Derek

Esse dia estava ficando cada vez pior. Primeiro, eu já não estava gostando de me manter distante de Hilly. Segundo, o Conselho me convocaria na quarta-feira e eu estava sem provas ou pistas. Terceiro, acabara de brigar com um humano no meio do colégio. Cara, o que mais poderia acontecer? Só faltava eu ser expulso, o que faria minhas investigações irem por água à baixo. Se a nova diretora realmente fizesse isso, eu obviamente não poderia entrar mais no colégio, o que dificultaria muito a situação. E eu não poderia simplesmente invadir a escola sem dizer nada.

Segui a diretora pelos corredores, irritado. Maldita humana. Eles se acham superiores, sempre, em qualquer situação. E não acredito que briguei por causa de um simples ato de ignorância. Sei lá, não podia deixar aquele babaca sair ganhando por uma causa injusta, sempre humilhando todos com ninguém dizendo absolutamente nada. As pessoas só incentivaram a luta, o que me deixou perplexo. Como assim? Será que toda vez que Michael ameaça machucar ou humilhar alguém as pessoas só apoiam? Fiquei indignado. Eu deveria dizer o que pensava à diretora.

Cheguei em seu escritório, sentando-me em uma cadeira em frente a uma mesa. Bufford sentou-se numa cadeira do outro lado da mesa. Ela parecia furiosa e me encarava como se eu tivesse cometido um crime. Bem... Eu não sabia. Será que lutar com alunos era considerado um crime?

–Derek Donnis. O que... - Ela se interrompeu e olhou para a mesa, claramente irritada.

Ela respirou por um tempo, depois voltou a olhar para mim, um pouco mais calma dessa vez.

–Me conte exatamente o que aconteceu naquele refeitório. Você pode ser expulso por seus atos, sabe disso, não?

Eu abaixei a cabeça, indignado. Então, eu tinha sido chamado na diretoria por ter me defendido de um cara que me ameaçou me machucar e humilhar? Sério, eu não o matei. Nem sequer pensei nisso, apenas o fiz parar. Meus instintos de lobo estavam a solta, e era difícil controlá-los agora. Mas nem por isso que eu devo ser injustiçado. Respirei fundo, pensando no que iria dizer.

–Diretora, eu...

–Senhora- a mulher ranzinza me interrompeu bruscamente- Para você, eu sou Senhora.

Mordi minha língua. Na verdade, eu queria dizer um monte na cara dela, mas me controlei. "Senhora". Senhora do quê? Ah, eu estava quase o mandando tomar em certas partes que eu não podia citar.

–Senhora Diretora. Eu estava no refeitório, apoiado na parede quando Michael apareceu e derrubou uma bandeja cheia de comida em cima de mim. Depois, ele zombou de mim e ameaçou me machucar. Eu não podia deixá-lo me humilhando, então disse algumas verdades na cara dele e ele tentou me agredir. Eu apenas me defendi de suas agressões. Não podia simplesmente ficar parado enquanto ele me batia, a Senhora não concorda?

A diretora coçou o queixo, pensativa.

–Esse colégio possui regras, Derek. Regras que devem ser cumpridas. Ambos não as cumpriram. Porém, o que você disse a Michael quando ele te ameaçou?

Eu a encarei. Bufford parecia me incriminar por tudo isso.

–Eu disse a ele que a escola não o pertencia, que ele não podia ser o centro das atenções e continuar a humilhar as pessoas. Foi basicamente isso. Então ele se irritou e tentou me agredir.

–Derek, quero saber tudo. O que mais disse a ele?

Oras, você queria saber tudo o quê? Já tinha dito. Claro que eu não contei a parte da detenção, mas ela não precisava saber disso.

–Bem... Foi isso. Depois ele disse que era melhor nas notas que eu, e rebati dizendo que ele precisava rever seus conceitos em Matemática.

A diretora ficou em silêncio por um tempo, depois disse:

–Certo. Você apenas se defendeu de Michael. Mas ele estava caído no chão, inconsciente. Isso não ultrapassa um pouco os limites de "defesa", Derek?

Tentei não fazer nenhuma besteira. Meu lobo interior estava cansado daquele maldito interrogatório e queria urgentemente sair. Me controlei.

–Senhora, ele tentou me socar. Duas vezes. Nessas vezes, eu o segurei e o fiz se afastar. Não é minha culpa se ele literalmente se jogou para cima de mim. Ele foi incentivado pelos alunos que estavam no refeitório, e se eu não fizesse nada, quem estaria no chão seria eu.

Aquilo não era verdade. Ele nunca poderia me derrubar, por mais forte que fosse. Os lobisomens possuem quase o triplo da força dos seres humanos. E nós conseguimos nos recuperar de machucados igualmente muito mais rápido. Michael poderia no máximo me causar alguns roxos, que logo já iriam sarar. Porém, eu tinha que mentir para sair daquela situação.

Ficamos um tempo nos encarando. Então, ela finalmente decidiu encerrar o joguinho.

–Muito bem, Derek. Você está livre por enquanto. Vou perguntar se foi realmente isso que aconteceu para algumas testemunhas, mas até lá você está suspenso por uma semana, começando amanhã. Tente se manter longe de brigas. Você é novo, e ainda está causando as primeiras impressões nas pessoas. Vou advertir Michael também, assim que ele sair da enfermaria.

Assenti com a cabeça e já fui saindo da sala, junto com ela. Foi quando apareceu uma mulher na porta do escritório. Era a assistente do diretora.

–Senhora, é melhor você voltar ao refeitório. Um garoto do oitavo ano se engasgou comendo pipoca. E o caso é bem sério.

Ambas saíram correndo. Eu fiquei sozinho na sala, e já estava saindo quando meu sentido aguçado de lobo avistou algo estranho. Havia uma mesinha ao lado de alguns armários de metal perto da porta. Em cima da mesinha, tinha algumas folhas com dados. Eram documentos. Meus instintos diziam que era algo importante.

Peguei as folhas e dei uma olhada. Olhei para o corredor, para ver se não tinha ninguém. Então, fui olhando as páginas. Havia vários dados estranhos, com o nome do antigo diretor. O Juíz Jeffrey Polls, assassinado há algumas semanas. Tinham várias informações sobre... encomendas. Encomendas destinadas ao Juíz morto.

1. Encomenda: entregada dia 15.

2. Encomenda: entregada dia 17.

E ainda tinham outras informações. Mas uma me chamou a atenção:

14. Encomenda Especial: data não prevista.

Isso era estranho. Que encomendas eram essas? O que elas tinham? Quem as estavam mandando para a diretora? Aparentemente, o Juíz estava se metendo em algum tipo de troca com alguém. Provavelmente, não com humanos; o Conselho preferia não se meter no mundo mortal, de forma alguma. E quando essa "encomenda especial" seria entregue? Eram muitos mistérios.

Fiquei até feliz com tudo isso. Era a minha primeira prova! Eu tinha alguns dados sobre trocas que Jeffrey havia feito antes de morrer. Mas uma coisa apitava na minha mente: Essa encomenda "especial" deveria ser especial mesmo, para ser a única em todas as encomendas. Eu guardei as folhas no meu casaco e saí da sala antes que alguém percebesse.

Finalmente eu tinha algo para mostrar ao Conselho. Isso limparia minha barra por algum tempo. Mas logo eu deveria buscar mais a fundo todas essas informações obtidas. Fui para casa e passei o resto do dia refletindo sobre o que eu faria a seguir. Deveria me preparar para quarta-feira. Pelo menos, tudo tinha valido a pena, afinal de contas. O dia não fora tão inútil assim.