Imutável escrita por Segunda Estrela


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Opa, como eu demorei para postar, desculpa. Eu me esforcei, mas está acontecendo umas coisas meio ruins na minha casa e eu estou sem computador, isso aqui é uma lanhouse ou lan house, sei lá. Essa capítulo tá meio curto, mas eu até gostei de escrever. Desculpa mesmo, assim que meu computador voltar os capítulos vão vir bem mais rápido do que antes, pq eu vou ficar muito a toa.
Ah, muito obrigado a Ana Tonheta por recomendar, eu fiquei surpresa, achei que tivesse feito alguma coisa errada e você tivesse parado de ler. Muito obrigado a todos por ler!



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Norte olhou para o espírito dos sonhos mais uma vez, não conseguindo acreditar em nada do que acontecia ao seu redor. Ele repousou seus olhos semicerrados sobre o pequenino, com suas sobrancelhas grossas quase se juntando em uma carranca de desgosto.

– Como você pôde?!

Sandman retribuiu aquele olhar acusador de forma firme. Não se deixando intimidar pelo tamanho do Guardião que o encarava. As formas surgiram e desapareceram acima de sua cabeça.

– “Confiou nele”? O que é isso?! Como você pode confiar a vida de Jack a uma mísera possibilidade? A possibilidade nasce da incerteza e a incerteza é uma coisa muito perigosa. – Disse Nicholas com sua costumeira voz de trovão.

– Você devia saber disso! Não! Você sabia disso e mesmo assim ignorou todas as nossas decisões! Quem você pensa que é? Ser o mais velho entre nós não significa nada!

Ele afundou a cabeça de cabelos grisalhos em suas mãos corpulentas.

– Se mandarmos mais pessoas ao passado para impedi-lo, tudo ficará desestruturado. Você sabia disso, não sabia seu baixinho cheio de tramoias?

Desde que o pequeno Sandman anunciara sua decisão, a fada de olhos brilhantes nada dissera. Ela se manteve calada, apenas encarando a todos como uma observadora silenciosa e de semblante sombrio. E os seus olhos, outrora tão vivos e convidativos, agora estavam vazios e distantes. Ela mal compreendia o que acontecia ao seu redor, parecia alheia e confusa. Na sua mente voavam memórias, coisas que aconteceram e poderiam desaparecer para sempre. O Coelho da Páscoa andava e dava pulos ligeiros de um lado para o outro. Sua expressão era séria e não entregava muito de seus pensamentos, mas através de sua inquietação era possível ver toda a sua preocupação.

– Moleque idiota! Arrogante! Não deu a mínima atenção para o que dissemos! – Gritou o Coelho.

– Aquele palhaço decidiu nos desafiar pra quê? Pra morrer um pouco depois! – Continuou o Guardião da esperança com suas lamentações.

Ele estava nervoso como há muito tempo não ficava, ia de um lado para outro sem conseguir parar por um segundo sequer.

Norte mantinha sua aparência taciturna e seus lábios franzidos. Todos naquela sala temiam o que estava por vir. O futuro era tão incerto que os apavorava. Depois de tantos anos, os Guardiões encaravam o seu fim, e pela primeira vez, não podiam fazer nada. Papai Noel continuou calado por mais um momento. O silêncio era pesado, sombrio. Quase palpável na frente de seus olhos. Uma palavra poderia ser o suficiente para estraçalhar tudo ao redor, levá-los ao desespero completo e sem volta. O bom velhinho ponderou, escolhendo com cuidado as palavras que viriam a seguir.

– Está tudo perdido... E o pior é que não podemos fazer nada. Toda a história será arruinada. Jack nunca terá nascido, nunca terá nos conhecido, nunca terá sido escolhido como Guardião e... Breu nunca terá sido derrotado.

As suas palavras carregavam mágoa e tristeza. Ele tentava se recusar a acreditar no destino fatídico de Jack, mas a verdade era insistente em seus pensamentos.

– É isso, depois de todos os nossos esforços, os Guardiões serão derrotados e não poderemos fazer...

– Não... – Interrompeu a moça delicada de mãos frágeis e olhares aflitos.

Pela primeira vez desde a chegada de Sandman, a Fada do dente se pronunciou. E agora, quando falava, sua voz era apenas um sussurro penoso que ecoava do canto da sala. Ela hesitou em continuar, e as palavras pareciam sair forçadas de dentro de sua boca.

– Eu... Eu acredito nele...

O Coelho da Páscoa virou-se para ela franzindo seu nariz e com uma expressão severa.

– Você? Pensei que temesse pela... – Ele tentou começar e repreende-la.

Ela o encarou pelo canto dos olhos. Um olhar profundo e pesado, um olhar carregado de medo. Um olhar tão incisivo que o impediu de continuar. Olhos vidrados, vidrados em um futuro sombrio e um presente fugaz.

– Você acha que eu não temo? Você acha que eu não fico pensando no que pode acontecer? Que eu não fico pensando que ele pode nunca mais voltar? Ou que nunca mais o veremos ou escutaremos sua risada? Eu temo pela vida dele como se temesse pela minha própria. Eu sofro mais do que qualquer um pelo destino que pode acometê-lo. Eu estou com tanto temor do que pode acontecer que não sei como ainda consigo segurar tudo isso em meu peito.

Lágrimas brilhantes e salgadas correram por suas feições finas. Sendo levadas, ávidas, pela gravidade. Deixando um rastro de pura tristeza no seu rosto contorcido pelo medo.

– Mas se eu perder a esperança, se eu deixar de acreditar, eu serei levada por um desespero que não vou conseguir aguentar. Eu tenho de manter a fé, por que ela é tudo que me resta... – Suas ultimas palavras eram apenas sussurros enegrecidos que desapareciam no ar quase no mesmo momento em que eram proferidos.

Todos os Guardiões a encararam surpresos e compreensivos. Sandman olhou para aquela cena com um complexo sentimento de culpa surgindo em seu coração estável. Ele confiou plenamente no poder que Jack teria para mudar o passado, mas agora que ele via a insegurança de todos, a certeza que o deixara fazer uma aposta tão alta parecia começar a se esvair. Ele acreditava que o certo poderia ser feito, mas se Jack morresse por uma presunção sua, não saberia como reagir. Talvez não lhes sobrassem muito tempo, as mudanças já poderiam estar começando a ocorrer nas antigas épocas e em muito breve todos eles seriam tragados para o mundo distorcido de Breu. Se Jack nunca mais voltasse...

– A Fada tá certa.

Todos viraram seus rostos surpresos para o Coelho da Páscoa. O Guardião, normalmente sarcástico e irritadiço, encarava a todos com olhos reflexivos e profundos. Ele deu um longo suspiro antes de continuar.

– Nós... Temos de acreditar. Nós protegemos isso. Protegemos os sonhos fantasiosos, as fantasias loucas. Protegemos a inocência de acreditar naquilo que não se vê. E acima de tudo, protegemos a magia que reside em todos os corações, a beleza de cada gesto desinteressado e a bondade que ainda existe no mundo. Nós acreditamos na esperança, é ela que nos deu força até hoje. Não podemos abandonar tudo pelo que lutamos até agora. Precisamos continuar acreditando, porque acreditar é o que nos torna verdadeiros Guardiões.

Todos queriam, todos precisavam daquelas palavras. Eles sabiam que o destino era algo que não podiam evitar, mas não podiam lamentar por ele até seus últimos minutos. Os Guardiões se encararam demoradamente, eles sabiam o que deviam fazer. O poder de acreditar era tudo que lhes restava, acreditar no futuro e acreditar em Jack. Norte levantou-se de sua grande cadeira desbotada. Colocou suas mãos pesadas nos ombros do Coelho e da Fada.

– Vocês todos estão certos. Só nos resta confiar no garoto agora.

O australiano deu uma risada. Uma risada que começava a ser abandonada pelo medo.

– O que é isso? O moleque não vai perder assim. Breu vai se decepcionar bastante se acha que vai ganhar daquele insistente fácil assim.

– Não importa quanto tempo passe ou volte, Breu continuará sendo Breu, e ele não é páreo para Jack. – Disse Norte completando os pensamentos do Coelho.

– Sabe Sand? Foi melhor você ter mandado ele mesmo, nos deu um pouco de sossego. Daqui a pouco ele está de volta, me enchendo a paciência e fazendo das suas travessuras irritantes. Vão ver só. E quando ele voltar, eu ainda vou lhe dar uma boa surra por não ter me obedecido. – Disse Coelhão com certeza em sua voz.

– Calma aí mãezona, os adolescentes querem viver suas vidas. Tem que deixá-lo um pouco solto. – Falou Norte com um sorriso formando-se em seus lábios.

O Coelho sentiu um leve tremor lhe correr pela espinha.

– Nem brinque com uma coisa dessas.

O bonachão deu sua alegre risada característica.

– Você ouviu Fada? Vamos, não se preocupe com ele. O garoto está bem, no máximo está atentando o juízo da princesinha.

A moça olhou para eles pelo canto dos olhos.

– Ele não vai se render tão facilmente. Ele é teimoso demais para isso, lembra?

Ela deu um sorriso por baixo das sobrancelhas e lágrimas caídas.

– Eu sei que ele vai voltar. Eu sinto aqui na pança. – Disse Norte.

Coelhão levantou uma sobrancelha e se virou para ela.

– Ele vai voltar, mas não por causa dos problemas intestinais do Norte. Ele ainda tem todos nós, os amigos que acreditam nele, confiam nele e que o estão esperando voltar para casa.

Ela passou sua mão pelo rosto, secando suas lágrimas. As palavras dos Guardiões encorajavam e acalmavam seu espirito. Ela não podia temer o futuro, era forte o bastante para encará-lo. Jack lutaria por sua vida e ela não se acovardaria e choraria por ele. Ela repetiu essas palavras na sua mente, enquanto elas lentamente enchiam seu coração de esperança.


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Notas finais do capítulo

Eu adoro escrever as cenas com os Guardiões, gosto de tentar escrever do jeito deles, mas de forma mais rebuscada. Mas tomara que eu tenha feito parecido. E outra vez, obrigado por quem aguentou a estória e leu até agora.



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