Problem Temptation escrita por Boow, Brus


Capítulo 2
Welcome the Inn




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Tudo bem, eu sobreviveria.

Ok, talvez o meu cabelo estivesse um pouco revoltado com a súbita mudança de clima quando abandonei o frescor estável do ar-condicionado do avião e desci no aeroporto ridiculamente quente a vinte e oito quilômetros de Palm Springs. Meu rosto só estava um pouco amassado depois de quarenta minutos dormindo. Nada que eu não pudesse sobreviver.

— Certo, então alugaremos dois carros. – Pude ouvir Oliver falando quando eu me aproximava com algumas garrafas de água para mim e os outros. – Eu divido o meu com Erin e vocês três ficam com o outro. – Eles pareceram concordar.

— Eu não quero dividir um carro com você. – Protestei dando um gole na minha água. Era mais que óbvio que eu não teria oportunidade de dirigir se dividisse o carro com Oliver. – E além do mais eu quero alugar uma moto. A maioria desses carros não vêm com ar-condicionado e eu tenho certeza que vidros abertos não são o suficiente para aliviar o calor desse lugar. – Disse.

— Ok. Então dois carros e uma moto? – Noah entrou na conversa, eu tinha certeza que ele apoiaria a ideia da moto. Além de mim, ele era o único com carta para pilotar. – Eu posso dividir o aluguel da moto com Erin e ela pode usar o mesmo carro que eu e Megan. Oliver e Danny dividem o outro.

— Perfeito. – Megan soltou um de seus gritinhos histéricos. – Vocês garotos podem ir até lá, eu e a Erin precisamos conversar. – Não tive tempo de responder. Quando dei por mim os rapazes caminhavam em direção a concessionária que disponibilizava os aluguéis e Megan me arrastava em direção aos bancos. – Então, o que está achando? – Perguntou animada.

— Do que exatamente? – Me fiz de desentendida. – Da parte que aqui é tão quente que o termostato do celular travou, ou da parte onde vamos trabalhar a semana inteira em uma pousada recebendo menos que a metade do que deveríamos só para cobrir os aluguéis? – Pude ouvir a respiração profunda da minha melhor amiga e aquela pausa de três segundos que ela sempre fazia quando estava tentando ser paciente comigo. Nós duas sabíamos que não adiantaria ela gritar, eu não me intimidava com uma loira equipada com um potente pulmão.

— Erin, faça um esforço. – Megan, para a minha surpresa não parecia irritada, no entanto, quase podia sentir a mágoa em sua voz. – É o nosso último verão antes de você me exilar da sua vida pessoal. Depois só nos veremos no meu casamento e quem sabe no batizado do meu filho. E eu creio que essa segunda ocasião não acontecerá antes dos meus vinte e cinco anos. – Eu não teria tanta certeza no lugar dela. Do jeito que ela e Noah se agarravam a todos os momentos eu não duvidaria que ela gritasse ao mundo que está grávida nesse exato momento.

Suspirei derrotada.

— Tudo bem Meg. – Falei a tempo de ver um sorriso crescer no rosto da loira. – Eu colaboro. Contanto que o calor colabore comigo. Mas sem querer ser chata, eu não confio no seu noivo para escolher minha moto, será que podíamos ir até lá?

Não houve problemas quanto a moto. Oliver havia feito um favor para mim de escolher no lugar de Noah. Não que o ruivo não soubesse escolher motos, mas algo em mim apontava que ele me apareceria com algo no estilo Duster na qual eu provavelmente nem sequer saberia subir. Eu estava satisfeita com a Honda preta e os dois capacetes que acompanhavam na mesma cor.

Os garotos haviam escolhido um jeep verde-musgo para eles e discutiam sobre quem seria o primeiro a dirigir. O outro carro não tão chamativo quanto o Jeep era um volkswagen esportivo prateado que fez Megan babar um pouquinho. Eu quase podia vê-la ajoelhada no asfalto implorando para que Noah a deixasse dirigir.

A pousada sem dúvidas fazia jus a tudo o que Megan e Danny haviam falado para mim. A praia não era distante e podia-se sentir o cheiro do mar. A entrada da pousada era ostentada por um arco construído por troncos e a placa Pousada Fell pendendo sob ele. Tudo era fascinante. Desde a arquitetura até a grama verde e bem cortada sob os meus pés. O interior da recepção era decorado por móveis rústicos, um sofá pequeno aveludado e um tapete floral que parecia ter sido tecido à mão. Havia uma ruiva no telefone que parecia digitar descontroladamente no computador alguma informação que lhe estava sendo dada no outro lado da linha. Uma senhora de cabelos grisalhos aparentando mediar os quarenta anos sorria para nós ao lado do balcão de informações. Não precisei perguntar para saber, aquela, sem dúvidas, era a senhora Fell. Eu reconheceria a cor dos olhos de um Fell a quilômetros de distância.

— Ah meus queridos, vocês estão aqui. – A voz da mulher soou surpreendendo a mim pela sua disposição. A sua voz poderia ser de alguém experiente, mas sua empolgação era quase jovial. Como se eu estivesse diante da voz de Megan daqui alguns anos. A Sra. Fell se aproximou de nós e dos sobrinhos sorrindo de forma simpática para todos. – Você não me disse que seu noivo era tão bonito, Megan. – Falou apontando para Noah que sorriu de forma educada para a senhora. – Vocês devem ser os irmãos, não? – Ela se virou em direção a mim e Oliver. – O amigo de Danny que sempre aprontava com ele... eu me lembro de você. – Oliver riu com a descrição e apertou a mão da mulher se recusando a se afastar sem antes deixar um beijo em sua bochecha. Ele até parecia um cavalheiro. – E você sem dúvidas é a melhor amiga de Megan. Lembro de vocês brigando por bonecas. Como pode ter crescido tanto? E qual o truque para a beleza? – Eu sorri apertando a mão dela.

— Eu posso não me lembrar com tanta clareza da última vez que encontrei a senhora, mas garanto que está tão formidável quanto antes. – Ela sorriu.

— Sempre tão gentil. – Elogiou. Então virou-se para os sobrinhos e começou a paparicá-los como toda tia que se preze. Eu ria com as caretas de Danny a cada beliscão que ganhava de sua tia, ou a forma que Megan revirava os olhos todas as vezes que sua tia lhe ensinava como cuidar de um homem.

— Tia Rose, estamos cansados. – Megan disse dando um fim a todos os mimos da senhora. – Será que poderíamos conhecer nossos quartos?

— Oh, claro. – Disse indo até a mesa onde a ruiva permanecia digitando, porém dessa vez sem o telefone apoiado em um dos ombros. As duas conversaram um instante e a mais jovem entregou para a Fell três chaves. – Eu receio informar que houve um contratempo com um dos quartos. – A mulher de expressões maduras falou ao retornar para o nosso grupo. – O quarto simples de casal está ok, assim como o chalé duplo com quartos de solteiro adjacentes. No entanto, essa semana recebemos um número assustador de ligações fazendo reservas para esse mês e eu tinha que manter o maior número de quartos livres possível, então tive que ceder o outro chalé de solteiro para um turista que chega em poucos dias. – Eu arregalei meus olhos. O chalé de solteiro era o meu chalé. Eu havia feito questão que Megan reservasse essa para mim com a esperança de que eu não tivesse que dividir o teto com ninguém.

— Eu vou dormir aonde? – Perguntei um tanto temerosa que ela me mandasse para o sofá no chalé de Megan. Deus, eu não queria ser acordada por gemidos noturnos do casal.

— Há um quarto livre no chalé de luxo onde Ashley está. – Os olhos de Megan de repente se arregalaram.

— Ash está aqui? – Danny perguntou com um sorriso estranho. – Porque Ashley pode ter um chalé de luxo e eu não? – Soou um tanto indignado. A senhora Fell gargalhou.

— Eu tenho um acordo com Ashley. – Explicou. – Contei sobre precisar do quarto livre que há no chalé para emprestarmos a uma amiga de Megan, e Ash pareceu de acordo. Não se preocupe querida, tenho certeza que você vai amar conhecer Ashley. – Era estranho, mas algo palpitava dentro da minha cabeça que não seria assim tão agradável. Eu tinha um péssimo histórico com Ashley’s, elas eram na maior parte das vezes vadias loiras de nariz empinado.

— Tudo bem. - Disse tendo certeza que não adiantaria argumentar. – Me avise se aparecer um chalé disponível. – Ela concordou distribuindo as chaves.

A organização dos chalés era tão formidável quanto todo o local. As primeiras casinhas eram amarelas, Megan havia explicado algo sobre elas serem as mais simples e por isso ter escolhido elas para o grupo, seria mais fácil de cobrir as despesas. Caminhamos por uma trilha de pequenas pedrinhas em meio à grama, que abria caminho nas laterais para chegar aos chalés. O de Danny e Oliver era o mais próxima da recepção, e cinco casinhas após, no lado oposto da trilha de pedrinhas o chalé de Noah e Megan esperava por eles. Praguejei ao notar que o meu chalé era no outro corredor de casas.

Sem dúvidas luxo era uma palavra que definia bem aquele segundo corredor de casinhas consecutivas. As casas não eram tão grandes, mas com certeza pareciam realmente uma casa de verdade enquanto as outras eram como uma kit net de beira de estrada. As paredes eram decoradas por pequenos tijolinhos maciços e havia um hall de madeira envernizada coberto por telhas alaranjadas que combinavam com toda a decoração. Podia-se ver nas grandes portas de entrada o belíssimo entalhe de golfinho.

Caminhei até a porta com a indicação 12A e parei em seu hall subindo um tanto hesitante seus três pequenos degraus. Eu tinha a chave, mas me perguntei se não seria mais educado bater em vez de invadir. Respirei fundo enquanto meu punho se erguia e três soquinhos eram dados na porta. Não houve resposta.

Erin não seja idiota, é só entrar. O chalé também é seu por direito, mostre que você tem tanto direito sobre ele quanto a garota que está aí dentro. Vamos lá, é só abrir.

Coloquei a chave na fechadura, mas me dei conta de que ela não estava trancada. Ouvi o clique da maçaneta e empurrei a porta de leve. Não havia sinais de habitação naquele lugar. Abri a porta o suficiente para passar com as duas malas de mão e também com a de rodinhas e me permiti observar o lugar.

Aquilo era, sem dúvidas, bem diferente do que Megan narrou como um chalé simples. Como eu havia dito, luxo parecia uma boa descrição. A casa tinha os cômodos bem definidos e de onde eu estava podia ver o que me parecia ser uma cozinha americana, com bancos metálicos e se eu ficasse nas pontas dos pés, conseguia ver também que em cima da pia havia uma garrafa de água e um copo vazio. Encostei a porta atrás de mim e continuei a observar.

O chão era coberto por pisos com desenhos de tacos de madeira, dando um ar rústico para o ambiente, as paredes eram pintadas na cor creme e o sol que vinha de uma das janelas fazia todo o cômodo brilhar. A alguns passos de distância de mim havia um sofá marrom em forma de "L" no qual eu só podia ver as costas do encosto e o acento lateral. A televisão de led estava ligada em um canal qualquer, mas não emitia som algum. Santo Deus, que tipo de pessoa liga uma televisão para as paredes assistirem e ainda a deixa no mudo? Suspirei indo a passos lentos até a pequena sala e apertei um dos botões na lateral da televisão, deixando que a imagem colorida se apagasse e o preto assumisse seu lugar. Assim que tive certeza que a televisão estava desligada me abaixei o suficiente para ver o meu reflexo em sua tela. Nesse momento eu levei o maior susto da minha vida. E olha que nem estou falando do estado dos meus cabelos ou dos lábios ressecados. Havia um homem. Um homem dormindo no sofá.

A primeira coisa que eu fiz foi ficar totalmente sem reação observando aquele ser deitado no sofá apenas pelo reflexo da televisão. Eu não podia ver seu rosto, ele estava deitado de bruços, e apenas o seu braço direito pendia para o lado de fora do sofá. Virei-me lentamente para poder observá-lo melhor e ter certeza que não era nenhum problema do televisor agora em minhas costas.

Não era um problema, era a mais pura realidade. Havia um homem de cabelos escuros e camiseta branca deitado em meu mais novo e temporário sofá. Teorias começaram a ir e vir na minha mente. Ashley podia ter um namorado, um irmão, um primo. A propósito, onde estava Ashley? Eu obriguei minhas pernas a se moverem em silêncio para um novo tuor de reconhecimento do local. Eu precisava encontrar a garota responsável pelo homem no sofá. Aliás, se não fosse o fraco movimento de seus pulmões, eu não teria muita certeza se ele realmente estava vivo. Em um curto momento quando meu nervosismo pareceu maior que minha capacidade de raciocinar, um vaso de porcelana pulou na frente de meus pés, sendo arremessado para o chão e resumindo a sua maior parte em pequenos caquinhos.

O-ou Erin, parece que começamos bem.

Suspirei indignada e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ou garantir que não havia acabado de interromper o sono/hibernação do homem no sofá, uma voz me fez cancelar todos os pensamentos.

— Eu também odiava esse vaso. – A voz era rouca, sonolenta e masculina, eu não tinha dúvidas de onde vinha ou quem era seu emissor. Fiquei perdida sem saber se sentia-me culpada por acordar um desconhecido ou por ter sido pega em flagrante em meio a uma invasão de propriedade privada. Mesmo que um pouco daquela propriedade também fosse minha.

— Me desculpe! – Disse rápido sem conseguir impedir meu sangue de ir parar na cabeça, tendo consciência da vermelhidão em minhas bochechas, me virei lentamente em direção ao desconhecido. – Eu não vi o vaso, não quis acordar você. A porta estava aberta então eu entrei. Não estava invadindo. Quer dizer, eu entrei sem ser convidada, mas eu tenho uma chave. Não que isso importe, mas eu pretendia achar Ashley e me apresentar formalmente, então eu vi você e me assustei, a Sra. Fell não havia me falado sobre um homem no chalé. – Ele sorriu. Deus, por que ele havia feito aquilo? Meus olhos pela primeira vez repararam nele em vez de perambular por todos os lados em busca de desculpas esfarrapadas para tagarelar.

O desconhecido tinha um sorriso diferente, torto, errado, provocante. Seus dentes eram brancos e alinhados, então eu não tinha dúvidas de que em alguma época eles tiveram aparência metálica de um aparelho ortodôntico. Seus olhos eram marcados pela íris castanha escura nas bordas e quando se aproximava da pupila dilatada tornavam-se mel, o que combinava perfeitamente com seu cabelo. Seu rosto em forma de coração tinha o lado direito marcado com pequenos quadradinhos do tecido do sofá, o que fazia a pequena fração vermelha e quadriculada do seu rosto se destacar na pele pouco bronzeada.

— Desculpe. – Repeti sem saber se podia ser possível corar mais. Ainda sorrindo ele balançou a cabeça de modo negativo e se levantou vindo em minha direção. Ele não era muito mais alto que eu, talvez tivesse a altura semelhante à de Danny ou Noah, fazendo que eu me sentisse orgulhosamente pequena ao invés de minúscula.

— Certo, vamos esclarecer três coisas... – Ele disse sorridente se aproximando mais, o suficiente para eu reparar na sua covinha ao lado esquerdo do rosto. – Você não precisa se desculpar por tudo. – Falou apontando um dedo. – Você pode entrar e sair desse lugar quando bem entender. – Ele sorriu levantando o segundo dedo. – E por último, mas não menos importante, Ashley é um homem. Pelo menos é isso o que diz nos meus documentos. – Eu pisquei algumas vezes tentando entender o que o desconhecido me dizia. Eu não sabia onde focar meus pensamentos. Quase se pode ouvir o plin de quando a ficha finalmente caiu para mim.

Ashley tinha testosterona. E muita.

— Você é Ashley? – Perguntei um tanto embasbacada dando um passo para trás apenas para ter certeza de que estaria em uma distância segura caso aquele cara fosse um drogado maluco se passando por outra pessoa. Quais são as possibilidades estatísticas de um cara tão bem... construído, como o homem em minha frente, se chamar Ashley? Isso é ridículo. Ou talvez mais ridículo seja uma garota chamada Erin estar falando isso.

— Exatamente. – Ele piscou seus dois olhos para mim me fazendo congelar e ao mesmo tempo superaquecer. Seu braço se esticou em minha direção em um cumprimento educado no qual hesitante eu retribui. – E você é...?

— Erin. – Respondi ainda com a voz abalada. – Amiga de Megan e Daniel. Acho que você os conhece... pelo menos Danny pareceu conhecer você. Quer dizer, Megan também, mas eu creio que devem ter esquecido de me contar que você não era uma garota... – Ele gargalhou e aquele som pela segunda vez me fez parar de tagarelar. Eu me acostumaria fácil com isso. Era muito melhor ouvir sua risada do que começar a falar sem pontos finais.

— É, eles são meus primos. – Explicou. – Quer dizer, eram quando nossos tios eram casados. Mas eu ainda tenho a tia Rose como minha tia de consideração e Megan e Danny continuam sendo meus primos não oficiais. – Eu ri. – A tia Rose me contou que vocês viriam, pediu que eu ajeitasse o quarto para uma amiga de Megan.

— Obrigada. – sorri.

— Espero não ter decepcionado você com a falta de peitos e a voz masculina. – Foi minha vez de gargalhar.

Com certeza nem um centímetro do cara em minha frente tinha me decepcionado.


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