Passado, Presente e Futuro escrita por Blue Butterfly


Capítulo 14
Presente selado


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo^^
Boa leitura =)



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O rapaz segurou o livro em suas mãos, a expressão preocupada, algo estava errado, a magia que emanava do livro estava cada dia mais forte e ele se perguntava o que havia por trás da capa. Suas mãos formigaram, bastava abrir o livro e todo o mistério seria descoberto, apenas um toque…

Ele não podia fazer isso, a magia que estava ali não tinha sido destinada a ele, para seu horror, seu pequeno monstro é quem devia abrir o livro e libertar o que quer houvesse lá dentro. Ele devolveu o livro na estante e saiu do porão.

–E aqui você só precisa calcular a área do triangulo e a área do círculo, depois você subtrai da área do triângulo a área do círculo. Entendeu?

Sakura balançou a cabeça, sorrindo para Yukito seu sorriso meio bobo. Touya parou para ver a cena, os dois estavam sentados no chão da sala, livros e cadernos cor de rosa espalhados ao redor deles enquanto com toda a calma do mundo o menino ensinava matemática à garotinha de cara de tomate. O irmão mais velho sabia que a irmã mais nova gostava de seu melhor amigo um pouco mais do que o apenas amigável, suas bochechas coradas e seu ar perdido sempre que o garoto estava perto eram prova disso. Ele não tinha certeza até que ponto Yukito sabia desse sentimento, ele não o devolvia de uma forma romântica, deixando sempre claro que, embora gostasse de Sakura, ela era como uma irmãzinha.

–Terminou seu dever de casa, monstrenga?

–Touya!!! Eu não sou uma monstrenga – Sakura choramingou fazendo biquinho.

–Touya, seja gentil com sua irmã – Yukito reprendeu com carinho.

–Tá, que seja. Anda Yukito, temos que ir.

Eles tinham um importante trabalho naquela tarde. Mesmo depois de ter conseguido comprar sua moto, Touya ainda estava aceitando qualquer emprego que aparecesse, uma parte do dinheiro ele juntava para o futuro, com a outra ele mantinha sua agitada vida gastronômica com Yukito.

O trabalho de hoje era numa loja de brinquedos, com direito a fantasia e balões de festa. Yukito ficara todo animado, ainda mais quando foi permitido que ele se fantasiasse de coelhinho, o garoto pálido era viciado naquele animal, seu pijama – uma calça e blusa de mangas compridas – era estampada com pequenos e adoráveis coelhinhos e cenouras de todas as cores. Ele até mesmo tinha uma pantufa de coelhinho. Touya ficou com a fantasia de urso e os balões de gás hélio.

–Tem que sorrir para as crianças, To-ya – Yukito aconselhou enquanto ajeitava suas orelhas de coelho.

–Eu vou usar uma cabeça de urso também, não é como se as crianças fossem ver se estou sorrindo ou não Yuki.

–Crianças são muito especiais, To-ya, elas percebem se você está bravo ou feliz. Então trate de sorrir.

O moreno revirou os olhos, fechando o zíper da fantasia e pegando com certo desânimo a cabeça do enorme urso caramelo, virou para o outro rapaz, pronto para reclamar de sua fantasia quando viu o menino concentrado em desenhar corretamente seu rosto, como os donos da loja tinham perdido a cabeça do coelho, ele teria que completar a fantasia com tinta. Touya se aproximou, empurrando a manga de sua roupa para cima, pegou um vidro de tinta na mão e fez o rapaz olhar para ele. Os dois se encararam por um longo tempo, sem fazer nada além de ficar ali, lendo nos olhos um do outro emoções e sentimentos que eram muitas vezes difíceis de expressar, difíceis de entender, e ao mesmo tempo tão bom de sentir, aquecendo o coração, trazendo um brilho diferente, uma ternura…

Sem dizer uma palavra, o moreno manchou o dedo na tinta branca e tocou o rosto do amigo com cuidado, rodeando os olhos, tingindo a bochecha, tocando com cuidado a testa, num gesto leve, mal tocando a pele, circundou a boca do rapaz e terminou no queixo. Olharam-se por mais algum tempo, era tudo tão confuso…

Yukito estendeu um novo pote de tinta para Touya, dessa vez de cor preta, um pedido silencioso no olhar. Com o dedo mindinho, Kinomoto desenhou quatro linhas em cada bochecha e depois molhou a ponta do nariz de Tsukishiro com a tinta.

–Meu coelhinho – ele murmurou quando terminou.

Yukito deu um sorriso pequeno e absolutamente verdadeiro.

Tudo tão confuso…

“-Eu digo a verdade sobre um assunto. Você tem que dizer a verdade sobre esse assunto também. Depois você escolhe outro tema. É isso? – Yukito franziu a testa, esperando ter entendido certo.

–Exatamente isso.

–Hei, esse não é aquele jogo em que as pessoas sempre terminam bêbadas?

–Sim – Touya concordou com calma – Mas acho que não vai ser preciso ter você bêbado para ser sincero comigo.

E Yukito riu.”

Tantas emoções em um único olhar…

“-Família – Touya começou – Quem eu quero proteger.

–Você se tornou parte da minha família – Yukito respondeu com calma – Lata de pêssego. Essencial para minha sobrevivência.

–Eu quero matar o idiota que inventou a ideia de colocar o pêssego em uma lata e vender.

–Você quer me matar, To-ya? – Yukito arregalou os olhos, fingindo surpresa.

–Cala a boca Tsukishiro. Futebol. Onde eu sinto que sou realmente bom para alguma coisa.

–Onde eu achei que podia voar. Um lugar inesquecível. Colégio Seijo.

–Casa de praia do colega do meu pai. Por que o colégio?

–Ora, To-ya, foi onde eu conheci você.”

Tantas coisas que precisavam ser definidas…

“-A maior loucura que eu já fiz. Panquecas.

Touya riu com a resposta inusitada.

–Perder um emprego por que bati em Sako que era um cliente. Trabalho. Minha forma de ser independente e conseguir minhas coisas.

–Uma coisa divertida de se fazer, já que eu tenho um pote de dinheiro em casa que me faz ser a pessoa mais rica do mundo – e os dois riram dessa vez – Futura profissão. Advogado e depois juiz.

–Médico. Achei que você gostaria de fazer algo relacionado à culinária.

–Eu gosto de comer, e não de fazer comida. Ainda mais quando eu tenho você para cozinhar para mim.

Quando a almofada veio em sua direção, Yukito não ficou bravo. Ele tinha pedido por aquilo.”

Tantos caminhos certos e errados…

“-Um bicho de estimação. Um cachorro.

–Um coelhinho – Yukito gritou feliz da vida, balançando suas pantufas no ar – Época preferida do ano. Primavera.

–Inverno. Pessoal do clube de arco e flecha. Sortudos.

–Sem noção do que é um time. O que aconteceu com o Sako naquela semana que ele faltou?

–Não é assim que a brincadeira funciona – Touya corrigiu.

–Eu não estou mais brincando. Só quero a verdade – seu olhar ficou sério.

–Eu, Higaka e outros caras do time de futebol nos reunimos contra ele e os caras que ajudaram a bater em você. Fizemos o mesmo com eles e avisamos que se eles te incomodassem ou a qualquer outro jogador do time, nós voltaríamos e não seríamos tão bondosos quanto fomos naquele momento.

Eles ficaram em silêncio, Yukito processando a informação e Touya refletindo no ato. Ele não se arrependia, às vezes violência só acabava com violência.

–Yuki, por que gosta da primavera?

–Por causa das flores – e um sorriso doce tomou seu rosto pálido – Por que você gosta do inverno To-ya.

–Por causa da neve.

E ao mesmo tempo tão difícil saber o que era certo e o que era errado…

“-Passado. Fui uma criança estranha.

–Eu não consigo lembrar de tudo. Presente. Sou feliz por ter vindo para Tomoeda.

–Eu superei a maior parte dos meus fantasmas desde que você apareceu. Futuro. Faculdade, minha própria casa, continuar te levando para tomar sorvete… – e sorriu.

–Eu não vou estar sozinho.”

Tantas perguntas complicadas…

“-To-ya, você acredita em destino?

Estavam voltando da escola, o andar lento e preguiçoso de quem estava se preparando para o fim de semana.

–Como assim? Destino no sentido de que tudo que fazemos já está escrito e não podemos mudar?

–Não, no sentido que certas coisas simplesmente têm que acontecer na nossa vida, independentemente do caminho que tomamos e da escolha que fazemos, certas coisas são inevitáveis. Você acredita nisso?

–Não. Mais ou menos. Quero dizer, não acho que a vida seja um jogo de sorte ou azar em que as coisas acontecem aleatoriamente. Acredito em propósitos, que tudo deve ter uma finalidade. Mas não que o futuro já esteja selado, decidido.”

E ao mesmo tempo tudo tão fácil de entender.

–Yuki…

–To-ya…

O barulho da porta se abrindo os separou instantaneamente. Um dos funcionários apareceu, chamando os dois para o interior da loja. Ainda confusos, eles subiram as escadas e passaram o resto da tarde entre crianças e brinquedos.

#####

–E aqui está o que combinamos. Você entrega o valor para seu amigo ou acha melhor que eu o faça?

–Pode deixar que eu entrego.

O moreno pegou os dois envelopes, agradecendo imensamente por finalmente poder se ver livre daquela fantasia quente e mal cheirosa. Voltou para a pequena sala onde eles tinham se trocado e encontrou um menino pálido e pequeno jogando o último lenço no lixo, o rosto sem toda aquela tinta. Sem avisar, Touya lançou os dois envelopes na mesa perto de Yukito e deixou a cabeça de urso em uma cadeira.

–Me lembre de nunca mais aceitar um emprego em uma loja de crianças.

–Eu te disse – Yukito lembrou com uma pequena risada – Mas você falou que trabalho era trabalho e me arrastou para cá com você.

–Não reclame, você estava se divertindo mais do que as crianças.

Enquanto esperava a resposta por sua provocação, uma música estranha encheu a mente de Touya, alta e poderosa, e ele caiu ajoelhado, as mãos na cabeça tentando diminuir o som absurdamente forte. Num primeiro momento, Yukito correu em direção ao amigo, sem entender o que tinha acontecido, até que sem aviso seu corpo tremeu e ele caiu no chão, uma angústia gigante tomou conta de todo seu ser, a luz sumiu de seus olhos e o mundo se tornou um lugar escuro, sombrio. A última coisa que ele viu foi o rosto aterrorizado de Touya antes de cair na inconsciência.

O moreno tentou se erguer, mas o som drenava todas as suas forças e ele mal podia se manter acordado. A única coisa que o fazia persistir era o que estava acontecendo com seu melhor amigo. A aura de Yukito estava inquieta como nunca esteve antes, por um momento ela chegou a sair do corpo do menino, mas em seguida voltou a cair sobre ele de forma pesada, outras tentativas foram feitas de se separar do garoto, mas nenhuma teve resultado. A magia queria ir embora, entretanto algo a prendia ao garoto.

O menino ficava mais pálido a cada tentativa de fuga da aura, chegando a ficar com um tom acinzentado que não podia significar nada bom.

–Pare – Touya sussurrou quase sem força alguma – Você vai matá-lo. Apenas pare…

A aura tremeu violentamente, fez mais uma tentativa e depois repousou com violência sobre o garoto pequeno, fazendo com que ele tremesse. A música parou e houve silêncio, um longo e profundo silêncio quebrado apenas pela respiração ofegante de Touya e os gemidos de dor de um Yukito que ficava um pouco melhor com o tempo.

Demorou até que o moreno pudesse chegar perto de seu amigo e mais ainda até que ele acordasse.

–To-ya – Yukito sussurrou.

Sua cabeça estava confortavelmente repousada em um braço de Touya, enquanto o garoto maior sustentava o peso do menino menor, mantendo-o sentado no chão.

–Calma, você está fraco.

–O que aconteceu? Minha cabeça dói…

–Eu não sei. Eu não sei…

Eles saíram da sala só quando Yukito jurou que estava realmente bem. O dono da loja não pareceu estranhar o tempo que eles ficaram lá, embora Yukito estivesse cansado demais para achar aquilo estranho e Touya acostumado de mais com magia para achar poucas coisas realmente estranhas.

Yukito foi para sua casa naquela noite, deixando que Touya fizesse o resto do caminho sozinho com seus pensamentos. De uma hora para outra, seu mundo tinha mudado mais do que ele podia aceitar, há muito tempo ele aceitou que a aura protegia Yukito por bondade, afinal, assim como havia sombras destrutivas, também havia sombras boas e piedosas, só que naquela tarde, o garoto quase foi morto por aquilo que deveria estar o protegendo. Não fazia sentido.

Ele congelou com a mão na maçaneta da porta principal da casa dos Kinomoto, seus ouvidos captando uma música doce e quente, alegre como o meio dia. Nunca houvera música naquela casa, não a música que indicava magia. Com choque, lembrou do livro que segurou naquela manhã, antes de ir trabalhar. Parecia tão longe, mas fora naquele mesmo dia. No dia em que ele pintara o rosto do seu melhor amigo, no dia que a confusão de seus sentimentos também foi refletida nos olhos de Yukito, no dia em que a aura protetora se tornou homicida… E agora, no dia em que sua casa trazia magia.

–Sakura abriu o livro – ele percebeu – E o que quer que estava selado nele alterou a aura do Yukito.

“-To-ya, você acredita em destino?”

Kaho foi para a Inglaterra. Yukito apareceu no dia seguinte, vindo da Inglaterra. Touya podia ver auras e sombras. Yukito e sua aura fizeram de tudo para ser amigo de Touya. Touya era irmão de Sakura. Sakura permitiu que eles fossem amigos. Na casa de Touya tinha um livro mágico que só Sakura poderia abrir. E quando ela o fez, a aura de Yukito reagiu de forma inesperada.

“-Não acho que a vida seja um jogo de sorte ou azar em que as coisas acontecem aleatoriamente. Acredito em propósitos, que tudo deve ter uma finalidade. Mas não que o futuro já esteja selado, decidido.”

Pela primeira vez na vida, ele se perguntou até que ponto seu destino foi selado.

–Touya?

Fujitaka olhou preocupado para o filho, ele parecia tão perdido parado ali na porta.

–Oto-san – o menino respondeu num murmúrio.

–Telefone. É Yukito-san.

Como se despertasse de um sonho, ele piscou e foi para dentro da casa, o pai o acompanhou com os olhos, mas deu liberdade para que ele falasse em paz com seu amigo.

–Moshi, moshi – Touya atendeu.

–To-ya… – a voz do outro lado estava tensa e preocupada.

–Yuki…

–Você chegou bem?

–Sim, e você, como está?

–Confuso, minha cabeça ainda dói.

Ficaram em silêncio por algum tempo, até que do outro lado da linha Yukito despejou tudo de uma só vez.

–Eu estou assustado, To-ya, eu não entendo o que aconteceu.

–Yuki. Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

–To-ya…

–Apenas confie em mim, está bem?

–Sim, To-ya.

Após mais algumas palavras, eles desligaram.

Tudo estava interligado. Kaho, Touya, Yuki, Sakura…

Selado, mas não decidido. Por que no final das contas, Kaho foi para a Inglaterra porque ela decidiu ir. Yukito se tornou o melhor amigo de Touya porque ele decidiu se importar com os irmãos Kinomoto. Sakura abriu o livro porque ela decidiu que deveria abri-lo. Sempre houve uma escolha, Kaho podia ter ficado, Yukito podia ter concordado com Sako, Sakura podia ter ficado na casa de Tomoyo naquele dia…

E Touya podia ter impedido Kaho, aberto o livro, expulsado Yukito de sua vida, mas escolheu de forma diferente. Porque no fim, era ele quem decidia com quem selaria sua vida.


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Notas finais do capítulo

Para o mundo que eu quero descer, como assim penúltimo capítulo?
—Sim, também fiquei surpresa por estar tão perto do fim. Sim, este é o penúltimo capítulo^^
No mangá, o Yuki só aparece quando a Sakura abre o livro, oque ele estava fazendo na sua fic antes disso?
—Ganhando o coração do Touya^^ Brincadeirinha (ou não), mas preferi mudar um pouco, pois a intenção era retratar o antes da história do mangá.
Vai ter continuação?
—Sim!!! Aguardem, em breve surgirá "Percepções", a continuação de "Passado, presente e futuro".
Beijinhus e comentem^^



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