Yes, I'm your angel,
I'll give you everything,
In my magic power,
So make a wish,
and I'll let it come true for you,
Tra, la, la, la

Yes, I'm your Angel - John Lennon

A garota se virou na cama e pôs-se a encarar o teto por alguns minutos. Era tão vazio, assim como ela estava agora. Vazia por dentro.

O pensamento ecoou sua mente e ela se lembrou de algo que fazia na infância. Se levantou, pousando seus pés no carpete frio de madeira. Ela se dirigiu até a janela, a qual abriu com facilidade e logo a brisa fria bateu em seu rosto, arrepiando-a e então fazendo ela regredir alguns passos para pegar o seu casaco. Ela vestiu um casaco e saiu pela janela, se deitando no telhado, observando as estrelas e ouvindo o som do silêncio, em sua solidão.

Ela se levantou do telhado, logo após uma corrente de ar razoável para lhe deixar com mais frio passou por ali, e se sentou no batente da janela, observando o campo verde que tinha como vista e as árvores que balançavam serenamente com o vento que passava por ali. Um outro barulho irrompeu o quarto, e a assustou. A lâmpada do seu abajur explodiu, causando na garota pânico. Seus pés escorregaram pelas telhas, e quando ela estava prestes a soltar o batente da janela, ela sentiu uma mão forte a puxar, e logo ela estava segura dentro de casa, com os cabelos bagunçados e ofegante, pois não era acostumada a levar tamanho sustos.

Ela observou a figura de sobretudo bege cautelosamente, novamente ela acabou encontrando as íris azuis profundas, logo desviando o olhar e caminhando calmamente, porém num ritmo nervoso, pelo quarto.

– Você não me respondeu da última vez... Como entrou? Quem é você?– Ela disparou, olhando-o de braços cruzados, sentindo outra brisa fria que vinha pela janela e batia diretamente em seu pescoço desprotegido, devido ao coque que ela havia feito.

– Eu já lhe disse Kaddie, meu nome é Castiel, eu sou o anjo do senhor. - Ele respondeu, mantendo o olhar fixo na garota, que agora, não prestava atenção nos olhos dele.

– Anjos? Anjos não existem. Como sabe meu nome?– Ela ficava mais irritada a cada palavra que ele dizia, ela engoliu em seco e esfregou um pé no outro, se aquecendo.

– Depende da sua fé. Você não tem fé, e por isso, você não acredita - Ele falou num tom sereno de voz, enquanto ela se virava e fechava a janela, cessando todo o frio que estava no quarto.

– E-eu tenho fé– Kaddie piscou os olhos diversas vezes e passou a mão no pescoço, tentando disfarçar a sua desconfiança.

– Não foi o que me pareceu– Ele concluiu, mantendo a mesma expressão que parecia fria, mas ao mesmo tempo confiante.

– Aparências enganam e... O que você quer aqui?– Ela respondeu, relaxando a expressão e caminhando até sua cama, se sentando na mesma e puxando um caderno que estava debaixo da sua coberta com uma caneta, se abaixando para anotar alguma coisa insignificante.

– Você pediu por proteção e eu estou aqui para fazê-lo, mas você deve confiar em mim e no senhor - Ele disse, caminhando para mais perto da garota e observando o que ela escrevia de longe - Me desculpe pela lâmpada.

– Tudo bem, eu ia trocar ela amanhã mesmo... - Ela deixou o caderno de lado e estava escrito "Angel of the lord". Ela jamais poderia esquecer da sensação que sentiu quando ele pronunciou tais palavras, ela sentia que havia sim, um fundo de verdade nas palavras do homem, que agora ela sabia que era um anjo mas mesmo assim tinha dúvidas, que trajava um sobretudo bege e agradável. - Prove-me que és um anjo, então...

O tom de voz da garota havia sido desafiador. A lua fazia a sombra da silhueta dele, e quando a garota observou melhor, lá estavam as asas. Ela respirou fundo e fechou os olhos, digerindo tudo o que havia visto e então murmurando baixo o suficiente para que ele escutasse:

– Eu estou delirando.

– Você não está delirando - Ele se sentou do lado dela e suspirou fundo antes de continuar conversando - Eu sou bem real - Ele tocou o braço dela com o indicador e continuou parado ali.

– Tudo bem, Castiel... Eu posso lhe contar minha história se quiser ouvir - Ela se virou para ele e juntou as mãos rapidamente, entrelaçando os dedos e ouvindo a chuva fina que acabara de começar a cair lá fora e fazia pequenos "plac plac plac" na janela.

– Estou a ouvidos, Kad - Ele disse e olhou atentamente para a garota, dando-a confiança para que prosseguisse.

– Tudo bem– A garota suspirou e abaixou a cabeça, antes de ergue-la e olhar para ele novamente - Tudo começou quando eu completei os meus 14 anos de idade. Meu pai começou a beber demais, e como era policial, me ensinou a atirar para auto defesa, ele me batia ás vezes, quando eu negava e dizia que não queria aprender. Ele começou a agredir a minha mãe a situação só piorava. Sempre fomos uma família unida e sempre nos resolvíamos em conjunto. As situações só pioraram e um ano depois, eu já não aguentava mais. Eu não ficava em casa, vivia na casa da minha amiga Melody e então, dois dias depois que eu completei 16 anos, eu fui visitar minha mãe e quando eu vi, minha mãe estava morta no chão da cozinha... e o pior, meu pai havia assassinado ela com facadas - Ela engasgou ao se lembrar da cena da sua mãe inerte no chão, com sangue espalhado por seu vestido e seus cabelos bagunçados, com hematomas pelo corpo, com sinal de luta corporal e desgaste físico. - E um tiro. Eu não sou mais a mesma... – Ela deixou duas lágrimas grossas rolarem por suas bochechas e então direcionou o olhar para Castiel, que prestava atenção a tudo que a garota dizia. - A imagem não sai da minha mente.

– Kaddie Riwers... Eu vejo que não está sendo fácil no seu olhar, de fato, não seria fácil mas vejamos... Você cresceu com isso e você vai ver que... Bom, quem sou eu para falar algo? - Ele franziu o cenho e esfregou uma mão na outra.

– Você é o anjo do senhor.– A garota disse, passando as mãos no rosto, tirando as lágrimas dali e secando o rosto.

– Sim, eu sou. E a partir de hoje eu irei ouvi-la. Eu sempre estive aqui Kaddie. - Ele apontou o dedo para o lado esquerdo do peito da garota. - No seu coração, na sua fé... Você simplesmente nunca viu.

A garota abraçou ele, que ficou sem reação, apenas observando-a sem quase nada entender, apenas afagou os cabelos da garota, que logo se afastou e esboçou um sorriso forçado.

– Obrigada. – Ela sussurrou e logo Castiel não estava mais lá. Ela suspirou e deitou na cama, puxando o edredom para si e adormecendo logo em seguida. A respiração dela logo ficou pesada e profunda, demonstrando o cansaço dela, que não dormia há 2 dias.

Ela provavelmente não iria sonhar com nada ou com ninguém e ela apenas iria se perguntar no outro dia se aquilo tudo era real ou era um sonho, mas uma voz a despertou, uma voz familiar:

– Você acha mesmo que tudo é só um sonho?

Aquela frase começara a ecoar na mente da garota, que abriu os olhos novamente e encarou o teto por alguns minutos, adormecendo novamente em seguida, o seu corpo estava pesado e os seus nervos muito abalados devido aos choques dos últimos dias.

Sua avó entrou no quarto silenciosamente, desligou a luz e a vigiou por alguns minutos, em seguida, beijando a testa da neta carinhosamente, ajeitando a coberta para ela ficar mais aquecida e em seguida, caminhando para a porta, dando uma última olhada nela antes de sair e fechar a porta, sorrateiramente.

Em alguns quilômetros de distância, ou até meses de distância, os Winchesters estavam quase entediados. Sam discutia algo sobre casos estranhos, esse que usava uma blusa xadrez e se encontrava sentado preguiçosamente no sofá, Dean estava sentado com os pés na mesa, degustando de um copo de Jack Daniels com generosas pedras de gelo. Logo Bobby, que estava na cozinha tomando uma bela xícara de café forte, recebera uma ligação. Passou alguns minutos no telefone, escutando tudo atentamente, ao desligar ele exclamou com o mesmo tom de sempre para os rapazes:

– Vamos seus bundões, levantem, temos trabalho!