"Quer que eu atenda?" perguntei preocupada. Ok, eu não estava com vontade alguma de falar com aquele idiota, mas, se Laura estiver se sentindo insegura e amedrontada, eu faço esse sacrifício por ela.
"Não, não precisa. Eu nem vou atender. Vou deixar cair na caixa postal. Afinal, quem terminou o namoro foi ele. Se agora ele se arrepende e quer voltar atrás, sinto muito, mas não vai rolar. Se ele realmente se importar, vai deixar uma mensagem de voz" pude perceber o quão difícil foi para ela dizer essas palavras. Eu nunca achei que diria isso, mas... estou com pena da Laura. Mal consigo imaginar como é se sentir magoada dessa forma. O seu primeiro amor se tornando um cafajeste. Nunca conseguiria imaginar isso do Art.
"Sinto muito" eu disse acariciando seu braço para reconfortá-la. Assim que terminei de falar essa frase, seu celular parou de tocar. Laura olhou para a tela, na esperança de Edu ter deixado uma mensagem de voz, mas não havia nada. Nenhuma notificação. Pude perceber sua expressão triste. Ela apenas suspirou e colocou o celular novamente no bolso da calça.
"Não quero sofrer por ele. Vou apenas ser forte e seguir em frente" ela revelou com um pequeno sorriso.
"É isso aí. A vida é curta demais pra ficar sofrendo" disse a ela sorrindo. Laura não é tão ruim assim. Ela é uma garota forte e corajosa. Já eu... Eu talvez seja até forte, mas corajosa? Não mesmo. Se eu fosse corajosa já teria me declarado ao Art há anos.
"Bem, vamos mudar de assunto." ela disse retomando a caminhada "Onde estávamos?" perguntou dando um sorriso travesso de canto de boca.
"É... Estávamos... Falando sobre a aula de geografia?" tentei enganá-la, mas, logicamente, não funcionou.
"Não, não. Você estava me contando o quanto ama o Art" ela disse, rindo logo em seguida.
"Ha. Ha. Muito engraçado. Eu nunca disse isso, tá bom?!" reclamei.
"Não disse, mas pensou" ela continuou a me provocar. Pois é, estou numa enrascada.
"Não! Eu não gosto dele, poxa!" reclamei chateada.
"Ok, vou fingir que acredito" ela falou rindo. Eu apenas revirei os olhos. Aposto que ela não vai desistir até arrancar a verdade de mim. E quando conseguir, vai ficar me perturbando com isso pra sempre! Por sorte, estávamos perto de chegar em minha casa.
"Ah, Beca. Admite logo! Tá na cara que você gosta dele!" ela continuou insistindo.
"Não, não está. Até porque não é verdade" e eu continuei a negar.
"Arthur e Rebeca em baixo de uma árvore se beijando, se beijando!" ela cantarolou. Mesmo chateada, não pude deixar de rir da infantilidade dela.
"Me poupe" falei, ainda rindo.
"Aw, isso é tão fofo! Dois melhores amigos apaixonados!" ela falou fazendo um coraçãozinho com as mãos.
"Art não está apaixonado por mim" neguei sua afirmação. Eu até podia estar apaixonada por ele, mas ele por mim? Impossível!
"Como não?! Isso tá na cara!" ela alegou.
"Você acha mesmo?" perguntei dando um sorriso discreto. O Art? Apaixonado por... mim? Me belisca, porque eu devo estar sonhando.
"Eu não acho. Tenho certeza" isso me fez corar. Será que ele gosta mesmo de mim? Será que o que eu sempre desejei está realmente acontecendo?
"Own! É impressão minha ou a apaixonadinha aqui está com as bochechas vermelhas como um moranguinho?" ela disse olhando meu rosto. Eu abaixei-o rapidamente e corei ainda mais. É, acho que agora que não dá mesmo pra negar que gosto dele.
"Olha, a gente já chegou em sua casa" Laura avisou, me fazendo levantar a cabeça para me certificar que realmente havíamos chegado. Sim, aquela era minha casa.
"Bem... Até amanhã" falei e saí andando rapidamente até a porta.
"Epa, epa! Pode ir parando aí, mocinha" Laura mandou, me fazendo parar no meio do caminho. Eu suspirei e dei meia volta, virando-me para ela.
"Que foi?" perguntei, apesar de já saber o que ela queria.
"Admita" ela disse cruzando os braços e dando um sorriso travesso. É, dessa vez não tem saída.
"Tá! Eu gosto do Art sim! Satisfeita?!" finalmente soltei a verdade.
"Muitíssimo" ela disse rindo. Eu revirei os olhos e retomei a andar até a porta.
"Tchau, Laura" me despedi colocando a chave na fechadura, sem nem olhar para ela. Eu estava constrangida demais para isso.
"Tchau, senhora Alves" pude ouvir Laura se despedindo ao longe. Ri um pouco do nome que ela me chamou. Alves é o sobrenome do Art. Rebeca Alves... não soa tão ruim assim...

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{No dia seguinte, terça-feira, no colégio}
Eu estava organizando um pouco meu armário antes da aula começar, até que olhei para a porta de entrada do colégio e não consegui me concentrar em mais nada, apenas naquela pessoa. Era como se tudo estivesse começado a acontecer em câmera lenta. Eu sentia como se uma luz vinda de anjos estivesse iluminando-o e um ventilador gigante ventasse em sua frente, fazendo seus cabelos ficarem um pouco bagunçados. Era como se não desse para ouvir nada além de uma música divina, como se eu estivesse usando fones de ouvido. Era como uma comédia romântica mal escrita. Havia pessoas cumprimentado-o, mas eu apenas prestava atenção nele. Ele parecia até um deus grego. Tão lindo e perfeito. Aquele sorriso, aquele cabelo, aqueles olhos... Tudo nele era perfeito.
"Ai, ai. O amor é lindo" ouvi uma voz por trás de mim, fazendo-me acordar do meu transe. Me virei e vi Laura me olhando com um sorriso de canto de boca para me provocar.
"Ai, meu Deus. Até agora não acredito que contei aquilo pra você" eu disse voltando a organizar meu armário.
"Pois então acredite, apaixonadinha" ela continuou com a provocação que parece que nunca terá fim.
"Olha, só me prometa uma coisa" olhei seriamente para ela, fazendo seu sorriso logo ser trocado por uma expressão séria. Continuei:
"NUNCA comente sobre isso perto do Art" coloquei bastante ênfase no 'nunca'.
"É..." Laura desviou seu olhar de mim e fixou-o em algo que estava atrás do meu ombro. Ela apontou para onde estava olhando, me deixando curiosa e fazendo-me olhar também.
"Nunca comentar sobre o quê?" Art perguntou com um sorriso travesso. Ótimo.

Continua