Minha trança estava impecável, assim como o vestido verde que eu usava. Meus olhos estavam terrivelmente fundos e com profundas olheiras, além de opacos, todo o chamado brilho tinha se apagado. Eu parecia uma viúva indo para o enterro do marido. O espelho do hospital bruxo na minha frente estava um pouco rachado, já que Sirius o socara quando James deu as “boas-novas”. Eu queria uma solução, uma resposta, mas se nem Dumbledore sabia... É, bom, eu era realmente um caso morto.

As tentativas do curandeiro bonitão de me animar falhavam miseravelmente, se chamava Alec, descobri seu nome entre suas piadas “Alec, por favor, só me deixa dormir” eu tentava argumentar, mas era difícil, ele parecia determinado a me animar.

Eu realmente parecia estar indo para um funeral, isto é, se ele não fosse o meu próprio.

Faltava agora dois dias para regressarmos a Escola de Magia e Bruxaria, e, pela primeira vez, eu não queria voltar. Havia topado com o pai de uma das fofoqueiras corvinas e ela já devia ter espalhado para todos. Não queria mais reações como a de Mari, que fora me visitar dois dias depois do meu sonho-realidade, “Oh, Lily! É uma pena... Bom, você pode escolher o nome dos meus filhos...”, e continuava assim por um longo tempo.

James me encorajava a fazer o que eu bem queria, mas não parecia muito motivado a me deixar fugir como Sirius estava. Amolfadinhas disse que o melhor é ir para os Estados Unidos e começar uma vida nova com James, estudar na escola de magia de lá e sumir. PUF! Como seu eu pudesse fazer isso. Era uma boa ideia, mas eu não podia realmente considera-la.

Havia acabado de calçar minhas botas quando James e Alec entraram no quarto. Alec sorria, e eu tinha certeza que ele estava com uma piadinha ridícula na ponta da língua. James estava com seu ar maroto de sempre, mas seus ombros estavam caídos, como se alguém tivesse puxado todo o ar de seus pulmões.

–Ei, Lily! –Alec disse. Era impressionante como a bunda dele era bonita- Pronta para me deixar? –ele disse com um biquinho.

–Ah, e como! –eu respondi, tentando parecer o mais feliz possível- Tchau, Alec. Obrigada. –eu acrescentei quando passei por ele na porta. O garoto me deu um beijo e murmurou um quase inaudível “Boa sorte”

–Então, James –eu disse no estacionamento, antes de chegarmos muito perto de Sirius e minha bolsa, com uma troca de roupa, escova de dente e etc. –Você pode me deixar agora, sabe? Eu não posso te dar um filho... Vai achar alguém que possa! –eu disse rápido, não acreditando que tinha mesmo acabado de dar para o amor da minha um passe livre para me deixar.

–O que...? Lily, eu te amo. –ele disse, indo de confuso para raivoso- Eu me sinto ofendido com você achando que eu te deixaria por que você não pode ter um filho... Nós podemos adotar! Ou...

–James...

–Por favor, Lily! Você me traz paz, quando o mundo é guerra.São os seus defeitos que fazem de você uma pessoa única. E eu, nunca, nunca, nunca, vou te deixar por nada. Eu posso estar me precipitando, mas até que a morte nos separe, lembra, ou não sei... -ele disse. Eu não pude deixar de abrir um enorme sorriso. Era o maior que eu abrira desde que John e Joan morreram. –Você sabe que eu herdei uma casa em Godric’s Hollow?

–Eu sei.

–Quando nós acabarmos esse ano letivo, você quer ir morar comigo?

–Claro que sim! –eu disse, sorrindo, passando meus braços pelo pescoço dele e o beijando. Ele era tão quente em um momento tão frio.

***

Sirius dormiu assim que entramos no carro e James começou a dirigir, e isso foi, bem, como um passe livre para Pontas colocar musica altíssimo e cantar como um doido, e era impressionante o fato que Sirius ainda roncava. Eu, do banco de trás, cantava com ele. A música era feliz e trazia um ar quente para o carro, afinal, o nome da música era “Um Bolso Cheio de Raios de Sol”, mas o som mais caloroso de todo o ambiente era a risada de James. Ele sorria daquele jeito bonito, com os dentes a mostra e os olhos enrugados no cantinho, como um velhinho simpático de 17 anos.

–I GOT A LOVE AND I NOW THAT IS ALL MY, OH! –ele gritava, rindo de si mesmo e de mim.

–OH, OH! –eu completava, jogando a cabeça para trás, rindo e batendo palmas.

–Que isso, gente? –Amolfadinhas acordara. Perplexo, se olhando no retrovisor, abaixou a música. Ah, é! Nós desenhamos um bigode nele.

–TAKE ME AWAY! –James continuou, ainda cantando alto, mesmo com a música baixa. Sirius deu um tapa nele e eu desmaiei, mas não como se tivesse batido a cabeça, mas no sentido de dormir profundamente enquanto seu namorado canta com o melhor amigo.

***

–Nós vamos ficar em Godric’s Hollow nesses dois dias. Abraços, James Potter. Acha que está bom? –James disse para mim. Ele escrevia uma carta para Dumbledore e estava anormalmente preocupado com as palavras que usava.

–‘Tá ótimo. –eu disse infeliz com a falta de assunto. Estávamos em uma lojinha de conveniência trouxa, Sirius comprava alguma coisa para comer e James e eu estávamos dentro do carro, faltavam 10 km para chegarmos à cidade em que Godric Gryffindor nasceu.

–Vocês vão querer alguma coisa? –Sirius gritou da porta de vidro. Eu e James negamos e ele veio para o carro, duas sacolas e um guardanapo. –Peguei o telefone da atendente. -eu tinha certeza que James ia dizer algo, mas se calou com meu olhar ameaçador. –Como você pretende enviar essa carta, Pontas? Acho que os trouxas não levam a expressão “ave-correio” a sério.

–É pombo–correio. –corrigi-o.

–Tanto faz, enfim...

–Vou despacha-la quando chegamos a Godric’s Hollow. –James disse- É um longo caminho.

–E o lobo mal passou aqui por perto. –eu completei, cantarolando. Continuei a cantar algumas canções infantis trouxas, como “Hakuna Matata” até chegarmos à casa dos tios de James.

–Número 31. –leu James, saindo do carro e batendo a porta. Eu sai logo depois e Sirius atrás de mim- Bom, Lily. Bem-vinda ao lar.