Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 1
Capítulo 1 - Seguindo a rotina


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Me baseando nas poucas informações que temos sobre os personagens de Geração Brasil, comecei a escrever essa fanfic. Eu já tinha escrito outra antes, quando Sangue Bom estava terminando e adorei a experiência. Tomara que gostem!



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Davi acordou em mais um novo dia. Olhou ao redor e concluiu que estava sozinho. Desta vez, os raios de sol já queimavam seu rosto. As mãos tatearam o criado-mudo a procura dos óculos, e as pernas formigavam debaixo dos lençóis. "Que... horas...?" - ele murmuriou, ainda com os pensamentos mais lentos que o normal.

Olhou para o relógio despertador e engoliu em seco. Estava mais do que atrasado para o trabalho. Saiu da cama com um pulo e precisou correr até o guarda-roupa. Dali em diante, tudo o que fizesse teria que ser depressa, caso contrário, cavaria a própria sepultura. Vestiu as calças jeans tão rápido que nem percebeu que estava do avesso. "Merda" - repetia sem parar, lutando contra o tempo.

Ele não poderia se atrasar, ao menos, não muito. Estava acostumado a ouvir longos sermões de sua mãe adotiva, Rita, pelos atrasos no emprego ou pelas encrencas que se metia, mas não estava com saco para ouvir àquela noite. Não àquela. "Sem chance".

Calçou seus tênis enquanto corria pela casa à procura de um telefone de táxi. Ele normalmente pegaria um ônibus até a ONG Plugar, mas não tinha tempo para demoras. Pegou uma barrinha de cereal no armário da cozinha e um guarda-chuva do lado da porta, saindo rua afora. Não demorou mais do que cinco minutos para que o táxi chegasse e ele não exitou para entrar no banco de trás.

— Bom dia. — disse com a voz ofegante e disparava as palavras para explicar o endereço. — O mais rápido que o senhor conseguir, por favor.

O taxista era um homem calvo, de seus quarenta anos, com uma camisa do flamengo mal passada. Seu rosto era carregado de desânimo por trabalhar logo cedo, e ele não parecia nada disposto em fazê-lo em tempo recorde. Apenas arqueou uma das sobrancelhas, enquanto assentia lentamente para não parecer grosseiro.

— Então... porque está tão apressado? — ele dissera, quebrando o silêncio mortal que se instalara no veículo.

— Eu... eu sou professor de informática. Meus alunos devem estar fazer baderna com meu atraso.

— Ahh... seus alunos. Adolescentes?

— E adultos. Todos tentando seguir como técnicos.

— Aham... certo. É um bonito trabalho o que você faz.

— Obrigada, eu gosto. — disse ele, tentando convencer a si mesmo que era verdade.

Sei.

— O que foi? — perguntou, percebendo o tom de zombação.

— É que... cê não me convenceu.

Certo, a situação era constrangedora. Estava forçando demais a amizade enquanto o tempo passava. Ele precisava chegar naquela sala. Não podia mais demorar.

— Quer dizer... é bacana, interagir dessa forma com as pessoas, mas... — fora interrompido.

— Não vale a pena?

Davi estremeceu no banco.

— Não sei dizer.

— Você é formado em computação?

Ele assentiu com a cabeça. Olhou para o relógio no rádio. Mais um minuto se passava.

— Sim.

— E gosta de ensinar?

— Bem... gosto. — disse, vendo o homem franzir o cenho novamente. O suspiro lhe pareceu um lamento. — Eu só queria algo... maior. Entende?

— E você acha que meu sonho era ser taxista? — disse o homem, a expressão do rosto mudara. Davi se sentiu um pouco envergonhado e o silêncio se instalou novamente. — Eu queria ser médico, rapaiz. Queria segurar na mão de meus pacientes e dizer que tudo terminaria bem. Queria garantir isso. Era isso que eu queria. Mas a vida não foi tão generosa.

"E aonde está querendo chegar?" - Davi refletiu, os pensamentos embaralhados. Que resposta ele daria a isso?

— Sinto muito.

— Não deixe que a mesma coisa aconteça contigo.

— Como?

— Vá atrás dos seus sonhos.

— Ok... — dissera — Érr... obrigada pelo conselho.

— Disponha.

O homem demorou mais eternos quinze minutos para deixá-lo em frente ao trabalho e mais meio minuto para devolver o troco. Davi acenou com sutileza e subiu as escadas até o corredor. Passou voando pela biblioteca e já pôde escutar a bagunça dentro da sua sala de aula. Parou em frente a porta e fez um breve prece pessoal antes de abri-la com um suspiro.

— Bom dia pessoal, desculpa pelo atraso. Aconteceram algumas coisas bizarras e... — Davi foi falando, observando todos os rostos se virarem para ele. — Quero cada um em um computador e fazendo o de sempre até que eu encontre minhas anotações. — pegou um giz e começou a escrever itens no quadro negro. — Eu tinha planejado uma técnica mais avançada para hoje, mas... não lembro qual. Então, vão ao painel de controle e configurem o sétimo programa da lista de acordo com essas informações.

As expressões dos rostos eram confusas. Davi sentou na cadeira e afundou a cara nas mãos tentando se concentrar no ritmo de trabalho. Estava com dor de cabeça e tontura, fato que tirava toda a sua disposição.

— Professor...

— Sim?

— Precisa inserir um código para acessar as configurações.

"Merda".

— Ah, mas é claro! Obrigado Marcos! — ele abriu um sorriso amarelo, tentando disfarçar o forno que estava a sua cabeça. — Então cês podem configurar o quinto da lista.

Agora todas as expressões eram reconfortantes.

— Eu preciso buscar minha anotações na sala dos professores, volto já. Continuem na mesma tranquilidade que estão. E... me desculpem novamente pelo atraso.

Fechou a porta atrás de si e rumou até a sala dos professores. Ele precisava tomar um chá ou uma aspirina. Não sabia o que estava havendo. Lembrou da noite anterior, em que ficara enfurnado em salas de bate-papo, tentando encontrar alguém interessante para conversar. A última experiência não dera certo.

Abriu a porta e percebeu com a sala estava lotada. De acordo com seus cálculos, ele era o único que estava dando aula. Se é que aquilo poderia ser chamado disto. Caminhou até os armários e começou a mexer em seus documentos, procurando os papéis com borda amarela.

De fato, todos os professores estavam ali. Os de ciências tomavam um café bem cheiroso, os das humanas reclamavam de seus alunos, das exatas botavam papo para fora, mas todos eles estavam vidrados na televisão no centro. "Televisão... puft... desocupados" - ele pensava, como se os computadores fossem bastante superiores. Em questão de segundos, as vozes começaram as fofocas.

— Quem diria que uma coisa dessas ia acontecer.

— Esse cara perdeu a noção do ridículo.

— Só pode ser brincadeira! Logo aqui?

— Dá pra acreditar? O mundo tá perdido mesmo.

Davi foi acertado em cheio pela curiosidade. Largou os documentos e foi se aproximando dos sofás, sentando no braço de um deles. Alcançou uma xícara de chá e foi bebericando para que a enxaqueca acabasse.

— [...] ainda não se sabe o motivo para que Jonas Marra tenha tomado essa decisão. Os acionistas estão preocupados, mas não há nada que se possa fazer. A Marra International virá ao Rio de Janeiro e a partir de então, qualquer jovem talento terá a chance de comandá-la. As inscrições do reality-show ainda não têm data marcada, mas serão logo em breve. Especializados em computação e tecnologia estão convidados a participar. E que vença o melhor!

O chá desceu queimando pela garganta, e rosto de Davi ficou pálido. Tudo começou a ganhar mais cor à medida que as palavras chegavam aos seus ouvidos. Marra International... empresa número um... no Rio... qualquer jovem talento... reality... vencer. Respirar se tornou uma tarefa difícil.

— Escutou essa, Davi? — o professor de química, José, lhe chacoalhou pelos ombros, rindo feito condenado. — "Qualquer jovem talento". Já imaginou? Você lá.. no lugar de Jonas Marra, sentado naquela mesona, com o luxo dele, fechando acordos com metade das empresas que têm. Hã? Quer coisa melhor? Ahhhh... que sonho hein rapaiz! Davi...? Ô Davi... tá me ouvindo? Hey. Davi?

— Eu tô te ouvindo.

— Amém! Isso aí é destino hein cara!

— O que?

— O reality-show! Cê ganhava fácim fácim.

— Você acha? — ele dizia, nem ouvindo as próprias palavras. Os pensamentos turbilhavam em sua mente.

— Claro que acho! Você é o melhor profissional que já conheci! Entende tudo de tecnologia, tem garra pra vencer. Você é o cara.

— Sou né...? — ele dizia, as palavras saindo com uma debilidade impressionante devido ao choque que a notícia lhe causou.

— E então...?

— Então o que?

ACORDA GAROTO! Então: você vai participar?

— Acho que não custa nada tentar.

— Não tem essa, cê vai é ganhar!

— Mas...

— Mas nada! Vem cá... repete comigo. "Eu."

Eu...

— "Vou".

... vou...

— "Ganhar essa e ir pra Califórnia"

... ganhar essa e ir pra Califórnia...

— "Realizar o sonho da minha vida"

... realizar o sonho da minha vida...

— "Encontrar uma garota e ser feliz com ela"

— Mas eu não tô carente.

— Só repete!

... encontrar uma garota e ser feliz com ela...

— "E desistir de ser professor".

— Mas...

— Você não engana ninguém com esse papo.

Davi bufou. As pessoas tinham razão. Ele precisava aceitar.

... e desistir de ser professor...

— Esse é o meu garoto! — José berrou, abraçando o rapaz e deixando cair gotas de saliva em seu pescoço. — Promete que vai tentar? Todas essas coisas?

Davi já conseguia acreditar no que dizia. Abriu um sorriso e se deixou levar pela emoção.

— Prometo! Ah caramba... eu prometo!


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Notas finais do capítulo

O próximo será da visão da Megan! hahaa Um beijoo