Quando chegamos na Praia, meu coração começou a bater rapidamente. Tento não olhar para trás e seguir em frente, sei que Gancho estava se preparando para atacar Peter Pan de surpresa. Entretanto, eu nunca pensei que ele pudesse ser tão cruel em chegar a esse ponto. Por um instante, eu fiquei do lado de Pan, sentindo a raiva nutrir meu corpo e meus pensamentos.

– É melhor ficarmos por aqui, Senhorita – Smih comentou preocupado. Parei e olhei para trás, eu preferia me afastar da praia.

– Não, ele vai… Você sabe o quanto eu quero voltar para casa não é? – Perguntei trincando os dentes. Smih engoliu seco assentindo e olhou para o barco.

– Mas e quanto a ele? – Ele apontou para o Pirata que ainda dormia no barco. Dei de ombros e segui para a floresta.

– Vamos – Chamei-o e enquanto eu me afastava mais da praia, mas eu conseguia sentir medo.

A Floresta era estranhamente bela. Parecia como as florestas de filme de terror, havia arbustos escuros, arvores grandes, e variadas espécies de flores que eu nunca havia visto em toda a minha vida. Smih me contou – andando atrás de mim – que eram venenosas, que as mais belas, eram as mais absurdas.

– Já está bom aqui – Smih disse com a voz alta e eu parei e assenti para ele.

Olhei em volta, e percebi que havíamos parado em um círculo que nenhuma árvore ou flor se atreveu a crescer ali. Ignorei e suspirei pesadamente.

– Esperamos ele chegar? Ou chamamos ele? – Perguntei na dúvida e olhei para Smih, mas ele não estava mais ali. Ele havia sumido. Meu corpo começou a tremular e olhei em volta apontando a lâmina da espada para qualquer que seja uma ameaça.

– Ora, Ora, mas o que temos aqui? – Eu conhecia aquela voz, contudo, não era a que eu esperava.

– Gancho – Suspirei irritada e o encontrei logo atrás de mim, em sentido ao mar. Ele sorria, e por incrível que pareça, ainda estava com uma garrafa de álcool em mãos. – Você está muito bêbado …

– Não estou! – Ele gritou levemente irritado e depois riu. – Onde está seu Príncipe Encantado?

– Gancho… É melhor voltarmos – Murmurei calma, tentando não bater naquele Pirata de roupas pretas. – Smih! Venha me ajudar!

– Shiu, calada! – Gancho sussurrou e olhou para os lados, em seguida, escondeu-se atrás de uma árvore. Revirei os olhos e bufei irritada.

– Estou te vendo – Pensei em falar, entretanto, a voz de Peter Pan saiu mais engraçada.

Apontei a lâmina para ele que recuou com tal movimento.

– Argh! Perdeu a graça! – Gancho sorriu e tirou sua espada de seu coldre e apontou para Peter.

– Vocês formam um belo casal - Peter Pan assobiou olhando para mim e depois para Gancho.

Não consegui falar nada até porque, quando eu ia negar, havia aparecido vários Garotos-Perdidos. Eles formaram um círculo em volta de nós – Eu e Gancho – impedindo que fugíssemos para a praia.

– Devolva-me meus garotos, que eu os deixo partirem vivos – Peter murmurou trincando os dentes sério.

Olhei para Gancho e ele olhou para mim, e por incrível que pareça, ele não tinha mais a cara de bêbado a poucos segundos atrás.

Não falamos nada, depois de um tempo, os Piratas apareceram amarrados pelos Garotos-Perdidos que antes estavam no barco. Parecia que tudo o que havia acontecido era uma grande armadilha.

Fiquei preocupada quando eu o vi meu irmão entre os Piratas. Na expressão de que não entendia nada do que acontecia, ele deve não ter tido tempo para ler minha carta.

– Ele vem comigo – Peter pronunciou apontando para Rafael e meu sangue começou a ferver de pura raiva.

– Sabe de uma coisa? Eu estou cansada de ficar aturando isso! – Gritei para todos ouvirem e depois dirigi meu olhar para Peter – Não pense que pode ficar com meu irmão.

Ele ficou sem palavras, na verdade, todos ficaram. Bufei indignada e avancei até meu irmão que estava preso por um garoto-perdido. Apontei a lâmina para ele que se afastou, e em tal ação, cortei as cordas que prendiam Rafael e o puxei o levando para a praia sem me importar com os rostos curiosos atrás de mim.

Eu e Rafael entramos no barco e começamos a remar em direção ao navio pirata. Comecei a chorar naquele momento e Rafael parou e veio me abraçar.

– Me desculpe – Sussurrei abraçando-o de volta. Ele me beijou na bochecha e continuou a remar.

– Vamos sair daqui – Ele sorriu e o Pirata que ainda dormia no barco acordou bruscamente.

– O que? O que aconteceu?! – Ele gritou.

– Shiu, fique sentando e não reclame – Ordenei e ele o fez ainda curioso com o que estava acontecendo.

(X)

Quando chegamos no barco, eu peguei mais uma espada e a dei para Rafael. Em seguida fomos até a cozinha e pegamos algumas frutas. Iriamos sair de Neverland sem ajuda de ninguém, esse era o Plano B. Quando voltamos da cozinha, vimos os Piratas em pé olhando para nós. Eles abriram o caminho e eu vi Gancho com uma postura séria. Ele caminhou até nós e só parou quando eu apontei para ele a lâmina da espada.

– Me desculpe – Ele murmurou olhando para o chão.

– Eu e Rafael, vamos sair daqui – Contei e ele olhou para mim. Meu corpo se arrepiou quando percebi que ele avançou e parou bem em frente a lâmina.

– Não faça isso… - Ele disse com a voz fraca.

Franzi a testa sem saber o que fazer e olhei para Rafael que me devolveu um olhar confortável assentindo para mim. Olhei de volta para Gancho e ele permanecia de cabeça baixa.

– Tudo bem. – Eu disse e no mesmo instante ele olhou para mim. Eu pude ver um sorriso fraco aparecer em sua face.

– Nesse caso… Não vai precisar disso agora – Ele veio até mim quando abaixei a lâmina e tirou o saquinho de frutas que estava em minha mão esquerda e permitiu que elas caíssem.

Ele olhou em meus olhos e suspirou. Seu rosto estava á centímetros do meu. Ele olhou para os meus lábios e inesperadamente passou por mim e entrou em seu gabinete. Olhei para trás e a porta foi fechada.

– Acho que ele precisa de um tempo, não só ele, mas você também – Rafael murmurou e sorriu e me levou até a frente do Navio onde podíamos ver das mais belas estrelas.