A cara com que a pirralha nojenta me olhou foi impagável.

Ela estava andando normalmente, mexendo a cabeça de um lado para o outro como se tivesse sete anos ou coisa do tipo.

A menina é totalmente infantil aos meus olhos. Olhos cinzentos sem graça, cabelos loiros sem nenhum brilho e tão branquela que era difícil saber quem era menina e o que era um pedaço da parece provavelmente recém-pintada de um branco tão branco que doía os olhos.

Mas, ao invés de ficar toda animada e soltar o cabelo para poder ficar mexendo nele, ela apenas sentou no balcão da cozinha e começou a pintar as unhas com um esmalte preto. Só que eu acho que ela não tinha a mínima intenção de parecer atraente pra ninguém, porque ela passou um esmalte preto que ficou meio borrado, ao invés das garras cumpridas e vermelhas com as quais eu era acostumado.

Logo que terminou, se jogou no chão e eu finalmente pude dar uma olhada melhor na sua roupa. Definitivamente era bem diferente do que eu era acostumado.

Mas eu não estou nem aí porque, de acordo com as minhas fontes, essa loira anã e pirralhenta é Annabeth Chase, a menina mais nerd do mundo e também a mais chata que é possível existir sobre a face da Terra em milhares de anos. Acredite, os dinossauros ficariam com inveja, pois a chatice dela é mais eterna do que a felicidade humana desses lagartos gigantes não existirem mais.

Quando ela ia passando na minha frente pude ouvir Atena, a sócia do meu pai que ele parece não gostar muito, dizer:

— Não vai dar um oi pro seu colega de sala?

Ela rodou os calcanhares fazendo que o seu vestido desse uma volta pequena junto com ela. Os seus olhos me percorram de baixo pra cima, assim como as meninas geralmente faziam comigo só que em um olhar meio que de deboche, pegou um óculos escuro de dentro da bolsa, o colocou e disse revirando os calcanhares de volta:

— Prefiro bombar em Química.

E batei a porta. Minha mente estava mais confusa que nunca, mas só fui sentir raiva de verdade quando Tyson, meu irmão mais novo e muito idiota começou a rir igual uma hiena bêbada.

— É. Acho que está na hora de separamos a criançada pra Londres.

— Tudo bem.

Nós saíamos pela porta e podemos ver um grupo de pessoas, cada um com os seus irmãos, sem nem olhar um na cara do outro. Aposto que nós jamais vamos dar certo.

Quando Zeus notou que nós já tínhamos chegado, ele começou a gritar na frente da casa branca de Atena.

— Crianças, eu sei que todos estão ansiosos para essa viagem... — pude ver Annabeth revirar os olhos enquanto ajeitava sua bolsa mais rente ao corpo — ... mas pra isso acontecer precisamos de muito empenho da parte de vocês! Quero já decidir aqui qual será a separação no avião. — ele começou a separar todos nós, mas só fui prestar atenção quando ele chamou-me pelo nome — Percy, Thalia e... — ele começou a olhar envolta pra procurar alguém. Annabeth não, Annabeth não, Annabeth não. — Annabeth.

Sorte idiota. Se eu soubesse que ia ter nascido tão azarado, ia ter impedido a minha mãe de me parir.

Segui para a BMW do meu pai, porque cada pessoa ia com o seu pai até chegar no aeroporto onde íamos nos separar e ir cada um pra o seu assento do lado das pessoas por quem você vai ter que ser obrigado a aturar por três horas. Eu realmente sou muito azarado.

O caminho foi curto, principalmente porque meu pai ficava apenas falando com Tyson sobre como suas notas eram brilhantes e tudo mais.

Cara, eu sei que as minhas notas são uma merda, mas pode simplesmente esquecer que eu existo e dar uma de pai perfeito pro retardado do meu irmão.

Quando chegamos ao aeroporto, uns homens pegam as nossas malas e nos ajudam a levar até a sala de embarque, porque Zeus já tinha preparado tudo que precisávamos.

Vejo Annabbeth na fila para o detector de metais, e me posiciono atrás dela.

— Sua mãe te dá atenção?

Tá, isso não foi uma boa forma de começar uma conversa legal. Tanto, que a única coisa que ela fez foi levantar os óculos escuros e me olhar com um olhar nem um pouco amigável, o que só piorava considerando o fato de que, tanto eu quanto ela estávamos sentados encima das nossas malas.

— Olha, não venha querer me perguntar alguma coisa que quer que eu pergunte para você.

E ela simplesmente me deixou sozinho e passou no detector de metais. Vão ser as três horas mais longas do mundo.

Depois dela eu passei sem dificuldades e peguei a minha bagagem de volta.

O meu pensamento vagava entre a luta de ontem, e Annabeth Chase, aquela menina insuportável que eu seria obrigado a conviver até as férias acabarem. Eu tenho certeza que vou acabar enlouquecendo na primeira semana.

Quando cheguei na sala de embarque, ela estava brigando com Thalia por causa de um milk-shake de baunilha com calda extra. Tá que isso é estranho vindo de alguma menina, porque eu tinha certeza que todas faziam dieta, mas é cada louco com as suas manias, né?

A Grace ganhou, e a loira teve que se contentar com um café forte, o que era meu predileto. Acho que eu acabei de ter uma ideia de como arrumar ela como minha aliada e é hoje que eu preciso de agir.

Foi até a cafeteria e dei o meu melhor. Resumindo, eu baguncei meus cabelos levemente e lancei o meu melhor sorriso para a garçonete. Nem preciso falar que eu saí de lá com um milk-shake igual o desejado pela loira insuportável, né?

— Quer trocar? — indaguei mostrando o copo do líquido congelante.

— Nem que eu estivesse com um copo de boldo.

Gente, será que é possível alguém ser tão mal-educada assim? Luke, meu único amigo aqui, definiria o tipo dela como "rebelde-sem-causa" ou "desiludida-no-estilo-Leo".

Leo Valdez é um dos nossos amigos, um cara tão magrela que é fácil confundir ele com um palito de dente. E ele foi homenageado pelo motivo de que, todas as garotas que ele começa a gostar, arrumam um namorado exatamente dois dias depois.

— Eu não coloquei nada na merda desse milk-shake, pirralha. É que eu comprei, mas achei o gosto uma merda.

— Agora, de repente, me deu uma vontade de te afogar com isso que está sendo até difícil de resistir.

— Vai a merda e pega logo.

Estranhamente, foi bem mais fácil que eu pensava, porque ela trocou os copos e colocou o canudo de cabeça para baixo. Não sei se eu acho ela fresca ou nojentinha. Até parece que, até as férias, ela não vai resistir ao meu charme e chorar por não ter bebido no mesmo lado do meu canudo. Por mais idiota que isso seja, claro.

Fiquei olhando ela tomar o conteúdo do copo enquanto a boca dela pressionava o canudo, o manchando levemente da cor rosada do batom que ela estava usando. Era lento, talvez porque ela não quisesse congelar o cérebro, mas se ela fosse outra menina qualquer eu ia falar que é porque ela queria me provocar. Só que ela é santinha demais pra isso.

Coloquei os fones de ouvido e fiquei de olhos fechados até sentir a dor aguda de garras furando as minhas costelas. Olhei para a loira do meu lado e ela se mantinha me cutucando.

— O que quer, pirralha?

— Ei! Eu tenho mais ou menos a sua idade, retardado!

— Sete meses mais nova, o que faz com que eu tenha dezessete e você dezesseis. Agora, se me permite, eu quero ouvir a merda da música.

— Me dá um lado. — falou pegando o outro lado do IPod quando começou a tocar uma música que eu nem sabia que tinha.

Senti sua cabeça tombar no meu ombro. Ela realmente devia ter dormido muito pouco, porque eu podia enxergar as olheiras por baixo da maquiagem leve.

E a última coisa que eu ouvi foi ela sussurrar.

— "Yellow diamonds in the light... And we're standing side by side..."

E depois dormiu.