Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 4
Capítulo 4 - Um passo mais perto


Notas iniciais do capítulo

Aeeee, acabei. Metade de um, metade de outro.



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Já se passavam semanas desde que descobriu a viagem ao Brasil. Ela poderia berrar sua fúria e desprezar eternamente seu padrasto, mas de nada adiantaria. Seria arrastada para lá da mesma forma e faria dezenas de inimizades, algo que não era muito difícil. Diante a isso, decidiu deixar a maré lhe levar. Jonas não ousava olhar nos olhos da enteada por mais de meio segundo, talvez por vergonha, talvez por culpa, mas ela não sentia mais o desejo de fazê-lo sofrer. Apenas queria que ele percebesse o grande erro que cometeu... e fazê-lo implorar de joelhos por seu perdão.

Estava deitada no sofá assistindo a uma série de comédia quando um dos mordomos da casa cutucou seu ombro. Era o dobro de seu tamanho e careca, daqueles que a cabeça refletia toda a luz do lustre. Suas expressões faciais eram harmoniosas.

— Senhorita Megan, deseja algo para beber?

— Ah... um copo d'água me faria muito muito bem, Antoine. Eu ficaria bastante agradecida.

— Então eu vou buscar.

Não! Antoine, espera! — ela disse.

— Perdão. Precisa de mais alguma coisa?

— Sabe me dizer se meu padrasto está muito ocupado?

O mordomo levou um tempo para responder.

— Acredito que não. Fui agora pouco verificar se ele tinha algum pedido e negou. Não estava no telefone, nem na internet, nem acompanhado. Porque? Quer que eu vá dar algum aviso?

— Não... eu vou aproveitar esse momento raro para bater um papinho com ele. Nós ainda temos que esclarecer algumas questões... Antoine, você me leva a água lá em cima? Obrigada. — ela disse, com as palavras enroladas. Levantou do sofá e subiu as escadas de cara fechada, rumando para o escritório de Jonas. Ao se aproximar, bateu na porta.

Nenhum sinal de que ele tinha escutado.

Tornou a bater.

— Quem é? — a voz viera como um lamento. — Eu já disse que não preciso de nada.

— A Megan! Será que poderia me atender? Não vou tirar muito do seu tempo.

A garota não podia vê-lo, mas sabia que tinha bufado. Era algo típico dos Marra.

— Entra... — ele disse, e pela primeira vez em dias, fincou seus olhos nos dela. — Antes que comece a falar... eu sei que deveria ter te perguntado. Aham, eu fui desrespeitoso. Claro, eu fui um otário. Mas essa não é a questão. Se quiser saber... eu não estou realmente preocupado com isso. O absurdo maior é... meus sócios acham que estou velho demais. Que vou ficar caquético e desaprender esse cargo. Dá pra acreditar nisso? Pff...

Era incrível como além de idiota, Jonas era cego. Estava, de fato, envelhecendo. Era compreensível que alguém mais novo passasse a comandar a firma. Mas lógico, ele só tinha olhos para o próprio umbigo. Seu ego era maior que sua noção.

— Eu não estou aqui para discutir sobre você. Quero saber como serão as coisas para mim e para minha mãe. Eu vou pro Brasil, blá, blá blá, eu já entendi essa porcaria. Mas...vamos ficar aonde? Em que região do Rio? Será perto da praia? A qualidade de vida será boa? Eu terei de conhecer novos amigos? Preciso de respostas.

Ok. Você quer saber, não é? Sua vida não mudará nada, entenda de uma vez por todas. Vai ficar em uma região tranquila e de classe média alta. Terá a liberdade de sair explorando todo o país se quiser, ninguém vai te perseguir. Eu pedi sigilo de nossas vidas por lá e espero que cumpram com o combinado. Vá para suas festas, tome suas cervejas, encontre um namorado, entre no mar, faça o que quiser dos seus dias, porque afinal de contas, eles estarão contados. Eu vou realizar o maior evento de todos e vou ficar no topo do sucesso. Escolherei um rapaz ou garota para ficar no meu lugar e de aí em diante, voltaremos pra cá. O que acontecer no Brasil, ficará no Brasil. Eu continuarei pagando as roupas, maquiagens e o diabo quatro, seus e de sua mãe. Satisfeita?

Ela engolira em seco pelo menos duas vezes enquanto ele disparava as palavras.

Talvez ela realmente precisasse conhecer uma outra cultura e passear por novos lugares. Ao ouvir a narração de Jonas, um quê de felicidade começou a surgir dentro dela. De repente, um peso enorme saiu de suas costas e ela se viu solta a planejar a viagem. Estava começando a gostar daquele país.

— Nossa... eu estou sim. Obrigada! — dissera com sinceridade, levantando da poltrona do escritório e se afastando dali. Estava quase saindo pela porta quando uma dúvida surgiu.— Érr... só mais uma coisa. Quando precisarei ir organizando minha mala e outras coisas para viajar?

— Hoje a noite.

— Como? — a garota começara a rir. — Acho que não entendi.

— Nós pegaremos o avião amanhã, Megan. — ele começou a rir também, mesmo que não entendesse a graça. Ela ficou calada enquanto o encarava seriamente, e ele abria um sorriso de orelha à orelha. — Amanhã.

***

Davi voltou exausto de mais um dia de trabalho. De tarde, houve uma feira de ciências, tecnologia e história da informação na ONG Plugar, e ele teve que explicar para várias turmas de escolas vizinhas passo a passo do estudo de um técnico em computação. Fez diversas comparações e exemplos, afim de que todos entendessem e talvez se interessassem. As palavra saíram tão leves quanto sua respiração. Era ótimo poder falar sobre algo que amava, e ele amava cada cada milímetro de seu HD.

Pegou um ônibus quando o sol começou a cair e aturou um engarrafamento danado até chegar na rua que queria. Se afastou do ponto de ônibus e caminhou com o peso da mochila em suas costas. Os ombros faziam "crackt". O corpo fazia "crakt". Talvez ele apenas estivesse crocante, nada mais do que isso. Contornou uma livraria e entrou para comprar duas ou três revistas sobre eletrônicos, saindo alguns minutos depois com um saco de pão de queijo debaixo do braço. Avistou um mercado e ligou para Rita perguntando se faltava alguma coisa no armário da cozinha. Comprou fermento, mortadela, leite, ovos, alguns produtos de limpeza e algumas de suas frutas prediletas.

Quando parou para notar, já estava corcunda. Não sabia que era possível carregar tantas coisas na mão assim, no calor daquela cidade, mas era. Houve uma hora que teve que parar e sentar, para não se desidratar e cair duro no chão. Suspirou dizendo que conseguia. Quando enxergou sua humilde casa, no meio de tantas outras, era como ver um oásis no deserto. Parecia miragem; Era surreal.

Empurrou a porta com o joelho e guardou todas as tralhas no lugar certo. Lavou o rosto com água gelada e carregou as pernas até a cozinha, pois pareciam chumbo. Quando o fez, sua mãe estava guardando a louça nas estantes e abriu um sorriso reconfortante. Parou para lhe dar um abraço e contorceu o nariz.

— Credo Davi! Você está suando feito um porco!

"Que amor"– ele pensou, apenas concordando com a cabeça.

— Tem razão... eu estou fedendo.

— É o que estou dizendo... você precisa ir se lavar, tome um banho.
— Dia de tomar banho é sábado. Você sabe as regras.

Tinha acabado de arrancar uma risada da mãe. Era tão linda.

— Não sabe como estou feliz por termos feito as pazes. Sentia falta desse teu humor sacana, seu tapado.
— Você não vive sem mim, admita.

Ele tinha toda a razão. Rita voltou a guardar os talheres quando percebeu como era avoada.

— Ah, é! Traga as correspondências. Esqueci de esvaziar a caixa de correio.

— Como se alguém fosse nos mandar alguma coisa... devem ter folders de liquidação nas Casas Bahia. Pode deixar lá.

— Davi... por favor.

— Argh! Tá! Eu faço! — ele urrou, saindo dali prestes a ter um ataque. Como se já não adiantasse tudo o que tinha feito desde as 7h da manhã, ainda teria de seguir a lista de obrigações da casa. Se aproximou da caixa de correio e abriu a portinhola, trazendo os papéis para dentro de casa. — Pronto! Tá feito!

— O que tem aí?

— Folders... mais folders... um folheto para Encontro de Jovens Evangélicos, ofertas do brechó da esquina, conta de luz... de água... um negócio aqui.

— Que negócio?

— Sei lá... é uma carta com papel de cartão vermelho. Até que parece arrumadinha. Tem nosso endereço e... — seus olhos arregalaram. — É pra mim.

— Pra você?! — ela não disfarçou a surpresa. — Você fez alguma compra pela internet? Mantém contato com alguém longe ou o que?

— Não... a... — os olhos corriam pelas letras. — Meu Deus!

— O que foi?

— Ahhhh meu Deus! Ahhhh... eu não acredito!

— Do que está falando?

— Não pode ser verdade.

— O que tá escrito? Hein?

— É sobre a minha inscrição... Jesus... fui selecionado para fazer o teste no Rio!

— Teste?

— No reality... da Marra International. Meu Deus... está acontecendo.

— Mas como assim...? Você não se inscreveu.

— Mas é lógico que eu me inscrevi.

— Você disse que não faria!

— Eu não perderia essa oportunidade por nada...

— Você?! Como pôde fazer algo assim?

— Eu vou atrás dos meus sonhos.... que nem o velho taxista me aconselhou.

— Hã? Que velho taxista?

— Longa história.... esquece.

— Você não pode ir para Rio... é tão difícil de entender?

— Fala sério! Porque tanto te incomoda que eu tente?

— Porque você não vai só tentar... eu sei que vai ganhar.

— Quê?

— Ninguém tão bom nisso como você.

— Como é?

— Você é um gênio! Ainda não percebe? Você vai ganhar deles, vai embora.

— Porque está dizendo isso? Você nem conhece os outros participantes.

— Porque eu sou tua mãe e o que importa é que te conheço. Sei que consegue.

— Então qual o problema? Porque tanto drama, mãe?

— Cê vai embora... pra Califórnia! Longe de tudo que sempre foi teu.

O rapaz se calou. Viu que sua mãe estava tão nervosa quando ele.

— Se eu ganhar... eu te levo comigo. — ele falou. — Sério.

— Pare de prometer coisas.

— Se é isso que tanto te preocupa... não esquecerei das minhas origens.

— Claro que... — foi interrompida.

— Eu jamais abandonaria a minha mãe. A mulher que me criou... ou qualquer outro princípio que aprendi aqui.

— Mas...

— Eu amo você mais do que qualquer outra coisa na minha vida. Para de ficar tão neurótica. Eu só quero o teu apoio... porque sei que se me der, terei muito mais chances de vencer essas etapas.

Ela fechou os olhos e um sorriso começou a aparecer. Talvez devesse baixar a guarda. Era seu dever como mãe apoiá-lo.

— São muitas?

Davi não pôde se sentir melhor com uma pergunta tão simples.

— Fui selecionado pela inscrição. No Rio, a quantidade de candidatos é muito menor. Vamos passar por testes e os dez melhores técnicos de informação, entrarão no reality. Depois disso, olho por olho... dente por dente.

— E eu terei de ficar aqui? Vendo tudo pela televisão?

Davi deu um riso de graciosidade.

— Manterei contato por telefone e pela câmera do notebook. Eu prometo.

— O avião sai quando?

— Pelo o que consta nessa carta... daqui há quatro dias.

— Mas já?

— Pois é. Um passo mais perto para que os sonhos se tornem verdade.

— Você vai se cuidar lá, não é? Por favor... sem se meter em encrencas.

"Putz."

— Sem encrencas...? Vou tentar... não garanto nada.

— Ah... e sobre garotas. Por mim tudo bem. Aproveite o quanto puder.

Garotas? Eca... — disse ele, fazendo Rita rir. — Vou tentar... também não garanto nada.


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Notas finais do capítulo

O que me dizem? Aceito sugestões e opiniões