Imutável escrita por Segunda Estrela


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Olá, eu tava lendo uns capítulos velhos, e percebi que uma nota antes do capítulo 5 não ficou muito clara. Quando eu disse para parar de mendigar eu não quis dizer de parar de agradecer, eu vou agradecer as pessoas que comentam para sempre, quis falar sobre parar de encher a paciência de vocês todo capítulo. Sei lá, antes tinha parecido meio rude.
Espero que gostem e desculpe pelo atraso.



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Durante um tempo eu a segui inutilmente sem ter nenhuma grande revelação, ou uma explicação sobre como eu poderia ajudar Elsa. A princesa corria tolamente pelas ruas, cumprimentando passantes e tendo pequenos surtos de animação. Havia em seus olhos vidrados de emoção um tom inconseqüente e dócil. Os mesmos olhos que eu via quando crianças encaravam, encantadas, as brilhantes árvores de natal ou uma cesta cheia de ovos coloridos. A verdade era que no fundo eu não sabia a razão de segui-la, mas algo dentro de mim insistia que fazendo isso eu descobriria algo grande sobre toda essa história. Eu a olhava de longe esperando que a razão de todos esses problemas repentinamente surgisse, que magicamente eu descobrisse o porquê dos poderes de Elsa terem sido liberados de tal forma que a obrigou a fugir. Eu flutuei preguiçosamente a alguns metros acima de sua cabeça, impressionado com a falta de atenção da princesa. A monotonia de suas ações havia começado a me encher de impaciência. E dessa vez eu não podia protestar em voz alta por receio de que ela ouvisse. Ela correu animadamente pelo deck ao lado do mar, totalmente alheia ao que acontecia ao seu redor.

– Você vai acabar caindo garota. – Disse em uma voz de altura moderada, mas que mesmo assim ela pareceu não notar.

Anna continuou correndo até que um cavalo passante fez um movimento brusco para frente e acabou trombando com ela, a princesa desequilibrou-se, tropeçou em seus próprios pés e caiu em um bote que escorregou para trás até chegar a centímetros do mar.

– Ou alguém vai fazer isso por você.

No momento em que o cavalheiro desceu para acolhê-la eu fui tomado por uma sensação extremamente desagradável. A fumaça negra e densa que eu vira anteriormente rodeando as mentes por intermédio de Breu nunca pareceu tão cruel. Seguia o homem como um carrasco agourento, que somente traz consigo o desespero. Ela entranhava-se como um verme em tudo que dizia e tudo que falava. Uma alma corrupta, foi tudo que eu consegui pensar. Ele estendeu a mão para ajudar Anna a se levantar e ela retribuiu o gesto com um sorriso abobalhado e surpreso.

– Eu sinto muito por derrubá-la. Você está machucada?

Anna encarou-o estagnada por um momento com seu sorriso se alargando.

– O-o quê? Não se preocupe com isso, eu... Eu não estava olhando por onde andava.

Ele sorriu e a princesa pareceu ficar mais alegre a cada segundo.

– Não precisa ser tão condolente, a culpa foi toda minha por ter sido tão desastrado. Não sei o que faria se tivesse te machucado.

Anna suspirou sonhadoramente. Levantei uma sobrancelha diante daquele galanteio tosco. Eu desejava impedir que ele se aproximasse dela, mas no momento eu sentia que o prudente seria observar até onde aquilo levaria.

– Prazer, eu sou a princesa Anna de Arendelle.

O jovem pareceu surpreso e imediatamente ajoelhou-se.

– Vossa majestade.

Anna riu e balançou as mãos levianamente.

– Levante-se, não tem necessidade disso.

O outro ainda parecia desconfortável, no entanto se levantou e fez uma mesura prolongada.

– É uma honra princesa Anna. Eu sou Hans, príncipe das lhas do sul.

Ela demorou a responder, apenas encarando-o com seu enorme sorriso.

– Ah, o prazer é meu... – Disse a princesa simploriamente.

Eles continuaram em uma troca repetitiva de sorrisos, aparentemente sincera. E a princesa pareceu acreditar totalmente nos modos gentis de Hans. Ele era convincente em tudo que fazia, desde seus movimentos até sua voz. Caso eu não pudesse ver suas reais intenções acreditaria que ele era alguém verdadeiramente indulgente. Sinos tocaram ao longe vagarosamente, o que fez Anna virar o rosto para trás.

– A coroação.

Ela se virou para Hans, meio nervosa.

– E-eu tenho que ir.

O príncipe Hans estendeu-lhe seu sorriso como resposta. Novamente.

– Espero poder vê-la novamente.

– Eu também... – Disse Anna sonhadoramente.

Ela contornou o príncipe indo na direção da escada, sem jeito e tomada de vergonha. Ela deu um aceno rápido e animado para ele.

– Então... Tchau.

Ele repetiu o gesto mais devagar, no entanto aparentemente contente. E a princesa correu na direção do castelo lançando vários olhares para trás.

O que você está pensando em fazer? Perguntei a ela mentalmente, referindo-me ao estranho encontro com o outro rapaz.

Ela continuou andando apressada na direção de onde realizariam a coroação. Eu ficava pensando enquanto a acompanhava silenciosamente. Decidi recapitular sobre tudo que eu sabia sobre Elsa.

Ela vivia sozinha e escondia seus poderes, tudo bem. Então algo aconteceu e ela acabou revelando o que podia fazer para todos, ótimo. Ela fugiu, Breu a encontrou, em algum momento aquela garota saltitante na minha frente morreu, e então o quê? Elsa sucumbiu ao Breu, mas o que isso significava? Na história ela havia sido morta pelo noivo de Anna, então onde Breu entrava?

Passei a mão pelo cabelo, odiava não entender direito as coisas ao meu redor. Qual era o meu verdadeiro objetivo ali? Eu queria salvar Elsa, mas o que isso implicava? Seria salvá-la da morte ou de sua solidão? Ela não estava feliz naquele momento e isso era óbvio, mas o globo me mandara para o momento exato em que eu teria a chance de consertar tudo. Eu apenas não sabia como. Ela não podia me ver, então como eu poderia ajudá-la em qualquer coisa?

Olhei para a garota animada e feliz que andava apressadamente a alguns metros abaixo de mim e ponderei por um momento. Talvez ela fosse a resposta que eu estava procurando. Se eu pudesse fazê-la entender o que estava acontecendo com sua irmã, ela me ajudaria. E na pior das hipóteses eu apenas não poderia falar com Elsa. Mesmo não tendo muito contato com ela, a possibilidade disso acontecer me encheu de tristeza. Eu sentia pena dela, queria consolá-la e dizer que não estava sozinha. Mas pelo jeito que as coisas andavam, isto não cabia a mim. Meu dever era encontrar Breu, não deixar ele exercer sua influência sobre ela. Eu impediria que a rainha Elsa morresse por conta dessa solidão, não importava o que acontecesse.

Olhei para baixo e percebi que Anna entrara em uma capela dentro dos muros do castelo. Eu a segui silenciosamente, não desejava que ela me visse mais uma vez, pois senão ela ia achar que a estava seguindo. O que era verdade, mas é estranho quando os outros percebem. Eu entrei no salão um pouco depois dela, desejando permanecer incógnito. E eu novamente vi a rainha. Eu senti um estranho sentimento com isso. Era como ver um rosto conhecido em meio a uma multidão, ou reencontrar um velho amigo depois de muito tempo. Eu sabia que aquelas eram comparações esdrúxulas, mas eu sentia aqui dentro um reconhecimento de familiaridade muito grande em relação a ela.

Nem ao menos sonhe Jack, você não vai conseguir conversar com ela. Você é totalmente invisível, lembra?

Eu dizia essas palavras para mim mesmo com uma pontada aguda de tristeza. No fundo eu sabia a verdade, mas me recusava a colocar isso na minha mente. Não apenas porque eu não fazia idéia do que fazer em seguida ou como ajudá-la, mas por que eu desejava conhecê-la, não apenas ouvir e ver. Eu desejava fazer perguntas e ouvir suas respostas. Desejava contá-la uma história interessante ou fazê-la rir de uma piada. Porque acima de tudo, eu queria ver seu sorriso.

Anna tomou seu lugar ao lado da rainha e a cerimônia começou. Eu queria me aproximar e ficar observando Elsa bem de perto, mas não poderia deixar Anna perceber. Toda aquela falação durou muito tempo, e eu sentia que poderia começar a dormir a qualquer minuto. Até que eu notei certa tensão na rainha, ela tentava manter seus braços junto do corpo, mas eu podia ver suas mãos tremendo. Ela tirou suas luvas e colocou-as sobre uma almofada de veludo que um senhor na sua frente estendia. Então entendi o motivo de sua aflição.

Você tem um controle tão ruim sobre seus poderes que não pode nem ao menos tocar em nada?

Ela pegou um cajado curto e uma bolinha dourada, que eu não fazia idéia do que era, das mãos do senhor e se virou para seus espectadores. Enquanto eu olhava assustado para suas mãos, temendo junto com ela que aquele fosse o momento em que ela revelaria seus poderes, todos os outros sorriam ansiosos. Mal as ultimas palavras do homem foram proferidas e Elsa se adiantou em colocar novamente suas luvas. Dei um suspiro pesado. A cerimônia não durou muito mais depois, eles se dirigiram para dentro do castelo, e eu segui o pequeno aglomerado de pessoas, a uma distância segura das duas. Avançando e voltando com meus passos, tamborilando meus dedos no cajado, ou esticando meu pescoço acima da multidão desejando ver a rainha e a princesa. Eu estava me remexendo de nervosismo, e ainda assim não fazia idéia do que fazer em seguida.

Chegamos ao salão principal, onde as devidas apresentações foram feitas e todos se juntaram ao clima de festa. Eu fiquei observando as duas ao longe, eu queria mais do que tudo me aproximar, mas eu não podia. Nunca pensei que não ser invisível me impediria de chegar perto de alguém. Era uma ironiazinha sem-vergonha. Nenhuma das duas falou nada por um tempo, apenas ficaram observando as festividades e cumprimentaram algumas pessoas que vieram desejar parabéns a nova rainha. Ao contrário do que era esperado para a situação, Elsa parecia mais confortável com tudo aquilo do que Anna, falava com todos em uma postura gentil e ativa ao mesmo tempo. Tudo ficou bem parado até que a moça de cabelos loiros decidiu começar um conversa. Pude ver o quanto Anna estranhou aquela reação pelo seu olhar de espanto. Ela pareceu se embolar com as próprias palavras o que fez a rainha dar uma risada contida. E foi a primeira vez que eu a vi rir, era diferente e era bonito. Mas ainda assim havia algo que parecia não estar bem encaixado. Apesar de tudo ainda havia aquela parte dela que era tão perigosa, de acordo com suas palavras.

Elas trocaram mais algumas palavras e tudo parecia estar correndo muito bem, eu podia ver o quanto Elsa desejava poder ter aquelas conversas. Mas então, subitamente, todo o ar amigável que se instalava desapareceu. Anna lhe disse alguma coisa que a deixou completamente desconfortável, e ao tentar tocá-la, Elsa se afastou bruscamente. Anna olhou para ela surpresa e eu me mordi de curiosidade para saber o que tinha acontecido. A princesa hesitou e pareceu se despedir de Elsa, indo para o outro lado do salão. Aproveitei a chance, e me aproximei da rainha. Eu estava esperando por isso há um tempinho, mas ao ver o olhar ressentido que ela lançou para sua irmã eu desejei que tivesse acontecido em outra ocasião. Eu cheguei bem perto dela, e fiquei feliz por poder admirar seus formosos e profundos olhos azuis. E novamente, vi dentro deles aquela chama de desalento que eu sabia que iria apagar.

– Não se preocupe, ta bem? Eu vou ajudar você.

Ela dava um sorriso para todos que vinham falar com ela, era gentil com todos que a cumprimentavam. Porque era tão difícil verem o quanto ela estava infeliz. Um longo suspiro escapou pelos meus lábios. Eu estiquei minha mão até centímetros do seu rosto, se eu ao menos pudesse tocá-la.

– Eu prometo, nem que eu tenha que morrer, eu vou fazer de tudo para você ser feliz e dar um sorriso sem o menor receio.

E eu nunca fui mais sincero em toda a minha existência.


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Notas finais do capítulo

Acho que tem alguma coisa errada com esse capítulo.
Foi mal, mas eu não revisei, e se mesmo quando eu reviso ainda acho problema, imagina agora.
Espero que gostem.