Elsa estava apaixonada. Depois de algumas semanas, ela pôde finalmente concluir o que estava óbvio há muito tempo: ela amava Jack Frost. O único problema é que se sentia triste por não poder contar tudo para sua irmã. De novo. Esconder algo de Anna só trazia problemas, e Elsa esperava que naquela situação pelo menos fosse diferente. Sabia que uma hora ou outra iria ter de contar. Mas precisava escolher o momento certo.

Sua agenda agora vivia lotada. Desde que ela ficara conhecida como “rainha do gelo”, vários reinos deram propostas de alianças, mas ela negara todas. Sabia que podia cuidar de Arendelle sozinha. E agora tinha alguém invisível ao seu lado o tempo inteiro. Mesmo com vários afazeres do palácio, ela sempre arrumava um jeito para passar um tempo com Jack. Kristoff e Anna estavam morando lá também, e ela tinha que tomar cuidado para que ninguém a visse conversando com alguém invisível. Também tinha tempo para sua irmã. Quando chegou o inverno, as duas passavam uma boa parte do dia na neve junto a Olaf. Fizeram até uma boneca de neve para lhe fazer companhia, mas decidiram não dar vida a ela. Não queriam iludir o pobre boneco de neve.

O tempo foi passando, até que um dia, Anna começou a passar mal. Ela se sentia tonta e vez ou outra vomitava. Também não conseguia levantar da cama. Elsa estava começando a ficar preocupada, e Kristoff também. Mas, quando a levaram aos trolls, eles não deram nenhuma má notícia. Pelo contrário: Anna estava esperando um bebê.

A mãe adotiva de Kristoff foi a primeira a comemorar. Abraçou Anna e o filho dizendo que seria avó. Os trolls fizeram uma festa e Elsa conseguia apenas sorrir. Como será que era a sensação de ser tia? Jack surgiu ao seu lado.

– Então sua irmã realmente conseguiu seu sonhado final feliz, não é?

– O que está fazendo aqui? – sussurrou Elsa, para que os outros não escutassem

– Vim para a festa. Sou da família também, não sou?

– Não. Mas bem que poderia...

– O que quer dizer?

Por que eu disse isso?

– Eu tinha pensado em... não é nada. Esqueça.

– Casamento? Que eu saiba, eu que deveria pedir. E a família também deveria saber da existência do noivo. Literalmente.

– Você está insinuando que...

– Que você deve contar para sua irmã? Sim. Acho que já está na hora.

Depois que voltaram para o palácio, Elsa passou a noite inteira pensando no assunto. Se realmente queria uma vida quase normal com Jack, teria que contar. Afinal, pra que tanto drama? Anna era sua irmã. Ela tinha que acreditar. Elsa a conhecia muito bem, e sabia que com um pouco de esforço ela acreditaria. Quando o sol nasceu, viu lindos desenhos de gelo em sua janela. Automaticamente sorriu, sabendo quem havia feito os desenhos. Jack estava do lado de fora, também sorrindo, e entrou.

– Bom dia, flor do dia. Dormiu bem?

– Não. Na verdade não dormi.

Ele suspirou. Elsa queria poder esperar por algum comentário que fosse fazê-la se sentir melhor, mas sabia que não havia nada a dizer. Levantou-se e foi até o banheiro. Tomou um longo banho e colocou um vestido azul simples e confortável. Naquele dia não precisaria sair ao público. Pediu a Jack que fosse até a janela do quarto de Anna checar se ela estava acordada enquanto penteava seu cabelo.

Quando terminou a trança, viu Jack bater levemente na sua janela.

– E então?

– Ela está acordada, pode ir lá.

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– Anna? – disse Elsa, após bater na porta. Anna apareceu descabelada, ainda de pijama.

– Ah, olá, Elsa! Os papéis se inveteram?

Ela lembrou-se das milhares de vezes que a irmã batera em sua porta e Elsa tivera que aguentar firme para não abrir.

– Pode-se dizer que sim. Escute, preciso falar com você. Podemos ir até o salão onde brincávamos juntas quando éramos crianças?

– Que salão?

Ah é, os trolls tiraram sua memória.

– O de baile.

– Brincávamos juntas lá?

– É uma longa história, que eu terei que explicar também lá. Vamos, se troque!

– Calma! Tudo bem, me dê um minuto.

Elsa se afastou, voltando ao seu quarto, e Anna fechou a porta.

– Já conversaram?

– Não! Ela foi trocar de roupa e depois desceremos até o salão de bailes.

– Por que o salão de bailes?

– Nossas lembranças foram lá... tanto as boas quanto as ruins. Digamos que principalmente as ruins, mas prefiro que seja lá.

Não demorou muito para que Anna batesse em sua porta. Diferente do que fizera durante anos, Elsa abriu. Sua irmã estava com um vestido verde simples e as famosas tranças de lado. Aquelas tranças a faziam parecer eternamente uma criança, embora Elsa soubesse que ela já estava bem crescida – afinal já tinha se casado e estava grávida.

– Vamos descendo?

– Claro.

Ambas desceram as escadarias lentamente. Elsa ensaiava mentalmente tudo o que tinha a dizer. Ao chegarem ao salão vazio, Anna olhou em volta.

– Tantos anos que eu me divertia sozinha aqui... Mas esse salão me lembra algo mais. Não sei dizer. É como se... esqueça. Não é nada. Não dá pra explicar. Então, o que você queria me contar?

A rainha respirou fundo.

– Primeiramente, sei porque você se sente... digamos, especial nesse salão. Quando éramos crianças, brincávamos aqui o tempo inteiro.

– Sério? Por que eu não lembro disso?

Ela decidiu que era melhor ir direto ao ponto.

– Vamos voltar para este assunto depois. Primeiro tenho que lhe contar uma coisa.

Sua irmã a encarou com os olhos brilhando de curiosidade. Ela recordou-se de cerca de dez anos atrás, no dia em que machucara Anna, porém antes disso. Aqueles grandes olhos azuis eram os mesmos de sempre, e nesse outro dia não estavam diferentes. Lembrava-se da curiosidade que ela tinha sobre seu poder. Por que deixara tudo escapar? Por que não podia ter tomado mais cuidado? Se não tivesse escorregado no gelo, nada daquilo teria acontecido. Ela não precisaria ter fugido. As duas continuariam unidas para sempre.

Mas agora era tarde para lamentar. Já tinham resolvido aquele problema. Ambas eram felizes e unidas. Decidiu contar logo:

– Estou apaixonada.

Os olhos de Anna que antes brilhavam de curiosidade, agora brilhavam de emoção.

– Apaixonada? Eu sabia, Elsa! Você vai casar? Ah, diga que vai casar! Eu posso fazer seu vestido agora, quer dizer, você fez o meu e sabe, a mamãe me ensinou a costurar! Não estou acreditando nisso! Finalmente! Eu sabia que um dia você iria ceder e deixar o amor verdadeiro vencer!

– Bem, vendo por um lado, o amor verdadeiro venceu quando minhas lágrimas descongelaram você.

– Não esse amor verdadeiro, Elsa. Você sabe! O amor verdadeiro de todos os contos de fadas... e então?

– E então o quê?

– Quem é o felizardo?

– Ah... Isso. Bem, peço-lhe que se esforce para acreditar no que eu vou dizer agora.

– Por favor! Não precisa pedir isso, sabe que eu vou acreditar.

Elsa não conseguiu conter um sorriso empolgado.

– Tudo bem.

Anna começou a pular e os olhos voltaram a brilhar de curiosidade.

– A pessoa por quem estou apaixonada é ninguém menos do que... Jack Frost.