava feito e ela poderia acompanhar os passos de Emmett e torcer para que eles fossem de sucesso – mesmo que de longe.

Passou o dia com a família, todos conversando sobre coisas diversas, comendo e bebendo – exceto Alice, que ostentava orgulhosa uma barriga grande e bem protegida. Rosalie gostou de aproveitar o dia ao redor deles e perguntava-se se Esme se lembrava do que acontecera na noite anterior, afinal não havia mencionado nada e nem sequer lançado um olhar minimamente embaraçado na direção dela, o que a mãe muito provavelmente faria. Então ou ela não se lembrava ou era uma ótima atriz, e Rosalie imaginou se seria a segunda opção, e Esme estava há tanto tempo fingindo não estar apaixonada por Carlisle que a atuação simplesmente fluía para tudo que o envolvia.

Ela voltou para Los Angeles, então, e seguiu a vida como planejara. Escolheu seu apartamento e o encheu com seus antigos móveis, comprando uma coisa ou outra que precisaria para complementar. Gastou muitas horas comprando decorações online com a ajuda de Alice e muitas outras várias horas discutindo com a irmã mais nova sobre a decoração e as roupinhas do bebê que chegaria dentro de poucos meses.

Os meses se passaram muito rapidamente. Ela criara o hábito de conversar com Emmett, sempre trocando mensagens, vendo as fotos que ele postava em redes sociais, acompanhando a vida que ele criava em Chicago. Ele começou fazendo pequenas reportagens para um canal local e, segundo as observações de Rosalie, estava sendo muito bem recebido.

Ela voltou à Nova York quando Alice teve bebê. O pai a acompanhou daquela vez e até mesmo Nate foi com eles na viagem, aproveitando a oportunidade para também visitar os pais. Jasper estava em êxtase com o filho recém-nascido, já Alice parecia mais cansada do que nunca. Jasper havia contratado uma babá para ajudar, mas Alice decidira demitir a mulher e insistia em fazer a maioria das coisas sozinha, alegando querer aproveitar a maternidade ao máximo.

— Dou um mês para a Alice desistir desse negócio de aproveitar a maternidade. – Edward cochichou com um sorriso. Rosalie riu baixinho.

— Um mês? Olhe para a cara dela. Alice vai sair gritando socorro daqui uma semana. – ela argumentou.

— Eu posso escutar vocês! – a baixinha disse numa voz muito indignada. – Por que vocês não acreditam na minha capacidade? Esse garoto saiu de dentro de mim, eu empurrei esse neném para fora! É claro que posso cuidar dele sozinha.

Ela desistira, é claro. Cerca de duas semanas depois do nascimento do filho, ela juntou os pés e se arrastou de volta para a babá, que a aceitou de braços abertos. Dera o nome do neném de Peter e ele era uma aparição de cabelos pretos como a mãe e olhos muito claros, como os do pai. Era uma mistura exemplar de ambos e a família estava encantada com o primeiro neto e sobrinho.

No decorrer daqueles meses Rosalie e Nate passaram cada vez mais tempo juntos e quanto mais momentos compartilhavam, mais preocupada Rosalie ficava com o namorado. Ele passara a ficar cada vez mais inquieto no sono, tendo pesadelos, falando enquanto dormia, às vezes até mesmo acordando aos gritos.

Tentara conversar com ele sobre aquilo, mas ele se fechava como um caracol sob sua concha e de nada adiantava. Depois de uma noite especialmente ruim, na qual Rosalie quase não dormira, preocupada, ela decidiu abordar o companheiro.

— Nate, eu acho que você precisa de ajuda. – ela sugeriu com a voz muito gentil. Eles estavam sentados frente a frente na mesa da cozinha do apartamento dela, tomando café da manhã.

— Do que está falando? – ele franziu os lábios.

— Estou falando do que quer que esteja te atormentando.

— Eu estou bem. – ele respondeu, a voz firme, os lábios numa linha fina.

— Não está, você precisa de ajuda. – repetiu ela.

— Não preciso! – ele exasperou. – Voltei para cá inteiro, nada de mal aconteceu comigo, tenho todos os meus membros e voltei, Rose. Eu voltei.

— Essas não são as únicas coisas ruins que acontecem lá, Nate. Droga, eu me preocupo com você, muito, e acho que você está sofrendo. É horrível te ver assim.

— Eu...

— Eu queria poder te ajudar, mas não sei como ou se posso. – ela murmurou, a voz preocupada. – Acho que você precisa de ajuda profissional.

— Eu não-

— Você precisa. – ela o interrompeu e repetiu com mais veemência. – Eu durmo ao seu lado, eu vejo quão inquieto você está, escuto o que você fala a noite! Não precisa ser assim, Nate. – ela levou a mão até a dele, de forma a o reassegurar. – Não quero que sofra para o resto da vida porque conseguiu voltar daquele lugar. Quero que fique bem.

— Você me faz bem. – ele respondeu, mas ela negou com a cabeça.

— Não é o suficiente. Há lugares que não são meus para alcançar. – disse por fim e ele nada respondeu. Ela respirou fundo e voltou a murmurar. – Por favor, procure ajuda. Estou assustada. Por favor. – repetiu com mais intensidade.

Nate hesitou ao ouvir aquilo, impactado que de alguma forma aquilo estivesse a deixando com medo. Seus problemas estavam crescendo, ele sabia daquilo, mas lidar com aquilo... Ele nem podia começar a imaginar a dor. Mas ali estava Rosalie, vulnerável e assustada, pedindo que ele procurasse ajuda, disposta a ajudar. E ele não soube como dizer não. Então partiu para a terapia, com o incentivo de Rosalie e seu apoio durante todo o tempo.

Era uma quinta e Rosalie estava no trabalho. Seu dia começara muito bem, com flores vermelhas chegando ao escritório e burburinhos e risinhos das colegas de trabalho ao ver o buquê nas mãos dela. Ela sempre ficava de bom humor quando era mimada. Seu celular vibrou e ela viu o número de Emmett, então se levantou casualmente e foi até a copa para atendê-lo enquanto buscava um café.

— Emm, oi!

— Feliz aniversário! – ela ouviu numa voz animada. Um sorriso grande se esparramou por seu rosto.

— Obrigada.

— Como está sendo o seu dia? – ele quis saber.

— Bem tranquilo. Estou no trabalho e devo jantar com alguns amigos e meu pai a noite. – disse de forma casual, sem citar o nome de Nate, como normalmente fazia. Sabia que não fazia muito sentido, já que eram amigos, não citar o nome do namorado, mas sempre pareceu um assunto estranho e delicado, e eles facilmente aprenderam a evita-lo em suas conversas.  – E como vai tudo aí?

— Ótimo. Na verdade estou embarcando em uma conexão neste exato momento e só queria ligar para desejar um parabéns que não fosse numa mensagem de texto. – ele explicou e ela prestou atenção nos barulhos do fundo da ligação, registrando então que pertenciam a um aeroporto.

— Fico feliz que tenha ligado, é sempre bom ouvir você. – agradeceu. – Para onde está indo?

— Estou indo para a Espanha. Visitar a minha mãe. – ela podia ouvir o sorriso na voz dele.

— Ah, isso é ótimo. Você não a vê há bastante tempo, não é? – ela checou.

— Mais do que ela aceita sem reclamar bastante. – ele disse com um riso e ela deu um risinho também.

Nunca conhecera a mãe de Emmett e na verdade eles mal haviam falado sobre ela, mas Rosalie a imaginava muito parecida com ele fisicamente, com cabelos escuros e alta, e também achava que ela devia ser muito expansiva, tomando conta do ambiente com sua simpatia. Não sabia se algum dia descobriria a reposta daquela imagem.

— Bom, tenha uma ótima viagem então e espero que você se divirta. – ela desejou enquanto pegava a xícara de café já cheia.

— Obrigada, você também, cariño. Se cuide e tenha um ótimo dia. – ele respondeu antes de desligar.

Perto do natal, algum tempo depois, Rosalie recebeu pelo correio um pequeno pacote vindo de Chicago. Ela abriu, curiosa e animada sobre o que seria, tendo a única certeza de que deveria ser de Emmett. Era um pequeno boneco de um famoso jogador da NBA em posição meio de cócoras e ao virar a imagem viu que na parte de trás havia uma representação de um cocô, como se ele tivesse saído do boneco. Ela encarou surpresa o presente. Junto da imagem inusitada havia um bilhete.

Comprei isso para você quando estive na Espanha e achei que poderia ser engraçado. Se chama caganer e é típico do natal – por isso só enviei agora. Eles usualmente são colocados sob a árvore, junto da manjedoura, e supostamente trazem sorte. Espero que tenha sorte no próximo ano, cariño, e também no resto desse. Feliz natal!

Rosalie sorriu, encantada, olhando com outros olhos para a lembrança peculiar. Colocou-a sob a pequena árvore de natal que tinha montado no seu apartamento e então a observou por alguns segundos com o coração aquecido, feliz que Emmett tivesse se lembrado dela e planejado com tanto cuidado um presente tão incomum.

Aquela, entretanto, não seria a única surpresa daquele fim de ano. No ano novo, quando estavam em uma festa de amigos numa das praias de LA, ela foi surpreendida por Nate. Ele ergueu uma caixinha de veludo que portava um anel brilhante, bem na hora da virada, enquanto os fogos coloridos preenchiam o céu e as pessoas se abraçavam e beijavam. A joia era linda e a cena como um todo também, e ela nem em mil anos esperava aquilo.

— Pensei por muito tempo sobre como fazer isso, mas não me importo de verdade com o como. – ele disse meio hesitante, então respirou fundo e continuou. – Quero casar com você. Quero passar o resto da vida a seu lado. Sei que não estamos juntos há muito tempo, mas não me importo. Sei que amo você e isso já é suficiente. Você aceita ser minha esposa?

Rosalie o encarou, atônita e sem palavras, enquanto ele a observava cheio de expectativas. De fato não estavam juntos há muito tempo, mas já haviam passado por tantas coisas juntos. Nate estava melhorando e tudo parecia bem na vida deles e aquele parecia o passo exato a ser dado para a próxima etapa, e ela se viu pensando em dizer sim.

Nate era incrível com ela e, honestamente, não era aquilo que ela queria quando pensava no futuro? Alguém com quem compartilhar a vida e criar uma família e ser feliz e dividir suas conquistas? E ali estava, um homem perfeitamente bom e disposto, lhe pedindo para fazer exatamente aquilo.

Mais tarde naquela madrugada, depois de estourarem champanhe e comemorarem, depois de espalharem a notícia para os amigos ao redor e receberem diversos parabéns, Rosalie levantou-se silenciosamente da cama. Viu a forma inerte de Nate enquanto estava mergulhado em um profundo sono e pegou o celular, dirigindo-se até a janela.

O sol estava nascendo, pintando o céu de tons de laranja e amarelo e ela ergueu o celular até conseguir ver com clareza sua tela. Procurou o número que queria em sua agenda, o coração um pouco apreensivo. Tentou afastar aquele sentimento dali, sabendo que ele não pertencia ao momento, mas ao começar a digitar as palavras, o sentimento só parecia aumentar.

O Nate me pediu em casamento.” Foi tudo que escreveu e enviou a mensagem para Emmett. Antes que ele tivesse tempo de responder – ou mesmo ver, se é que estava acordado àquela hora – ela enviou uma nova mensagem.

Eu disse sim.


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Notas finais do capítulo

Oi gente, como estão? Espero que esteja tudo bem por aí.

O que acharam do capítulo? Espero que tenham curtido! Ansiosa para ouvir de vocês. Quero pedir desculpas por qualquer erro gramatical (serei aqui humilhantemente honesta e falar que escrevi grande parte desse capítulo embriagada depois que uma onda de inspiração me chegou depois de tomar várias cervejas kakakaka), revisei procurando por erros, mas nem sempre é fácil notá-los.

Estou chocada que quando demoro quatro anos recebo vários reviews quando posto, e quando sou rápida (rápida mesmo, cara, demorei 12 dias, eu tô com um gás esses dias kaka) vocês somem hahahahah mas tudo bem, os reviews que recebi foram incríveis por si só e me deixaram animada em continuar e ver o que mais vou ouvir de vocês hahaha.

Enfim, espero que tenham gostado e espero vê-las nos reviews! Pra quem lê Under Your Sunshine Eyes postei a última parte lá também.

Se cuidem e beijo grande,
Lana.



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